Santa Maria de Belém do Grão Pará, quatrocentos anos de fundação comemorados no dia 12 de janeiro de 2016. Quatrocentos anos do início da Evangelização da Amazônia. Assim a Arquidiocese de Belém eleva seu coração e sua voz, em preparação ao XVII Congresso Eucarístico Nacional, o presente que deseja oferecer à nossa cidade: “Jesus Eucaristia, fonte de vida para todos, coração dos corações! Nós te acolhemos presente entre nós. Ao recebermos teu Corpo e teu Sangue, mostra-nos a força redentora de teu sacrifício. Tu és partilha de vida e salvação para a vida do mundo. Abre nossos corações para compartilhar com todos os nossos bens. Ensina-nos a testemunhar, amar e servir e proteger a vida, aprendendo a lição do Altar. Em ti todas as coisas foram criadas e nossas terras amazônicas são obra do amor do Pai. Reconhecemos estes sinais de amor, presença e providência em nossa história, e desejamos irradiar na comunhão com Deus e com todos, a missão que nos confiaste. Senhor Jesus, há quatro séculos a Boa Nova do Evangelho aportou em nossas terras, para aqui plantar raízes. Os teus missionários se alegraram, ao verem as Sementes do Verbo de Deus, que o Espírito Santo havia espalhado, precedendo seus passos, e anunciaram corajosamente a tua Palavra. A partir do Forte do Presépio, sob a proteção de Nossa Senhora da Graça, chamando-a Santa Maria de Belém ou Senhora de Nazaré, a Amazônia recebeu a mensagem da salvação. Renova hoje, Senhor, com a força da Eucaristia, o vigor missionário em nossos povos, e brotem entre nós santas vocações para o serviço do Evangelho. Cristo Senhor, ao reconhecer-te no partir do Pão, faze arder nossos corações, para que do Altar da Eucaristia nasça um novo ardor missionário em nossa Pátria. Ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo sejam dadas, hoje e sempre, toda a honra e toda a glória! Amém.”
A evangelização nasce do alto, é dom de Deus que nos anuncia o Cristo Senhor e Salvador, sentido e rumo para nossas lides nesta terra, rumo à eternidade. A evangelização é o que existe de melhor, nascida do coração da Trindade Santa, passando pelos caminhos da história humana, marcada por alegrias e esperanças, dores e angústias. Os instrumentos escolhidos por Deus são os corações, boca, olhos, mãos e sentidos das pessoas que acolhem a Boa Notícia e a transmitem.
Não tinham natureza angélica os que trouxeram o Evangelho para a Amazônia. Com as gerações que o fizeram, dando sangue, suor e lágrimas, pedimos perdão a Deus pelos atrasos, fracassos e erros de abordagem com os quais atuaram. Ao mesmo tempo damos graças porque os acertos foram muito maiores. Os valores do Evangelho estão presentes em nossa cultura, as devoções, e devoções são provas de amor, suscitaram confiança imensa na Providência de Deus, cultivaram famílias piedosas, edificaram as igrejas, formaram gerações de sacerdotes, comprometeram-se com a educação de crianças e jovens, deram nomes a pessoas, logradouros, bairros. Por todo lado algum santo se tornou protetor, um título de Nossa Senhora se implantou e, mais do que tudo, o perene louvor a Deus se consolidou. Quatrocentos anos de Missa e de pregação da Palavra, quatrocentos anos de Batizados, Matrimônios, Sacramento da Penitência, Sepultura Cristã, quatrocentos anos de Oração! Quatrocentos anos de presença fiel da Igreja junto à sociedade, como sal e luz e fermento!
Nestas plagas abençoadas, a infinita criatividade da Providência plantou no coração do paraense o amor a Nossa Senhora, em seu lindo título de “Nossa Senhora de Nazaré”. Não é possível para nós ser de Belém ou ser do Pará sem o carinho com a Virgem de Nazaré. Nós chamamos de Círio esta imensa e magnífica festa religiosa, porque queremos manter acesos os círios da fé recebida na fonte batismal. Nossa Senhora é “madrinha de Batismo” do povo paraense e assumiu o compromisso de acompanhá-lo em sua história, operando as milhares de delicadezas, nascidas de seu coração materno. Ela continua a levar ao Filho amado as necessidades de seu povo, como nas Bodas de Caná (Cf. Jo 2, 1-12). Em nosso dia a dia, quando falta o vinho da alegria, a mãe de Jesus lhe diz: “Eles não têm vinho!”. Mesmo quando parece difícil a situação, a mãe diz aos servos de ontem e de hoje: “Fazei tudo o que ele vos disser!”. Queremos encher não apenas seis talhas de pedra, de quase cem litros cada, destinadas às purificações rituais, mas recolher a água do quotidiano, representada pelos nossos rios, e apresentá-la a Jesus. Sujas ou limpas as nossas águas, queremos entregá-las a Jesus, para que as transforme no vinho novo. E queremos ouvir, a esta altura de nossa história, que o vinho da alegria de hoje é melhor. “Tu guardaste o vinho bom até agora”. Que Jesus manifeste sempre e de novo a sua glória, e seus discípulos de hoje acreditem nele.
Entretanto, a Igreja quer fazer a todos os irmãos e irmãs, homens e mulheres amados por Deus, a proposta de não se acomodarem assentados sobre os louros de vitória dos quatrocentos anos celebrados em festa nos dias que correm. Há muito a fazer! Em torno do Altar da Eucaristia, queremos pedir que a força redentora do Sacrifício de Cristo, partilha de vida e salvação para a vida do mundo, abra nossos corações para compartilhar com todos os nossos bens. Trata-se de lutar com todas as forças para superar a escandalosa desigualdade social. O senso do bem comum há de crescer entre nós, ensinando a olhar em torno a nós. Basta verificar a quantidade de homens e mulheres que vivem em nossas ruas, machucados pela miséria, bebidas e drogas. São dolorosos letreiros acesos por Deus para nos despertar! E podemos visitar com o coração as inúmeras casas e famílias nas quais a miséria está presente e grita alto!
Queremos pedir ao Senhor que nos ensine a testemunhar, amar e servir e proteger a vida, aprendendo a lição do Altar. Sabemos que tudo foi feito em Cristo, nele todas as coisas foram criadas e nossas terras amazônicas são obra do amor do Pai. Reconhecemos estes sinais de amor, presença e providência em nossa história, e desejamos irradiar na comunhão com Deus e com todos, a missão que nos foi confiada.
A partir do Forte do Presépio, a Amazônia recebeu a mensagem da salvação. Nossa Igreja pede a Jesus que, com a força da Eucaristia, cresça o vigor missionário em nossos povos, e brotem entre nós vocações para o serviço do Evangelho. A Ele dizemos: “Cristo Senhor, ao reconhecer-te no partir do Pão, faze arder nossos corações, para que do Altar da Eucaristia nasça um novo ardor missionário em nossa Pátria. Ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo sejam dadas, hoje e sempre, toda a honra e toda a glória! Amém”.
Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo metropolitano de Belém do Pará.
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