As tarefas diárias do padre agostiniano Pavol Benedik o põem em contato com alguns dos mais preciosos tesouros da Igreja: a Capela Sistina faz parte da sua rotina diária, bem como os ricos ornamentos e os cálices de pedras preciosas usados em homenagem a Nosso Senhor, ao longo da história.
O sacerdote esloveno é o sacristão papal desde 2006, tarefa que o coloca em contato frequente com os tesouros vivos da Igreja, como o Sucessor de Pedro e outros homens eclesiásticos importantes.
ZENIT falou com o Pe. Benedik sobre o seu trabalho.
Padre, o senhor trabalha em um lugar muito importante: é sacristão do Santo Padre. Além disso, é um sacerdote agostiniano. Por que foi sua ordem monástica a encarregada deste interessante e nobre serviço?
Padre Benedik: Mais ou menos desde o século XIII e XIV, as grandes ordens monásticas realizaram tarefas especiais para a Santa Sé. Durante muito tempo, os dominicanos foram os teólogos papais, os capuchinhos foram pregadores e ao redor do ano 1400 até quase 1600, os agostinianos trabalharam na sacristia. Parte do nosso serviço no passado consistiu em manter a biblioteca do Santo Padre. Mais tarde, as administrações da biblioteca e da sacristia se dividiram e nossa ordem ficou com a da sacristia. Então, é uma longa tradição religiosa para nós. Cuidamos dos elementos sagrados, dos que pertencem ao Santo Padre e também das capelas papais do Vaticano.
Até 1992, a pessoa que ocupava o meu cargo era sempre um bispo. Depois começou a ser um dos nossos irmãos. Pessoalmente, realizo este serviço desde 2006. Esta é a nossa tarefa, em cooperação com o mestre papal de cerimônias, o arcebispo Piero Marini.
Estamos sentados em seu escritório, ao lado da Capela Sistina. Ao nosso redor há armários de madeira. O que há dentro deles? Estão aqui as coisas do Papa atual?
Padre Benedik: Há muitas coisas, algumas delas antigas. Muitos objetos, no entanto, desapareceram com Napoleão Bonaparte, já que ele pegou e destruiu muitos tesouros: tiaras, cálices etc. Ele sabia que, depois da guerra, tinha de devolvê-los, devido aos acordos militares internacionais. Então, fundiu muitos cálices e outros objetos de grande valor histórico. Das quatro tiaras que ele roubou, nenhuma se salvou. A única coisa que pôde ser recuperada foi a esmeralda da tiara de Júlio II, que Napoleão colocou em uma tiara nova e a entregou a Pio VII. Temos também cálices do século XIV. Muitas das coisas que existem são dos tempos do Papa Leão XIII e Pio IX. Há vários ornamentos pontifícios.
Quando o senhor vê o Santo Padre? Como são seus encontros pessoais com ele?
Padre Benedik: Nós nos encontramos nas Missas públicas, na liturgia. Preparamos tudo aquilo de que ele precisa: as vestimentas, os ornamentos, tudo. Antes de começar a Santa Missa, ele permanece em silêncio, em oração, sem dizer nem uma palavra. Não fala porque não há necessidade disso.
Ele o avisa antes, para que o senhor prepare o que é preciso para a Missa?
Padre Benedik: Preparamos tudo em cooperação com o arcebispo Marini. Nunca tivemos nenhum problema, ainda que algumas vezes o arcebispo tenha dito que lhe haviam chamado ao terceiro andar (onde mora o Santo Padre) para fazer-lhe alguma consulta.
Bento XVI também celebra Missas privadas. Onde se levam a cabo e em que idioma?
Padre Benedik: As Missas privadas são celebradas sempre nos apartamentos papais, em sua capela. Ele celebra toda manhã, com seus secretários e com as irmãs da comunidade Memores Domini.
Também existem as chamadas Missas semipúblicas, nas quais há mais gente presente, mas a capela não é muito grande. Por razões de capacidade, usa-se a capela Redemptoris Mater ou a capela Paulina. A celebração é normalmente em latim e as leituras são feitas em italiano.
O Papa usa vestimentas e ornamentos que seus predecessores usaram? Ele recebe presentes desse tipo ou objetos para usar nas liturgias?
