terça-feira, 31 de maio de 2016

Solenidade do Sagrado Coração de Jesus

SOLENIDADE DO SAGRADO CORACAO DE JESUS
Ciclo C
Textos: Ez 34, 11-16; Rom 5, 5-11; Lc 15, 3-7
Ideia principal: Contemplemos o amor louco de Cristo. O coração tem motivos que a razão não compreende- diria Pascal.
Síntese da mensagem: Neste ano da misericórdia a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus deveria ser celebrada com grande alegria e maior fervor, pois no Sacratíssimo Coração de Jesus estão encerrados todos os tesouros de ternura, compaixão e misericórdia divinas para todos os homens e mulheres. Menos mal que Deus em Cristo se fez amor misericordioso e louco para nos salvar! Do contrário, onde estaríamos agora?
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, todas as leituras nos convidam a comtemplar a loucura do amor de Cristo. O amor que manifesta o seu Coração é um amor humano louco, que revela um amor divino ainda mais louco. Os escribas e fariseus do evangelho de hoje não entendem esta loucura de amor de Jesus com os pecadores e publicanos, têm o coração fechado no legalismo e nos pergaminhos. Quem se atreveria a deixar as 99 ovelhas e ir detrás da ovelha perdida e indócil que se afastou do rebanho? Só quem tem um amor louco. A perda da ovelha provoca no pastor um sentimento de privação que invade todo o seu coração e faz com que ele esqueça todos os outros afetos. E quando a encontra, alegra-se, coloca-a sobre os ombros, acaricia, e quando chega em casa, faz festa, e compartilha a sua alegria com os vizinhos. Gestos todos de um coração louco e cheio de misericórdia. Humanamente, este comportamento do pastor é criticável, porque não é justo reservar o amor para quem merece menos. Não é razoável este comportamento. Mas o amor de Deus não faz cálculos, raciocínios. O que quer é salvar todos. Quanto teve que lutar Jesus na sua vida pública com esses homens quadrados na lei, mas sem caridade! Mas a mensagem de Jesus era justamente isto: o amor misericordioso. Não estamos celebrando o Ano Jubilar da Misericórdia para tomar mais consciência do núcleo do evangelho de Jesus?
Em segundo lugar, Paulo na segunda leitura volta à mesma verdade: “Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores” (Rm 5,6). Já sabemos que os pecadores- e cada um de nós é- não merecem senão castigos. Não é razoável que um inocente se ofereça à morte, e uma morte infame- pregos, espinhos, bofetões, desprezos…-, em benefício de uns homens culpáveis. Desde o ponto de vista da razão, morrer por outro, embora se trate de um justo, é já um excesso. Ninguém se oferece voluntariamente à morte: um homem morre quando a morte lhe é imposta naturalmente. O Coração de Jesus não seguiu a lógica da razão, mas a do amor divino. E continua se entregando por nós na Eucaristia: entrega-nos o seu Corpo e o seu Sangue derramado por nós para a remissão dos pecados.  A sua morte na cruz é a maior loucura de amor que se pode conceber. E em cada confissão, o sangue de Cristo se derrama sobre a nossa alma, lavando-nos, purificando-nos, renovando-nos e santificando-nos. Não é isto amor misericordioso?      
Finalmente, alguns cristãos santos e mártires sem compreenderam este amor louco. Perguntemos a São Maximiliano Maria Kolbe. Em 1941 é novamente feito prisioneiro e desta vez é enviado à prisão de Pawiak, e logo levado para o campo de concentração de Auschwitz (campo de concentração construído depois da invasão da Polônia pelos alemães). Ali prosseguiu o seu ministério apesar das terríveis condições de vida. Os nazis que os chamavam por números; a São Maximiliano lhe deram o número 16670. Apesar dos difíceis momentos no campo, a sua generosidade e a sua preocupação pelos demais nunca o abandonaram. No dia 3 de agosto de 1941, um prisioneiro escapa; e em represália, o comandante do campo ordena escolher a 10 prisioneiros para ser condenados a morrer de fome. Ente os homens escolhidos estava o sargento Franciszek Gajowniczek, polonês como São Maximiliano, casado e com filhos. “Não há maior amor do que este: dar a vida pelos seus amigos” (Jo 15,13). São Maximiliano, que não se encontrava dentro dos 10 prisioneiros escolhidos, oferece-se para morrer no seu lugar. O comandante do campo aceita a troca. Logo 10 dias depois da sua condena e ao encontrá-lo ainda com vida, os nazis aplicaram-no uma injeção letal no dia 14 de agosto de 1941. Não é isto amor louco por parte de Maximiliano Maria Kolbe?
Para refletir: Como é o meu amor por Jesus: só sentimental, esporádico, interessado, inconstante? Ou é forte, firme, demonstrado em obras? O que estaria disposto a fazer por Cristo, se me pedisse um duro sacrifício: fugiria, protestaria, claudicaria? Ou colocaria o meu peito para dar a vida por Cristo e pelos irmãos?
Para rezar: rezemos com o cardeal, agora beato, John Henry Newman:
Amado Senhor, ajudai-me a espalhar a vossa fragrância por onde eu for. Inundai a minha alma de espírito e vida. Penetrai e possui todo o meu ser até o ponto que toda minha vida só seja uma emanação da vossa. Brilhai através de mim, e morai em mim de tal maneira que todas as almas que entrem em contato comigo possam sentir a vossa presença na minha alma. Fazei que me olhem e já não me vejam, mas somente Vós, ó Senhor. Ficai comigo e então começarei a brilhar como brilhais Vós; a brilhar para servir de luz para os outros através de mim. A luz, ó Senhor, irradiará toda de Vós; não de mim; sereis Vós, quem ilumineis os demais através de mim. Permiti-me pois louvar-vos da maneira que mais gostais, brilhando para os que me circundam. Fazei que pregue sem pregar, não com palavras mas com o meu exemplo, pela força contagiosa, pela influência do que faço, pela evidente plenitude do amor que vos tem o meu coração. Amém.      
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Arquidiocese de Belém em Preparação para O XVII Congresso Eucarístico Nacional

