Três anos depois da morte de mais de cem cristãos por causa da violência de hindus fundamentalistas no estado de Orissa, Índia, os fiéis continuam sofrendo perseguição. As autoridades não permitem reconstruir as igrejas nem construir novas nas “colônias” cristãs nascidas após o massacre.
Nesta quarta-feira, aniversário desses pogroms, os cristãos de Orissa não se atreveram a celebrar grandes reuniões para recordar as vítimas e alçar a voz contra as injustiças que ainda sofrem.
“Tínhamos medo das represálias dos fundamentalistas hindus, que estavam concentrados para celebrar o aniversário da morte do vidente Laxmananda Saraswati”, explicou a presidente do grupo de mulheres da arquidiocese de Cuttack-Bhubaneswar, Shibani Sing, à agência Ucanews.
“É uma pena que não estejamos organizados; não pudemos recordar os nossos mortos nem homenageá-los”, declarou o coordenador da associação de sobreviventes, Bipra Charan Nayak. O advogado católico Paul Pradhan também afirmou: “Nossas vozes são fracas por falta de solidariedade”.
O arcebispo de Cuttack-Bhubaneswar, Dom John Barwa, explicou que as coisas estão voltando à normalidade nas cidades, mas nas áreas remotas continuam os incidentes violentos.
Ataques
No sábado passado, 21 de agosto, foi atacada a igreja católica de Santa Maria, em Pune, na Índia ocidental. Os vândalos queimaram parcialmente o tabernáculo, picharam imagens religiosas e jogaram pelo chão bíblias e outros livros religiosos.
No estado indiano de Karnataka, pelo segundo domingo consecutivo, a celebração religiosa foi interrompida e o pastor foi agredido e preso pela falsa acusação de forçar conversões.
Vinte ativistas radicais hindus atacaram o pastor Sangappa Hosamani Shadrak, de 28 anos, enquanto celebrava na localidade de Rohi em casa de um fiel.
Os extremistas atacaram a comunidade, profanaram o pão e o vinho que estavam sendo usados na celebração e agrediram o pastor, que perdeu um dente e ficou gravemente machucado no rosto. Os agressores ainda o levaram para outra localidade, Latte, e o amarraram a uma árvore.
Mais tarde, os extremistas chamaram a polícia, que prendeu o pastor e alguns fiéis. As tentativas do GCIC de libertá-lo foram em vão. Shadrak foi levado ao presídio de Jamkotai, sob acusações não especificadas.
Proibido construir igrejas
Em Kandhamal, o governo local enviou carta ao pároco da igreja católica de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa em Mondasoro exigindo a paralisação imediata dos trabalhos de reconstrução de uma capela na localidade de Padunbadi, alegando que o terreno é propriedade do estado.
Há dias, o governo impediu a construção de outra igreja católica em Nadagiri, onde muitas famílias cristãs foram realocadas depois de ter suas casas ocupadas por extremistas hindus. Outros grupos radicais continuaram criando problemas, ao bloquear a chegada de material de construção para as casas e igrejas cristãs.
O Global Council of Indian Christians (GCIC) enviou uma carta aberta ao Primeiro Ministro, Shree Naveen Patnakiji, pedindo a revogação dessas ordenanças contrarias à Constituição indiana e à liberdade religiosa, segundo a AsiaNews.
O presidente do GCIC, Sajan K. George, pôs em dúvida a existência de liberdade religiosa em estados como Karnataka, Orissa e Gujarat. “É uma mancha sobre a Índia laica”, declaró.
O GCIC está muito preocupado com a nova campanha do Vishwa Hindu Parishad (VHP), grupo extremista e militante hinduísta que se mostrou contrário a um projeto de lei para combater a violência inter-religiosa.
A entidade considera que a ameaça do extremismo político contra os cristãos é um problema que não afeta só Orissa, mas a Índia toda.
“Muito mais a ser feito”
O arcebispo de Cuttack-Bhubaneswar destacou que “devemos trabalhar pela paz mantendo o nosso direito de estar aqui”, especialmente no distrito de Kandhamal, o mais afetado, onde, há três anos, 300 povoados foram atacados, com saldo de mais de 70 mortos.
Ao menos 25.000 pessoas fugiram da violência quando, em 23 de agosto de 2008, foi assassinado o ativista político Swami Laxmanananda Saraswati.
Entre agosto e setembro daquele ano, mais de 170 igrejas e capelas foram atacadas no Natal de 2007 em Kandhamal, obrigando 3.000 pessoas a abandonar seus lares.
“Nos últimos três anos, houve passos no caminho da reconstrução e do diálogo”, explicou o arcebispo à associação internacional Ajuda à Igreja Necessitada, “mas há pessoas que ainda têm medo; houve progressos na paz e na justiça, mas ainda muito mais tem que ser feito”.
“Foi feita justiça depois do que houve em Kandhamal, mas estamos um pouco desanimados”, reconheceu. “Os funcionários de departamentos mais baixos nos criam problemas, mas os de níveis superiores estão fazendo o seu melhor esforço”, disse, embora as “palavras bonitas sobre a necessidade de justiça nem sempre se traduzem em atos”.
A maior parte das pessoas desalojadas entre 2007 e 2008 voltou para Kandhamal, graças à construção de mais de 3.700 casas, que devem chegar a 4.000 no final do ano.
O arcebispo agradeceu a Ajuda à Igreja Necessitada. “A maior parte das paróquias de Kandhamal foi reconstruída, mas faltam muitas igrejinhas e capelas do interior”.
A entidade também proporcionou 30.000 euros para a assistência psicológica às vítimas das atrocidades cujo triste aniversário foi ontem.
Fonte: Zenit.
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