A pregação dos Apóstolos de Jesus era muito direta e simples, pois anunciava que o mesmo Jesus que tinha sido morto havia ressuscitado, e ele é o Senhor e Salvador e um dia há de voltar. O anúncio foi suficiente para a conversão de uma multidão de pessoas, já no início da pregação do Evangelho. Depois da primeira pregação feita por Pedro, após a descida do Espírito Santo, ficaram compungidos os corações, suscitando a pergunta sobre os caminhos a serem percorridos a partir dali. A resposta é igualmente direta e provocadora: “Convertei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos vossos pecados. E vós recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2, 38).
Os Atos dos Apóstolos contam os feitos e fatos das primeiras comunidades cristãs, nas quais resplandece, naqueles que acolhem o anúncio, um novo estilo de vida: comunhão na oração, perseverança na doutrina dos Apóstolos, que anunciavam a Palavra de Deus, partilha fraterna dos bens e a Fração do Pão, que foi o primeiro nome da celebração da Eucaristia. Nasceu a Comunidade viva, estendeu-se a grande rede da caridade, as pessoas se sentiram acolhidas e amadas. Na mesma fonte, continuam disponíveis as graças e as forças necessárias, para que a vida dada por Jesus a todos se multiplique e seja repartida no amor fraterno experimentado no cotidiano, até a volta do Senhor.
Desde os primeiros tempos, a doação de vida e o amor verdadeiro, testemunhado no dia a dia da humanidade, atraem e convocam as pessoas. Mais do que as palavras, vale o testemunho de vida. Multiplicam-se os exemplos de pessoas com grande criatividade no amor ao próximo, com o qual a vida em abundância (Cf. Jo 10,10) permanece a meta a ser alcançada. Sempre que a gratuidade do amor se faz visível, a partir da emoção e até chegar à profundidade do raciocínio dos mais sábios e inteligentes, ninguém resiste.
Basta pensar em dias significativos, como as comemorações das mães, dos pais, ou o dia dos professores, ou dos médicos e assim tantas outras celebrações que envolvem as famílias, a sociedade e a Igreja. Ao celebrar neste final de semana o dia das mães, esta imagem do amor gratuito e desinteressado, livre, forte e cheio de ternura, ocupa espaço na imaginação das pessoas e provoca gestos de carinho, presentes, flores e alegria. Vale meditar sobre este amor, conduzidos pelas mãos do Bom Pastor.
Que força é esta, capaz de dobrar os mais rígidos em seu temperamento? São João, em sua Primeira Carta, afirma de forma categórica: “Amemos-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos a vida por meio dele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus nos amou assim, nós também devemos amar-nos uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós e seu amor em nós é plenamente realizado” (1 Jo 4, 7-12).
O Amor não é privilégio das mães, mas nelas se instalou de forma surpreendente, justamente por ser tão semelhante ao amor de Deus. Parece-me possível encontrar a figura ímpar do Bom Pastor, Jesus, na festa que a Igreja celebra, na alma das mães que enaltecemos nas grandes figuras maternas que nos envolvem (Cf. Jo 10, 1-10).
O amor de mãe conduz os filhos e a família a escolherem os melhores caminhos. Mãe imprime rumo nas opções feitas pelos filhos gerados no seio da família. Mesmo se porventura se desviarem, será sempre possível voltar ao regaço acolhedor de um coração de mãe. As mães se cansam para levar a descansar esposo e filhos. Prados e campinas verdejantes, ou as águas repousantes que restauram, muitas vezes são sinalizadas pelas mães que velam pelos filhos pequenos ou grandes. E quem não sentiu restauradas as forças para a luta ao encontrar a solicitude de sua mãe?
A honra dos muitos nomes de tantas e generosas mães conduz por caminhos seguros, ainda que passem os filhos por vales tenebrosos pelos caminhos da vida. Quando o medo toma conta, a figura e o apelo à mãe se repetem mesmo nos filhos crescidos ou até envelhecidos. Ao por do sol da existência nesta terra, as pessoas acometidas por diminuição da lucidez, viram crianças, como costumamos dizer, e não é raro ouvir pessoas velhinhas que começam a chamar pela mãe, falecida há tanto tempo. Força e ternura, bastão e cajado, cabem bem nas mãos das mães.
E se queremos uma imagem bonita da força do amor que dá a vida, basta pensar em almoço de domingo, em que as mães preparam a mesa, perfumam com o óleo do carinho suas casas e fazem vir à festa da fartura, a abundância cantada pelo salmista.
Enfim, não faz mal algum pensar apenas na felicidade e no bem, desejado e edificado pelas mães, ao darem a vida pelos seus, no heroísmo cotidiano. E como queremos todos passar um dia da mesa da família para a Casa do Senhor, na qual habitaremos por toda a eternidade, as mães são aquelas que nos falam do Céu, que nos ensinam a rezar e nos abrem os horizontes do infinito (Cf. Sl 22).
A festa das mães acontece no segundo domingo de maio, mês dedicado àquela que foi escolhida para ser Mãe do Redentor, Mãe de Deus e Senhora nossa. A ela, nos vários e lindos títulos com os quais a homenageamos, Chegue ela a oração fervorosa, especialmente por nossas famílias, a fim de que sejam o lugar da doação recíproca da vida. Assim nos conduza o Cristo, Bom Pastor!
Dom Alberto Taveira, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
Fonte: Zenit.
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