Dentro de exatos seis meses, a cidade de Belém, no Pará, sediará o XVII Congresso Eucarístico Nacional (CEN2016). A expectativa é que o evento reúna pelo menos 550.000 pessoas, entre Bispos, Sacerdotes, Expositores, e todo o povo de Deus que deseja reafirmar sua fé em Cristo Eucarístico, refletindo o tema: “Eucaristia e Partilha na Amazônia Missionária”, e o lema: “Eles o reconheceram no partir do Pão” (Cf. Lc 24, 35).
A capital paraense também celebra, neste ano, seu quarto centenário de início da evangelização na Amazônia. Uma vasta programação está sendo preparada para receber tantos peregrinos e participantes entre os dias 15 e 21 de agosto, período do Congresso. O Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, ressalta a consciência que a Igreja de Belém tem acerca da grandiosidade deste CEN, “é a segunda vez que o evento acontece em nossa cidade, cabe-nos uma grande responsabilidade, pois seremos a capital eucarística de nosso país, acolhendo pessoas de todas as regiões do Brasil. Temos em mãos a responsabilidade de mostrar para o Brasil as nossas riquezas e a maior delas é a nossa fé. Desejamos tornar visível em todo o Brasil a força da Eucaristia e a ação missionária na Amazônia, de um povo de fé que testemunha com sua cultura e maneira de ser Igreja viva na Amazônia”.
– Programação
A programação do Congresso Eucarístico acontecerá em alguns dos principais pontos da capital belenense, no Estádio Olímpico do Pará (Mangueirão) acontecerá abertura oficial do CEN2016 na segunda-feira, dia 15, onde haverá o acolhimento do Legado Pontifício. Na quinta-feira, dia 18, haverá a celebração com primeira comunhão para cerca de 1.300 crianças. Já no dia 19, sexta-feira, os jovens se reúnem para a Celebração Eucarística. E, por fim, no sábado, dia 20, acontece a grande Celebração Eucarística com adoração ao Santíssimo Sacramento, em seguida saem 85 procissões. Uma para cada paróquia da Arquidiocese.
No Hangar Convenções & Feiras da Amazônia acontecerão outras atividades principais do Congresso, a começar pelo Simpósio Teológico, com quatro cursos, sendo ministrados pelo Padre Wagner Ferreira (Comunidade Canção Nova), Padre João Paulo Dantas (doutor em Teologia), Dom José Aparecido (Bispo Auxiliar de Brasília) e Dom Piero Marini, presidente do Pontifício Comitê para os Congressos Eucarísticos Internacionais. O CEN2016 ainda contará com Workshops, Feira Católica e Exposição de Arte Sacra e Artesanato Regional.
No Portal da Amazônia, orla da cidade, acontece a chegada da procissão eucarística fluvial, que terá início em Manaus, passando por dioceses e prelazias do Amazônia e chegando em Belém. Na chagada, bênção com Santíssimo e programações culturais com apresentações de Orquestra Sinfônica e do Pe. Reginaldo Manzotti.
Está previsto também Celebrações Eucarísticas na Sé Catedral presididas pelos Cardeais, Núncio Apostólico e Legado Pontifício; Jornadas Pastorais nas seis Regiões Episcopais da Arquidiocese de Belém; Diversas celebrações nas paróquias da Arquidiocese e Missas em outros Ritos. Também como parte da programação que será encerrada somente na tarde do domingo, 21 de agosto, na Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré, quando acontece a Missa de Encerramento e a procissão eucarística até o Forte do Presépio (defronte à Sé Catedral), local da fundação da cidade de Belém do Pará e o início da evangelização da Amazônia, onde acontecerá a bênção final e o encerramento do XVII Congresso Eucarístico Nacional.
– Inscrições
As inscrições já estão disponíveis pelo site oficial do Congresso Eucarístico (www.cen2016.com.br). Ao se inscrever, os interessados poderão optar em participar em um dos cursos do Simpósio Teológico ou Workshop (cursos disponíveis no próximo mês) – eventos com limite de inscrições. As demais programações são de livre acesso. Ao se inscrever para o Congresso a pessoa estará contribuindo com a organização do Congresso, e também receberá o Kit do Congressista.
– Hospedagem
A capital do Pará é destino de muita gente que busca conhecer a região amazônica ou serve até mesmo de destino para executivos que vem a trabalho. Anualmente, o Círio de Nazaré atrai dois milhões de turistas vindos do Brasil e do mundo inteiro. Com tudo isso, o setor hoteleiro de Belém é capacitado e consegue acolher um expressivo número de turistas na cidade. No Congresso Eucarístico não será diferente. Vários hotéis fecharam parceria com a Arquidiocese de Belém e oferecerão descontos para os congressistas. Porém, Belém é também conhecida pela sua gente simples e sempre acolhedora, é por isso que ofereceremos também a opção de Hospedagem Solidária, isto é, a solidariedade dos anfitriões em receber peregrinos do Brasil todo que virão ao Congresso e poderão se hospedar em casas de famílias católicas.
Para o Padre Carlos Augusto da Silva, responsável pela equipe de hospedagem solidária do Congresso, “é uma oportunidade de acolher os congressistas mediante a hospedagem solidária, pois criamos novos laços de amizades e aprendizados para vida, com pessoas que virão de todos os cantos do Brasil. É uma troca de experiências, criando verdadeiras amizades, ato de fraternidade”.
Outra novidade do CEN2016 é a promoção de passagens aéreas para os que se inscreverem, são descontos de até 20% nas compras das passagens. Basta o inscrito ter em mãos a ficha de inscrição, fazer contato com a agência parceria do CEN2016 pelos contatos: 4005-5107 ou pelo e-mail jhennef@flytourbelem.com.br informando o número do inscrição.
– História
O primeiro Congresso Eucarístico foi celebrado em 1881 em Lille (França), por iniciativa de um grupo de fiéis leigos, apoiados por São Pedro Julião Eymard. Foi uma celebração solene, de que participaram fiéis e bispos de vários países da Europa. De lá para cá, outros países quiseram repetir a bela iniciativa.
No Brasil já foram realizados dezesseis Congressos Eucarísticos Nacionais. O primeiro foi realizado em 1933, em Salvador – BA; o XVI Congresso Eucarístico Nacional, aconteceu em Brasília, de 13 a 16 de Maio de 2010, tendo como Tema: Eucaristia, Pão da Unidade dos Discípulos Missionários, inspirado na V Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe, que aconteceu em Aparecida em maio de 2007.
Os Congressos Eucarísticos têm como características: Aprofundar a doutrina cristã sobre a Eucaristia; Prestar culto público e solene ao Santíssimo Sacramento: adoração e reparação; Manifestar a universalidade e unidade da Igreja e a sua dimensão missionária;     Irradiar para a Igreja e a sociedade os frutos da Eucaristia na ação social;      Realizar seminários temáticos para públicos específicos, com temas ligados a teologia da Eucaristia.
Mais informações pelo (www.cen2016.com.br), ou pelo telefone: (91) 3215-7001; e pelo e-mail: comunicacao@cen2016.com.br

domingo, 29 de maio de 2016

Vaticano: Papa pede que serviço aos pobres seja mais do que «filantropia»

O Papa Francisco disse hoje no Vaticano que os católicos são chamados a servir os “pobres e excluídos da sociedade” numa ação que é mais do que “filantropia” ou uma cópia das ONG.
“Que a fé não se transforme em ideologia e que a caridade não se reduza a filantropia, que a Igreja não acabe por ser uma ONG”, realçou, num discurso aos participantes do Capítulo Geral da Pequena Obra da Divina Providência, conhecidos como Orionitas, obra fundada por São Luís Orione.
Francisco defendeu que a Igreja tem de “caminhar com Jesus nas estradas do mundo”, oferecendo à humanidade o “pão do corpo e do divino bálsamo da fé”.
O Papa sublinhou as lições de São Luís Orione, que falava da necessidade de cura “moral e material” para as necessidades das pessoas.
“Fazendo isso, não só imitarão Jesus, o Bom Samaritano mas também vão oferecer às pessoas a alegria de encontrar Jesus e a salvação que ele traz para todos”, afirmou.
O pontífice recordou que nalguns locais os membros desta obra eram conhecidos como “os padres que correm”, porque estavam sempre em movimento, no meio do povo, convidando os presentes a “sair”, mesmo para lá das instituições de caridade, para ir ao encontro de todos.
O novo superior geral da congregação é o padre brasileiro Tarcísio Gregório Vieira.
OC

sábado, 28 de maio de 2016

Ministro da saúde fala de 11 mil mortes causadas por aborto no Brasil, a cada ano, enquanto dados do SUS falam de 66

Em artigo publicado no jornal Gazeta do Povo, a Presidente do movimento Brasil sem Aborto denuncia o exagero do número citado pelo ministro

Em artigo publicado no jornal Gazeta do Povo a Dra. Lenise Garcia contestou os números do aborto divulgados pelo ministro da saúde, Ricardo Barros.”Em entrevista concedida ao assumir a pasta – escreveu a Dra. Lenise – Ricardo Barros afirmou: ‘recebi a informação de que é feito 1,5 milhão de abortos por ano. Desse total, 250 mil mulheres ficam com alguma sequela e 11 mil vão a óbito’. Ignoro a fonte da “informação” dada ao ministro, mas sugiro que deixe de utilizá-la. Vamos à fonte oficial do próprio ministério, disponível em http://datasus.saude.gov.br”.
A presidente do Movimento Brasil, analisando o número de óbitos maternos, “que é o mais confiável, dado que oriundo de atestados de óbito obrigatórios”, destaca que os “últimos dados disponíveis são os de 2013 (consolidados) e 2014 (preliminares) encontrados no site indicado, fazendo-se o percurso Acesso à Informação => TABNET => Estatísticas Vitais”.
Portanto, “Em 2013 morreram no Brasil 523.195 mulheres, sendo 66.790 em idade fértil. Os óbitos maternos (mulheres que morrem em decorrência da gravidez, parto e puerpério) correspondem a 1.686.”. Sendo assim, denunciou a Dr. Lenise, o número que o ministro da saúde apresentou como mortes decorrentes de aborto é 6,5 vezes maior que o de todas as mortes maternas.
A Dr. Lenise, observou também em seu artigo que “o aborto está longe de ser a principal causa de morte materna. Tem-se mantido, nos últimos anos, entre a quarta e a quinta causa. A principal é pressão alta, geralmente não controlada pela falta de um bom pré-natal”. Nesse sentido, afirmou a doutora que “Em 2013, as mortes maternas em função de aborto provocado foram no máximo 66, incluindo-se aí os não especificados. O número é mais de 150 vezes menor do que aquele que lhe foi apresentado”.
“Em 2014, dados ainda preliminares, tivemos 1.651 mortes maternas, das quais 40 podem ser atribuídas a aborto provocado. Senhor ministro, para diminuirmos as mortes maternas no Brasil – um dos objetivos do milênio – não precisamos legalizar o aborto, e sim estabelecer um bom atendimento às grávidas, que evite que elas continuem a morrer por pressão alta e problemas cardíacos”, conclui a Dra. Lenise.
Fonte: Zenit.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

