segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Perante tanta violência é urgente o anúncio do Evangelho

Queridos irmãos e irmãs!

Sinto-me feliz por ter ocasião de vos encontrar nesta Faculdade de Teologia Evangélica. Agradeço ao Decano da Faculdade e ao Presidente da Aliança dos Evangélicos na África Central as suas amáveis palavras de boas-vindas. Saúdo a cada um de vós e, por vosso intermédio, também a todos os membros das vossas comunidades, num profundo sentimento de amor fraterno. Estamos todos aqui ao serviço do mesmo Senhor ressuscitado, que hoje nos reúne; e, pelo Baptismo comum que recebemos, somos convidados a anunciar a alegria do Evangelho aos homens e mulheres deste amado país da África Central.

Há muito tempo que o vosso povo é atingido pelas provações e pela violência que causam tantos sofrimentos. Isto torna ainda mais necessário e urgente o anúncio do Evangelho. Porque é a carne do próprio Cristo que sofre, que sofre nos seus membros predilectos: os pobres do seu povo, os doentes, os idosos e os abandonados, as crianças que já não têm os pais ou estão abandonadas a si mesmas, sem guia nem educação. E são também todos aqueles que a violência e o ódio feriram na alma ou no corpo; aqueles que a guerra privou de tudo: do trabalho, da casa, das pessoas queridas.

Deus não faz diferença entre aqueles que sofrem. Com frequência, tenho designado isto como o ecumenismo do sangue. Todas as nossas comunidades, sem distinção, sofrem com a injustiça e o ódio cego que o diabo desencadeia; quero, nesta circunstância, exprimir a minha proximidade e a minha solidariedade ao Pastor Nicolas, cuja casa foi recentemente saqueada e queimada, bem como a sede da sua comunidade. Neste contexto difícil, o Senhor não cessa de nos enviar para manifestar toda a sua ternura, a sua compaixão e a sua misericórdia. Este sofrimento comum e esta missão comum são uma oportunidade providencial para nos fazer avançar juntos pelo caminho da unidade, sendo, para isso mesmo, um meio espiritual indispensável. Como poderia o Pai recusar a graça da unidade, embora ainda imperfeita, aos seus filhos que sofrem juntos e que, nas mais diversas circunstâncias, se dedicam juntos ao serviço dos irmãos?

Queridos irmãos, a divisão dos cristãos é um escândalo, porque contrária, antes de mais nada, à vontade do Senhor. Mas é também um escândalo perante tanto ódio e tanta violência que dilaceram a humanidade, perante tantas contradições que levantam ao Evangelho de Cristo. Por isso, com apreço pelo espírito de respeito mútuo e colaboração que existe entre os cristãos do vosso país, encorajo-vos a avançar por este caminho num serviço comum da caridade. É um testemunho prestado a Cristo, que constrói a unidade.

Possais vós, em medida sempre maior e com coragem, juntar, à perseverança e à caridade, o serviço da oração e da reflexão em comum, procurando um melhor conhecimento recíproco, uma maior confiança e amizade rumo à plena comunhão de que conservamos a firme esperança.
Asseguro-vos que a minha oração vos acompanha neste caminho fraterno de serviço, reconciliação e misericórdia, um caminho longo mas cheio de alegria e esperança.

Peço ao Senhor Jesus que abençoe a todos vós, abençoe as vossas comunidades, abençoe também a nossa Igreja. E peço a vós que rezeis por mim. Muito obrigado!

Fonte: Zenit.

domingo, 29 de novembro de 2015

O tempo da vida humana nesta terra é uma magnífica oportunidade oferecida por Deus

