Eis que dias virão – Oráculo do Senhor – em que concluirei com a casa de Israel (e com a casa de Judá) uma aliança nova (...): Porei minha lei no fundo de seu ser e a escreverei em seu coração. Então serei seu Deus e eles serão meu povo”. (Jer 31, 31-34).
“Cristo, nos dias de sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte; e foi atendido por causa da sua submissão.
E embora fosse Filho, aprendeu, contudo, a obediência pelo sofrimento; e levado à perfeição, se tornou para todos os que lhe obedecem princípio de salvação eterna.” (Hb 5, 7-9).
“Naquele tempo, ... Jesus lhes respondeu: “É chegada a hora em que será glorificado o Filho do Homem. Em verdade, em verdade, vos digo: Se o grão de Trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto. Quem ama sua vida a perde e quem odeia sua vida neste mundo guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém quer servir-me, siga-me; e onde estou eu, aí também estará o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará. (...) e, quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim”. (Jo 12, 20-33).
“Porei minha lei no fundo de seu ser,...” (Jer 31,33): a maravilhosa promessa da “nova aliança” parece já aludir ao destino do grão de Trigo, que o camponês lança no campo e enterra para que possa germinar e dar fruto.
Começando por Moisés, os profetas continuavam a chamar os Israelitas para a fidelidade à aliança do Senhor: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz! Não endureçais vossos corações...” (Sl 95, 7-8), mas o grito deles permanecia sem escuta todas as vezes.
E eis que Jeremias anuncia algo impensável, absolutamente novo: acabará a obediência impossível, muito difícil; não será mais necessário se esforçar para praticar a Lei de Deus, e não só não se rebelarão contra ela, mas a obedecerão com todo o coração.
Então todo mandamento divino suscitará uma resposta dócil, fácil, espontânea; cada Palavra da Lei será escutada com prazer, porque coincidirá com o desejo do nosso mesmo coração: “...Porei minha lei no fundo de seu ser e a escreverei em seu coração” (Jer 31,33).
Busquemos atualizar tudo isso.
Então: nós queremos ser pessoas novas, capazes de amar a Deus e ao próximo como Jesus, com o seu mesmo sentir, a sua compaixão, a sua mansidão e humildade, a sua maravilhosa generosidade. Conhecemos o bem que devemos fazer e nos fascina a beleza e a pureza do amor verdadeiro. Sabemos que isso é a alegria e a energia da vida, a sua vitalidade irresistível, como testemunham sem parar o prodígio do útero e a explosão da primavera.
Mas infelizmente a nossa natureza – o coração, a vontade prática, a liberdade – ferida pelo pecado, se comporta quase sempre como uma semente refratária para entrar na terra, com a amargurada existencia do egoísmo, muitas vezes experimentado.
Esta lacuna entre o ideal e a prática do amor, está tão enraizada nos comportamentos, também nas pequenas coisas, que não raramente, nos encontramos resignados dizendo: “não há nada a fazer, sou assim”.
Então, a fé nos ensina que o homem não é capaz, sozinho, de viver radicalmente o Evangelho do amor. Jesus de fato declarou: “ Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, leva muito fruto, porque sem mim nada podeis fazer!” (Jo 15, 5).
Estas palavras não se referem à circunstância concreta na qual somos desafiados pelo amor, mas principalmente à eficácia redentora da paixão, morte e ressurreição do Senhor em ordem ao mandamento novo do amor.
É Ele o “grão de trigo” primogênito, do qual descende e depende a intrínseca vocação de cada cristão para ser o que é em virtude do Batismo: um grão de trigo predestinado a morrer em Cristo para levar muito fruto.
Jesus foi o primeiro que conheceu a relutância inata da natureza humana para amar “até o fim” (Jo 13,1). E Ele “… aprendeu a obediência pelo sofrimento; e levado à perfeição, se tornou para todos os que lhe obedecem princípio de salvação eterna” (Hb 5, 7-9). Era a nossa natureza humana que aprendia em Jesus, e se tornou finalmente capaz de vencer aquele amor próprio que nos separa de Deus e da sua vida eterna.
Na fragilidade da nossa natureza assumida, também Jesus não era perfeito e, ainda querendo ser obediente até a morte, no horto das Oliveiras não conseguiu sozinho vencer o instinto de sobrevivência: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice!” (Lc 22, 42). Aprendeu a obediência prática do que sofreu, e se tornou dessa forma perfeito na vontade humana.
Sofreu o que não queria, sofreu o que não queria sofrer. Era o grão de trigo obediente que não conseguia entregar-se à morte; por isso “apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte; e foi atendido por causa da sua submissão” (Hb 5, 7-9).
Tendo rezado intensamente, recebeu a força de aceitar e cumprir a vontade do Pai, e a transmitiu para cada um de nós por meio da comum natureza humana por Ele assumida.
Transmitiu assim à humanidade a lei do grão de trigo, a lei pascal: vence-se perdendo, conquista-se doando, vive-se morrendo, ama-se sofrendo.
Para que o amor puro substitua o amor próprio no coração do homem é necessário o trabalho, aparentemente mortal, do parto.
“Mais uma vida está assinalada pelo amor por este desprezo de si, das próprias forças, das próprias energias, mais está caracterizada pelo morrer, mais a vida é levada a esse rebento novo, incorruptível” (M. I. Rupnik, Le bende della carità, em Anche se muore vivrà”).
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* Padre Angelo del Favero, cardiólogo, em 1978 co-funfou um dos primeiros Centros de Ajuda à Vida junto à Catedral de Trento. Tornou-se carmelita em 1987. Foi ordenado sacerdote em 1991 e esteve como conselheiro spiritual no santuário de Tombetta, perto de Verona. Atualmente se dedica à espiritualidade da vida no convento Carmelita de Bolzano, junto à paróquia Madonna del Carmine.
Fonte: Zenit.
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