Na Sala Paulo VI, repleta, a Universidade Pontifícia Lateranense organizou a apresentação do Terceiro Informe sobre a Doutrina Social da Igreja no mundo.
Assistiram à apresentação numerosas personalidades, como o reitor da Universidade Católica do Sagrado Coração, professor Lorenzo Ornaghi, o secretário da Conferência Episcopal Italiana, dom Mariano Crociata, e o próprio reitor da Universidade Pontifícia Lateranense, dom Enrico Dal Covolo.
O evento foi promovido pelo Movimento Cristão de Trabalhadores (MCL) e apresentado pelo seu presidente, Carlo Costalli. O presidente do Observatório, dom Giampaolo Crepaldi, encerrou o evento.
Dal Covolo resumiu o contexto temático e temporal do relatório ressaltando o debate internacional promovido pela Caritas in Veritate, escolhida como guia.
O ano passado foi marcado pela “grande crise econômica e financeira” e pelas suas consequências extremas, observou ele, particularmente em algumas áreas do planeta. Entre essas consequências estão os comportamentos prejudiciais já denunciados pela encíclica pontifícia, que têm na sua base uma concepção exclusivamente materialista do desenvolvimento e da pessoa em geral.
A bússola do agir humano deve ou deveria ser sempre a caridade que promove a virtude e incentiva a dimensão decisiva da gratuidade, necessária nas relações humanas e sem a qual nenhuma sociedade permanece de pé. Porém, destaca o texto deste ano, a Doutrina Social da Igreja ainda tem vários inimigos, internos e externos.
São as “correntes” denunciadas pelo pontífice na viagem apostólica a Portugal, que prendem massivamente a sociedade civil e até os organismos eclesiais à secularização progressiva da doutrina social.
Para vencer os obstáculos, Dal Covolo considera necessária mais consciência e preparação: o estudo do informe representa uma ocasião valiosa de formação e de crescimento para todos os que hoje estão sinceramente empenhados na construção de uma sociedade política e econômica mais justa.
Já Crepaldi observou que a missão principal do Observatório é gerar “um serviço contínuo em fidelidade ao magistério do Santo Padre”, com ênfase na dimensão do servir, o que inclui o estudo e a conseqüente difusão, inclusive especializada, de tudo o que o pontífice transmite nos seus pronunciamentos e documentos.
O secretário da Conferência Episcopal, dom Crociata, retomou os conteúdos do relatório, recordando em particular o quanto são perniciosas as novas ideologias da sociedade relativista, como as propagadas frequentemente por agências da ONU em matéria de “saúde reprodutiva e filosofia do gênero”.
Crociata mencionou o incômodo debate internacional das últimas semanas sobre a possível licitude do infanticídio, levantado por um artigo de dois pesquisadores italianos em uma notável revista “científica”. Faz sentido escandalizar-se com tais afirmações se já faz décadas que a maior parte dos estados ocidentais legalizaram o aborto, que, para usar as palavras do Concílio Vaticano II, na Gaudium et Spes, é um “abominável delito”? Com que autoridade um Estado pode falar de moralidade se, ao longo de anos, ele foi dos primeiros vetores da imoralidade, permitindo-a abertamente e até promovendo-a, com suas próprias leis?
O professor Ornaghi, por sua vez, falou da elaboração do conceito de “cultura” e das suas consequências públicas, tanto para o bem quanto para o mal.
A Doutrina Social da Igreja, segundo ele, volta a apelar com insistência para a urgência de uma reflexão adequada sobre o desenvolvimento, querendo ampliar os horizontes da cultura que as classes dirigentes dos nossos países frequentemente restringem a um radical positivismo científico. O desenvolvimento, porém, não é apenas o que pode ser medido: Aristóteles, um pagão, ensinava que o ser humano é constitutivamente social, o que o leva, por natureza, a estar com os outros e a se relacionar com os outros. Daqui brota a família como o primeiro corpo social.
Mas como é considerada hoje a família para os fins do desenvolvimento? O papa João Paulo II, no célebre discurso à Unesco em Paris, em 2 de julho de 1980, falava da necessidade de reconhecer um “primado da família”, explicando que ela é “um ambiente criador fundamental de cultura”. Cada nação, segundo João Paulo II, tem a sua soberania mais profunda fundamentada não nos confins geopolíticos que todos vemos, mas na sua cultura histórica e no primado da família dentro da obra da educação, o que frequentemente não vemos.
Para os cristãos, a esperança não é uma ideia, mas uma certeza concreta, porque se fundamenta na própria Revelação. Em nome desta esperança, concluiu Crepaldi, o cardeal Van Thuân ofereceu a vida, desgastando-se pelo bem da Doutrina Social da Igreja após anos de autêntico martírio e sacrifício pessoal
Fonte: Zenit.
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