Perguntaram-me por qual motivo somos estimulados a pecar. Quem o fez estudava o tema dos pecados e tinha por objetivo desenvolver trabalho acadêmico conforme lhe havia sido solicitado. Muito possivelmente, por se tratar de pessoa que estuda em universidade confessional, a pesquisa deve fazer parte da disciplina de introdução à teologia. Sua questão, contudo, não era somente teológica, mas passava pela dificuldade que muitos alunos têm de desenvolver certas temáticas e mesmo com o processo de produção do conhecimento. Aqui seguem algumas dicas.
A primeira coisa a se fazer num processo de investigação como esse que me foi proposto é definir os termos. A partir disso é que se passa a estabelecer as consequentes lógicas e cotejamentos com o mundo da vida. Por exemplo, se a pergunta fosse sobre algo mais rotineiro como direção de veículos automotivos, antes de descobrir as motivações, precisaríamos definir o que seria dirigir. Bem, dirigir consiste no ato de coordenar a execução de algo, conduzir, guiar. No nosso caso, conduzir a movimentação veicular por algum trajeto significativo. Isso porque se compreende, no senso comum, que o simples fato de colocar um carro em movimento não significa dirigi-lo. Disso vem a consequente lógica: quem dirige o faz por alguma necessidade de movimentar-se num veículo. Ora, essa necessidade pode ser objetiva, a de chegar em determinado local, ou subjetiva, como por prazer. Na necessidade objetiva temos os motivos de conforto, agilidade, segurança etc. – aqui estamos cotejando com a vida. Tratam-se de situações de locomoção com alguma comodidade para quem tem a necessidade de movimentar-se. Quem dirige pelo simples prazer do movimento, por sua vez, não busca a direção por ela mesma, mas o prazer que encontra nela. Assim definimos, inicialmente, que quem dirige um carro o faz por motivações de comodidade e gosto.
O mesmo processo de construção de conhecimento pode ser feito com outras coisas. Na definição dos termos, vale buscar a origem das palavras, as formulações mais tradicionais ou respeitadas sobre o que se investiga etc. Como a primeira questão foi sobre o pecado, vale buscar sua origem em hamartia, que significa erra o alvo, falhar; bem como perscrutar alguma autoridade religiosa, como Agostinho de Hipona, para quem o termo designa “amor de si mesmo até o desprezo de Deus”. Se se concebe o ser humano como um ser relacional e Deus como a suma alteridade, o pecado consistiria num fechamento de si, na negação do outro que contrariaria o próprio fundamento humano que é a relação. Em linhas gerais, o pecado como amor de si é centramento na figura do eu que é colocado como referência absoluta da própria existência. Nesse sentido, todo pecado volta-se para o próprio amor, querer e interesse. Aliás, uma forma de amar um tanto estranha se entendemos que quem ama sai de si e se entrega ao outro. Quem peca não sai de si, volta-se para si. Portanto, o contrário do pecado é o amor. A pergunta pela motivação do pecado, desse modo, diz da dificuldade de amar, de encontrar o outro e seu rosto e de não absolutizar o eu.
Alguém pode não querer sair de si e encontrar o outro em profundidade pelo medo de ser rejeitado e, nesse sentido, ser trato como menos do que se é. Há aqui um temor pela redução de si e um desejo de querer ser mais. Outra motivação pode ser o dar-se conta dos próprios limites e faltas e desejar não se gastar ou se perder no outro, mas, antes, fazer dele mero instrumento para alcançar a própria satisfação, o que dependeria de um olhar que o despersonalizasse e o tornasse objeto. Em ambos os casos, no medo de ser diminuído ou no desejo por crescer, encontra-se a consciência da própria finitude e um desejo de ultrapassá-la, de alcançar a completude. Contudo, em nossa limitação humana, completamo-nos no outro, no amor. Por isso quem peca erra o alvo. O alvo e meta humanos são sempre amar. É por isso que Agostinho também dizia “Ama e faze o que quiseres”.
Por isso, deixo algumas questões para sua pesquisa. Poderia alguma forma de amor ser considerada pecado? Quem estaria em condição de julgar o amor de alguém? Se uma relação amorosa faz crescer e abre os seus membros aos outros, não seria essa uma relação autenticamente humanizadora? Isso seria contrário ao que Deus quer? Pensa um pouco.
Parada do Orgulho LGBT
No dia 17 de Julho ocorre a 19ª Parada do Orgulho LGBT de Belo Horizonte, com o tema “Democracia é respeitar identidade de gênero: não nos apague com a política”. O evento começa com um ato político-cultural na Praça da Estação, marcado para as 11h, contando com a presença de artistas, autoridades e militantes. A movimentação se inicia às 16h com os trios elétricos, passando pela Avenida dos Andradas, Rua da Bahia, Avenida Afonso Pena, Avenida Amazonas e terminando por volta das 20h na Avenida Olegário Maciel em frente ao Mercado das Borboletas. A Parada é organizada pelo Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (CELLOS), que visa, com a temática escolhida, por em debate “o respeito à identidade de gênero, as exclusões e violências sofridas pela população trans e travesti e a ameaça que os poucos direitos que foram conquistados sofrem no cenário político atual”.
