Não se deve falar em superioridade de dignidade de pertença à Igreja, quando são comparados os membros da hierarquia e os cristãos leigos – segundo esta mentalidade, os primeiros seriam “mais” Igreja do que os leigos e, portanto, mais dignos. Esta mentalidade, errônea em seu princípio, esquece que a dignidade não advém dos serviços e ministérios no interior da Igreja, mas da própria iniciativa divina, sempre gratuita, da incorporação a Cristo pelo batismo. A dignidade dos membros e a graça da filiação são comuns a todos porque o povo chamado por Deus se insere em uma realidade que é – “um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4, 5). São João Paulo II (Christifideles laici, n. 11) ensinou que, ao sair das águas do batismo, “todo o cristão ouve de novo aquela voz que um dia se fez ouvir nas águas do Jordão: ‘Tu és o meu Filho muito amado’” (Lc 3, 22), e compreende ter sido associado ao Filho, tornando-se filho de adoção e irmão de Cristo.
É com esta grande liberdade que os cristãos das primeiras comunidades encontraram respostas para se organizarem, como a instituição daqueles sete homens “de boa fama, repletos do Espírito e de sabedoria” (Cf. At 6, 1-7), aos quais foi confiada a tarefa da caridade, reservando-se os apóstolos para a oração e o serviço da Palavra. Também relatam os Atos dos Apóstolos que “na Igreja de Antioquia havia profetas e mestres. Certo dia, enquanto celebravam a liturgia em honra do Senhor e jejuavam, o Espírito Santo disse: ‘Separai para mim Barnabé e Saulo, a fim de realizarem a obra para a qual eu os chamei’. Jejuaram então e oraram, impuseram as mãos sobre Barnabé e Saulo e os deixaram partir” (Cf. At 13, 1-3). Nascem os missionários, pouco a pouco se configuram os diversos ministérios, segundo os dons concedidos pelo Senhor. Mais para frente, a Igreja verá organizados os serviços dos Bispos, sucessores dos Apóstolos, dos Presbíteros e Diáconos. O correr da História da Igreja testemunhou o surgimento de carismas e ministérios, famílias de pessoas consagradas ao Senhor, envio missionário sempre renovado, regado pelo sangue dos mártires.
Como exercer as diversas tarefas que são confiadas aos cristãos de todas as idades e vocações? Haverá algum lugar privilegiado? Porventura alguém deve buscar os primeiros lugares? É clara a orientação do Senhor, que “não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20, 28). Quando seus discípulos acolhem seus discursos de despedida, na última Ceia, as tensões e o medo tomavam conta de seus corações (Cf. Jo 14, 1-12). Tomé quer saber o caminho, Felipe almeja a visão do Pai, todos se sentem inseguros, a saudade mostra seu rosto. E Jesus lhes mostra um caminho que tem nome, o seu, para chegar à vida plena. E todas as perguntas são respondidas por quem é a verdade!
A estrada mestra é a do serviço. “Como, num só corpo, temos muitos membros, cada qual com uma função diferente, assim nós, embora muitos, somos em Cristo um só corpo e, cada um de nós, membros uns dos outros. Temos dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada. É o dom de profecia? Profetizemos em proporção com a fé recebida. É o dom do serviço? Prestemos esse serviço. É o dom de ensinar? Dediquemos-nos ao ensino. É o dom de exortar? Exortemos. Quem distribui donativos, faça-o com simplicidade; quem preside, presida com solicitude; quem se dedica a obras de misericórdia, faça-o com alegria. O amor seja sincero. Detestai o mal, apegai-vos ao bem. Que o amor fraterno vos una uns aos outros, com terna afeição, rivalizando-vos em atenções recíprocas” (Rm 12, 4-10).
A proposta vai contra a correnteza de toda a competição devoradora que nos envolve! Leigos e Leigas, Bispos, Sacerdotes, Diáconos, Religiosas e Religiosos, todos encontrarão seu espaço quando estiverem dispostos a dar a vida uns pelos outros. Afinal, “quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará” (Mc 8, 35). Este é o lugar de todos e de cada um. Parece impossível? O Senhor Jesus é o exemplo e, mais ainda, é a fonte da graça para quem escolher seu caminho.
Fonte: Zenit.
Nenhum comentário:
Postar um comentário