Padre Benedik: Naturalmente, ele usa objetos que foram usados pelos seus predecessores. Por exemplo, em 1º de janeiro, ele usou as vestimentas litúrgicas de Paulo VI. Também usou objetos dos séculos XVIII e XIX. Não é algo incomum.
Justamente depois da sua eleição, ele usou todas as coisas de João Paulo II, porque não tinha as de sua propriedade. Tinha apenas sua mitra de cardeal, e trocou a insígnia cardinalícia pela papal.
Se você me pergunta pela possibilidade de presentear o Papa com vestimentas, é claro que se pode; aliás, isso é muito importante. Também é possível dar outros presentes, dependendo de quem quer realizar a doação. Estes presentes são sinais de respeito. Muitos dos objetos que estão sob o nosso cuidado foram doados: cálices e outros objetos doados aos Papas Pio IX e Leão XIII. Normalmente são doações.
Como é o procedimento quando alguém quer dar um presente ao Papa? Aonde deve ir?
Padre Benedik: Se alguém quer fazer isso, deve escrever à prefeitura da Casa Pontifícia ou ao Ofício de Celebrações Litúrgicas. O presente se dá durante as audiências. Basta notificar previamente.
Bento XVI tem alguma pessoa ou empresa que confecciona suas vestes litúrgicas e sapatos?
Padre Benedik: Não, não existe apenas uma. Não acho que seria apropriado apoiar um monopólio. Se alguém nos doa alguma coisa, é outra questão, mas não quando nós encomendamos. Não vejo razão para que haja uma só empresa. O preço também conta. Escolhemos as melhores opções.
Do que o senhor mais gosta no seu trabalho? Poderia nos contar alguma experiência interessante?
Padre Benedik: É difícil escolher só uma coisa. Estou contente, pois o trabalho que realizo me satisfaz muito. Ele me oferece uma satisfação espiritual. Nunca pensei que chegaria até aqui. Meu superior geral me enviou para cá e me perguntou se eu gostaria; eu concordei (risos).
Também estou em contato com o Santo Padre. Ele é muito humilde e atento. Ele nunca fez uma petição especial. Veste-se de humildade e silêncio, e também isso constitui uma experiência espiritual intensa.
Além disso, conheço pessoas com grandes capacidades espirituais. Nesta manhã, por exemplo, escutei uma pregação do Pe. Raniero Cantalamessa (o pregador da Casa Pontifícia).
Em seu trabalho, o senhor passa regularmente pela Capela Sistina. Ela é agora, para o senhor, um lugar normal?
Padre Benedik: Às vezes é muito difícil atravessar a Capela, por estar lotada de gente. Mas com frequência me acontece de encontrar coisas novas lá, ou que as pessoas me perguntem certas coisas. Às vezes a atravesso, mas não sou um turista lá. Não posso porque não tenho tempo, devido ao trabalho. Gosto de ir quando ela está fechada ao público. Observar, meditar, pensar sobre as coisas requer silêncio. Nos livros se pode encontrar muitas informações sobre ela, mas para mim, ela é também uma catequese.
Tive uma oportunidade única em agosto do ano passado. Estavam limpando as paredes da Capela: o trabalho começava à tarde e terminava à noite. Tive a oportunidade de ver as pinturas muito de perto, subindo a um andaime. Por exemplo, “O juízo final”. De longe é diferente. Esta foi uma experiência belíssima para mim.
O senhor carrega muitas chaves. Quais são insubstituíveis? Que tesouros o senhor tem ao seu alcance?
Padre Benedik: Há duas muito importantes. Uma é a a da sacristia na qual estão as coisas do Papa. E a segunda, mais importante, é a do tesouro papal, onde se guardam vestimentas antigas, cálices e custódias preciosas. Há, por exemplo, um cálice de 1854, da proclamação do dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria. Ao seu lado, há um cálice de cristal que o Papa Paulo VI trouxe ao tesouro. Também há um cálice de lata de sardinha, que foi usado pelo cardeal tcheco Josef Beran durante suas Missas na prisão.
O senhor diria que esta lata de sardinha é o objeto mais curioso da coleção que o senhor administra?
Padre Benedik: É interessante, por estar ao lado do cálice de 1854, que está decorado com diamantes e ouro; inicialmente, parece ser um cálice comum, com uma lata de sardinha. Mas ambos são muito importantes para a Igreja.
Fonte: Zenit.
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