A relativização da Bíblia, que nega seu valor como Palavra de Deus, é uma verdadeira crise, tanto externa como interna para a Igreja, segundo o cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos.
O relator do Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus, realizado no Vaticano em outubro de 2008, pronunciou nesta manhã a primeira conferência do congresso sobre "A Sagrada Escritura na Igreja", que está sendo realizado no Palácio de Congressos de Madri, com a participação de 800 pessoas.
"Nas últimas décadas, uma profunda crise tem atingido os fundamentos da cultura europeia", disse o cardeal canadense.
"Uma nova razão de Estado impõe sua lei e tenta relegar a um segundo plano as raízes cristãs da Europa. Parece que, em nome da laicidade, a Bíblia deveria ser relativizada, dissolver-se no pluralismo religioso e desaparecer como uma referência cultural normativa", afirmou.
No entanto, acrescentou: "A crise também penetrou no interior da Igreja, já que certa exegese racionalista se apoderou da Bíblia para dissecar as diversas etapas e formas de sua composição humana, eliminando os prodígios e milagres, multiplicando as hipóteses e semeando, muitas vezes, a confusão entre os fiéis".
Desta forma, reconheceu, surgem perguntas inquietantes: "Será que a Sagrada Escritura não é mais que uma palavra humana? Não é verdade que os resultados das ciências históricas invalidam o testemunho bíblico e, portanto, a credibilidade da Igreja? Como podemos continuar acreditando? E, finalmente, a quem devemos ouvir?".
O Sínodo dos Bispos de 2008, esclareceu seu relator, veio para confirmar a resposta da Igreja a essas perguntas.
"Nas intervenções dos bispos, sentiu-se a urgência de aprofundar na maneira de abordar o texto bíblico. Além do método histórico-crítico, cujos méritos e limitações são reconhecidos, os Padres Sinodais recomendaram fortemente a lectio divina [a meditação orante da Palavra de Deus] e falaram da importância do desenvolvimento do sentido espiritual das Escrituras, segundo a grande tradição patrística."
Paralelamente a esta reflexão da Igreja universal, a Conferência Episcopal Espanhola foi aperfeiçoando uma versão oficial da Bíblia, adaptada à cultura de hoje, com a garantia do rigor científico e da comunhão eclesial, reconheceu o cardeal Ouellet.
"Esperamos que toda a Espanha se beneficie desta iniciativa e possa mostrar à Europa, hoje como no passado, uma nova forma de anunciar o Evangelho", confessou.
Em seu discurso, o ex-primaz do Canadá apresenta a exortação apostólica Verbum Domini, na qual Bento XVI apresenta as conclusões do Sínodo da Palavra e dá um impulso à nova evangelização, "convidando pastores, fiéis e especialistas na Bíblia a encontrar novamente a Palavra divina nas palavras humanas do texto sagrado".
"Diante do desafio da secularização do Ocidente cristão e da crise de identidade do cristianismo em ambientes pluralistas, a Igreja responde com um novo anúncio da Palavra viva de Deus em Jesus Cristo, que convida a um ato de fé renovado nas Sagradas Escrituras", disse.
O congresso que está sendo realizado em Madri reflete sobre a publicação de "A Bíblia Sagrada. Versão oficial da Conferência Episcopal Espanhola".
O discurso do cardeal Ouellet pode ser lido em: http://www.sagradabibliacee.com/images/stories/congreso/MarcOuellet.pdf
Fonte: zENIT.
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