Um novo documento sobre as relações entre o cristianismo e o judaísmo foi apresentado nesta quinta-feira e o diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, padre Federico Lombardi, descreveu-o como "particularmente importante".
O nome do documento é: "Por que os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis? Reflexões das questões teológicas sobre as relações entre católicos e judeus, por ocasião do 50º aniversário de Nostra Aetate", e foi apresentado pelo cardeal Kurt Koch, presidente da Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo.
Também participaram da apresentação, o secretário da comissão, padre Norbert Hofmann, SDB; o rabino David Rosen, diretor do International Affairs, American Jewish Committee (AJC), Jerusalem (Israel); e o diretor e fundador do britânico Woolf Institute, Cambridge.
O documento em seus sete pontos, disse o cardeal, "não dá definições doutrinárias definitivas" e "nem é um documento oficial do Magistério da Igreja, mas um documento de estudo da nossa Comissão, que visa aprofundar a dimensão teológica do diálogo judaico -católico".
Recordou também que outros três documentos foram publicados depois da Nostra Aetate: em 1974, "Diretrizes e Sugestões para a implementação da declaração conciliar Nostra Aetate”; Em 1985, "Sobre uma correta apresentação dos judeus e do judaísmo na pregação na catequese da Igreja Católica”; e em 1998, "Nós lembramos, uma reflexão sobre a Shoah".
O documento, em sua primeira seção, apresenta a história do diálogo judaico-católico nos últimos cinquenta anos. "Do confronto passou-se à uma positiva colaboração”.
Na segunda seção reitera um conceito familiar: o cristianismo deriva do judaísmo. "A diferença de fundo, entretanto, do judaísmo e do cristianismo consiste no modo em que se considera o que é necessário avaliar na figura de Jesus. Os judeus podem ver Jesus como alguém que pertence ao seu povo, um mestre. Os judeus podem ver Jesus como um mestre judeu que pregava o reino de Deus. O fato de que o Reino de Deus tenha vindo com ele como representante de Deus está fora do horizonte hebraico da espera messiânica”. Portanto, o diálogo judaico-cristão, mais do que religioso, deveria chamar-se intrareligioso ou intrafamiliar.
Na terceira seção se aborda a revelação na história como 'Palavra de Deus', que os judeus identificam na Torá; e para os cristãos esta se encarna em Jesus Cristo.
A quarta seção trata da relação entre o Antigo e o Novo Testamento, entre a Antiga e a Nova Aliança. Porque o Antigo Testamento é parte integrante da única Bíblia cristã, que dá um sentido de pertença e relação entre judaísmo e cristianismo.
"Certamente – continuou o cardeal – os cristãos interpretam as escrituras do Antigo Testamento de forma diferente dos Judeus, porque o evento de Cristo representa para eles a nova chave de interpretação para entende-los”.
Na quinta seção entra em uma questão espinhosa: como os judeus são salvos se não acreditam explicitamente em Jesus como Messias de Israel e Filho de Deus. "O fato de que os judeus tenham parte na salvação de Deus é teologicamente fora de questão, mas como seja isso possível sem uma confissão explícita de Cristo é um mistério insondável e divino”, disse o cardeal.
A sexta seção, trata da atitude dos cristãos no que diz respeito à evangelização dos judeus, destacou o presidente da Comissão para as relações religiosas com o judaísmo, destacando que “a Igreja católica não conduz nem incentiva nenhuma missão institucional específica dirigida aos judeus”, embora “os cristãos estão chamados a dar testemunho da sua fé em Jesus Cristo também diante dos judeus”, mas com “humildade e sensibilidade, reconhecendo que os judeus são portadores da palavra de Deus e tendo presente a grande tragédia da Shoah”.
Na sétima seção, a partir do ponto de vista católico se indicam os objetivos deste diálogo “que nunca foram expressos em um documento de forma tão explícita”. O principal objetivo é conhecer-se e apreciar-se, embora haja a colaboração no campo da exegese; no compromisso comum a favor da justiça e da paz; no cuidado da criação; na reconciliação em todo o mundo. E também concretizar-se no âmbito social: “porque tanto a ética judaica quanto a cristã compreendem o imperativo de cuidar dos pobres, dos fracos e dos enfermos”.
E na formação das novas gerações, coloca como objetivo "a luta comum contra toda manifestação de discriminação racial contra os judeus e toda forma de anti-semitismo".
"Com este novo panorama – concluiu o cardeal Koch— o diálogo com o judaísmo, depois de cinquenta anos, se baseia agora em um sólido terreno, porque muito tem sido realizado ao longo deste tempo”.
Respondendo a perguntas, o cardeal disse que a beatificação de Pio XII é algo interno da Igreja católica, e o papa Francisco está muito de acordo com a abertura dos arquivos sobre esse período histórico.
O Pe. Hofmann, por sua vez, reiterou que este longo trabalho, que hoje está maduro, é um texto católico desde a perspectiva católica, bem como espera que o mesmo façam os amigos judeus.
Fonte: Zenit.
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