A primeira coisa a se fazer num processo de investigação como esse que me foi proposto é definir os termos. A partir disso é que se passa a estabelecer as consequentes lógicas e cotejamentos com o mundo da vida. Por exemplo, se a pergunta fosse sobre algo mais rotineiro como direção de veículos automotivos, antes de descobrir as motivações, precisaríamos definir o que seria dirigir. Bem, dirigir consiste no ato de coordenar a execução de algo, conduzir, guiar. No nosso caso, conduzir a movimentação veicular por algum trajeto significativo. Isso porque se compreende, no senso comum, que o simples fato de colocar um carro em movimento não significa dirigi-lo. Disso vem a consequente lógica: quem dirige o faz por alguma necessidade de movimentar-se num veículo. Ora, essa necessidade pode ser objetiva, a de chegar em determinado local, ou subjetiva, como por prazer. Na necessidade objetiva temos os motivos de conforto, agilidade, segurança etc. – aqui estamos cotejando com a vida. Tratam-se de situações de locomoção com alguma comodidade para quem tem a necessidade de movimentar-se. Quem dirige pelo simples prazer do movimento, por sua vez, não busca a direção por ela mesma, mas o prazer que encontra nela. Assim definimos, inicialmente, que quem dirige um carro o faz por motivações de comodidade e gosto.
O mesmo processo de construção de conhecimento pode ser feito com outras coisas. Na definição dos termos, vale buscar a origem das palavras, as formulações mais tradicionais ou respeitadas sobre o que se investiga etc. Como a primeira questão foi sobre o pecado, vale buscar sua origem em hamartia, que significa erra o alvo, falhar; bem como perscrutar alguma autoridade religiosa, como Agostinho de Hipona, para quem o termo designa “amor de si mesmo até o desprezo de Deus”. Se se concebe o ser humano como um ser relacional e Deus como a suma alteridade, o pecado consistiria num fechamento de si, na negação do outro que contrariaria o próprio fundamento humano que é a relação. Em linhas gerais, o pecado como amor de si é centramento na figura do eu que é colocado como referência absoluta da própria existência. Nesse sentido, todo pecado volta-se para o próprio amor, querer e interesse. Aliás, uma forma de amar um tanto estranha se entendemos que quem ama sai de si e se entrega ao outro. Quem peca não sai de si, volta-se para si. Portanto, o contrário do pecado é o amor. A pergunta pela motivação do pecado, desse modo, diz da dificuldade de amar, de encontrar o outro e seu rosto e de não absolutizar o eu.
Alguém pode não querer sair de si e encontrar o outro em profundidade pelo medo de ser rejeitado e, nesse sentido, ser trato como menos do que se é. Há aqui um temor pela redução de si e um desejo de querer ser mais. Outra motivação pode ser o dar-se conta dos próprios limites e faltas e desejar não se gastar ou se perder no outro, mas, antes, fazer dele mero instrumento para alcançar a própria satisfação, o que dependeria de um olhar que o despersonalizasse e o tornasse objeto. Em ambos os casos, no medo de ser diminuído ou no desejo por crescer, encontra-se a consciência da própria finitude e um desejo de ultrapassá-la, de alcançar a completude. Contudo, em nossa limitação humana, completamo-nos no outro, no amor. Por isso quem peca erra o alvo. O alvo e meta humanos são sempre amar. É por isso que Agostinho também dizia “Ama e faze o que quiseres”.
Por isso, deixo algumas questões para sua pesquisa. Poderia alguma forma de amor ser considerada pecado? Quem estaria em condição de julgar o amor de alguém? Se uma relação amorosa faz crescer e abre os seus membros aos outros, não seria essa uma relação autenticamente humanizadora? Isso seria contrário ao que Deus quer? Pensa um pouco.
Parada do Orgulho LGBT
No dia 17 de Julho ocorre a 19ª Parada do Orgulho LGBT de Belo Horizonte, com o tema “Democracia é respeitar identidade de gênero: não nos apague com a política”. O evento começa com um ato político-cultural na Praça da Estação, marcado para as 11h, contando com a presença de artistas, autoridades e militantes. A movimentação se inicia às 16h com os trios elétricos, passando pela Avenida dos Andradas, Rua da Bahia, Avenida Afonso Pena, Avenida Amazonas e terminando por volta das 20h na Avenida Olegário Maciel em frente ao Mercado das Borboletas. A Parada é organizada pelo Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (CELLOS), que visa, com a temática escolhida, por em debate “o respeito à identidade de gênero, as exclusões e violências sofridas pela população trans e travesti e a ameaça que os poucos direitos que foram conquistados sofrem no cenário político atual”.
Gilmar P. da Silva SJ
Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia kierkegaardia - Fonte: Domtotal.com
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