IX Domingo do Tempo Comum

IX DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ciclo C
Textos: 1 Re 8, 41-43; Ga 1, 1-2. 6-10; Lc 7, 1-10
Ideia principal: A salvação de Deus é para todos, e não privilégio exclusivo de uma raça. Deus pede a fé em Cristo Jesus para que essa salvação se faça realidade.
Síntese da mensagem: Deus, abrindo a sua salvação a todos sem exceção, está demonstrando a sua grande e infinita misericórdia (1 leitura). Para nós será muito bom meditar na mensagem deste domingo, justamente quando estamos vivendo e celebrando o ano da misericórdia. Deus quer a salvação de todos. Só pede que o homem e mulher se aproximem de Deus com uma fé firme em Cristo Jesus e lhe exponha com humildade as suas necessidades (2 leitura e evangelho).
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugarSalomão deixa bem claro na primeira leitura de hoje que a salvação é universal. Por isso eleva a sua oração a Deus para que escute não somente os judeus que virão ao templo, mas também os pagãos e estrangeiros. Deus não é somente o Deus monopólio de Israel, mas o Deus de todo o mundo. É o Deus de todos e, por conseguinte, todos deverão conhecê-lo na oração, honrá-lo no culto e ter as mãos abertas para receber toda classe de graças que o bom Deus quiser conceder-lhes, para depois reparti-las com os outros. Salomão mostra aqui um espírito universal, que logo não imitarão desgraçadamente muitos povos. Quanto custou ao profeta Daniel abrir-se a esta salvação universal oferecida por Deus e até mesmo fica bravo com Deus, por ser tão clemente e misericordioso.   
Em segundo lugarPaulo na segunda leitura coloca em guarda com relação aqueles que querem anunciar outro evangelho distinto que certamente não levará a essa salvação. Paulo escreve aos Gálatas, que eram pagãos antes de tornarem-se cristãos. Pregou-lhes a fé em Cristo e eles se aderiram a esta fé, aceitaram o batismo e obtiveram as graças de Deus para conseguir a salvação. Porém, mais tarde chegaram alguns judaizantes perturbadores dizendo-lhes que, ademais da fé em Cristo, necessitavam a observância da lei antiga de Moisés (circuncisão, observâncias alimentarias, pureza ritual). Paulo é firme e forte: basta a fé e a adesão a Cristo para se salvar. É certo que a fé em Cristo nos pedirá coerência de vida, isto é, faz-nos agir e realizar as “obras da fé”, e não tanto as obras da lei, com as quais os judeus acreditavam alcançar para eles a salvação.   
FinalmenteCristo no Evangelho, louvando a fé desse centurião romano, abriu a sua mão compreensiva a esse criado a ponto de morrer e ofereceu a sua salvação a esses pagãos. Esse oficial pagão tinha a alma preparada para receber essa salvação oferecida por Deus, porque era um homem bom, honesto e humilde, simpatizante do povo de Israel, tanto que tinha construído para eles a sinagoga. Os mesmos judeus o reconheceram diante de Cristo. Jesus fica admirado com a atitude do centurião e elogia a sua fé, que lhe arrancou o milagre para o seu servo. Se tiver algo claro no evangelho de Lucas, que nos acompanha neste ano litúrgico, é justamente a salvação universal trazido por Cristo, desde que nasce em Belém. Depois, quando Jesus sai para pregar presta atenção aos marginalizados, louva o leproso estrangeiro ou o samaritano que teve entranhas de misericórdia com esse machucado na beira do caminho. Jesus, curando o criado do centurião romano, pertencente às “forças de ocupação”, hoje diríamos, está demonstrando-nos que a sua salvação não tem fronteiras nem pede passaporte nem papéis, como exigem os países quando as pessoas viajam; a feliz, chata e cansada burocracia que todos sofremos. Cristo abre o seu coração e a sua salvação a todos, sem distinção de raça, língua, cor. Só pede fé Nele. Ele é o único e universal Salvador (cf. “Dominus Iesus”, Declaração da Congregação da Doutrina da fé, 6 de agosto de 2000). Cristo é o único mediador da salvação de Deus (1 Tm 2,5). A Igreja leva mais de dois mil anos pregando-o: “Em nenhum outro há salvação, porque não existe outro nome debaixo do céu dado aos homens, no qual possamos ser salvos” (Atos 4,12).    
Para refletir: Sou de mentalidade aberta ou fechada em alguma classe de racismo ou nacionalismo? Sei reconhecer os valores que têm os “outros”, os que não são da nossa cultura, raça, língua, religião? Sei dialogar com eles, ajudá-los no que posso? Reconheço que a verdade e o bem não são exclusivamente minhas? Alegro-me em saber que Deus é um Deus aberto, universal, que “faz sair o sol sobre justos e pecadores”? Inclusive permanecendo fiel e coerente na minha fé e pregando com convicção esta verdade “Em Cristo todos podem ser salvos”, sou uma pessoa aberta ao diálogo e ao respeito dos que pensam diferentemente de mim?
Para rezar: Senhor, que a vivência da Eucaristia nos ensine e nos estimule a viver este universalismo na nossa vida cristã, pois é na Eucaristia onde formamos uma assembleia comunitária heterogênea, mas fraternal, com pessoas de cultura e de idade distinta. É aí, Senhor, onde elevamos na oração universal as nossas súplicas a Deus, solidarizando-nos com todo o mundo. É aí, meu Deus, onde no gesto simbólico de paz damos e desejamos paz para os vizinhos. E é aí, onde comemos o único pão partido, sentindo-nos irmãos uns dos outros, porque cremos em Vós, Cristo Jesus.
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
Fonte: Zenit.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Katholikentag. Francisco: “Tendes boas relações com os cristãos das outras confissões”

“Muitas vezes encontramos na sociedade o homem maltratado. Vemos como os demais julgam o valor da sua vida e desejam, na velhice e na doença, a sua morte rápida. Vemos como os homens são rejeitados, abandonados aqui e ali e privados da própria dignidade, porque não têm trabalho ou são refugiados. Vemos aqui Jesus sofredor e martirizado, que pousa o olha sobre a maldade e a brutalidade em toda a sua dimensão, que os homens sofrem ou fazem sofrer uns aos outros neste mundo”.
Com essa amarga reflexão começou a mensagem de vídeo do Papa Francisco aos participantes da 100ª edição do Congresso Católico, a “Jornada dos Católicos Alemães”, organizada a cada dois anos em Leipzig, na Alemanha. Uma “festa da fé, da alegria e da esperança”, diz o Papa, que este ano tem como lema: “Eis o homem”. Este – disse – “mostra de forma muito bela o que conta. Não é o fazer ou o sucesso exterior que conta, mas a capacidade de parar, de voltar o olhar, de estar atentos uns com os outros e de oferecer-lhes o que realmente lhes falta”.
“Vocês querem mostrar aos homens e mulheres de Leipzig e de toda a Alemanha, que vivem a alegria do Evangelho”, acrescentou o Papa no vídeo, “tendes boas relações com os cristãos das outras confissões e deem um autêntico testemunho de Cristo com o vosso compromisso concreto em favor dos mais fracos e necessitados”. “Cada ser humano deseja a comunhão e a paz – continua – tem necessidade de uma convivência pacífica. Mas isso só pode crescer quando construímos também a paz interior no nosso coração”.
Muitas vezes, de fato, muitas pessoas vivem “em uma pressa constante”, observa Bergoglio, tendendo a “envolver tudo o que têm ao redor”. Isso também afeta no modo como tratam o ambiente e também a própria pessoa humana. “Trata-se de conceder-se mais tempo para recuperar a serena harmonia com o mundo, com a criação, mas também com o Criador”, evidencia o Santo Padre, exortando a procurar “na contemplação, na oração, para alcançar sempre mais familiaridade com Deus”. Porque é esta “que anima também a nossa misericórdia. Como ama o Pai assim amam os filhos. Como é misericordioso Ele, assim também nós somos chamados a ser misericordiosos, uns com os outros”.
Então, “deixemo-nos tocar pela misericórdia de Deus também com uma boa confissão, para tornar-nos sempre mais misericordiosos como o Pai”, incentiva o Papa Francisco. E conclui expressando o desejo de que todos aqueles que estão reunidos em Leipzig, bem como todos os fiéis na Alemanha, “deem sempre mais espaço na vida à voz dos pobres e dos oprimidos”.
Fonte: Zenit.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Anunciado o tema do IX Encontro Mundial das Famílias

