Por Felipe Magalhães Francisco*
Foi preciso muito tempo para que as mulheres começassem a ocupar lugares de paridade com os homens. Em muitas culturas elas foram relegadas a um papel inferior, subalterno. Ainda hoje, muito dessa trágica desigualdade nos assombra, impedindo-nos de dar passos mais significativos de humanização de nossa humanidade. Já não conseguimos mais nos compreender num sistema patriarcal, em nossa sociedade ocidental, como que sendo algo natural e preestabelecido como ordem.
O feminismo tem contribuído com o mundo, na proposição de uma compreensão de que devemos nutrir relações mais humanizadoras, relativizando paradigmas e dogmas de um sistema patriarcal, androcêntrico. Como todo processo de ruptura, sobretudo quando se trata de uma realidade milenar, a busca pela igualdade de direitos e de emancipação feminina encontra resistências. Tais resistências, com aspectos tão sombrios, revelam-nos a importância de que a humanidade continue o caminho de libertação das mulheres, que deve partir da própria consciência feminina de que precisa libertar-se, como protagonistas de sua própria libertação, contando com o empenho de todos.
O cristianismo, libertador em sua origem na pessoa de Jesus, precisa, com diligente urgência, assumir esse caminho de libertação, como condição de possibilidade para que a humanidade se realize, segundo o coração de Deus. Em Jesus nós temos o paradigma iluminador de que podemos estabelecer novas relações, em atenção aos empobrecidos do mundo. Entre esses empobrecidos, figuram as mulheres, tantas e tantas vezes negligenciadas em sua dignidade humana. É preciso, portanto, voltarmos a Jesus, para que com ele aprendamos a promover relações mais justas, igualitárias e, portanto, humanizadoras. Nesse sentido, apresentamos o artigo Jesus e as mulheres nas narrativas dos Evangelhos: igualdade no discipulado de homens e mulheres, da mestra em Teologia pela FAJE, Helia Carla de Paula Santos.
É preciso, no entanto, perguntarmo-nos se o Cristianismo conseguiu assumir, de fato, a inspiração de Jesus sobre a dignidade humana, quando o assunto é sobre o papel e a participação das mulheres nos cenários eclesiais. Com o artigo A invisibilidade das mulheres nas religiões, a mestra em teologia, Tânia da Silva Mayer, levanta uma séria de perguntas às quais nos ajudam a refletir sobre esse importante tema, com um olhar crítico em relação à consolidação de um paradigma patriarcal, que exclui e nega a existência de muitas mulheres, sobretudo as em situação de vulnerabilidades sociais.
A presbítera da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e doutora em Teologia, Lilian Conceição da Silva Pessoa Lira, com o artigo Religião e Equidade de Gênero: o desafio de amar em tempos de guerra, ajuda-nos a refletir sobre a gênese do cristianismo, que é chamado a se radicar no amor, e que, por se pretender configurar no seguimento de Jesus, precisa assumir o amor, entre outras, no exercício da promoção da equidade de gênero no seio da religião cristã, como testemunho ao mundo de que o amor é uma real alternativa a um contexto de guerra.
*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Coordena, ainda, a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). - Domtptal.com
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