sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Igreja: «Homem não pode ter a pretensão de dispensar Deus» - cardeal Robert Sarah



O cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (Santa Sé), disse à Agência ECCLESIA que o futuro do Ocidente está comprometido se for construído de “costas voltadas” para Deus.
“O homem não pode ter a pretensão de dispensar Deus sem correr o risco de morrer e de desaparecer, pela violência que ele próprio cria, as guerras, todas as situações de conflito, de barbárie. Foi o homem que criou tudo isso, porque virou as costas a Deus, porque pensamos que somos autónomos, independentes, que podemos fazer tudo o que queremos”, declarou, numa entrevista publicada hoje.
O cardeal africano fala do seu percurso de vida, desde uma aldeia remota da Guiné-Conacri: nascido em 1945, foi nomeado bispo por São João Paulo II em 1979, chegando ao Vaticano em 2001, num percurso que o levou a ser criado cardeal por Bento XVI em 2010.
Para este responsável, a África não tem “lições” a dar à Europa, além do exemplo que representa o crescimento do catolicismo no continente, desde o início do século XX.
“Sei que Deus realiza sempre coisas magníficas com os pobres, com os que não têm nada, os que não são nada”, explica.
Para este responsável, que em 1984 foi inscrito pelo regime do seu país numa lista de pessoas a ser eliminadas, tudo o que aconteceu na sua vida se deve a Deus.
“Se nos separarmos de Deus, é como uma árvore sem raízes, morre. Se o rio não tiver uma nascente que o alimente, ele seca, já não tem água”, adverte.
O cardeal Robert Sarah profere hoje uma conferência sobre ‘A crise de Deus no Ocidente e a missão dos cristãos’.
A iniciativa decorre na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, pelas 18h30, e é promovida pela Fundação ‘A Junção do Bem’.
O antigo presidente do Conselho Pontifício ‘Cor Unum’ [organismo da Santa Sé que coordena as atividades das organizações caritativas] considera que a escolha de António Guterres como novo secretário-geral da ONU é “uma grande honra para Portugal”, desejando que o país dê o seu contributo para que o mundo “não se preocupe apenas com o sucesso material mas também com o sucesso interior”.
De Portugal, o cardeal elogia a “identidade católica, os seus valores católicos, universais”, manifestando a convicção de que o país “vai combater para proteger a família, proteger a vida, a dignidade da pessoa humana”.
Em relação à crise de refugiados, D. Robert Sarah sustenta que ninguém se pode considerar “inocente” perante este drama humano.
“Nós somos todos responsáveis por esta situação, principalmente o Ocidente”, alerta.
O prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos fala ainda do trabalho deste dicastério, sublinhando que “a Liturgia tem de ser bela, tem de ser silenciosa, não barulhenta”, respeitando a “linguagem sagrada”.
D. Robert Sarah participou nos trabalhos do recente Sínodo dos Bispos sobre a família e sustenta que a missão da Igreja é revelar “o pensamento de Deus” sobre o matrimónio, comentando as polémicas surgidas sobre a situação dos católicos divorciados que voltaram a casar.
“Naturalmente, não poderão participar no Sacramento da Eucaristia, porque não estão na disposição necessária para comungar, mas poderão perfeitamente estar na comunidade, participar na vida comunitária, na organização da paróquia”, precisa.
HM/OC - Agência Ecclesia.

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