Dom Paglia disse que a “Carta Magna” de todo o encontro será a Exortação Apostólica Amoris Laetitia
O Presidente do Pontifício Conselho para a Família, Dom Vicenzo Paglia, anunciou o tema do IX Encontro Mundial das Famílias, dessa vez em Dublin, Irlanda, do 22 ao 26 de agosto de 2018, “O Evangelho da família, alegria para o mundo”.
Dom Paglia disse que a “Carta Magna” de todo o encontro será a Exortação Apostólica Amoris Laetitia.
“Amoris in Laetitia requer não uma simples atualização da pastoral familiar, mas bem mais do que isto: um novo modo de viver a Igreja”, disse em coletiva de imprensa o prelado.
O Arcebispo de Dublin, Diarmuid Martin, defendeu por sua vez, que o evento deve ser  “mundial a nível de preparação”, pois às vezes vemos “críticas a eventos que parecem mundiais, mas a preparação é local”.
Os organizadores do encontro anteciparam que gostariam de envolver na preparação também os movimentos voltados à espiritualidade das famílias, que normalmente vivem fora das paróquias e por isto, quem sabe, participam em massa do evento, mas não no percursos de preparação.
Fonte: Zenit.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Papa Francisco: “Não existe cristão sem alegria!”

“Podemos caminhar rumo àquela esperança que os primeiros cristãos representavam como uma âncora no céu. Aquela esperança que nos dá alegria”, disse Francisco, na homilia dessa segunda-feira.
“O cristão é um homem e uma mulher da alegria, um homem e uma mulher com a alegria no coração. Não existe cristão sem alegria! Mas, Padre, eu já vi tanta coisa! Não são cristãos! Dizem que são, mas não são! Falta-lhes alguma coisa. A carteira de identidade do cristão é a alegria, a alegria do Evangelho, a alegria de ter sido escolhido por Jesus, salvo por Ele, regenerado por Jesus. A alegria daquela esperança que Jesus espera de nós, a alegria que, nas cruzes e nos sofrimentos desta vida, se expressa de outra maneira que é a paz, na certeza de que Jesus nos acompanha. Está conosco”.
“O cristão faz esta alegria crescer com a confiança em Deus. Deus se lembra sempre de sua aliança. O cristão sabe que Deus se lembra dele, que Deus o ama, que Deus o acompanha, que Deus o espera. Esta é a alegria”, disse ainda o Papa.
Francisco, assim, dirigiu sua atenção para a passagem do Evangelho de hoje que narra o encontro de Jesus com o jovem rico. Um homem, disse, que “não foi capaz de abrir o coração à alegria e escolheu a tristeza”, “porque possuía muitos bens”:
“Era apegado aos bens! Jesus nos disse que não se pode servir a dois senhores: ou serve a Deus ou serve as riquezas. As riquezas não são ruins em si mesmas: mas servir a riqueza, esse é o mal. O pobre homem foi embora triste… “Ele franziu a testa e retirou-se triste”. Quando em nossas paróquias, nas nossas comunidades, em nossas instituições, encontramos pessoas que se dizem cristãs e querem ser cristãs, mas são tristes, algo está errado. E nós devemos ajudá-las a encontrar Jesus, a tirar essa tristeza, para que possa se alegrar com o Evangelho, possa ter essa alegria que é própria do Evangelho”.
Ele se concentrou sobre a “alegria e o estupor”. “O estupor bom – disse o Papa – diante da revelação, diante do amor de Deus, diante das emoções do Espírito Santo”.
O cristão “é um homem, uma mulher de estupor”. Uma palavra, destacou, que volta hoje no final, “quando Jesus explica aos Apóstolos que aquele jovem tão bom não conseguiu segui-lo, porque ficou preso às riquezas”.
Quem pode ser salvo, se perguntam então os Apóstolos? A eles, o Senhor responde: “Impossível aos homens”, mas “não a Deus!”.
A alegria cristã, portanto, “o estupor da alegria, de ser salvos de viver presos às coisas, à mundanidade – as muitas mundanidades que nos afastam de Jesus – isso pode ser superado somente com a força de Deus, com a força do Espírito Santo”:
“Peçamos hoje ao Senhor que nos dê o estupor diante Dele, diante das muitas riquezas espirituais que nos deu; e com este estupor nos dê a alegria, a alegria da nossa vida e de viver com paz no coração as inúmeras dificuldades; e nos proteja da busca da felicidade em muitas coisas que, no final, nos entristecem: prometem muito, mas não nos darão nada! Lembrem-se bem: um cristão é um homem e uma mulher de alegria, de alegria no Senhor; um homem e uma mulher de estupor”.
Fonte: Zenit.  (Com informações Rádio Vaticano)

segunda-feira, 23 de maio de 2016

A ética manda desobedecer

Por Marcelo Barros
Todo exército tem como regra básica a disciplina e requer obediência aos superiores. No entanto, em Israel, não são poucos os jovens recrutados ao serviço militar obrigatório que se negam a combater palestinos. Nos Estados Unidos, há soldados que não obedecem ordens se essas são para invadir países e fazer novas guerras. Esses jovens invocam um direito individual, assegurado pela ONU: a objeção de consciência. Em vários países, a objeção de consciência é direito civil, reconhecido por lei. No Brasil, a Constituição garante aos jovens o direito de prestar um serviço civil no lugar do tempo de serviço militar. Entretanto, as leis complementares à

Constituição nunca foram sancionadas. Por isso, esse direito ainda não pode ser plenamente exercido e poucos brasileiros têm consciência disso. A Onu consagra o 15 de maio e toda essa semana para aprofundar e divulgar essa atitude pacifista. Só se reconhece a dignidade humana onde a consciência individual e a fé de cada grupo são respeitadas.  

A ciência e a arte de viver têm progredido mais por conta das pessoas que ousam desafiar as leis e inovar os costumes do que pela ação das que simplesmente seguem caminhos convencionais. A objeção de consciência é a atitude de quem, por convicção religiosa, social ou política, se nega a pegar em armas e a participar de guerras ou atos violentos.

No mundo inteiro, homens e mulheres, reconhecidos como construtores da paz e da justiça, alguns até premiados com o Nobel da Paz, foram ou ainda são, em seus países, considerados rebeldes e desobedientes. Para os budistas tibetanos, Sua Santidade, o Dalai Lama, é a 14a reencarnação do Buda da Compaixão. No entanto, para o governo chinês, ele é apenas um dissidente, desobediente às leis. O prêmio Nobel da Paz foi dado a dois latino-americanos ilustres: a Rigoberta Menchu e Adolfo Perez Esquivel. Riboberta é uma índia que viveu anos sem poder voltar à Guatemala para não ser morta ou simplesmente condenada pelas leis do seu país. Durante anos, o governo da Argentina tentou prender Adolfo Perez Esquivel, como agitador. Hoje, amigo do papa Francisco, ele goza de mais liberdade.

No Brasil da ditadura militar, Dom Hélder Câmara, era escutado no mundo inteiro. Enquanto isso, em nosso país, os meios de comunicação não podiam divulgar nada que falasse em seu nome. No passado, Gandhi e Martin Luther King foram presos e condenados como desobedientes às leis vigentes. Para os católicos, muitos mártires são testemunhas da fé. Muitos foram condenados à morte por se negar a reconhecer o imperador como divino. Outros, por objeção de consciência ao serviço militar. Do ponto de vista da fé, são heróis, mas a sociedade da época os condenou como desrespeitadores das leis e até criminosos.

Objetar é mais do que estar em desacordo. É opor-se determinadamente a cumprir uma lei que fere a consciência. A violência, mesmo se esta é institucional, ou seja perpetrada pelo Estado, nunca será capaz de construir um mundo de paz e justiça.

