A encíclica Caritas in veritate suscitou um enorme interesse na comunidade econômica, financeira e laboral do mundo inteiro.
Em particular, estão chegando a Roma cada vez mais solicitações para conhecer e aprofundar na doutrina social da Igreja Católica.
Para ter uma ideia do que está acontecendo, Zenit entrevistou Domingo Sugranyes Bickel, novo presidente do Conselho de Administração da Fundação Centesimus Annus - Pro Pontifice.
Domingo Sugranyes Bickel, de nacionalidade espanhola, nasceu em Friburgo (Suíça), onde se formou em ciências econômicas e políticas. Casado, tem 3 filhos, 7 netos e atualmente reside em Madri. Antes da sua nomeação, era vice-presidente da Fundação.
Desde 1969, pertence à UNIAPAC (International Christian Union of Business Executives), da qual foi secretário-geral de 1974 a 1981, e presidente de 1997 a 2000; desempenhou várias tarefas em Londres, Barcelona, Roma e Genebra. Desde 1981, trabalha em Madri para a MAPFRE, primeira companhia espanhola de seguros, na qual teve vários cargos, até chegar à vice-presidência executiva na corporação MAPFRE.
Atualmente, é membro do Board da Fundação MAPFRE e do Comitê de Controle do Grupo e membro do Board da Società Cattolica di Assicurazione de Verona, além do seu compromisso em iniciativas como o Fórum Cristianismo e Sociedade (Fundação Paulo VI, Madri) e o Observatoire de la Finance (Genebra).
-Doutrina social da Igreja e mundo econômico financeiro: que caminhos seguir para fazer que o Magistério social seja cada vez mais um ponto de referência para os operadores econômicos?
Domingo Sugranyes: A doutrina social da Igreja felizmente não é um livro de receitas, mas uma fonte de reflexão e inspiração. Os textos do Magistério requerem dos operadores econômicos, antes de tudo, um esforço pessoal de mudança na maneira de ver os objetivos e as modalidades da sua própria ação. É um convite que as encíclicas dirigem aos crentes e “a todos os homens e boa vontade”. Não existem atalhos que permitam “aplicar” a doutrina social sem esse longo caminho pessoal.
Nesta linha, a Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice continuará oferecendo sua contribuição para o esforço de difusão e discussão, indispensável para aumentar a influência da doutrina social nos ambientes econômicos.
A palavra do Santo Padre em matéria econômica e social goza atualmente de uma autoridade crescente, porque destaca incansavelmente a centralidade da pessoa humana e a grandeza de um trabalho participativo pelo bem comum, uma linha de pensamento muito afastada das visões mecanicistas ou deterministas da economia, que se encontra hoje com uma profunda aspiração da sociedade e confirma as conclusões empíricas de numerosos economistas científicos.
Por conseguinte, a resposta à sua pergunta é simples: é preciso dar a conhecer o “tesouro escondido” que constitui a doutrina social da Igreja e debater sobre isso em grupos de responsáveis econômicos, para extrair do seu estudo conclusões teóricas e práticas. Isso é o que a Fundação tenta fazer.
-A Fundação Centesimus Annus - Pro Pontifice, com seus 500 sócios presentes em 10 países é uma realidade internacional capaz de observar os fenômenos que caracterizam as dinâmicas da economia mundial: qual é a obra que a Fundação leva a cabo para sensibilizar os empresários?
Domingo Sugranyes: Em primeiro lugar, vamos supor que o número de sócios continue crescendo e que o âmbito abarcado pela Fundação se estenda a outros países.
Para convencer empresários, é necessário aproximar-se das suas preocupações; a encíclica Caritas in veritate nos oferece, nesta linha, interessantíssimas orientações sobre o papel ampliado da iniciativa empresarial, que nunca foi mecanicamente determinada pela simples apetência do benefício a curto prazo (as lógicas do empresário e do investidor passivo são bem diferentes), mas que hoje deve se enriquecer com novas expectativas e novas dimensões do bem comum, nas quais podem confluir as “leis” do mercado e da política com motivações à doação e à gratuidade.
Para compreender em profundidade estas orientações e traduzi-las em termos concretos de dinâmica econômica, contamos, por um lado, com nossos assessores espirituais e, por outro, com um grupo internacional de estudiosos de primeira linha, reunidos em um comitê científico presidido por um prestigioso economista italiano,o professor Quadrio Curzio, vice-presidente da Accademia Nazionale dei Lincei. Os trabalhos resultantes se dão a conhecer nos Convegni internacionais da Fundação e em numerosos atos organizados pelos sócios no âmbito nacional ou local.
-Formar as consciências segundo uma perspectiva cristã é uma tarefa muito importante que a Fundação leva a cabo desde o seu nascimento. Quais são os programas e objetivos que você pretende seguir neste âmbito durante o seu mandato?
Domingo Sugranyes: Os sócios da Fundação assumem a obrigação de formar-se na doutrina social da Igreja. Na Itália, têm a possibilidade de fazê-lo nos cursos organizados pela Fundação conjuntamente com a Pontifícia Universidade do Laterano. Em outros países, existem outras instituições que oferecem este tipo de formação e a Fundação pretende estabelecer acordos com elas nos próximos anos para constituir uma rede de centros de formação à disposição dos sócios.
Da mesma forma, servem para este fim as reuniões regulares de sócios com os assistentes espirituais da Fundação, nomeados nos diversos países pelas conferências episcopais. Além da formação teórica, a Fundação busca outro objetivo estatuário mais concreto: arrecadar fundos para apoiar obras ou instituições escolhidas pelo Santo Padre ou que ele designa para nossa atenção. Dessa maneira, gera-se também para os sócios uma obrigação de compromisso material.
-Em que outros âmbitos se orientará sua ação?
Domingo Sugranyes: Na linha antes citada, por indicação expressa do Santo Padre, através do presidente da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA), Sua Eminência o cardeal Attilio Nicora, a quem a Fundação faz referência, vamos procurar apoiar materialmente outra instituição vaticana, o Pontifício Instituto de Estudos Árabes e de Islamística (PISAI).
Trata-se de um instituto de altíssimo valor acadêmico que prepara leigos e religiosos destinados a conhecer e compreender em profundidade o mundo árabe e o Islã. O PISAI tem mais de 100 anos de existência, é conhecido e respeitado também em ambientes islâmicos e nos foi pedido que ajudemos os seus responsáveis a modernizar suas instalações e a proporcionar bolsas de estudo. Assim nos aproximamos também de um campo e enorme interesse no mundo atual: o diálogo inter-religioso sobre os assuntos de ética econômica e social.
-O primeiro informe sobre a doutrina social da Igreja no mundo, publicado pelo Observatório Internacional Cardeal Van Thuân, recorda as muitas iniciativas para a difusão do Compêndio da doutrina social da Igreja. A Fundação Centesimus Annus - Pro Pontifice nasceu precisamente para isso. O senhor poderia nos explicar as iniciativas e o compromisso da Fundação, neste âmbito?
Domingo Sugranyes: Todos os nossos esforços estarão orientados a dar a conhecer a doutrina e a provocar a reflexão dos eminentes especialistas em economia e ética social com os nossos sócios, para extrair consequências e um compromisso renovado. Mas não estamos sozinhos! Por sorte, há muitas iniciativas no mundo que trabalham na mesma direção; e há muito por fazer para todos, buscando o enriquecimento que deriva de tão variadas experiências.
Fonte: Zenit.
Nenhum comentário:
Postar um comentário