Declarações de um participante do Sínodo dos Bispos
Por Jesús Colina
Em uma região em que a AIDS está dizimando a população, para Dom Fulgence Muteba Mugalu, bispo de Kilwa-Kasenga, na República Democrática do Congo, um dos maiores desafios consiste em dar a entender às pessoas que a pandemia não é bruxaria.
Nesta região do sudeste congolês, na fronteira com a Zâmbia, a riqueza de matérias-primas atrai trabalhadores de outras regiões que, ao chegarem, "estendem a epidemia de uma forma terrível".
Nomeado bispo com somente 42 anos (hoje ele tem 47), Dom Muteba Mugalu conversou com um grupo de jornalistas, entre os quais estava a Zenit, sem pudores: "Se existe um país no qual não se faz nada para combater a AIDS, este é a República Democrática do Congo".
"O Estado não faz quase nada. Claro está, há duas organizações de fachada que gestionam milhões, mas o impacto é muito limitado, talvez somente nas cidades. Há muitas pessoas que nunca viram um cartaz sobre a luta contra a AIDS", reconhece.
Não há remédios
O prelado, em pleno Sínodo da África, informa que, no Congo, cerca de 40% da atenção médica é oferecida pela Igreja Católica.
"Acolhemos todas as pessoas, sem distinção - explica. Em toda a diocese, existe um só centro que distribui remédios antirretrovirais. É terrível!".
"Ficamos totalmente impotentes - sublinha. Queremos acolher as crianças em orfanatos, mas não temos financiamento. Fazemos o que podemos com os meios disponíveis, isto é, com a nossa boa vontade. Trabalhamos com voluntários das paróquias. Eles pegam sua bicicleta e vão sensibilizar as pessoas."
Esmagados pelos costumes
Pois bem, o prelado reconhece que "as pessoas estão sendo esmagadas pelos costumes. Isso acontece na minha terra e na Zâmbia".
Por este motivo, confessa ter percebido que pode fazer muito a partir de sua autoridade moral como bispo.
"É preciso que eu tome a palavra e diga: ‘A AIDS realmente existe!'. Eles dizem ‘Não, isso é bruxaria'."
"Alguns ainda não acreditam que é uma pandemia e que podem ser contaminados - sublinha. Neste contexto, o trabalho no campo é mais difícil que na cidade."
"Compreendi que o fato de que eu fale leva as pessoas a refletirem muito. Elas acreditam que os bispos não falam da AIDS, pois, quando se fala da doença, pensa-se sempre no sexo. Eu lhe peço para serem disciplinados em sua vida sexual e isso ajuda a muitos deles."
Neste sentido, esclarece, "o que a Igreja diz nos ajuda muito". Mas reconhece que toda a
falta de informação que existe sobre a AIDS também afeta o que a Igreja diz. "As pessoas não sabem, na verdade, o que o Papa diz", conclui.
Fonte: Zenit.
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