Há também objeção de consciência quando a pessoa se nega a cumprir ordens anti-éticas, ou que firam a vida. Em alguns países, cidadãos adquiriram o direito de saber a destinação exata do dinheiro que resulta do pagamento de seus impostos. Se a objeção de consciência é direito de toda pessoa diante do poder social e político, com maior razão ainda, as religiões e Igrejas deveriam reconhecer um direito à dissidência e à objeção de consciência diante de um poder religioso autoritário ou injusto.

Nas mais diversas tradições espirituais, a  espiritualidade valoriza a obediência como uma atitude de disponibilidade interior que faz a pessoa escutar e acolher positivamente a palavra e as propostas de outro. Essa obediência, adulta e responsável, se baseia na liberdade do coração e se realiza através do diálogo franco e aberto. Ela conduz a pessoa a superar seus limites interiores e a aventurar-se nos caminhos do amor.

Conforme a Bíblia, quando as autoridades de Jerusalém proibiram os apóstolos a falar no nome de Jesus, estes responderam: “Entre obedecer a Deus e aos homens, é melhor obedecer a Deus”(At 5, 29). 

A negação deste direito abre a porta ao fundamentalismo religioso, hoje, responsável por tantos atos de intolerância e mesmo de violência. O que, na Bíblia, caracteriza a fé cristã é o aprendizado da liberdade interior e social. Paulo escreveu aos coríntios: “Onde estiver o Espírito do Senhor, aí haverá liberdade” (2 Cor 3, 17).
Marcelo Barros
Marcelo Barros é monge beneditino e teólogo especializado em Bíblia. Atualmente, é coordenador latino-americano da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT). Assessora as comunidades eclesiais de base e movimentos sociais como o Movimento de Trabalhadores sem Terra (MST). Tem 45 livros publicados dos quais está no prelo: "O Evangelho e a Instituição", Ed. Paulus, 2014. Colabora com várias revistas teológicas do Brasil, como REB, Diálogo, Convergência e outras. Colabora com revistas internacionais de teologia, como Concilium e Voices e com revistas italianas como En diálogo e Missione Oggi. Escreve mensalmente para um jornal de Madrid (Alandar) e semanalmente para jornais brasileiros (O Popular de Goiânia e Jornal do Commercio de Recife, além de um jornal de Caracas (Correo del Orinoco) e de San Juan de Puerto Rico (Claridad). Fonte: domtotal.com

domingo, 22 de maio de 2016

Erguer outras tochas

20 Mai 2016 | domtotal.com

Erguer outras tochas


A tocha da consciência moral deve receber investimentos.
Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo
A passagem da tocha olímpica por diferentes cidades tem congregado multidões, uma explosão de alegria e entusiasmo. No horizonte está o acontecimento dos jogos olímpicos no Rio de Janeiro. Um importante evento, considerada a sua força educativa, que pode contribuir para a promoção da paz entre os povos, ajudar a cultivar o sentido de disciplina que é caminho para muitas conquistas.  A olimpíada traz um conjunto de lições e a tocha olímpica é seu símbolo. Sua luminosidade, que passa pelas ruas das cidades brasileiras, atraindo a atenção da mídia e das pessoas, tem poder simbólico que indica ser urgente carregar muitas outras tochas, uma interminável lista de itens.
 
É tarefa cidadã considerar essas necessidades e agir diante da urgência para se conquistar uma iluminação diferente, nova, capaz de retirar a sociedade brasileira dos lamaçais da corrupção. Essas tochas envolvem uma série de itens, possibilitando enxergar e alcançar novos ordenamentos sociais e políticos, fundamentais para uma arrancada mais rápida e consistente rumo à solução das crises que geram sofrimento e desfiguram o tecido cultural brasileiro.
 
A tocha da consciência moral deve receber investimentos, permanentemente, para evitar sua terrível degradação.  O caos moral é responsável pela desarticulação das dinâmicas que sustentam o equilíbrio, a convivência, o sentido de respeito e honestidade, indispensáveis para a vida em comunidade. O tratamento inadequado dessa tocha, enfraquecida pelos relativismos ético-morais, é responsável pela violência e a indiferença. Quando falta a chama da consciência moral, a paz fica comprometida, perde-se a sensibilidade que é fonte para um remédio indispensável: a solidariedade humana, que equilibra relações e garante sustentabilidade ao tecido da cultura.
 
É preciso reacender a tocha da autoridade política, apagada pela ausência de envergadura moral na tarefa cidadã da representatividade, o que leva ao uso inadequado do poder. Acender essa tocha depende, fundamentalmente, da irrestrita consideração e respeito ao povo. A autoridade política precisa ter consciência de que a soberania é do povo, que confia o poder aos eleitos para representá-lo. Por isso, cabe aos políticos exercer seu papel seguindo orientações da lei moral. Desvirtuar essa lei significa apagar a tocha essencial para iluminar o caminho das autoridades. Na direção oposta, reluz quem promove os valores humanos e morais, para além dos conchavos partidários, dos loteamentos do poder e da satisfação de interesses que ameaçam o bem comum.
 
Não menos urgentes são os raios luminosos da tocha empunhada pelos construtores da sociedade civil, que precisam se deixar interpelar por um sentido mais amplo de vida. Assim, poderão, verdadeiramente, contribuir para multiplicar e tornar os bens deste mundo mais acessíveis a todos.  A luz dessa tocha pode curar a cegueira que sustenta a idolatria ao dinheiro e a confiança nas ilusões produzidas pela mão invisível do mercado. Quando se conquista a luminosidade que faz enxergar de modo mais adequado a situação dos mais pobres, resultados duradouros são alcançados. Toda a sociedade precisa assumir o compromisso de agir para mudar a realidade dos que sofrem.  Sem a luz da tocha da opção preferencial pelos pobres, haverá comprometimentos diversos, com prejuízos para todos.
 
No atual contexto, diante do entusiasmo e da significação que emanam do percurso da tocha olímpica, é oportuno listar outras muitas “chamas” que podem garantir o intocável respeito à dignidade humana e ao bem comum, para que haja a recuperação do sentido de autoridade política, adequada estruturação da economia e para que seja reconquistada a nobreza indispensável ao exercício da cidadania. Vitórias que serão alcançadas quando todos, com galhardia, disciplina e honestidade, erguerem essas muitas outras tochas.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas. Fonte: domtotal.

sábado, 21 de maio de 2016

Os novos Institutos diocesanos de Vida Consagrada precisarão do ‘sim’ da Santa Sé

O Papa Francisco, a conselho do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, estabeleceu através de um rescrito, que para erigir um instituto diocesano de vida consagrada será necessária a prévia consulta da Santa Sé, sob pena de nulidade do decreto de ereção do Instituto. Esta determinação entrará em vigor no próximo dia 1º de Junho de 2016, depois da sua publicação no L’Osservatore Romano.
Afirmou hoje a assessoria de imprensa do Vaticano, proporcionando o documento assinado pelo cardeal Pietro Parolin, Secretaria de Estado, explicando as razões para o procedimento.
Assim, afirma que a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, é “consciente de que cada novo instituto de vida consagrada, ainda que nascido e desenvolvido dentro de uma Igreja particular” é um dom dado a toda a Igreja.
Portanto, vendo a necessidade de “evitar que sejam erigidos a nível diocesano os novos Institutos sem o suficiente discernimento que verifique a originalidade do carisma”, que “defina as características específicas que neles terão a consagração por meio da profissão dos conselhos evangélicos” e que “especifique as possibilidades reais de desenvolvimento” destacou “a oportunidade de determinar melhor” a necessidade de pedir a sua opinião antes de proceder à criação de um novo Instituto diocesano.
Como explicou mons. Juan Ignacio Arrieta, secretário do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, o Papa especificou um cânon do Código de Direito Canônico, que reconhece que todos os bispos podem, na própria diocese, erigir institutos de vida consagrada ou sociedades de vida apostólica. Agora, nos termos do Código, os bispos devem consultar previamente a Santa Sé. O Papa – esclareceu mons. Arrieta – com este rescrito diz que esta consulta é obrigatória e que se não é consultada a Santa Sé, a ereção de um Instituto diocesano é nula, inválida. A única novidade, portanto, “é a de estabelece-lo com clareza, de forma também rápida”.
Fonte: Zenit.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Solenidade da Santíssima Trindade

