quinta-feira, 3 de maio de 2012
A Palavra que vence as palavras
O cardeal Gianfranco Ravasi é um antigo conhecido da Renovação Carismática. Já presente na convocação nacional de 1998, o presidente do Conselho Pontifício para a Cultura presidiu missa no palco principal da Feira de Rímini, onde o movimento está reunido. A celebração eucarística foi precedida por um discurso catequético de Ravasi.
O cardeal começou recordando a sua amizade com o falecido dom Dino Foglio, coordenador nacional na Itália da Renovação Carismática durante três décadas, e que em 1998 lhe “profetizou”: "Eu gostaria que você participasse na Convocação e vou convidá-lo novamente quando você for cardeal".
O ponto de partida para a reflexão do cardeal foi a seguinte passagem de São Paulo: "Nós falamos com palavras não sugeridas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, exprimindo coisas espirituais de modo espiritual" (1 Cor 2,13).
São Paulo se dirige à comunidade de Corinto, uma grande cidade cosmopolita do seu tempo, mas ao mesmo tempo corrupta e decadente, muito semelhante à civilização ocidental de hoje. Em vez de irradiarem a fé, os coríntios eram "termômetros" que se limitavam a registr a temperatura espiritual do ambiente, adaptando-se passiva e “camaleonicamente” às tendências, que eram tudo, menos virtuosas.
Mas a Palavra é muito maior do que as palavras que ela transcende. As palavras são como pedras, que podem pesar muito nas relações humanas, e, ao mesmo tempo, é surpreendente e paradoxal a sua fragilidade e transitoriedade, aliada à nossa tendência a esquecê-las.
Diferente é a Palavra de Deus, disse Ravasi, revelada por Ele e dotada de extraordinário poder, contrapondo-se ao sentido de “palavra” no grego original, equivalente a pouco mais que uma simples conversa.
O cardeal identifica ainda, na experiência cristã, uma “estrela polar” não redutível a "um sistema de pensamento" ou a um "conjunto de teoremas a ser provado". Na esteira de Pascal, pode-se proclamar que "o último passo da razão é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a superam".
A experiência de Cristo é algo concreto, o seu conhecimento é possível, prosseguiu o cardeal. A fé, também, se abre à visão e à contemplação, indo além dos nossos planos e esquemas. O exemplo vivo que se destaca no Antigo Testamento é Jó, quando, voltando-se para Deus, admite: "Eu te conhecia por ouvir dizer" (Jó 42,5).
A transcendência é um elemento essencial do conhecimento de Deus, mas já está presente no relacionamento humano. Apaixonar-se é o exemplo mais óbvio deste fenômeno: quando um homem ama uma mulher, ele não olha mais para o seu rosto com olhar analítico ou "científico", mas com olhar estético e sentimental.
O Espírito Santo é sempre o teste decisivo da presença de Deus no cosmos e na história, e do seu diálogo com o homem. O teólogo ortodoxo Ignatius Hazim dizia: "Sem o Espírito Santo, Deus está distante, Cristo permanece no passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja é uma simples organização, a autoridade é um domínio, a missão é propaganda, o culto é uma encenação e a ação cristã é moralismo. Com ele, no entanto, o cosmos geme em dores de parto, o Cristo ressuscitado está presente, o Evangelho é poder de vida, a Igreja é comunhão trinitária, a autoridade é um serviço libertador, a missão é Pentecostes, a liturgia é memorial e profecia, e a ação humana é deificada".
Na homilia, o cardeal Ravasi ainda pediu aos membros da Renovação: "Abram, derrubem as fronteiras construídas pela sociedade, pela política, pela economia e por outras estruturas, e certifiquem-se de que o Espírito vá além, através da sua voz". O Espírito Santo, de fato, "não gosta de ser trancado em uma caixa. Ele é vento e água".
O cardeal se referiu por fim ao Pátio dos Gentios, a ferramenta cultural que o papa Bento XVI confiou ao seu comando. O pátio é uma realidade que "eu gostaria de confiar também a vocês: eu gostaria que ela fizesse parte do seu compromisso".
Fonte: Zenit.
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