Do alto da Columnata de Bernini, à esquerda da Basílica de São Pedro, onde jornalistas, fotógrafos e canais de televisão focalizam a beatificação de João Paulo II, a praça parece invadida pela Polônia, com um mar de bandeiras brancas e vermelhas.
Inclusive a bandeira em que se lê "Vancouver" na verdade representa poloneses, ainda que sejam imigrantes.
Eles vieram para homenagear “seu” Papa e ontem chegaram em massa, de ônibus, trem, automóvel, avião. Por causa de seu grande número, à noite, as forças de segurança abriram com muita antecedência a entrada da Praça de São Pedro. Em vez das 5h30, como previsto, eles começaram a entrar às 2h da manhã.
Um grupo que incluía algumas religiosas dormia em uma das ruas próximas do Vaticano, a Borgo do Santo Espírito, em sacos de dormir, para poder entrar entre os primeiros e ter um bom lugar na beatificação.
Para eles, Karol Wojtyla é um guia espiritual e um ponto de referência para a história nacional, em um momento de incerteza social e política: “Polônia, quo vadis?" ["aonde vais?"], podia-se ler em um cartaz.
Aos pés do átrio da Basílica de São Pedro se podiam ver hóspedes de honra: enfermos em cadeiras de rodas, acompanhados por voluntários.
Às 3h da manhã, 70 cadeiras de rodas, das quais 9 eram para crianças, encontravam-se “estacionadas” em fila na praça do Santo Ofício, vigiadas por voluntários da União Italiana para o Transporte de Enfermos a Lourdes e Santuários Internacionais (UNITALSI).
“Quanta força João Paulo II infundiu nos enfermos com seu exemplo, suportando o sofrimento sem se render nem escondê-lo”, comentou com ZENIT Bruno Rosi, que trabalha como voluntário há dez anos.
“Estar próximo das crianças deficientes é o mais difícil, mas depois algo desperta dentro de ti e são eles que acabam fazendo que te sintas bem”, acrescentou.
“João Paulo II sempre estará em meu coração – afirma –: é o papa que me fez regressar à Igreja com sua humanidade, com sua capacidade de tomar em seus braços as crianças, de abraçar uma mulher, de brincar com os jovens, de acariciar os enfermos.”
Uma grande bandeira, também branca e vermelha, impõe-se ao fundo da Praça de São Pedro: “Não tenhais medo. Abri de par em par as portas a Cristo”.
Foi a inauguração e a síntese do pontificado de João Paulo II, o conselho que ficou na mente de todos, o alento que consola, também os voluntários, que às 3h da manhã bebiam um café quente para despertar.
Entre os que se preparavam durante a noite para a beatificação não faltavam os representantes das associações e movimentos eclesiais.
Salvatore Martínez, presidente da Renovação no Espírito (movimento carismático) na Itália, confessa que se considera uma "feliz testemunha" de um tempo “que se caracterizou pelo protagonismo do laicato carismático, do qual João Paulo II esperava muito”.
Sua lição fundamental: “não pode existir autêntica promoção humana sem fé autêntica”. “O espírito de João Paulo II, que é o do Concílio – afirma Martínez – tem de viver em nós, geração do terceiro milênio, que terá de se caracterizar pelo protagonismo dos leigos”.
"Wojtyla – afirma Franco Miano, presidente da Ação Católica Italiana – pôs novamente no centro da atualidade dos crentes o tema da santidade, que é uma vida plena em todos os sentidos, antes de tudo através do exemplo de vida, capaz de viver verdadeiramente todas as fases da existência, inclusive as que se caracterizam pelo sofrimento”.
Enquanto isso, ainda durante a noite de sábado para o domingo, a cruz de madeira da JMJ (Jornada Mundial da Juventude) corria o risco de não conseguir regressar a sua casa, o Centro Internacional de Jovens São Lorenzo, que se encontra junto ao Vaticano.
Os policiais que controlavam os pontos de acesso só permitiam a passagem do responsável australiano, Bernard Morousic, e do grupo de jovens que tinha levado a cruz a uma vigília no centro de Roma. Mas a cruz era barrada.
Meia hora depois a própria polícia escoltou a cruz, que fora presenteada por João Paulo II aos jovens e normalmente fica guardada em Roma.
A alvorada não foi uma surpresa para os peregrinos. Eles estavam confiantes num dia de tempo bom.
Quando Bento XVI chegou ao local de onde presidiria a beatificação, surgiu o primeiro grande aplauso.
Durante a cerimônia, enquanto o cardeal Agostino Vallini, vigário geral de Roma, lia o pedido oficial da beatificação, a multidão voltava a aplaudir. Lembrou o “santo subito” (“santo já”) ecoado na mesma Praça de São Pedro, no dia das exéquias do pontífice, a 8 de abril de 2005.
Vallini recordou as etapas da vida e pontificado do beato. A multidão volta a aplaudir com vigor quando é citado o dia 22 de outubro de 1978, início do ministério petrino de Wojtyla.
“Com Nossa Autoridade Apostólica concedemos que o Venerável Servo de Deus João Paulo II, papa, de agora em diante seja chamado Beato e que se possa celebrar sua festividade nos lugares e segundo as regras estabelecidas pelo direito, todo ano a 22 de outubro”, disse o Papa em latim.
Mais aplausos, enquanto descerrava o véu que cobria a imagem de Karol Wojtyla, sob o balcão central da Basílica de São Pedro.
Fonte: Zenit.
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