O médico Patrizio Polisca ainda recorda as palavras da Ir. Caridad, uma religiosa espanhola que administrava um hospital em Roma onde ele trabalhava: “O senhor terá de ir porque um dia será o médico do Papa”. Palavras que se mostraram proféticas no dia 5 de julho, quando ele assumiu o cargo como novo diretor de Serviços de Saúde no Estado do Vaticano.
“Trata-se de garantir a assistência e o cuidado das pessoas que vivem, trabalham ou passam pelo Vaticano”, afirma Polisca em uma entrevista publicada no último sábado por L’Osservatore Romano.
O novo médico do Papa substitui Renato Buzzonetti. Ele garante que pensa em continuar “o caminho bem traçado”. A respeito das pessoas que trabalham lá, disse: “conheço todos e agora se trata de coordenar e cumprir juntos uma missão importante. Buscaremos fazer isso sempre melhor”.
Servir como médico
Este homem casado e com três filhos é especialista em doenças infecciosas, cardiologia, anestesia e reanimação.
Em 1986, aquele que hoje é seu antecessor, Renato Buzzonetti, chamou-o para uma entrevista. Ele propôs fazer um plantão médico em Castelo Gandolfo durante os períodos de férias.
Polisca recorda que no verão de 1987 se encontrou pela primeira vez com João Paulo II. “Havia celebrado a missa e o vi no pátio do palácio. Seu secretário particular, Dom Stanislaw, apresentou-nos, dizendo ‘É o médico de plantão hoje’, e o Papa respondeu: ‘Tão jovem’”?.
“Nesse momento, dei-me conta do que estava acontecendo. Eu estava de frente com o Papa. Estava ali por ele, caso precisasse de um médico”, conta.
“O rosto de Karol Wojtyla, que sorriu depois daquelas palavras, animou-me”, confessa. “Na hora vieram à mente as palavras da madre Caridad: uma sensação inesquecível, que contudo hoje ainda me faz estremecer.”
“Senti-me como numa ocasião de crescimento profissional, maduro no sentido mais agradável, ou ao menos o mais próximo da sensibilidade cristã”, comenta o médico.
Polisca permaneceu neste cargo até 1994, até que Buzzoneti lhe propôs se converter em oficial da saúde vinculado ao corpo médico vaticano. Sua primeira viagem com o pontífice foi a Cuba, em janeiro de 1998. “Recordo com alegria cada momento, quase todas as pessoas encontradas, os olhos vermelhos penetrantes de Fidel Castro, o olhar decidido e sereno de João Paulo II. O magnetismo que exercia sobre as multidões me impressionou muito”.
Desde 2003, começou a acompanhar todas as viagens do Papa. “Em Bratislava (capital da Eslováquia), o Papa teve um pequeno mas doloridíssimo acidente quando voltava à nunciatura”, recorda. “A dor que sentiu foi tão grande que lhe provocou uma crise respiratória. Teve um ataque de pânico, uma situação que nunca tinha passado antes. Mas o problema se resolveu bem em questão de minutos”.
O novo médico do Papa narrou também os últimos momentos que esteve com João Pauilo II. “Permaneci ao seu lado desde quinta-feira pela tarde até a manhã de sábado. Então beijei sua testa e saí. Não acredito que tenha me reconhecido. Não estava com ele quando morreu”.
Também se referiu ao seu trabalho no Vaticano: “a Providência guiou”. Uma experiência que interiormente o fortaleceu: “compreendi o sentido de minha permanência na Igreja de Cristo; tomei consciência do que significa servir ao Papa e, por meio dele à Igreja”.
Igualmente, recordou a eleição de Bento XVI: “Buzzoneti e eu fomos os primeiros leigos a ser saudados pelo Papa”. Uma saudação que lhe trouxe muitas surpresas, porque Ratzinger, ao vê-lo, recordou um diálogo que haviam tido em 1990 sobre São Boaventura: “Fiquei chocado, incapaz de qualquer reação. Estava totalmente surpreendido, de forma a não conseguir dizer nada; talvez com um daqueles sorrisos estranhos quando não se sabe o que dizer”.
Falou também das exigências de seu novo cargo. “Precisamente pelas grandes responsabilidades que adquiri, tenho o dever de estar constantemente atualizado para manter minhas habilidades profissionais”, disse.
“Por isso, estou na Universidade Policlínica de Tor Vergata, onde trabalho na equipe de cardiocirurgia e também sou encarregado de uma clínica muito complexa.”
“Também é necessário continuar estudando. Dedico-me aos estudos principalmente aos sábados e domingos”, disse.
Polisca, ademais, preside à comissão médica que examina os casos milagrosos na Congregação para as Causas dos Santos: “Ter entrado nesta equipe é uma honra para mim. Estamos convidados a dar nossa opinião sobre as curas milagrosas, aquelas que não são explicáveis pela a ciência e são atribuídas à intercessão dos santos”.
(Carmen Elena Villa)
Fonte: Zenit.
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