Neste final de semana, a Palavra de Deus nos convidou a refletir sobre a nossa aceitação de fazer parte do “banquete” da parábola que Jesus conta, comparando o Reino dos Céus com a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho. Também ecoou em nossos ouvidos o texto de Isaías, que anuncia que “o Senhor dará um banquete para todos os povos e eliminará a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces”.
Jesus conta a parábola das bodas: um convite à alegria e à vida de Deus, que é o amor e, portanto, comunhão. Porém, a constatação é que os destinatários do convite o rejeitam, para caminhar em destinos diferentes dos estabelecidos por Deus, cada um dando sua desculpa. No entanto, nem por isso o banquete vai ser cancelado, ele estará sempre lá para celebrar o matrimônio místico, destinado a durar para sempre, entre o homem que ouve o convite à salvação e seu Criador.
E, depois, diz a parábola, o rei ordena aos seus servos para irem a cada esquina e rua da cidade para chamar para a festa quem quer que eles encontrem: "Ide agora até as encruzilhadas dos caminhos e convidai todos que encontrardes para as núpcias".
Cristo nos diz que Deus deu ao povo escolhido, como primeiro destinatário, o dom da comunhão e da salvação através do envio do Filho, Jesus de Nazaré, que eles ignoraram, rejeitaram e condenaram, e, desde então, essa mesma salvação é oferecida, novamente, para todos os outros homens, seja qual for sua cultura e condição social a que pertencem: sejam eles ricos ou pobres, em especial os últimos, os marginalizados, porque ninguém é excluído do amor de Deus, a não ser que eles mesmos rejeitem esse amor.
É o que lemos no final da parábola, quando dizemos que a sala estava cheia para a presença de todos aqueles que aceitaram o convite, mas entre eles havia um desprovido da "veste nupcial" ou traje de festa, condição essencial para tomar parte no banquete.
Este é um simbolismo claro, demonstrando que seria o sinal de uma disposição interior para a comunhão com Deus – aceitando fazer parte do Reino.
Vivemos em um mundo dividido, onde existem disputas, maldades, violências, rancores, vinganças, corrupção, falsidades, incoerências, omissões que tornam infeliz o relacionamento humano e a própria pessoa. Porém, nada é impossível para Deus! Eis que Ele, neste domingo, exorta, em seu diálogo conosco, propondo-nos "um banquete de comida farta para todos os povos". Ele vai rasgar o véu que cobre o nosso rosto e que não nos permite ver e trazer para a realidade prática a verdadeira comunhão. Ele enxugará as nossas lágrimas e fará desaparecer a condição de desgraça do seu povo. Podemos, portanto, também nós, explodir na alegria mais plena e intensa: "Eis o nosso Deus; nele esperamos para que nos salvasse; este é o Senhor em que esperamos: alegremo-nos, exultamos pela sua salvação. Porque a mão do Senhor repousará nesta montanha”.
São Paulo, na segunda leitura deste domingo, exulta porque seus irmãos tomaram parte em suas dificuldades para obter um sinal concreto do seu amor e lhes promete uma recompensa não humana. "Meu Deus, por sua vez, suprirá todas as vossas necessidades, de acordo com suas riquezas com magnificência em Cristo Jesus. Ao Deus e Pai nosso seja dada glória para todo o sempre. Amém".
O convite do Evangelho para o banquete é de natureza escatológica, isto é, sobre o fim dos tempos. Retratam as núpcias no reino de Deus e o objetivo final, com o prêmio que nos espera. Ainda temos desculpas para não participar das núpcias? Os assuntos do mundo ainda têm de prevalecer sobre as coisas de Deus? Ou esperamos entrar sem a veste nupcial? Cada um de nós é chamado a dar a sua resposta com o coração aberto para a experiência de acolher o convite que a todos nós é dirigido. E aí iremos “nos alegrar e exultar por nos ter salvo”, e sermos contados entre aqueles que, além de chamados, também foram os escolhidos.
Na semana que se inicia, ao celebrar a Virgem de Nazaré no domingo, Padroeira da Amazônia; e no dia 12, ao celebrarmos a Virgem Aparecida, Padroeira do Brasil, vamos comemorar solenemente os 80 anos da inauguração do monumento ao Cristo Redentor, no Corcovado, que com seus braços abertos nos abraça e abençoa e é um sinal de fé do nosso país e de nossa gente a sinalizar para todos em quem nós cremos e colocamos nossa esperança: Jesus Cristo, nosso Senhor!
A vida e os seus ritmos frenéticos às vezes se tornam conspirações contra nós e nos distraem dos verdadeiros bens, iludindo-nos com a transitoriedade dos bens do tempo presente. O convite para o “banquete” e para estarmos com o traje da festa continuará sempre ecoando para todos os que veem este sinal no alto do monte. O Cristo que nos acolhe, do Corcovado, nos conclama a buscar os bens eternos e não nos iludir com o ter, o poder, o prazer e a glória transitória do mundo. Busquemos o fundamental e deixemos Cristo ser o Redentor de nossas vidas!
Dom Orani João Tempesta é arcebispo do Rio de Janeiro
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