As notícias sobre a renúncia de Hosni Mubarak ainda não estavam claras no momento desta entrevista concedida a ZENIT, mas o cardeal Antonios Naguib, patriarca copta-católico de Alexandria (Egito), incentiva a participação dos fiéis católicos na vida política do país.
"Esperamos que o governo interino chegue a soluções para restabelecer a estabilidade e a segurança", diz o patriarca.
Qual é a posição da Igreja Católica diante do que está acontecendo agora no Egito?
Cardeal Antonios Naguib: Sem dúvida, assim como no caso de outras instituições e organizações presentes em nossa nação, a Igreja Católica no Egito denuncia fortemente a violência e o vandalismo, e tudo o que impede uma vida normal, digna dos nossos compatriotas. Ao mesmo tempo, a Igreja incentiva a promover um clima de fraternidade nacional e de diálogo construtivo, para aumentar a conscientização e a verdadeira participação no nosso país, no Egito. Temos de promover o espírito de participação ativa na vida social, especialmente através do dever de voto e de outros deveres nacionais.
Quanto à situação atual, estimulamos a participação, com outros cidadãos, no serviço de comitês populares de proteção das famílias, da propriedade e das instituições públicas.
Esperamos que o governo interino chegue a soluções para restabelecer a estabilidade e a segurança.
Os católicos egípcios participaram dos protestos?
Cardeal Antonios Naguib: Sim, estiveram presentes desde o começo das manifestações, desde 25 de janeiro até agora. Participam como cidadãos egípcios que buscam o bem da nação. É importante que não falem ou ajam para promover a violência ou o vandalismo. Eles devem saber que têm de tomar a iniciativa ou interromper uma ação caso o bem comum da nação o exija.
Temos informado nossas igrejas sobre a posição clara da Igreja Católica sobre a ação política. De fato, o Código de Direito Canônico proíbe o clero de realizar ações políticas que não estejam relacionadas à proteção da Igreja ou à promoção do bem comum. Ao mesmo tempo, permite aos demais fiéis o exercício deste direito. Portanto, têm de participar da vida social e política, expressar suas opiniões e votar quando há eleições. Isso lhes dá direitos e lhes permite expressar suas ideias de maneira legítima e pacífica, sem violência. Todos deveriam tomar uma decisão firme, livremente, diante de Deus.
Durante as orações da sexta-feira, em Teerã, o Aiatolá Khamenei convidou o Egito a seguir os passos da revolução islâmica de 1979. O senhor acha isso perigoso? E se isso acontecer, qual seria a posição da Igreja?
Cardeal Antonios Naguib: É claro que existe o perigo. Mas a declaração emitida pelos Irmãos Muçulmanos na noite de 4 de fevereiro, divulgada pelos jornais no sábado, 5 de fevereiro, afirma que "o grupo não tem planos. Sua finalidade é servir o povo, e é isso que fez durante 80 anos. Estão fazendo sacrifícios a favor da estabilidade do povo e buscando que os cidadãos de todas as denominações adquiram seus direitos como um dever religioso legítimo e um compromisso nacional. Não aspiram à presidência nem a qualquer autoridade ou cargo. Contam com a reforma popular progressiva e pacífica". Desejamos que isso reflita sua verdadeira posição. Neste caso, será normal que observem as leis gerais dos partidos e que participem, por meio dos seus representantes, no parlamento e na Assembleia Consultiva Egípcia ou Majlis al-Shura.
O senhor já se reuniu com líderes muçulmanos para unir suas vozes durante o período de instabilidade que tem prevalecido no país?
Cardeal Antonios Naguib: Não, isso ainda não aconteceu.
Como o senhor vê o futuro do Egito, em particular o futuro da Igreja Católica no Egito?
Cardeal Antonios Naguib: Estamos à procura de um futuro melhor para o Egito e para todos os egípcios. A situação dos cristãos e dos católicos depende da situação geral do Egito e do sistema que for assumido, bem como do seu presidente para o próximo período.
Fonte: Zenit.
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