Cerca de dois mil cristãos saíram às ruas nesta terça-feira em Sialkot, Lahore e outras cidades da província de Panyab, no Paquistão, para protestar contra a morte de um jovem católico falecido na prisão de Sialkot, onde se encontrava por ter sido acusado de blasfêmia contra o Islã.
O corpo sem vida de Fanish Robert, 24 anos, foi encontrado nesta terça-feira pela manhã em sua cela.
A polícia afirma que ele se enforcou, mas cristãos e ativistas de direitos humanos asseguram que as autoridades o torturaram e o mataram.
Familiares do falecido denunciaram que o corpo de Robert tinha marcas de tortura e costelas quebradas. A diretora regional do Ministro de Direitos Humanos, Arshad Mahmood Malik, declarou à agência UCA News que o caso é suspeito.
O jovem fora detido em 11 de setembro passado em Jethki, no distrito de Sialkot, acusado de jogar parte de um Alcorão em uma valeta.
A organização Ajuda à Igreja que Sofre informou que Robert havia iniciado, com uma colega de colégio muçulmana de 18 anos, uma relação especial que enfureceu os pais da moça.
A mãe, de acordo com os religiosos, teria arrancado uma página que continha versículos do Alcorão e a havia jogado na frente da casa do jovem.
Este amor proibido entre adolescentes provocou também, nesse mesmo dia 11 de setembro, que o grupo de fanáticos queimasse e profanasse a igreja do Calvário, em Jethki (que ainda permanece fechada), devastasse a localidade e obrigasse os cristãos a abandonar a área.
A Comissão Nacional para a Justiça e a Paz da Conferência Episcopal do Paquistão denunciou os fatos e apontou as leis sobre a blasfêmia como parte do problema.
“Pedimos uma investigação confiável” para este “caso de assassinato”, assinala um comunicado da Comissão. “Nós o consideramos uma falha do governo provincial de Panyab e do governo federal”, acrescenta.
As leis sobre a blasfêmia foram introduzidas no Paquistão em 1986, sob um governo dirigido por militares.
Baseiam-se no artigo 295B do Código Penal, segundo o qual a profanação do Alcorão comporta uma pena que pode chegar a ser de prisão ou inclusive de morte.
Os bispos indicam que, “para as minorias religiosas, essas leis demonstraram ser uma catástrofe que pode surgir em qualquer momento e lugar”.
Esta Comissão dos bispos católicos do Paquistão convocou recentemente um pedido popular e está recolhendo assinaturas para pedir ao governo a abolição dessa lei, com frequência utilizada para atacar as minorias religiosas como cristãos e ahmadi, segundo a agência Fides.
O presidente do país, Pervez Musharraf, tentou reformar a lei no ano 2000, mas não conseguiu devido às pressões de grupos fundamentalistas e dos partidos religiosos.
As associações pelos direitos humanos denunciaram que as condições das minorias cristãs pioraram nos últimos meses e que existe um difundido costume de utilizar a lei sobre a blasfêmia de modo instrumental.
Segundo dados recolhidos pela Comissão Justiça e Paz, o abuso desta lei priva numerosas pessoas inocentes de sua liberdade e põe em risco muitas vidas.
Há algumas semanas, dez católicos foram assassinados na cidade de Gorja, também em Panyab, e na aldeia próxima de Korian.
Uma multidão de muçulmanos destroçou e saqueou 113 casas de cristãos e causou destruição em quatro igrejas protestantes destas áreas.
Em janeiro, uma igreja católica na aldeia de Kot Lakha Singh, de Panyab, também foi atacada.
De 1986 a 2009, 964 pessoas foram acusadas de blasfêmia, e em muitos casos o tribunal decretou que as acusações eram falsas e infundadas.
Fonte: Zenit.
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