Depois de 110 anos do seu "nascimento para a vida eterna", ocorrido em 1905, mais um "trespontino", Pe. Victor, será beatificado no próximo sábado, hoje, 14 de novembro. O Santo Padre, para tal evento, enviou como representante o Cardeal Angelo Amato, Prefeito da Congregação das Causas dos Santos.
A diocese de Campanha é generosa em santidade. Três são os candidatos aos altares dessa igreja particular: Madre Tereza Margarida do Coração de Maria, popularmente conhecida como “Nossa Mãe”, Beata Francisca Paula de Jesus, “Nhá Chica”, leiga, e o Servo de Deus Francisco de Paula Victor, sacerdote.
Mais uma vez chamamos para uma entrevista o postulador da causa de canonização desses três exemplos de Três Pontas, o italiano Dr. Paolo Vilotta, que segue mais de 25 processos de canonização no Brasil. (Cfr aqui a primeira entrevista em 2012).
Para mais informações: www.padrevictor.com.br
Dos candidatos a santos brasileiros que você acompanha, três são da mesma diocese. Sabe dizer por que? Ou seja, você percebe naquela região muita fé nas pessoas?
Dr. Paolo: Sim, na diocese de Campanha seguimos três Causas, das quais dois beatos e uma serva de Deus cujo processo está na fase romana. A fé tem sempre o primeiro lugar nestas ocasiões e aqui temos um exemplo concreto. Além disso a Igreja e todo o povo demonstrou a exigência de querer trabalhar para que a sua devoção, que pelos dois beatos perdura e aumenta por mais de um século, pudesse ser também reconhecida oficialmente pela Igreja.
Quanto tempo para o Pe. Victor chegar ao altar? Por que tanto tempo?
Dr. Paolo: Oficialmente o processo começou em 1993, mas foi retomado em 1998 e desse tempo até hoje não podemos absolutamente dizer que passou muito tempo porque em tempos muito curtos foram reconhecidas a heroicidade das virtudes e depois foi reconhecido o milagre. Tanto para o beato Victor quanto para a beata Nha Chica passaram-se muitos anos para se começarem os processos, algo comum em todo o Brasil e se deve à falta de experiência nesse sentido. Mas, apesar disso, como já destaquei, a fama de santidade nunca diminuiu, pelo contrário, sempre aumentou e se difundiu em todo o Brasil e também em outros lugares do mundo.
A Santa Sé aprovou o milagre relativo ao Pe. Victor. Como é que este milagre foi recebido pela Santa Sé?
Dr. Paolo: Terminado o Processo na Fase Diocesana foi entregue todo o material processual à Congregação das Causas dos Santos, que procedeu ao estudo normal, até a promulgação do Decreto sobre o Milagre e, portanto, a sua aprovação.
Com qual sentimento, também você, postulador da causa, recebe a notícia sobre a beatificação?
Dr. Paolo: Tendo acompanhado todo o processo do milagre não me surpreendi, mas, certamente, tive uma imensa alegria pelo resultado obtido. Já faz tempo que eu conhecia a figura do Beato Victor, conhecia já Três Pontas e a grande fama de santidade que tinha e poder dar essa notícia para a Diocese de Campanha foi uma honra e uma alegria infinita. Há muitos anos que todo o povo trespontano sonhava com este momento.
E agora, como é procedimento até a canonização? O que falta?
Dr. Paolo: As atuais normas preveem que para a canonização seja necessário provar outro milagre que tenha acontecido depois da beatificação.
Um pouco da história do Pe. Victor, contada pelo Cardeal Dom Raymundo Damasceno e publicado pela Rádio Vaticano
Francisco de Paula Victor nasceu na cidade da Campanha (MG), no dia 12 de abril de 1827, e foi batizado em 20 de abril do mesmo ano pelo padre Antônio Manoel Teixeira. Era filho da escrava Lourença Maria de Jesus. O Santo bispo Dom Antônio Ferreira Viçoso, bispo de Mariana (MG), na época em que o estado de Minas todos era servido pela Igreja Mãe de Mariana, visitou a cidade da Campanha em 1848. Victor, então alfaiate, procurou Dom Viçoso e disse que tinha o desejo de ser padre. Com isso, ele entrou para o seminário de Mariana, onde foi aceito em 05 de junho de 1849.
Mudou-se para Três Pontas em 14 de junho de 1852, como vigário encomendado e paroquiou na cidade por 53 anos. Era conhecido por sempre visitar doentes, amparar os inválidos e atender a população em suas necessidades. Além disso, fundou a escola "Sagrada Família”.
Victor faleceu no dia 23 de setembro de 1905. A notícia abalou a cidade e toda a região, que já o venerava. Após sua morte, ele ficou insepulto por três dias e o corpo do padre exalava perfume, segundo relatam. Ele foi enterrado na Igreja Matriz de Nossa Senhora D’Ajuda, que também foi construída por Padre Victor. Desde então, muitas pessoas declaram que o religioso intercedeu para que alcançassem seus pedidos e graças.
O memorial do Padre Victor, em Três Pontas, chega a receber até 10 mil visitas durante os dias de novena do religioso, comemorado, anualmente, em 23 de setembro. No local, é possível encontrar vestes litúrgicas usadas pelo padre, objetos de devoção ou utilizados no oficio de sacerdócio pelo religioso, além de uma imagem de Padre Victor.
A Santa Sé Apostólica marcou a data da festa de beatificação de Padre Victor, em Três Pontas (MG). Segundo o nosso amado irmão, o venerável Bispo da diocese da Campanha (MG), Dom Diamantino Prata de Carvalho, OFM, a beatificação acontecerá no dia 14 de novembro, às 16hs, no Campo de Aviação da cidade de Três Pontas.
A Santa Sé Apostólica reconheceu em julho deste ano um milagre atribuído à intercessão do Venerável sacerdote diocesano. O pedido foi feito pela professora Maria Isabel de Figueiredo, que não podia engravidar. Foram dois anos de tratamentos e muitas desilusões, até que ela pediu ajuda a Padre Victor durante uma novena em 2009. Um ano depois, a professora conseguiu engravidar de uma menina, contrariando todas as previsões médicas. Nhá Chica e Padre Victor representam, sem sombra de dúvida, um tributo a todos os afrodescentes que vivendo as dificuldades próprias do tempo da escravidão demostraram com a força invencível da fé que Deus quebra todos os grilhões. Nhá Chica a leiga forte que evangelizou. Padre Victor, o negro sacerdote, que edificou quebrando o preconceito pela sua cor e pela sua condição. Deus destrona os grandes e eleva os humildes. Agora a centenária e amada Diocese da Campanha doa a Igreja no Brasil dois santos que falam a linguagem do povo. Para o clero, Padre Victor, é a luz maravilhosa que nos chama a humildade, ao desprendimento e ao gastar a sua vida por todos os homens e mulheres de boa vontade. Pobre no meio dos pobres sempre em favor das periferias existenciais. Padre Victor fundou escolas, edificou hospitais e santificou pela coerência de vida. Não tinha vergonha de sua cor e edificou porque fez de sua pobreza material a riqueza do seu caráter e da sua santidade. Padre Victor entendeu a mentalidade agrícola e rural de seu tempo. Valorizou os trabalhadores rurais e os proprietários, pregando a harmonia e a justiça social.
Com a celebração, Padre Victor será o segundo beato do Sul de Minas. Em maio de 2013, Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica, foi beatificada em Baependi (MG), onde passou a vida. Que o exemplo de vida destes dois santos campanhenses nos ajudem a viver a santidade!
Fonte: Zenit.
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