“Não há santo sem passado, nem pecador sem futuro”, disse o Papa Francisco na homilia da missa em Santa Marta nesta terça-feira (19). Palavras de esperança para quem cometeu algum erro, quem pecou ou até mesmo matou, movido por paixões impuras. Tal como o bíblico rei Davi ou como Pietro Maso.
Pietro Maso chocou a Itália em 17 de abril de 1991, ao assassinar seus pais Antonio e Rosa em Montecchia, na província de Verona. Um dos crimes mais hediondos da história do país, cujo julgamento se tornou um caso nacional. Fazendo eco das palavras do Santo Padre pronunciadas no dia 19 de janeiro, numa providencial coincidência, a revista “chi” antecipou alguns trechos da longa entrevista exclusiva, publicada na edição de hoje 20 de janeiro.
Pietro, agora com 45 anos de idade, traça a sua vida, 22 anos de prisão e a redescoberta da fé, e lança luz sobre o motivo do assassinato brutal, realizado com um cano de ferro e a ajuda de três cúmplices. “Não foi por dinheiro, como foi dito”, explica, revelando ao público outra notícia: o telefonema do Papa Francisco recebido em 2013, depois de uma carta enviada ao Pontífice na qual expressou todo o seu arrependimento.
“Eu era o mal e o Papa Francisco teve compaixão por mim”, escreveu Pietro numa carta que foi entregue pelo seu diretor espiritual, Dom Guido Todeschini. “Depois de alguns dias, o Papa me telefonou. Ele e Dom Guido são pessoas santas”. Assim começa a entrevista, a primeira desde que foi libertado da prisão – primeiro em Verona, depois, em Milão – onde permaneceu por mais de duas décadas. Ele foi condenado a trinta anos.
No relatório psiquiátrico realizado pelo especialista Vittorino Andreoli, lê-se sobre uma “hipertrofia narcisista” com o pai e mãe, percebida como um ‘cofrinho’ do qual se retira alguma coisa apenas quando necessário ou quando quebrado. Com a redução da pena por bom comportamento, o italiano ficou preso por 22 anos.
“Era 10 horas da manhã – conta o ex presidiário – quando o telefone tocou. Eu estava com Stephanie, minha namorada, eu respondo e escuto: ‘Aqui é o Francisco, o Papa Francisco’. Tomado pela emoção, disse em voz alta: ‘Santidade’. Era 2013”. Antes do telefonema, eu lhe enviei uma carta: “Peço perdão pelo que fiz; peço orações pelos meus colegas de trabalho que me aceitaram, apesar do que eu fiz e peço oração por aqueles que trabalham pela paz”, escreveu Pietro ainda atrás das grades.
Don Guido Todeschini fez questão de entregá-la ao Papa, que não hesitou em telefonar alguns dias depois. Pietro foi capaz de dizer ao Santo Padre a frase que tinha formulado durante os anos sombrios da prisão, que decretara a mudança total de sua vida, graças a um processo de reaproximação da fé.
Pietro se arrependeu e depois de cumprir sua sentença, ele decidiu comentar a verdadeira razão deste trágico assassinato. Não foi para tomar posse da herança dos pais, como falaram no momento do julgamento: “Eu não matei meus pais por dinheiro, porque o dinheiro eu teria tido de qualquer maneira”, diz ele na entrevista. “Eu disse que o motivo era dinheiro porque quando cometemos o assassinato, um amigo meu fez um empréstimo e vivíamos com aquele dinheiro. Eu tentei matar meus pais outras vezes, tentativas fracassadas, acompanhado de gente louca, mas nunca pensei em matar por dinheiro”.
“Eu – continua ele – sempre fui doente e desde criança meus pais diziam: ‘Não vai trabalhar porque você está doente’, ‘não vai sair porque você está doente’; ‘ nós pensamos em tudo’”. É como ser gay e seus pais não sabem. Olham para você de forma diferente quando você tem 13, 14 anos e você está doente e não entende o porquê. Você não pode falar livremente porque seus pais não querem. Então, você fica em casa sofrendo porque não encontra compreensão. Na verdade, você deveria sair de casa. Talvez isso pudesse ser a resposta para o que eu fiz”.
Mas o passado é passado e, como diz o Papa Francisco, “não há pecador sem futuro”. Pietro Maso olha para a frente. Desde que seu casamento com Stefania acabou, ele se mudou para Valência, na Espanha. Lá, ele decidiu abrir um centro de reabilitação, uma casa que acolhe aqueles que fizeram algo de errado e estão na rua. Porque, disse ele na entrevista: “Eu quero dar um significado diferente para a minha vida. Somente quem é estrangeiro pode entender outro estrangeiro, somente quem foi presidiário pode entender outro presidiário, somente quem fez algo errado pode entender quem cometeu erros. Eu não valho nada, mas essa ideia merece mais do que eu”.
Fonte: Zenit.
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