sexta-feira, 3 de junho de 2011

Apelo do bispo de Rumbek pelos refugiados sudaneses

“Cerca de 300 mil pessoas estão em fuga do Sudão, onde existe um governo islâmico. Estão chegando ao novo Sudão do Sul e precisam de alimento, medicamentos e até de capas plásticas para se protegerem no início da estação das chuvas”.

Este foi o apelo de Dom Cesare Mazzolari, bispo de Rumbek, no Sudão do Sul, em entrevista à Rádio Vaticano, com a presença do porta-voz vaticano Federico Lombardi.

O bispo lembrou que João Paulo II lhe disse: “Cesare, envio você a uma terra onde existe uma guerra injusta. Você tem que tentar cuidar dessas pessoas”. Dom Mazzolari emendou com decisão: “Em obediência a João Paulo II, eu peço à comunidade internacional que mande ajuda”.

Enquanto na Líbia, na Costa do Marfim e em outros lugares as armas ressoam, o Sudão do Sul, graças a um tratado de paz assinado em 2005, convocou um referendo que teve participação massiva da população e que escolheu a independência, a ser proclamada em 9 de julho em Juba, sua nova capital, com a presença de representantes de mais de 80 países.

O sul do Sudão, prestes a se tornar o 54º país africano, oficializará a separação do regime islâmico do norte, que agora ameaça implantar a sharia como fonte constitucional enquanto provoca o novo Estado com a ocupação militar da cidade de Abyei, área petrolífera disputada entre o Sudão e o novo Sudão do Sul.

A guerra civil durou 23 anos e custou 2 milhões de vidas humanas no Sudão único. O referendo deste ano, em que participaram 3,8 milhões de votantes com mais de 98% a favor da independência, significa uma nova experiência para a África.

“Temos que trabalhar pela unidade e pela integração, ajudar os retirantes, mas também nos preocupar com a Igreja do Sudão. Tememos que o governo de Cartum não renove os vistos dos missionários, retire os fundos para as ajudas, desaproprie as escolas e os centros cristãos”, recordou o bispo.

A nunciatura apostólica permanecerá em Cartum com uma só conferência episcopal, mas deseja-se que a Itália abra uma embaixada em Juba para facilitar a chegada de outras pessoas e empresários. “A Universidade do Sacro Cuore ajudará a Universidade de Juba com cursos de 3 a 5 meses para promover as administrações”.

O bispo considerou necessários “de 5 a 10 anos para sair da pobreza”, até porque “o nível da classe dirigente é igual a zero”.

Dom Mazzolari lembrou que a Conferência Episcopal Italiana mandou 5,2 milhões de euros para escolas, dioceses e cursos para professores, que por sua vez educarão outros professores destinados a lecionar para 50.000 jovens.

Mas no novo país existe muito a melhorar: “Existe um mal-estar entre os jovens e diversas tribos, porque a Constituição de 2005 foi escrita a portas fechadas. Também nós, como igreja, ficamos de fora”.

O bispo recordou que a Igreja local, “na última carta ao presidente, indicou que a falta de comunicação está gerando insatisfação. Gostaríamos de mais participação, das pessoas e da Igreja”.

Também lembrou que a Itália esteve na linha de frente para se chegar ao tratado de paz de 2005. “A Itália não pode ceder. O Sudão era colônia britânica e eles nos abandonaram. Já a Itália nos trouxe a paz. Que ela não nos abandone agora”.

Dom Mazzolari afirmou que “o sul do Sudão quer nascer democrático, mas falta abertura ao povo. Prevejo uma época nova de consolidação do cristianismo. Muitos estudantes próximos ao presidente possuem valores cristãos”.

E concluiu recordando que esta independência “é símbolo da liberdade obtida de maneira pacífica e construtiva, a verdadeira liberdade à moda africana, enquanto a dívida mundial é uma forma de escravismo. A Síria, a Líbia, todos querem uma liberdade genuína, e isto o Sudão do Sul conseguiu. Mas o caminho a trilhar ainda é muito longo”.

Fonte: Zenit.

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