SOLENIDADE DA SANTISSIMA TRINDADE
Ciclo C
Textos: Prov 8, 22-31; Rom 5, 1-5; Jo 16, 12-15
Ideia principal: Quem é Deus?
Síntese da mensagem: Toda a nossa vida cristã gira- ou deveria girar- ao redor da Santíssima Trindade. Levantamo-nos e deitamos no nome da Trindade. Trabalhamos e sofremos no nome da Trindade. Celebramos e participamos nos sacramentos e fazemos oração no nome da Trindade. Comemos e compartilhamos o nosso pão no nome da Trindade Santa. Toda a nossa vida deveria ser um diálogo entre nós e o Pai, feito por meio de Jesus Cristo, à luz e com o sustento do Espírito Santo.
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugarum pouco de história. Conta São Gregório de Nisa, que nos seus tempos do século IV era impossível ir à praça do mercado para comprar pão, às termas para tomar uma sauna, aos cambistas para falar de dinheiro, etc., sem agarrar-se uns e outros pelos cabelos ao tocar o tema do mistério da Trindade. Informam os historiados que Constantino tinha o seu império em dois partidos mal trilhados: os arianos, cujo chefe Arrio, clérigo sem mitra nem báculo, dizia que o Pai é Deus, mas o Filho não; e os atanásios, cujo chefe, Atanásio, clérigo também sem mitra nem báculo, dizia que o Filho é tão Deus como o Pai. E aquilo era “guerra civil” à vista. Conta a história da Igreja que o imperador Constantino, já suspeitoso e com um império desse jeito na boca da amargura, convocou o primeiro concílio ecumênico para que os bispos da Igreja se batessem o cobre pela Trindade e, para aproveitar, salvassem para ele o império. 20 de maio do ano 325 na cidade de Niceia, na Turquia asiática: o imperador Constantino- coroa imperial na cabeça, manto de rabo arrastando, como um paquete oriental- entrou na sala conciliar por entre as 318 mitras e báculos dos padres sinodais, subiu no estrado e parabenizou o legado do Papa Silvestre I, que era espanhol: o grande Ósio, bispo de Córdoba. Ali, por conta da Trindade, o Papa estava jogando a unidade da Igreja e Constantino a unidade do império. Niceia, 19 de junho de 325: o grande Ósio saiu com essa palavra mágica, luminosa e clave, e solucionou o problema: “homoúsious” (=consubstancial). O Filho, pois, e consubstancial ao Pai e vice-versa, isto é, o Filho é Deus igual que o Pai. Fim do Concílio. E diz que o historiador eclesiástico, Eusébio de Cesareia, que Constantino deu aos bispos um banquete imperial e aos seus súditos uma ordem imperial: ou aceitação do concilio ou desterro para a vida inteira.
Em segundo lugarcomo se aproximam os teólogos deste mistério da Trindade? Observam pelas miragens que o Pai, em efeito, exerce autoridade sobre o Filho e sobre os homens. Autoridade que não é autoritarismo. Paternidade que não é paternalismo que mima, chateia e não faz crescer os filhos. E lhe diz ao Filho: essa é a situação dos homens e este é o meu plano de redenção, e o redentor és Tu. E nos diz: eu sou o Pai que os amo e quero a felicidade de todos vocês: mas cumpram os meus mandados para sejam felizes e assim me façam feliz. Continuam os teólogos e observam o Filho e a sua obediência, que è uma, grande e livre (mas sem jugo nem flechas, como no escudo espanhol). E escutam o Filho dizer: “Eu faço sempre a vontade do meu Pai” (Jo 8,29), “o Pai e eu somos um” (Jo 10,30), “…levo a tua lei no meu coração” (Heb 10,7 e Salmo 39,9). E não cansados de refletir e meditar, os teólogos ouvem o barulho das asas em movimento do Espírito, que no voo rasante sobrevoou o caos prévio à criação do mundo, que falou a mesma coisa aos patriarcas nas grandes teofanias e aos profetas e dirigentes de Israel, que desceu sobre Jesus e às águas do Jordao, que chegou aos apóstolos no borde do furacão. O Espírito é energia, vitalidade, atividade. É luz que nos guiará à verdade completa (evangelho).
Finalmentenós, por sermos batizados, somos portadores da Trindade. Rápido se percebe quando uma pessoa está cheia desse Deus e valoriza o espiritual mais do que o material, a alma mais do que o corpo, o céu mais do que a terra, o próximo como a Deus e a Deus mais do que ninguém e sobre todas as coisas. Esse Deus Uno e Trino devemos adorar com toda a alma; amar com todo o coração; agradecer com todo o nosso ser e corresponder levando uma vida segundo o Espírito. Por ser portadores da Trindade até nos gloriamos dos sofrimentos, pois sabemos que o sofrimento gera a paciência, a paciência gera a virtude sólida, a virtude sólida gera a esperança, pois Deus nos infundiu o amor nos nossos corações por meio do Espírito (2 leitura). E vivemos felizes, pois as delícias desse Deus Uno e Trino são estar com os filhos dos homens (1 leitura).
Para refletir: Aceito Deus como mistério? Rezo a Deus em termos vagos, ou me relaciono de pessoa a pessoa com o Pai, ou com Jesus, ou com o Espírito Santo? Fasso tudo em nome da Santíssima Trindade: trabalho, estudo, descanso, sofrimento, êxito e fracasso?
Para rezar: Hino das primeiras Vésperas da Solenidade da Santíssima Trindade:
Meu Deus, Trindade a quem adoro!
A Igreja nos submerge no vosso mistério;
Confessamos-vos e vos bendizemos,
Senhor Deus nosso.

Como um rio no mar da vossa grandeza,
O tempo desemboca no hoje eterno,
O pequeno se anega no infinito,
Senhor, Deus nosso.

Ó, Palavra do Pai, vos escutamos;
Ó, Pai, olhai o rosto do vosso Verbo;
Ó, Espírito de amor, vinde a nós;
Senhor, Deus nosso.

Meu Deus, Trindade a quem adoro!
Fazei das nossas almas vosso céu,
Levai-nos ao lar onde Vós habitais,
Senhor, Deus nosso.

Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito:
Fonte de gozo pleno e verdadeiro,
Ao Criador do céu e da terra,
Senhor, Deus nosso. Amém.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
Fonte: Zenit.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

O caminho proposto pelo Papa Bergoglio, a partir das periferias, não é um plano de reforma, mas um processo com muitos riscos


O antigo ministro do governo italiano, Andrea Riccardi, em conferência promovida pela Universidade Católica Portuguesa
“O caminho proposto pelo Papa Bergoglio, a partir das periferias, não é um plano de reforma, mas um processo com muitos riscos, que tem grandes perspetivas”, afirmou Andrea Riccardi – segundo informou a Agência Ecclesia hoje – numa conferência promovida pela Universidade Católica Portuguesa.
Na visão do antigo ministro do governo italiano (2011 a 2013) Francisco deu início a um “cristianismo de povo” e a uma “Igreja que não pretende fechar-se em pequenas comunidades restritas”, perdendo a “dimensão popular”.
“O Papa – de acordo com o fundador da Comunidade de Santo Egídio – não propõe um projeto pastoral, mas tende a evocar entre os bispos, sacerdotes e fiéis uma paixão criativa com especial atenção para os mundos periféricos”.
Para Andrea Riccardi, é “ilusório um catolicismo instalado no centro político-económico-cultural-mediático, que pense influenciar as multidões periféricas, impondo valores e comportamentos”.
Fonte: Zenit.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Papa Francisco: “a coexistência entre cristãos e muçulmanos ainda é possível”

