quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Padre, Presidente da Liturgia



O Padre Vitor Galdino Feller escreveu, para a revista “Brasil Cristão”, a matéria que está transcrita em seguida. Abreviei um pouco, sem modificar o sentido, a parte que fala da poesia da Missa.
Eu tenho o mau costume de aceitar mais encargos do que dou conta e fico bem contente por ser lembrada das coisas que não devem ficar para trás, entre elas, rezar pelos padres e pelas vocações sacerdotais e religiosas. Frequentemente me volta à lembrança o fato de que santa Terezinha do Menino Jesus, com apenas quinze anos, interrogada pelo motivo de seu ingresso no Carmelo respondeu que estava ali para rezar pelos padres e pelas Missões.

O Padre, Presidente da Liturgia

O Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, não pertencia à classe sacerdotal. Mas como todo bom judeu, desde os doze anos visitava o templo de Deus, para orar e oferecer sacrifícios ao Pai celeste. Em seu ministério de pregação do Reino e na sua predileção pelos últimos, Jesus de Nazaré fez de si mesmo o novo templo de Deus. No episódio da expulsão dos vendilhões, o evangelista João atesta que “ele falava do santuário de seu corpo” (Jô 2, 21). A Carta aos Hebreus, ao falar do sacerdócio de Cristo, insiste que ele é o único e eterno sacerdote, porque entrega a sua vida, é capaz de se compadecer das fraquezas humanas e nos convida a seguir seu exemplo, vivendo a vida cristã na obediência à vontade do Pai e na entrega total até a morte.
Como Jesus, todo presbítero deve fazer de sua vida uma liturgia, isto é, deve sacrificar-se pelo Reino na fidelidade ao Pai e no empenho pela salvação da humanidade. Deve fazer de seu corpo, isto é, de seu ser e agir, um templo para Deus. Neste sentido, de uma vida sacrificada, o presbítero é o homem da liturgia. Por isso, é o homem do templo, do tabernáculo. Lugar por excelência onde ele exerce sua missão é a presidência das celebrações litúrgicas, sobretudo da Missa.

A poesia da Missa

A poetisa Adélia Prado, uma das mais conhecidas escritoras brasileiras da atualidade, em um encontro sobre canto e liturgia, em Aparecida, falou sobre linguagem poética e linguagem litúrgica. Ao propor um resgate da linguagem simples e sóbria da liturgia católica, ela cunhou a seguinte frase que já se tornou clássica: “Missa é um poema, não suporta enfeite nenhum”. (o Padre Vitor, autor deste texto, explicou que ela estava se referindo ao excesso de comentários e avisos, cantos barulhentos, instrumentos musicais inadequados...) A Missa deve ser o cartão de visitas da comunidade: bem celebrada, com unção e poesia, com simplicidade e beleza.

O mistério da Missa

A liturgia, sobretudo a missa, celebra o mistério pascal, o mistério da morte e da ressurreição do Senhor. É a ocasião em que o fiel se prostra diante de Deus, o humano diante do divino. É a hora do silêncio, do vazio interior, para se ouvir a voz de Deus. Outra bela frase de Adélia Prado é: “A palavra foi inventada para ser calada”. O ritual da missa foi elaborado por gente que entende de liturgia, gente que entende do jogo simbólico entre palavra e silêncio. Todas as palavras do ritual da Missa – as saudações do presidente, as súplicas do Ato Penitencial, a linda oração do Hino de Louvor, as leituras bíblicas, a oração eucarística etc. – estão fundamentadas na Palavra de Deus. Daí a necessidade de proclamá-la com unção, de ouvi-la no silêncio do coração, fazer momentos de silêncio para deixar que essa Palavra divina – na escritura e na liturgia – penetre todos os meandros do nosso ser pessoal e de nossas relações comunitárias. O mundo de hoje tem horror ao silêncio, ao vazio. Parece haver um medo de que no silêncio Deus nos fale! Tudo tem de ser preenchido com palavras, com ruídos humanos.

O ministério do padre

Como presidente da assembléia litúrgica, o presbítero deve ter a consciência de que está fazendo as vezes de Cristo, o único Cabeça da Igreja. Cabe a ele garantir a santidade e a sobriedade da liturgia. Para tanto, deve fazer da liturgia o centro de seu ministério. Junto com o múnus da liturgia, o da profecia e o da caridade constituem o essencial da missão da Igreja. Nesses três ministérios, que ao final se auto-implicam, temos toda a vida cristã e, por excelência, a vida do presbítero. O padre existe para isso. Nesse sentido, ele é o homem do templo, do tabernáculo, do altar. Ele é o homem da Missa, enquanto essa se entende como celebração da paixão, da morte e da ressurreição do Senhor. Assim, na Missa o sacerdote celebra também sua paixão pelo povo de Deus e pelo Reino de Deus, realiza sua morte – a morte de seus sentimentos, pensamentos, desejos, preocupações etc. – como oferta da vida, e festeja sua ressurreição, sua transfiguração como outro Cristo, o único sacerdote que, efetivamente, preside a assembléia cristã.

Convido, pois, os leitores para que orem pelos seus sacerdotes, para que eles sejam homens do templo, do tabernáculo, do altar; para que presidam a liturgia com a unção e a santidade do único e eterno sacerdote, Jesus Cristo.

Maria E. do A. Mesquita

Fonte: Democrata Digital.

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