O cardeal Peter Kowdo Appiah Turkson, presidente do Conselho Pontifício "Justiça e Paz", disse ontem que a Palavra de Deus é necessária para que os cristãos possam "discernir" sua tarefa no mundo.
Turkson fez a última grande intervenção antes do encerramento do Congresso "A Sagrada Escritura na vida da Igreja", promovido pela Conferência Episcopal Espanhola por ocasião da publicação da versão oficial da Bíblia em espanhol.
O cardeal falou sobre "A Palavra de Deus e o compromisso no mundo", focando-se na última encíclica social de Bento XVI, Caritas in veritate, um documento, sublinhou, que "reúne muitos recursos da Escritura e da nossa tradição social católica, colocando-os na base das questões sociais cruciais dos nossos dias".
O Papa "não prescreve programas ou receitas, nem tem quaisquer políticas ou soluções. Em vez disso, ele recomenda a Palavra de Deus como nossa ferramenta de discernimento", sublinhou.
Na encíclica, o Papa insta a "continuar a tarefa da Palavra no Mundo", uma dinâmica "criativa, que convoca e vincula, presente e salvadora, missionária e evangelizadora, continuadora da história da salvação, até o final dos tempos, enquanto constrói a cidade do homem com qualidades mais próximas da cidade de Deus".
O cardeal Turkson disse que os cristãos contribuem para a "construção de uma cidade humana que reflete fielmente a cidade de Deus", por meio "da graça e do poder da Palavra de Deus, através dos quais Ele leva a cumprimento todos os seus desígnios; e é através da Palavra de Deus que Ele se converte em princípio da nossa vida".
"A própria Palavra de Deus (a palavra da evangelização) insta a Igreja e seus filhos a construírem uma cidade terrena através das diversas formas do seu compromisso e dos seus ministérios sociais, que são uma antecipação e uma prefiguração da cidade de Deus."
A "cidade do homem - disse ele - não é promovida apenas com relações de direitos e deveres, mas, antes e ainda mais, com as relações de gratuidade, de misericórdia e de comunhão", restabelecendo "os relacionamentos destruídos pela violência".
"No passado, a própria Igreja se projetou nas estruturas estatais - cuius regio, eius religio -, mas agora entendemos a real e saudável separação (ainda que complexa!) das relações entre a Igreja e o Estado", disse o purpurado.
Cinco dimensões
O cardeal Turkson resumiu seu enfoque da Caritas in veritate em cinco "dimensões" da pastoral social: "começar com uma atitude realista; basear o trabalho em valores fundamentais; com confiança, assumir novas responsabilidades; estar abertos a uma profunda renovação cultural; e comprometer-se em trabalhar com coerência e consistência".
"O primeiro passo é começar com uma atitude realista, enfrentando os desafios do nosso tempo, não de respostas prontas ou ideologias simplistas, mas com a Palavra de Deus como nossa chave de discernimento", explicou.
Neste sentido, criticou aqueles que "preferem permanecer passivos, na esperança de que as coisas tomem um novo rumo, para depois poderem se lamentar livremente", acrescentando que "é preciso um esforço real para manter-se na leitura dos sinais dos tempos; é nossa responsabilidade cristã fazê-lo com equilíbrio e inteligência".
O segundo é o "trabalho baseado em valores fundamentais, uma nova visão do futuro, que só pode começar com nós mesmos e, portanto, esta segunda dimensão pode ser adequadamente chamada de conversão".
Neste sentido, lembrou que a Escritura "ilumina a existência humana e leva a consciência a rever em profundidade a própria vida, pois toda a história da humanidade está sob o juízo de Deus".
Em terceiro lugar, exortou a enfrentar, "com confiança, mais do que com resignação", as novas responsabilidades, assumindo-as com uma "nova vocação e missão".
A visão cristã "está plenamente informada pelo plano salvífico de Deus para o mundo - como indicado nas Escrituras", explicou.
Quanto à quarta dimensão, a de estar abertos a uma profunda renovação cultural, o cardeal reconheceu que "está muito difundido o ser negativo, niilista, pessimista - o que não só nos deixa fora de alcance, senão que também nos ausenta de ambas as histórias, a humana e a divina".
Quanto a isso, acrescentou, os cristãos "acreditam fortemente que um mundo mais justo e pacífico é possível e, portanto, nós mesmos temos de ser instrumentos de reconciliação e de paz".
Finalmente, o cardeal Turkson falou da necessidade de "novas formas de compromisso, com coerência e consistência".
"A dignidade humana é uma característica impressa por Deus Criador em sua criatura, assumida e redimida por Jesus Cristo através da sua encarnação, morte e ressurreição. Por isso, a propagação da Palavra de Deus reforça a afirmação e o respeito por esses direitos", sublinhou.
"O próprio compromisso de Deus com o mundo, através da Palavra, deve ser levado a cabo da melhor forma possível, pelo nosso empenho competente e generoso com os pobres de tantas pobrezas às quais devemos combater, nosso empenho a favor da reconciliação, da justiça e da paz", concluiu.
Fonte: Zenit.
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