Aconteceu durante uma guerra. Os homens lutavam para escrever uma página da história. O grupo estava avançando, afundando na lama. Não havia caminho e cada passo exigia um esforço fora do comum. O capitão decidiu fazer uma última e desesperada tentativa. Juntou os soldados, quase irreconhecíveis, com os uniformes incrustados de lama e de medo.
– Preciso de voluntários – gritou o comandante olhando aqueles rostos e querendo ver neles algum sinal de heroísmo – vou lhes deixar alguns instantes para decidirem, quem se oferecer dê um passo para frente! - Virou as costas e esperou.
Quando encarou novamente os homens viu uma única fila compacta.
– Ninguém se ofereceu? – perguntou com amargura.
– Capitão, todos nós demos um passo para frente – respondeu, quase sem voz, o mais jovem daqueles uniformes.
Parece uma cena de filme, de tão acostumados que estamos com a ficção da televisão. Histórias verdadeiras de heroísmo, porém, existem e acontecem todos os dias. Falo de pessoas honestas, cumprindo o seu dever com humildade e dedicação. Outras ajudando o próximo ou servindo a quem precisa sem alarde e sem propaganda. Existem também os casos que se tornam manchetes como os de alguém que devolve dinheiro alheio, encontrado por acaso, e também em ocasiões de desastres quando a solidariedade e o amparo vêm, muitas vezes, de quem menos se esperava. Assim é o heroísmo: um gesto que suscita admiração e deveria conduzir à imitação. Debochar de quem se esforçou, arriscou a vida ou simplesmente mostrou solidariedade e honestidade é, no mínimo, inverter os valores sobre os quais deveria alicerçar-se uma sociedade que busca o bem e a convivência pacífica de todos. É importante que, ao menos algumas vezes, o bem se torne notícia, para não esquecermos que a atitude mais comum a todos nós deveria ser praticar aquelas virtudes que embelezam e enriquecem a vida. É sempre bom que, no meio de tantas notícias trágicas ou sobre as futilidades dos “famosos”, apareçam notícias, do bem, bem feitas e merecedoras de reconhecimento.
A esta altura, não seria o caso de pensar que nós todos poderíamos ou deveríamos ser um pouco mais heróis? Quando Jesus nos convida a segui-lo carregando a nossa cruz nos manda, afinal, a não fugir das nossas responsabilidades e das infinitas possibilidades de fazer o bem que, com certeza, aparecem todos os dias à nossa frente. Se o extraordinário chama a nossa atenção, o cotidiano pode fazer de nós verdadeiros heróis da paciência, da perseverança, e da fidelidade. Talvez a cruz de todos os dias seja tão pesada quanto um gesto ocasional único e irrepetível. Ou, talvez, o gesto heróico se torne possível porque todos os dias treinamos um pouco de amor para não perder o costume da generosidade, a sensibilidade do coração, enfim a disposição a fazer o bem. Não é por acaso que o pior inimigo da nossa vida cristã não seja tanto o mal que, graças a Deus, não cometemos tanto assim, mas a mediocridade, isto é, a incapacidade de sobressair: na nossa maneira de falar e agir, pelo bem que cumprimos, pelas virtudes que praticamos, pela bondade que espalhamos. Para nós cristãos, esforçarmo-nos para sermos melhores não é ambição, mas obrigação. Simplesmente para não cair na indiferença e esquecer a alegria de doarmos um pouco, ou muito, da nossa própria vida. Somente assim nos salvamos da mediocridade e ajudamos a outros a dar um sentido melhor à própria vida. Para sermos bons cristãos não basta não fazer o mal, é urgente fazer o bem.
Neste último domingo de agosto, precisamos agradecer a tantos irmãos e irmãs que ajudam nas nossas paróquias e comunidades. Além daquelas pessoas maravilhosas sempre disponíveis para ajudar em tudo o que for preciso, existem também muitos ajudando em serviços específicos conforme a disponibilidade e as capacidades de cada um. Lembramos de maneira especial as catequistas e os catequistas e todos aqueles que procuram fazer conhecer e amar mais a nossa fé. No entanto qualquer um que pratica o bem é, de fato, um evangelizador, um sinal de esperança e de vida nova para quem o encontra.
Estamos combatendo uma guerra contra a indiferença e a mediocridade, precisamos de voluntários. Quem puder dê um passo para frente. Qualquer vitória contra o egoísmo começa assim.
Fonte: Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá - AP
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