Jo 6, 41-5
"Quem come deste pão viverá para sempre”
No texto de hoje, nos encontramos no meio do discurso de Jesus sobre o “Pão da Vida”. O gancho que João usa para pendurar o discurso é o pedido dos judeus em v. 35: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”. Em resposta, Jesus começa o seu grande discurso. Divide-se em duas partes. Na primeira parte (vv. 35-50), que inclui o texto de hoje, o pão celestial que nos nutre é a revelação ou o ensinamento de Jesus (o tema sapiencial); na segunda parte (vv. 51-58) será a eucaristia (tema sacramental). O redator da comunidade joanina combinou “o pão do céu” com o material eucarístico da Última Ceia e assim formou a segunda parte do discurso como um paralelo à primeira. Isso explica a ausência de um relato da instituição da eucaristia nos textos da Ceia em João - pois o seu conteúdo básico foi colocado aqui.Como os seus antepassados murmuravam no deserto contra o pão que Deus mandava - o maná - agora eles se queixam do novo maná. Aqui logo aparece uma característica do João - a ironia. Os judeus (aqui se entende as autoridades judaicas e não o povo judeu) dizem que conhecem a origem de Jesus, pois só pensam na sua família de origem; e Jesus mostra que na verdade não a conhecem, pois eles não viram o Pai, a sua verdadeira origem. Aqui também aparece em v. 47 - mais uma característica joanina - a escatologia realizada. Enquanto para os Sinóticos o juízo é algo que acontece no último dia, para João, frequentemente, já aconteceu, pois a pessoa é salva ou condenada já, pela sua aceitação ou não de Jesus como o Filho de Deus.Aqui, de novo, João nos dá o que talvez seja uma variante das palavras da instituição da eucaristia: “O pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida” (v. 51). João enfatiza que o Verbo Divino se tornou carne e tem entregado a sua carne como alimento da vida eterna.O texto não é fácil, pois é extraído de um discurso muito mais comprido e que forma uma unidade. Mas está ligado à multiplicação dos pães - a participação eucarística no corpo e sangue de Jesus exige uma vivência de partilha e solidariedade. Esse tema é caro a João e é retomado na sua Primeira Carta.
Fonte: Pe. Tomaz Hughes SVD
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