No próximo dia 12, a Universidade Pontifícia Salesiana em Roma oferecerá um seminário de estudos sobre o livro Padres no Divã (Editora Giunti), de Giuseppe Crea e Fabrizio Mastrofini, cuja proposta é detectar os problemas dos padres italianos de hoje e entender como eles tentam resolver as suas dinâmicas pessoais e os pedidos de ajuda dos fiéis, além de aumentar a sua segurança, empatia, resiliência e relacionamentos autênticos com a comunidade.
Giuseppe Crea, sacerdote missionário comboniano, é psicólogo e psicoterapeuta, com vários anos de trabalho como professor em universidades pontifícias. Recebe numerosos sacerdotes que, vivendo situações traumáticas, precisam enfrentar momentos de ansiedade, angústia , derrotismo e ressentimento. Ele os ajuda a recuperar a sua identidade e a se posicionarem contra os condicionamentos.
Mastrofini, jornalista, trabalha com informação religiosa e de comunicação, assunto sobre o qual publicou vários volumes. Presta especial atenção às situações de crise em que muitos sacerdotes se acham e as descreve com honestidade profissional, promovendo a consciência de que é oportuno consultar um psicoterapeuta para recuperar o bem-estar interior, sem tapumes nem superestruturas ideológicas.
Participarão como palestrantes o profº Hans Zollner, vice-reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana; a profª Lucetta Scaraffia, da Universidade La Sapienza; o profº Zbigniew Formella, diretor do Instituto de Psicologia da Universidade Salesiana. Suas palavras certamente ressaltarão que os sacerdotes são um trunfo para toda a Igreja e que o seu ministério sacerdotal é um dom a acolher, mas também que é necessário dar a esse dom uma resposta concreta todos os dias, através do testemunho sincero e autêntico do evangelho, vivido e realizado num estilo de vida pastoral que mostre o amor de Deus nas diferentes situações em que cada um trabalha.
É interessante notar que, nestes tempos de "emergêcia educacional", existe uma necessidade generalizada de esperança, do sentido profundo da identidade do sacerdócio, porque o ser e o fazer neste ministério são integrados, tal como indicado na exortação apostólica Pastores Dabo Vobis, “no espírito e à maneira de Jesus, o Bom Pastor” (nº 73).
Aqueles que são chamados ao ministério pastoral, seja o diocesano ou o religioso, são chamados a guardar com amor o dom da verdade que carregam dentro de si, e o fazem vivendo na caridade o serviço que lhes foi confiado. O livro de Crea e Mastrofini, a partir da riqueza do dom sacerdotal, faz pensar nos riscos e na fragilidade de quem é chamado, quando a sua lealdade vacila diante dos problemas psicológicos individuais e da sobrecarga pastoral.
Como pastores, os padres respondem a um chamado em prol do bem dos outros, “num clima de constante prontidão para atender as necessidades e exigências do rebanho" (ibid., nº 28. ), até serem completamente absorvidos pela missão apostólica. Às vezes, eles se encerram numa visão privada e redutiva da própria vocação com um enorme e problemático impacto no processo de crescimento emocional e afetivo, que está sujeito a bloqueios significativos e perigosos.
Com base na experiência clínica, Giuseppe Crea confirma que os padres podem se sentir sobrecarregados pelos muitos desafios pastorais, por condições de excesso de trabalho que, eventualmente, são prejudiciais do ponto de vista psicológico. O decreto conciliar Presbyterorum ordinis comenta: "Os sacerdotes, imersos e agitados por um grande número de compromissos decorrentes da sua missão, podem se perguntar com ansiedade real como harmonizar a vida interior com as exigências da ação externa" (cf. nº 14).
O livro se concentra com atenção nessa questão angustiante, que o autor não hesita em chamar de existencial, porque ela afeta o significado da vida sacerdotal, ou seja, o de harmonizar a construção de uma clara identidade pessoal com um ambiente que muitas vezes pressiona duramente as certezas e as próprias fragilidades intrapsíquicas.
Se os sacerdotes não conseguem recuperar nas profundezas de si mesmos as energias necessárias, ficam suscetíveis ao turbilhão de coisas a fazer até se sentirem estressados e emocionalmente esgotados: é uma síndrome que vai além da fadiga ou do desconforto específico, e que pode se tornar um neurose pastoral real.
Isto requer constante atenção sobre si mesmos, sobre as suas necessidades humanas e psicológicas, mas também uma atenção constante para com Aquele que os chama a ser servidores, Jesus, o Bom Pastor, que conhece a disponibilidade e os limites de cada um e sabe o momento adequado para convidá-los, como no evangelho de Marcos: "Vamos para um lugar deserto e descansai um pouco" (Mc 6, 31).
É por isso que cada sacerdote deve ser capaz de controlar o modo de viver a caridade pastoral, para integrar o chamado vocacional com as suas realidades humanas e psicológicas, participando ativamente, assim, em seu próprio processo de conversão e de crescimento, que deve ser realizado na vida cotidiana.
Olhando para o futuro, é preciso integrar o entusiasmo pela vocação com um realismo saudável, que leve em conta as muitas perguntas levantadas pelo trabalho de testemunhar o amor de Deus nos vários areópagos da missão pastoral. Fica claro, a partir do livro de Crea e Mastrofini, que é necessário repensar profundamente a formação permanente dos sacerdotes, libertando-a de um conceito superficial ou de uma visão simplista que a relega a eventos extraordinários ou a miraculosos anos sabáticos. Devemos, antes, redescobri-la como um verdadeiro método de vida, que ajuda as pessoas a integrar as diversas dimensões humanas (incluindo a afetiva) com o caminho de conversão espiritual, porque, com esta perspectiva de crescimento integral, as pessoas podem aprender a ser fiéis ao seu projeto vocacional.
Eugenio Fizzotti
Fonte: Zenit.
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