Os filipinos podem ser materialmente pobres, mas têm uma riqueza para compartilhar com outros países: sua fé católica. Assim, ainda que a pobreza os obrigue a emigrar, estes imigrantes se tornam missionários em vários países do mundo.
Esta é a reflexão feita pelo bispo auxiliar de San Fernando, Dom Roberto Calara Mallari. Nesta entrevista, ele compartilha confissões pessoais como sucessor dos apóstolos.
O senhor foi consagrado bispo em seu 48º aniversário. O que isso significa para o senhor?
Dom Mallari: Para mim, foi como nascer de novo, porque senti que se tornar um bispo é também uma experiência de morte. Na verdade, quando eu pensava nisso, eu perguntava para o Senhor se sua vontade não seria tirar a minha vida.
Quer dizer que o senhor experimentou naquele momento uma espécie de morte para a vida?
Dom Mallari: Todos nós temos desejos em nosso coração. Eu só queria ser um simples pároco de uma área rural, onde eu pudesse plantar verduras, mas tornar-me um bispo significava fazer muitas coisas diferentes do que eu queria.
Bento XVI lhe escreveu uma mensagem pontifícia que dizia: "Ensine os fiéis da arquidiocese de San Fernando, filho amado, a reconhecer a presença de Cristo em cada pessoa, a encontrá-lo em todas as pessoas, especialmente nos pobres". O que o senhor sentiu, ao ler essa mensagem, como um jovem bispo?
Dom Mallari: Para mim, foi um verdadeiro desafio. Ao longo da minha vida, como seminarista e como padre, isso foi uma luta. Eu me perguntava: por que me é tão fácil reconhecer Jesus na Eucaristia? É tão fácil me ajoelhar e mostrar-lhe quanto o amo; mas é tão difícil vê-lo nos pobres e sofredores, quando, na verdade, o ser humano supostamente é a obra-prima da criação, tendo sido criado à imagem e semelhança de Deus. Eu diria que é uma luta, mas eu tento fazer esse esforço para ver Jesus em todas as pessoas, porque é nisso que eu acredito.
Portanto, esta mensagem realmente tocou diretamente uma questão essencial na sua vida?
Dom Mallari: Sim, Jesus nos pedia que o víssemos nos rostos dos pobres e muitas vezes é difícil vê-lo. A primeira coisa que fiz foi criar um "departamento" para os pobres em meu escritório, porque eu senti que, como bispo, minha porta deveria estar aberta a eles. É fácil enviá-los ao departamento de ação social da nossa arquidiocese, mas eu senti que o meu escritório deveria ter os recursos para responder imediatamente, no momento do pedido, às necessidades dos pobres que chegam.
Como o senhor descreveria a fé dos filipinos?
Dom Mallari: Nós ainda estamos crescendo, mas precisamos amadurecer na fé. Somos o único país cristão na Ásia, mas há muita corrupção. É um desafio para a Igreja chegar até os líderes políticos e conseguir que nossos líderes leigos, que são cristãos, cheguem a cargos de governo. Precisamos incutir nas pessoas que buscar um cargo é um sinal de amor, que também significa sacrifício, mas que é necessário chegar a uma mudança social e a uma transformação da nossa sociedade.
Muitos desses líderes políticos passaram por colégios e universidades católicas. Como a Igreja pode lidar, no âmbito educativo, com o problema da corrupção? Estão tomando medidas nesse sentido?
Dom Mallari: Estamos tentando responder a este desafio. Há uma tendência a pensar que, porque somos católicos, qualquer coisa está e estará bem, e não temos de fazer mais nada. Agora percebemos que devemos enfatizar o caráter católico nas escolas católicas. Devemos lembrar constantemente aos nossos alunos a mensagem do Evangelho: não só conhecimento, mas o desafio de viver a fé. Uma coisa é ser batizado, e outra é viver a fé a cada dia.
A questão da pobreza e as diferenças de riqueza continuam presentes nas Filipinas. Na verdade, aumentam. Como a Igreja responde a este problema?