Publicado integralmente hoje a longa entrevista realizada no dia 9 de maio pelo jornal católico de París, La Croix, ao Papa Francisco. Vários foram os temas tratados: do terrorismo à crise de vocações.
Falando do terrorismo islâmico o Santo Padre nos convida a um exame de consciência: “Seria melhor perguntar-nos sobre a forma como um modelo muito ocidental de democracia foi exportado a países como Iraque, onde anteriormente havia um poder forte”. Ou também na Líbia, “onde há uma estrutura tribal.” “Nós não podemos avançar sem levar em conta essas culturas. Como disse recentemente um líbio: “Estamos habituados a ter uma Gaddafi, agora temos cinquenta'”, diz.
Na Europa, no entanto, há uma islamofobia generalizada; segundo o Papa trata-se mais de medo “por causa do Isis e a sua guerra de conquista que, em parte, vem do Islã”. “É verdade que a ideia da conquista pertence ao espírito islâmico”, destaca o Pontífice, “mas poderia se interpretar a mesma ideia de conquista ao final do Evangelho de Mateus, quando Jesus envia os discípulos a todas as nações”.
Sobre a Europa, Francisco salienta que “é preciso falar de raízes no plural porque existem muitas”. “Nesse sentido – acrescenta – quando escuto falar de raízes cristãs da Europa, tenho algumas dúvidas sobre o tom, que pode ser triunfalista ou vingativo. Isso, então, torna-se colonialismo. João Paulo II falava com um tom tranquilo. A Europa, sim, tem raízes cristãs. O cristianismo tem o dever de regá-las, mas em um espírito de serviço como para a lavagem dos pés. O dever do cristianismo para a Europa é o serviço”.
Nesta mesma Europa – Papa Francisco está convencido – “a coexistência entre cristãos e muçulmanos ainda é possível”; “eu mesmo – diz ele – venho de um país onde convivem bem. Os muçulmanos reverenciam a Virgem Maria e São Jorge. Em um país da África, me disseram que para o Jubileu da Misericórdia os muçulmanos fazem longas filas na catedral para passar pela Porta Santa e rezar à Nossa Senhora. Na África Central, antes da guerra, cristãos e muçulmanos moravam juntos e devem reaprender a fazê-lo hoje. O Líbano mostra que isso é possível”.
A discussão aqui se move sobre a questão da imigração; pergunta-se ao bispo de Roma se o Velho Continente tenha a capacidade de acolher tantos refugiados. “Essa é uma pergunta responsável porque pode-se abrir as portas de forma irracional” afirma, “mas a pergunta de fundo que deve ser feita é porque existem tantos migrantes agora. Os problemas iniciais são as guerras no Oriente Médio e na África e o subdesenvolvimento do continente africano, que provoca a fome”.
“Se há guerras – diz Francisco – é porque há fabricantes de armas, que podem ser justificados para fins defensivos e, especialmente, traficantes de armas. Se há tanto desemprego, é devido à falta de investimento capazes de levar o trabalho à África que tem tanta necessidade”.
Em qualquer caso, “a pior forma de acolhida é a guetização”, comenta o Papa; Deve-se lutar contra essa com uma obra de integração que é característica da Europa: “Basta pensar em Gregório Magno, que tinha negociado com povos conhecidos como bárbados, os quais, depois, se integraram…”.
“Em Bruxelas, os terroristas eram belgas, filhos de imigrantes, mas crescidos em um gueto”, observa o Papa; “Em Londres, o novo prefeito prestou seu juramento em uma catedral e certamente irá encontrar-se com a Rainha. Isso mostra a necessidade da Europa redescobrir sua capacidade de integrar”. “Isso é “tão mais necessário hoje, na sequência de uma busca egoísta de bem-estar, quando a Europa está enfrentando o grave problema de uma taxa de natalidade em declínio”, evidencia o Papa, “um vazio demográfico se afirma. Na França, porém, graças à política familiar, esta tendência foi atenuada”.
Juntamente com isso vai cada vez mais se espalhando “um sistema econômico mundial que caiu na idolatria do dinheiro”, no qual “mais de 80% das riquezas da humanidade estão nas mãos do 16% da população”. “Um mercado completamente livre não funciona”, diz Bergoglio, “os mercados em si são um bem, mas exigem um terceiro ou um estado que os supervisione e equilibre. Em outras palavras o que serve é uma economia social de mercado”.
Na entrevista não faltaram também as referências a temas como a eutanásia e as uniões civis. Diante dessas leis como devem reagir os católicos? “Cabe ao Parlamento debater, discutir, explicar, dar razões”, explica o Papa Francisco, “é assim que uma sociedade cresce. No entanto, uma vez que uma lei tenha sido aprovada, o Estado deve também respeitar as consciências”.
O Papa reafirma, portanto, “o direito à objeção de consciência” a ser reconhecido “dentro de cada estrutura jurídica, porque é um direito humano”. “Também para um funcionário público, que é uma pessoa humana. O Estado dve também tomar em consideração as críticas. Esta seria uma verdadeira forma de laicidade. Não é possível ignorar os argumentos apresentados pelos católicos dizendo simplesmente que “falam como um padre”. Não, eles se fundamentam naquele tipo de pensamento cristão que a França grandemente desenvolveu”.
Ou seja, aquela laicidade aquela laicidade da qual a França é modelo. “Os estados devem ser seculares, os confessionais terminam mal – explica o Papa – são contra a história. Eu acredito que uma versão da laicidade, acompanhada por uma sólida lei que garanta a liberdade de religião, ofereça um quadro de referência para seguir adiante. Somos todos filhos e filhas de Deus, com a nossa dignidade pessoal”.
“Cada um – continua – deve ter a liberdade de expressar a própria fé”: a mulher muçulmana se quer usar o véu, “deve poder fazê-lo”; da mesma forma, “se um católico quer usar uma cruz”. “As pessoas – destaca Francisco – devem ser livres para expressar a sua fé no coração das suas próprias culturas e não às suas margens”.
O importante é “não exagerar com a laicidade”, porque isso “leva a considerar as religiões como subculturas, em vez de culturas propriamente ditas com os seus direitos”. “Temo – disse o Papa – que esta abordagem, um compreensível patrimônio do iluminismo, continue a existir. A França precisa dar um passo adiante sobre este tema a fim de aceitar o fato de que a abertura à transcendência é um direito de todos”.
Na mesma linha Bergoglio aborda a questão da diminuição das vocações e da falta de sacerdotes. Em seguida, cita o exemplo da Coreia, o país “por 200 anos evangelizado por leigos”. Uma demonstração, então, de que “não se precisa necessariamente de sacerdotes para evangelizar. O batismo nos dá a força para fazê-lo”. O problema é sempre o clericalismo, um “perigo” que é “particularmente significativo na América Latina”.
Francisco também falou da relação com a Fraternidade São Pio X fundada pelo arcebispo Marcel Lefebvre, afirmando que o superior, mons Bernard Fellay – com o qual se encontrou no último dia 4 de abril – “é um homem com o qual é possível dialogar”. Sobre os lefebvrinos o Papa afirma, portanto, que são “católicos a caminho da plena comunhão”; recorda, portanto, que o Concílio Vaticano II tem o seu valor e que precisa proceder no diálogo com a Fraternidade “lentamente e com prudência”.
Fonte: Zenit.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Papa Francisco: “O Sacerdote não é um burocrata, deve estar sempre disponível”

