sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Seminarista recupera máquina com últimos registros de Zilda Arns



GRACILIANO ROCHA - Agência Folha, em Porto Alegre


Um caderno de anotações e duas câmeras fotográficas guardam os registros dos últimos dias de trabalho da fundadora da Pastoral da Criança, a pediatra brasileira Zilda Arns, morta em 12 de janeiro, no terremoto que atingiu o Haiti.
Entregue ontem a familiares da médica, o material foi salvo --por acaso-- por um seminarista haitiano, que participou da última palestra proferida por Zilda em Porto Príncipe.
Honoré Eugur, 37, recebeu de Zilda, que procurava colaboradores para a pastoral no Haiti, um caderno para que anotasse o seu endereço. Ele também ficou segurando duas sacolas enquanto a médica brasileira respondia perguntas de um grupo de religiosos locais sobre o trabalho da pastoral.
No momento em que Eugur escrevia, o chão começou a tremer e a maior parte do edifício de três andares em frente à igreja Sacré Coeur de Tugeau desabou, matando a pediatra e outras 15 pessoas que conversavam com ela após a palestra. Eugur se salvou por pouco.
"Eu estava a menos de um metro dela e, quando tremeu, me joguei no chão, rezando 'Ave Maria'. O lugar onde eu estava não desmanchou", relembrou o seminarista.
Ele e outros seis seminaristas haitianos chegaram esta semana a Viamão (região metropolitana de Porto Alegre) para estudar na Congregação dos Oblatos de São Francisco de Sales, ordem religiosa que mantém projetos sociais no Haiti.
No caderno, estão anotações feitas por Zilda sobre seus compromissos no Haiti. A palestra proferida por ela está registrada em tópicos como "criação de uma cultura da vida" e "respeito aos direitos da pessoa".
"O caderno era um testemunho da vida e da obra dela. Morreu com o povo sofrido por uma causa justa", disse Eugur.
Nas sacolas havia duas câmeras fotográficas, que guardavam imagens de Zilda no Haiti, objetos pessoais da médica (cartões de visita, óculos, chaves, uma escova de cabelo) e o passaporte da assessora da Pastoral Rosângela Altoé, além de US$ 2.043. O material foi entregue por Eugur ao padre brasileiro Carlos Martins de Borba, que voltou do Haiti na sexta.
Ontem, Borba devolveu as duas sacolas a familiares de Zilda. "As anotações mostram uma pessoa muito organizada e metódica, com muitos detalhes sobre o Haiti e o trabalho da pastoral. Ela viveu pelos mais pobres", declarou o padre.


Fonte: UOL.

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