“A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo” (Rom 3, 21–22 ) é o tema que Bento XVI quis apresentar como centro da reflexão da Quaresma de 2010.
No século III, Ulpiano, conhecido jurista romano, definiu o termo justiça como “dar a cada um o que é seu”. Mas “o que é o seu?”: esta é a pergunta que o Santo Padre se faz na introdução do texto.
E indica que o homem tem uma necessidade mais íntima de uma existência plena, aquilo que só se pode conceder gratuitamente. “O homem vive daquele amor que só Deus lhe pode comunicar”.
Não obstante, o Papa esclarece que os bens materiais são “úteis e necessários” e faz alusão ao fato de que Jesus “se preocupou com a cura dos doentes, em matar a fome das multidões que o seguiam”.
De onde vem a injustiça?
Bento XVI adverte, em sua mensagem, sobre o perigo que representa o fato de identificar a raiz da injustiça em uma causa externa – erro que com frequência muitas ideologias modernas adotam. E garante que esta maneira de pensar é “ingênua e míope”.
“A injustiça, fruto do mal, não tem raízes exclusivamente externas; tem origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa conivência com o mal”, indica o pontífice.
“O homem torna-se frágil por um impulso profundo, que o mortifica na capacidade de entrar em comunhão com o outro”, algo que o faz sentir “dentro de si uma força de gravidade estranha que o leva a dobrar-se sobre si mesmo, a afirmar-se acima e contra os outros”. Isso é “o egoísmo, consequência do pecado original”.
Assim, o Papa faz referência ao Gênesis, que claramente explica como Adão e Eva “substituíram a lógica de confiar no Amor por aquela da suspeita e da competição”, o que os levou a experimentar “uma sensação de inquietação e de incerteza”.
Justiça plena
Bento XVI explica o termo hebraico sedaqah, que significa “aceitação plena da vontade do Deus de Israel” e que leva o homem a viver a “equidade em relação ao próximo”.
“Deus está atento ao grito do pobre e em resposta pede para ser ouvido”. Por isso, para que o homem seja verdadeiramente justo, deve “sair daquela ilusão de autossuficiência, daquele estado profundo de fechamento, que á a própria origem da injustiça”.
O pontífice mostra que, em Cristo, a justiça de Deus alcança sua plenitude. Uma justiça que “vem da graça, onde não é o homem que repara, que cura a si mesmo e os outros”, mas uma justiça em que o amor de Deus se abre “até o extremo”.
No entanto, o Papa se pergunta: “Que justiça existe lá onde o justo morre pelo culpado e o culpado recebe em troca a bênção que toca ao justo?”; e responde que neste ponto é onde se manifesta a “justiça divina”, muito diferente da “justiça humana”, já que as injustiças humanas foram pagas com um preço “verdadeiramente exorbitante”. Trata-se da “justiça da Cruz”.
“Perante a justiça da Cruz o homem pode revoltar-se”, adverte o Papa, mas quem acolhe este dom consegue “sair da ilusão da autossuficiência para descobrir e aceitar a própria indigência – indigência dos outros e de Deus, exigência do seu perdão e da sua amizade”.
Para que isso ocorra, é indispensável “aceitar que se precisa que um Outro me liberte do ‘meu’, para me dar gratuitamente o ‘seu’”. E, mediante os sacramentos, pode-se alcançar esta justiça, especialmente com “a Penitência e a Eucaristia”.
Bento XVI conclui sua mensagem convidando o homem a acolher uma justiça “maior”. Trata-se da justiça do Amor, que faz que o homem se sinta “mais devedor do que credor, porque recebeu mais do que aquilo que poderia esperar” e mostra como isso o leva a ser justo em todos os seus atos, “onde todos recebem o necessário para viver segundo a própria dignidade de homem e onde a justiça é vivificada pelo amor”.
Fonte: Zenit.
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