A Indonésia é um arquipélago de 13.000 ilhas. Sua população é etnicamente diversificada, com mais de 300 tribos diferentes. A população é dividida entre caçadores e coletores rurais e a elite urbana moderna. A religião dominante é o islamismo: dos 245 milhões de habitantes, mais de 200 milhões são muçulmanos.
Em colaboração com a Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), Mark Riedemann entrevistou dom Dominikus Saku, bispo de Atambua, diocese situada no oeste da ilha de Timor, parte pertencente à Indonésia. O lado oriental da ilha constitui o Timor Leste, que se tornou uma nação independente.
O senhor cresceu numa família católica?
Dom Saku: Sim. A minha família toda é católica, meus pais, meu avô e minha avó também, Agustinus e Sophia, por quem eu tenho muito carinho.
Quando o senhor teve a primeira experiência de Deus?
Dom Saku: Eu era muito, muito jovem. Nós íamos nas casas das famílias católicas em maio e outubro, que são os meses do terço, para rezar e cantar. E uma vez por mês, o padre celebrava a missa na aldeia. Eu tive a graça de estar presente naquelas ocasiões. Eu imaginava as mensagens, mesmo não conseguindo entender, e sentia a sua beleza e significado.
O senhor entrou no seminário aos 17 anos. Quem ou o que foi decisivo na decisão de se tornar padre?
Dom Saku: Os meus professores do ensino fundamental me instruíram sobre as vocações. No ensino médio, o pároco me orientou na minha decisão. Eu rezei e meditei sobre isso e finalmente entrei no seminário. O padre me incentivou a contar para os meus pais e familiares, que talvez apoiassem a decisão. Eu falei com o meu pai e ele respondeu que me apoiava, se aquilo era mesmo o que eu queria.
E mais tarde ele fez uma promessa...
Dom Saku: Sim. Quando eu terminei os estudos no seminário menor, eu queria ir para o seminário maior, mas tinha dificuldades financeiras. Nós não conseguimos vender as nossas vacas e tivemos problemas. Eu fui com o meu pai até a casa do bispo pedir ajuda. Vendemos algumas das vacas e o bispo nos emprestou um pouco de dinheiro, que o meu pai devolveu depois. O meu pai me contou, mais tarde, que ele tinha prometido ao bispo que eu seria um belo presente para a Igreja e que não voltaria atrás na promessa.
Seu pai viu a sua ordenação?
Dom Saku: Não, ele morreu poucos meses antes da minha ordenação... Mas já tinha dado o filho como presente para a Igreja.
Qual é o seu lema episcopal?
Dom Saku: Eu falei com os meus amigos e refleti sobre a situação pastoral da diocese, no meu coração e na minha mente, e tentei manter a preocupação com a unidade da Igreja e como realizar essa tarefa. O lema do meu bispo anterior era "Maranatha", que significa "Vem, Senhor". Eu tentei manter esse espírito de amizade, união, amor e providência de Deus, e, finalmente, percebi que um lema apropriado seria na linha do discipulado. E escolhi "Vós sois meus amigos" - "Amici mei estis".
O Banco Mundial afirma que mais de 100 milhões de indonésios vivem com menos de 2 dólares por dia e que a pobreza está minando a educação das crianças. O que o senhor pode nos dizer sobre o desafio da pobreza na ilha de Timor? Como a Igreja está lidando com esta situação?
Dom Saku: O governo de Jacarta tenta ajudar as pessoas, distribuindo subsídios especialmente na educação. A Igreja Católica administra muitas escolas primárias, secundárias e universidades. Temos falta de recursos econômicos, mas nos esforçamos para oferecer educação de qualidade. Funciona, mas enfrentamos problemas. Quando você recebe o financiamento do Estado, corre o risco da dependência na gestão das nossas escolas. E isso é um risco de perder a nossa fé.
Por que existe perigo para a fé?
Dom Saku: Os professores são pagos pelo governo e o problema é: eles são qualificados para incutir princípios cristãos nos alunos? Esta é uma preocupação grande para nós.
Eles não são cristãos?
Dom Saku: São, mas, como você sabe, a influência da economia pode alterar os princípios.
A Indonésia é 88% muçulmana, a sua diocese é 95% católica. Como se explica isso?
Dom Saku: Em 1913, a ilha de Timor foi dividida em duas partes. A parte ocidental estava sob os holandeses, que eram predominantemente protestantes. A parte oriental, do Centro-Norte ao Leste, estava sob os portugueses, que eram católicos. Por isso nós somos católicos.
Cercados, por assim dizer, por uma população muçulmana muito forte, não vai ser difícil continuar mantendo a fé?
Dom Saku: Felizmente, a influência muçulmana não é muito forte em Timor. Estivemos sob os holandeses e portugueses durante 350 anos. A influência muçulmana aqui não é tão forte como nas outras partes da Indonésia. Num sentido pastoral, nós, como diocese, procuramos manter um ambiente escolar, de família e de vida social baseado na fé.
Eventos internacionais como a guerra no Afeganistão ou a notícia dos americanos queimando o alcorão têm tido impacto negativo sobre os cristãos locais?
Dom Saku: Nós orientamos as pessoas a não interpretar esses eventos a partir da perspectiva de "cristãos contra muçulmanos". Quando Israel foi à guerra contra a Palestina, os muçulmanos interpretaram dessa maneira. Nós tentamos esclarecer a maneira de pensar para não interpretarmos isso como "cristãos contra muçulmanos", e sim como uma guerra entre duas nações. Nós, cristãos, não queremos a guerra uns contra os outros, e propomos que o nosso povo seja amigo dos outros e viva em harmonia, como a bíblia menciona.
Os bispos católicos estão tentando restaurar um clima de reconciliação e confiança. Pode nos explicar melhor esse projeto?
Dom Saku: O presidente da Conferência Episcopal da Indonésia escreveu uma carta ao presidente do país destacando a liberdade de religião. Os bispos lançaram um apelo ao presidente para manter a unidade, porque o pluralismo faz parte da vida na Indonésia.
É a “unidade na diversidade”, o “Pancasila”[os cinco pilares básicos do nascimento da Indonésia], certo?
Dom Saku: Exatamente, o "Pancasila". A unidade de todos os elementos que formam a Indonésia. O "Pancasila" é a base fundamental da constituição da Indonésia. O lema do país é "Bhinneka Ika Tunggal", “Unidade na Diversidade”, o que significa que nós somos multiformes, mas unidos como indonésios. Este deve ser o princípio do governo deste país.
Entrevista feita por Mark Riedemann para o programa “Deus chora na Terra”, da Catholic Radio e Television Network, em parceria com a organização Ajuda à Igreja que Sofre.
Na web: www.acn-intl.org e www.wheregodweeps.org
Fonte: Zenit.
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