O Conselho Pontifício Cor Unum enviou neste mês uma substanciosa ajuda em nome do Papa a algumas dioceses do Chifre da África assoladas pela fome.
A ajuda de Bento XVI se dirige a cinco dioceses do Quênia e seis da Etiópia, que enfrentam uma emergência humanitária com mínimos recursos, atendendo a população nas necessidades básicas imediatas.
Cerca de 12,5 milhões de pessoas estão em situação de emergência pela fome ao longo do chamado “Chifre da África”, que abrange a Somália, a Etiópia, a Eritreia e partes do Quênia, além de partes de Uganda. Sem ajuda urgente, o risco de morte é iminente.
Dom Giampietro Dal Toso, secretário do Cor Unum, considerou a ajuda do Papa como um “forte sinal” para a comunidade internacional e como “indicativo da atenção com que Bento XVI segue a dramática situação na região e da sua solicitude para com aquelas populações martirizadas”.
Cor Unum mandou esta nova ajuda depois de uma primeira, imediata, de 50.000 euros, feita em julho ao bispo do Djibuti e administrador apostólico de Mogadíscio, Somália, Dom Giorgio Bertin, OFM, comprometido diretamente na ajuda às populações afetadas.
O secretário do dicastério afirmou que o Papa foi um dos primeiros a destacar a gravidade da situação, no último 17 de julho, ao indicar a necessidade de intervir para defender e apoiar uma população que sofre tanto.
Neste domingo, no Ângelus, Bento XVI pediu “mobilização internacional para enviar imediatamente auxílio aos nossos irmãos e irmãs que já sofreram tanto, e entre os quais temos tantas crianças”.
Seca, conflito, êxodo
Em entrevista a L’Osservatore Romano, Dom Dal Toso explicou que a situação no Chifre da África está condicionada por uma série de problemáticas, entre elas a seca e o conflito na Somália, que causou o êxodo de milhares de pessoas.
As chuvas entre outubro e dezembro de 2010 foram extremamente escassas e irregulares, piorando a seca que já dura dois anos e comprometendo gravemente colheitas e pastos.
Dom Dal Toso aponta a necessidade de projetos de desenvolvimento “que garantam um futuro às novas gerações” e “afastem para sempre o espectro da fome no mundo”. Acrescenta que a comunidade internacional está agindo, mas não deve baixar a guarda, especialmente quando acabar o efeito emotivo gerado nos meios de comunicação.
Diversas organizações católicas como a Caritas Internationalis têm programas organizados com grande aporte econômico, de milhões de euros, para melhorar a situação agora e no longo prazo.
Catástrofe
No fim de maio, o governo do Quênia declarou como “catástrofe nacional” a situação da alimentação em várias áreas do país.
Em 20 de julho, a ONU declarou oficialmente o surto de fome em duas regiões do sul da Somália, alerta estendido a outras três em agosto.
A ONU informou ainda que, a partir da declaração, 20.000 pessoas deixaram o sudoeste da Somália rumo à capital, Mogadíscio. Os refugiados chegam com a esperança de encontrar comida. Estima-se que 100.000 somalis se refugiaram nos acampamentos de ajuda no vizinho Quênia, e outros 78.000 em acampamentos na Etiópia.
A ONU declara crise de fome (nível 5 – e máximo – de alerta) quando existem indicadores como taxa de desnutrição aguda em crianças superior a 30% (no momento da declaração da ONU a taxa era de mais de 50%).
Outro indicador determinante é a morte de mais de duas pessoas por dia para cada 10.000. No momento da declaração, as crianças morriam a um ritmo de 6 para cada 10.000 ao dia.
Vastas regiões do Quênia, Etiópia e Djibuti estão em nível 4 de alerta, às portas da crise de fome. Não existem dados oficiais da situação da Eritreia, embora se saiba que as últimas chuvas também foram irregulares.
A pior seca em 60 anos no Chifre da África agrava uma situação estrutural de pobreza e conflito, alimentada pela subida internacional do preço dos alimentos e do combustível. A Caritas prevê que a crise piore nos próximos meses e que os atingidos precisarão de anos para recuperar e reconstruir suas vidas.
A busca de alimentos provoca migração de pastores e agricultores em grande escala. A Caritas alerta que estas pessoas percorrem grandes distâncias a pé, em lombo de burro ou gastando o último dinheiro para ser transportados em caminhões superlotados.
Ao deixar as áreas atingidas, muitas famílias se vêem obrigadas a abandonar os idosos, crianças doentes e mulheres grávidas. Muitos deixam para trás os corpos dos entes queridos ao longo do caminho. Chegam ao destino em condições deploráveis: esgotados, desnutridos e doentes de malária, sarampo e outras enfermidades.
Muitos têm sido atacados por bandidos armados, que saqueiam seus escassos pertences e os submetem a todo tipo de violência.
Fonte: Zenit.
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