É uma novidade absoluta para um papa: Bento XVI dialogou ao vivo com as duas tripulações do Endeavour e da Estação Espacial Internacional (ISS), em órbita a 400 quilômetros da Terra, numa operação possível graças à NASA e à Agência Espacial Europeia (ESA).
O Papa conseguia ver os astronautas – dos Estados Unidos, Rússia e Itália - em uma tela, mas estes só tinham o áudio. O Pontífice os entrevistou durante cerca de 20 minutos, da Sala Foconi, da Biblioteca Vaticana, diante das emissoras de televisão do mundo inteiro e da internet. A imprensa internacional era muito consciente de estar participando de um acontecimento histórico.
Os dois astronautas italianos, Roberto Vittori e Paolo Nespoli, deixaram suspensa no ar a medalha de prata que o Papa havia entregado a Roberto.
A beleza do planeta
O Papa se referiu a esta medalha em sua pergunta a Roberto Vittori: “Os crentes contemplam com frequência os céus ilimitados e, meditando no Criador, ficam impressionados pelo mistério da sua grandeza. Por este motivo, a medalha que entreguei a Roberto, como sinal da minha participação na vossa missão, representa a Criação do homem, pintada por Michelangelo na Capela Sistina”.
"Quando temos um momento para inclinar o olhar - disse Roberto Vittori ao Papa -, a beleza, que é o efeito em três dimensões da formosura do planeta, conquista o nosso coração, conquista o meu coração. E então sim, eu rezo: rezo por mim, pelas nossas famílias, pelo nosso futuro. Carrego comigo a sua medalha e deixo que ela fique flutuando na minha frente, para demonstrar a ausência de gravidade. Quero lhe agradecer por esta oportunidade e gostaria que esta medalha flutuasse pelo meu amigo e colega Paolo: ele voltará à Terra na nave Soyuz. Eu trouxe a medalha ao espaço e ele a levará à Terra para devolvê-la ao senhor.”
Depois da transmissão, o Papa cumprimentou as pessoas que estavam lá presentes com ele. Entre outras coisas, perguntou a Thomas Reiter, que participou das missões na estação MIR em 1995-1996 e na ISS em 2006, se o planeta Terra era realmente tão belo quanto os astronautas o haviam descrito. “Sim, é verdadeiramente fascinante”, respondeu Reiter.
A esposa de Mark e a mãe de Paolo
Antes da primeira pergunta, apresentada ao comandante da equipe do Endeavour, Mark E. Kelly, Bento XVI expressou sua proximidade: “Sei que a mulher de Mark Kelly foi vítima de uma grave agressão e espero que sua saúde continue melhorando”.
Mark Kelly respondeu: “Obrigado pelas suas palavras, Santidade, e obrigado por ter se lembrado da minha mulher, Gabby”.
Bento XVI dirigiu a última pergunta em italiano a Paolo Nespoli: “Minha última pergunta é para Paolo. Querido Paolo, sei que, há alguns dias, sua mãe o deixou e, quando você voltar para casa, ela já não estará lá o esperando. Todos nós estamos ao seu lado; eu também rezei por você... Como você viveu esse momento de dor?”.
Paolo Nespoli respondeu: “Santo Padre, eu experimentei as suas orações, suas orações chegaram até aqui. É verdade, estamos fora deste mundo, estamos em órbita ao redor da Terra e podemos ver melhor a Terra e acompanhar tudo o que nos cerca. Meus colegas aqui, a bordo da Estação - Dimitri, Kelly, Ron, Alexander e Andrei – estiveram muito perto de mim nesse momento importante para mim, muito intenso, assim como os meus irmãos, minhas irmãs, minhas tias, primos, meus parentes estiveram perto da minha mãe nos últimos momentos. Agradeço por tudo isso. Eu me senti longe, mas também muito perto, e certamente o pensamento de experimentar todos vocês perto de mim, unidos nesse momento, foi um enorme alívio. Agradeço também à Agência Espacial Europeia e à Agência Espacial dos EUA, que colocaram à disposição os recursos para que eu pudesse falar com ela nos últimos momentos”.
Arrigo precisou, com relação à mãe de Paolo Nespoli, que comunicou ao Vaticano o falecimento e que o Pe. Lombardi transmitiu então a Paolo a oração e proximidade do Papa. Sua surpresa foi receber um e-mail de Paolo Nespoli diretamente do espaço. A Agência Espacial Italiana quis favorecer a comunicação entre Paolo Nespoli e o Papa nesse momento excepcional, destacou Arrigo.
Bento XVI apresentou 5 perguntas aos astronautas, sobre sua visão da Terra do espaço e sobre o mistério do infinitamente grande, mas também sobre a oração. Foram formuladas em inglês a Mark E. Kelly, Ronald Garan e Michael Fincke, dos Estados Unidos, e em italiano a Roberto Vittori e a Paolo Nespoli.
Encontro em setembro
Como conclusão, Bento XVI declarou, antes de dar sua bênção aos astronautas: “Vós me ajudastes, a mim e a muitas outras pessoas, a refletir sobre questões importantes, que afetam o futuro da humanidade. Desejo-vos tudo de melhor para o vosso trabalho e para o êxito da vossa grande missão ao serviço da ciência, da colaboração internacional, do autêntico progresso e da paz no mundo”.
Jean Coisne, da ESA, informou a ZENIT que, a meados de setembro, os astronautas poderiam encontrar-se em Roma para uma audiência – que eles pediram ao Papa -, para devolver-lhe a medalha de Michelangelo.
Fonte: Zenit - (Anita S. Bourdin)
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