O celibato em palavras muito simples é a condição daquela pessoa que opta por não fazer uso das suas faculdades sexuais. Na Igreja, essa disciplina foi adotada paulatinamente, tendo sua primeira aparição oficial já no século VI, no Concílio de Elvira. No Concílio de Trento, no século XVI, o celibato foi adotado para toda a Igreja ocidental e incorporado ao direito canônico como disciplina para todo o clero.
Esse é o resumo de uma história que poderia parecer simples. Afinal, quando alguém entra no seminário para ser padre, sabe muito bem o que abraça e abraça livremente. No entanto, ao que me parece, essa história é cheia de argumentos apaixonados, seja daqueles que são contra ou daqueles que são a favor. E é justamente aí que surge algo estranho. As opiniões, quase em sua totalidade, são de pessoas a quem o celibato em nada afeta. Os maiores interessados: bispos, padres, frades e seminaristas, estão felizes com a sua escolha de vida.
Por que estão felizes? Simplesmente porque estão cumprindo cegamente uma norma que a Igreja inventou para supostamente preservar sua riqueza dos possíveis herdeiros dos padres? Pelo contrário. A Igreja possui argumentos racionais e extremamente evangélicos para justificar tal disciplina eclesiástica. O papa Paulo VI vai dar pelo menos três argumentos: o primeiro deles é cristológico. Dado que o padre é imitador de Cristo, deve configurar-se ao máximo ao Divino Mestre. Como Cristo foi celibatário, assim também o padre deve sê-lo. Simples assim; O segundo é eclesiológico: o padre opta pelo celibato para dedicar-se mais inteiramente à salvação das almas. Por fim, o papa nos apresenta o argumento escatológico. O celibato seria um sinal da condição dos filhos de Deus na glória. Resumindo, imitar a Cristo é o máximo de felicidade a que o homem pode aspirar. Nesse sentido, os padres estão muito felizes, obrigado.
Chega a ser irritante ouvir as pessoas comentarem sobre o assunto. Algumas sugerem que o padre opta pelo celibato por não “gostar de mulher”, outras olham para o padre como um coitado, que priva-se do matrimônio como se esse fosse o único caminho de felicidade. Uma curiosidade: por que tanta gente olha para o celibato pelo viés negativo da renúncia e tão poucas olham pelo viés da alegria que é escolher um caminho entre tantos outros?
No fundo, acredito que a resposta esteja na concepção errada que as pessoas têm de amor. Enquanto amor for um meio para satisfação pessoal, poucos entenderão o celibato e, consequentemente, o sacerdócio. Celibato é sacrifício, é doação, entrega, renúncia. Aliás, como é qualquer outra vocação, inclusive o matrimônio. Quem é capaz de se sacrificar diariamente pelo bem do outro no matrimônio entende que o padre faz o mesmo por Deus no sacerdócio. Por outro lado, quem vê o amor de forma deturpada, naturalmente não entenderá o celibato. Afinal, se não há “ninguém” para satisfazer as necessidades do pobre padre, como ele será feliz? Realmente, para quem vê o amor desse jeito não faz o menor sentido.
Diante disso tudo, a pergunta ainda carece de ser respondida: por que o celibato incomoda tanta gente? Primeiramente porque hoje em dia vivemos uma cultura de comentaristas vazios. Todo mundo acha que tem propriedade para fazer comentários sobre qualquer tipo de assunto, desde futebol a política. Depois, está o problema daqueles que não contentes em não gostar do catolicismo, fazer o “favor” de desrespeitá-lo. Reparem bem que não se ouvem comentários sobre a disciplina do exército brasileiro ou sobre a Charia (lei) muçulmana. Quanto aos padres, por outro lado, há pessoas que ao que parece se alegram em crucificá-los nos nossos dias. Mas, pensando bem, alegrai-vos, padres, até nisso vocês estão seguindo os passos daquele que vos inspirou em primeiro lugar!
Vinícius Farias da Silva. Seminarista da Arquidiocese de Brasília, atualmente cursa o segundo ano de teologia em vistas do sacerdócio.
(Artigo enviado a ZENIT pelo próprio autor).
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