Dom Mallari: Na minha diocese, temos um programa iniciado pelo primeiro bispo, que convida os ricos a dar uma contribuição para os pobres. As imagens de Nossa Senhora e a cruz viajam de uma paróquia para outra, e a coleta da paróquia anterior é entregue na paróquia seguinte, que a distribuiu aos seus pobres. Esta é, de forma humilde, uma oportunidade para que os ricos compartilhem com os pobres.
Esta pobreza faz com que os filipinos vão para o exterior como trabalhadores migrantes. Alguns dizem que os filipinos substituíram os irlandeses na comunicação da cultura católica ao mundo, especialmente nos países islâmicos. Isso ainda acontece?
Dom Mallari: Sim. Na verdade, existem atualmente cerca de 9 milhões de filipinos morando no exterior. No ano passado, eram 7 milhões. E continuam aumentando. A Conferência Episcopal Filipina coincide em que devemos incentivar nossos emigrantes a ser missionários, a estar conscientes dessa fé que têm e desse tesouro que possuem. Apesar de sermos pobres materialmente, temos essa riqueza que podemos compartilhar com pessoas de outros países.
As Filipinas têm a população com o crescimento mais rápido da Ásia, o que provoca que se fale de uma legislação para controlar a população. Uma das leis apresentadas pelo governo foi a Lei do Controle Populacional (Lei de Saúde Reprodutiva). Quais são as propostas e qual é o perigo representado por essas propostas para a família?
Dom Mallari: Em primeiro lugar, a Igreja é contra a introdução da contracepção artificial, que está contida na lei, e contra sua legalização. O governo acusa a Igreja de impor suas ideias, mas o que a Igreja promove realmente é a liberdade. O Estado não deveria dar ordens às famílias sobre essa questão. É um assunto de família. É algo pessoal e cada família deveria decidir por si própria. O Estado não tem o direito de transformar isso em lei, pois parece que, se alguém não seguir o programa, poderá ser preso.
Em segundo lugar, sabemos que muitos destes contraceptivos artificiais são abortivos, causam abortos.
O crescimento da população é a verdadeira preocupação ou é um problema artificial? E que alternativas a Igreja pode oferecer a estas leis de contracepção?
Dom Mallari: Este problema da população deve ser considerado dentro de uma perspectiva global. Hoje, muitos países têm populações "envelhecidas": na Europa, América, até no Japão e em Singapura, além de outras partes da Ásia. Eu acho que deveríamos olhar para as pessoas ao redor do mundo e ao fato de que estamos dispostos a emigrar. Muitas partes da Europa, por exemplo, precisam de pessoas que deem atenção e acredito que os filipinos podem oferecer este serviço aos países em necessidade.
Como alternativas à contracepção, a Igreja está fazendo muito para propor uma alternativa, que é o método de "planejamento familiar natural". É natural, respeita a dignidade da pessoa humana e é uma ocasião para que o casal se conheça - a dinâmica do relacionamento. O marido precisa estar envolvido no processo e o casal tem que falar sobre o processo pelo qual a mulher passa - a perspectiva das mulheres.
O senhor é otimista quanto ao futuro da Igreja Católica nas Filipinas?
Dom Mallari: Sim, muito. De fato, estou feliz em saber que a migração está ajudando nossos católicos filipinos a amadurecer. Eu estive na Nova Zelândia e me alegrei ao saber que o bispo de Hamilton disse que os filipinos davam vida às paróquias das dioceses de Nova Zelândia. Se um padre é transferido para lá para oferecer ajuda, eles nos aconselham a não estabelecer uma paróquia para a comunidade filipina, porque, como ele dizia, privaríamos as outras paróquias da presença dos filipinos. E eu fiquei feliz de ouvir isso. Tive a oportunidade de celebrar uma Missa em Auckland e me alegrei ao ver a comunidade filipina, dirigindo o coral e a liturgia da Missa.
Fonte: Zenit.
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