Hoje o Papa Francisco pronunciou um discurso na abertura da 69ª Assembleia Geral da Conferência Episcopal Italiana.
“Nesta tarde, não quero lhes oferecer uma reflexão sistemática sobre a figura do sacerdote. Tentemos, ao contrário, inverter a perspectiva e ouvir atentamente, em contemplação. Aproximando-nos, quase que em ponta de pé, a um dos tantos párocos que passam pelas nossas comunidades; deixemos que o rosto de um deles passe perante os olhos do nosso coração e perguntemo-nos com simplicidade: o que faz a sua vida ser saborosa? Por quem e para que entrega o seu serviço? Qual é a finalidade do seu doar-se?”
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Confira o discurso na íntegra:
“Queridos irmãos,
O que me deixa particularmente feliz em abrir com vocês esta assembleia é o tema que colocaram como fio condutor dos trabalhos – A renovação do clero –, no desejo de apoiar a formação no decorrer das diversas estações da vida.
A Festa de Pentecostes que foi apenas celebrada coloca esse objetivo na perspectiva justa. O Espírito Santo permanece, de fato, o protagonista da história da Igreja: é o Espírito que habita plenamente na pessoa de Jesus e nos conduz ao mistério do Deus vivo; é o Espírito que animou a resposta generosa da Virgem Mãe e dos Santos; é o Espírito que trabalha nos crentes e nos homens de paz e provoca a disponibilidade generosa e a alegria evangelizadora de tantos sacerdotes. Sem o Espírito, sabemos, não existe possibilidade de vida boa, nem de reforma. Rezamos e nos comprometemos a proteger a sua força, afim de que ‘o mundo do nosso tempo possa receber a Boa Nova […] dos ministros do Evangelho, de onde a vida irradia fervor’ (Paolo VI, Exort. Ap. Evangelii nuntiandi, 80).
Nesta tarde, não quero lhes oferecer uma reflexão sistemática sobre a figura do sacerdote. Tentemos, ao contrário, inverter a perspectiva e ouvir atentamente, em contemplação. Aproximando-nos, quase que em pontas dos pés, a um dos tantos párocos que passam pelas nossas comunidades; deixemos que o rosto de um deles passe perante os olhos do nosso coração e perguntemo-nos com simplicidade: o que faz a sua vida ser saborosa? Por quem e para que entrega o seu serviço? Qual é a finalidade do seu doar-se?
Espero que esses questionamentos possam repousar dentro de vocês no silêncio, na oração tranquila, no diálogo franco e fraterno: as respostas que florescerão os ajudarão a individuar também as propostas de formação pelas quais investir com coragem.
1. O que, então, dá sabor à vida do “nosso” presbítero? O contexto cultural é muito diverso daquele em que deu os primeiros passos no ministério. Inclusive na Itália, muitas tradições, hábitos e visões da vida foram afetados por uma profunda mudança de época.
Nós, que frequentemente nos encontramos lamentando este tempo com tom amargo e acusatório, devemos também sentir a sua dureza: no nosso ministério, quantas pessoas encontramos que estão em ânsia pela falta de referências para seguir! Quantas relações feridas! Num mundo em que cada um se considera a medida de tudo, não tem mais lugar para o irmão.
Sobre esse contexto, a vida do nosso presbítero se torna eloquente, porque diversa, alternativa. Como Moisés, ele é um que se aproximou do fogo e deixou que as chamas queimassem as suas ambições de carreira e poder. Fez um fogo também das tentações de se interpretar como um “devoto”, que se refugia num intimismo religioso que de espiritual tem bem pouco.
Está de pés descalços, o nosso padre, em comparação à uma terra que é determinada a acreditar e a se considerar santa. Não se escandaliza pelas fragilidades que agitam a essência humana: ciente de ser ele mesmo um paralítico curado, é distante da frieza de um grande marcador de penalidades, como também da superficialidade de quem quer se mostrar tolerante ao bom mercado. O outro, aceita, ao contrário, de assumir responsabilidades, sentindo-se atuante e encarregado do seu destino.
Com o óleo da esperança e da consolação, se faz próximo de todos, atento a compartilhar o abandono e o sofrimento. Tendo aceitado de não dispor de si mesmo, não tem uma agenda para defender, mas entrega todas as manhãs ao Senhor o seu tempo para se deixar encontrar com as pessoas e conhecê-las. Assim, o nosso sacerdote não é um burocrata ou um anônimo funcionário da instituição; não é consagrado a um papel empregatício, nem é movido por critérios de eficiência.
Sabe que o Amor é tudo. Não procura garantias terrenas ou títulos honoríficos que levam a confiar no homem; no ministério não questiona nada que vá além da real necessidade, nem está preocupado de ligar a si pessoas que lhe foram confiadas. O seu estilo de vida simples e essencial, sempre disponível, apresenta-o plausível aos olhos das pessoas e o aproxima aos humildes, numa caridade pastoral que torna livres e solidários. Servo da vida, caminha com o coração e o passo dos pobres; faz-se rico do encontro com eles. É um homem de paz e de reconciliação, um sinal e um instrumento da ternura de Deus, atento a difundir o bem com a mesma paixão com a qual os outros curam os seus interesses.
O segredo do nosso presbítero, vocês sabem bem!, está naquele arbusto ardente que marca a chamas a existência, a conquista e está em conformidade àquela de Jesus Cristo, verdade definitiva da sua vida. É a relação com Ele que o protege, fazendo-o alheio à mundanidade espiritual que corrompe, como também a qualquer compromisso e mesquinhez. É a amizade com o seu Senhor a levá-lo a abraçar a realidade quotidiana com a confiança de quem crê que a impossibilidade do homem não permanece assim para Deus.
2. Torna-se, assim, mais imediato enfrentar também as outras questões das quais iniciamos.Para quem entrega o serviço o nosso presbítero? A pergunta, talvez, precisa ser esclarecida. De fato, antes mesmo de nos questionarmos sobre os destinatários do seu serviço, devemos reconhecer que o presbítero é assim, na medida em que se sente atuante da Igreja, de uma comunidade concreta da qual compartilha o caminho. O povo fiel de Deus permanece sendo o seio do qual nasceu, a família na qual é envolvida, a casa para onde é enviado. Essa atribuição comum, que flui do Batismo, é a respiração que libera de uma auto-referencialidade que isola e aprisiona: ‘Quando o teu pequeno barco começará a colocar raízes na imobilidade do cais’, lembrava Dom Hélder Câmara, ‘vai para o fundo!’. Parte! E, acima de tudo, não porque tem uma missão para cumprir, mas porque estruturalmente você é um missionário: no encontro com Jesus experimentou a plenitude de vida e, por isso, deseja fortemente que os outros se reconheçam nEle e possam proteger a sua amizade, nutrir-se da sua palavra e celebrá-Lo na comunidade.
Aquele que vive no Evangelho, entra dessa forma num compartilhamento virtuoso: o pastor é convertido e confirmado da fé simples do povo santo de Deus, com o qual trabalha e que no coração vive. Essa atribuição é o sal da vida do presbítero; faz com que o seu princípio distintivo seja a comunhão, vivida com os leigos em relações que sabem valorizar a participação de cada um. Nesse tempo pobre de amizade social, a nossa primeira tarefa é aquela de construir comunidade; a atitude à relação é, então, um critério decisivo de discernimento vocacional.
Ao mesmo modo, para um sacerdote é vital se encontrar no cenáculo do presbitério. Essa experiência, quando não é vivida em maneira ocasional, nem em força de uma colaboração instrumental, libera dos narcisismos e dos ciúmes clericais; faz crescer a estima, o apoio e a benevolência recíproca; favorece uma comunhão não somente sacramental ou jurídica, mas fraterna e concreta. No caminhar junto dos presbíteros, diferentes por idade e sensibilidade, expande-se um perfume de profecia que  surpreende e fascina. A comunhão é, sem dúvida, um dos nome da Misericórdia.
Na vossa reflexão sobre a renovação do clero entra novamente o capítulo que se refere à gestão das estruturas e dos bens econômicos: em uma visão evangélica, evitem de se sobrecarregar numa pastoral de conservação, que cria obstáculo à abertura à perene novidade do Espírito. Mantenham somente aquilo que pode servir para a experiência de fé e de caridade do povo de Deus.
3. Enfim, nos questionamos qual fosse a finalidade do doar-se do nosso presbítero. Quanta tristeza fazem aqueles que, na vida, estão sempre um pouco pela metade. Calculam, ponderam, não arriscam nada por medo de se perder… São os mais infelizes! O nosso presbítero, ao contrário, com os seus limites, é um que se aventura até o final: nas condições concretas da vida e do ministério que lhe foram colocadas, ele se oferece com gratuidade, com humildade e alegria. Inclusive quando ninguém parece perceber. Inclusive quando, por intuição, humanamente percebe que talvez ninguém vai agradecê-lo suficientemente do seu doar-se sem medidas.
Mas, ele sabe, não poderia fazer diferente: ama a terra, que reconhece visitada todas as manhãs pela presença de Deus. É o homem da Páscoa, do olhar direcionado ao Reino e para onde se sente que a história humana caminha, apesar dos atrasos, das obscuridades e contradições. O Reino, a visão que o homem tem Jesus, é a sua alegria, o horizonte que lhe permite relativizar o resto, de diluir preocupações e ansiedade, de ficar livre das ilusões e do pessimismo; de proteger no coração a paz e de difundi-la com os seus gestos, as suas palavras, as suas atitudes.
Está, então, delineada, queridos irmãos, a tríplice pertença que nos constitui: pertença ao Senhor, à Igreja, ao Reino. Esse tesouro em vasos de Creta precisa ser protegido e promovido! Compreendam fortemente essa responsabilidade, assumam com paciência e disponibilidade de tempo, de mãos e de coração.
Rezo com vocês a Virgem Santa, para que a sua intercessão os proteja acolhedores e fiéis. Junto com os vossos presbíteros, possam terminam o trabalho, o serviço que lhes foi confiado e com o qual participam ao mistério da Mãe Igreja.”
Fonte: Zenit.