Nascer, crescer, aproveitar a vida, sugar dela todos os prazeres e satisfações possíveis, aguentar os sofrimentos e enfermidades, ficar velho, esperar a morte chegar! Muito pouco e inadequado para as pessoas que foram feitas com a matriz da eternidade nela plantadas por Deus, que as pensou e criou para serem felizes nesta terra e na vida eterna a elas prometida. Nós fazemos parte, com todos os homens e mulheres que aqui vivem ou que aqui pisaram e virão. O tempo da vida humana nesta terra é uma magnífica oportunidade oferecida por Deus, com profusão de graças a serem aproveitadas. A graça de viver, conviver, partilhar os dons recebidos, olhar para frente e para o alto, melhorar sempre, fazer o bem e plantar a verdade e a justiça! Esta é vida humana, digna de quem a criou e de quem a recebeu de presente!
Neste tempo, ressoa a Palavra: "O Espírito e a Esposa dizem: Vem! Aquele que ouve também diga: Vem! Quem tem sede, venha, e quem quiser, receba de graça a água vivificante. Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Sim, eu venho em breve. Amém! Vem, Senhor Jesus!" (Cf. Ap 22, 17-20).
A Igreja, em sua sabedoria milenar, recolhe os ensinamentos da Escritura e os oferece, em crescente acompanhamento da vida da humanidade. Se formos fiéis a Deus e às propostas da Igreja, o Senhor nos encontra, como numa espiral que aponta para o alto, melhores do que no ano anterior. A Liturgia, com o novo ano que se inicia no primeiro domingo do Advento, irrompe de novo a rotina, preenche de sentido os eventuais balanços de vida e atividade que caracterizam estas semanas finais de 2015, oferece sentido e conteúdo para tantas pessoas que não querem vazias as confraternizações que se realizam no período, e dá as orientações para a riqueza da oração e da vivência cristã no tempo forte, que agora se inicia.
O Ano da Igreja começa e termina com o anúncio das últimas e definitivas realidades, para as quais caminha a humanidade. O Advento abre o horizonte para as vindas do Senhor, no final dos tempos, no tempo presente e no tempo, quando nasceu em Belém de Judá, como Senhor e Salvador, para aqui morrer, ressuscitar e subir de novo aos Céus, deixando-nos o penhor do cumprimento de suas promessas, o Espírito Santo sobre nós derramado. O Senhor é o Deus da promessa! Já Abraão, depois dele outros patriarcas e profetas (Cf. Jr 33, 14-16), foram pessoas que caminharam em busca do invisível, teimosos na fé e na esperança. Não tiveram medo de conjugar no futuro o verbo de suas vidas, sabedores da qualidade daquele que lhes havia assegurado a realização de seu plano de amor e salvação.
Temos o privilégio de compartilhar as esperanças e sua realização, pois, em Jesus Cristo, nosso Salvador, Deus cumpriu a sua Palavra, dando-nos tudo o que é necessário. Impressiona a força com que São João da Cruz (Tratado “A subida do Monte Carmelo”, de São João da Cruz, Livro 2, capítulo 22) nos alerta: “É este o sentido do texto em que a carta aos Hebreus busca persuadir seus destinatários a se afastarem daqueles primitivos modos de tratar com Deus, previstos na lei de Moisés, e a fixarem os olhos unicamente em Cristo, dizendo: Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio de seu Filho (Hb 1,1-2). Por estas palavras o Apóstolo dá a entender que Deus emudeceu, por assim dizer, e nada mais tem a falar, pois o que antes dizia em parte aos profetas, agora nos revelou no todo, dando-nos o Tudo, que é o seu Filho. Se agora, portanto, alguém quisesse interrogar a Deus, ou pedir-lhe alguma visão ou revelação, faria injúria a Deus não pondo os olhos totalmente em Cristo, sem querer outra coisa ou novidade alguma. Deus poderia responder-lhe deste modo: Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o! (Mt 17,5). Já te disse todas as coisas em minha Palavra. Põe os olhos unicamente nele, pois nele tudo disse e revelei, e encontrarás ainda mais do que pedes e desejas. Desde o dia em que, no Tabor, desci com meu Espírito sobre ele, dizendo: Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!, aboli todas as antigas maneiras de ensinamento e resposta. Se falava antes, era para prometer o Cristo; se me interrogavam, eram perguntas relacionadas com o pedido e a esperança da vinda do Cristo, no qual haviam de encontrar todo o bem – como agora o demonstra toda a doutrina dos evangelhos e dos apóstolos.”
Agora estamos no tempo da esperança ativa (Cf. Lc 21, 25-36), no fecundo intervalo que vai da Ascensão do Senhor e Pentecostes até a vinda do Senhor, no fim dos tempos. Durante este tempo, há muito a fazer. São Paulo (Cf. 1 Ts 3,12−4,2) oferece indicações preciosas. O Senhor nos faça crescer abundantemente no amor de uns para com os outros e para com todos, à semelhança do amor que o próprio apóstolo teve com suas comunidades. Depois, aos tessalonicenses e a nós deseja que Deus confirme nossos corações numa santidade irrepreensível. É a condição para estarmos prontos, diante de Deus, nosso Pai, por ocasião da vinda do nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos. Depois, o Apóstolo pede e exorta, no Senhor Jesus, que progridamos sempre mais no modo de proceder para agradar a Deus.
Ele está convicto de que os fiéis sabem quais são as normas dadas da parte do Senhor Jesus. Aqui está o desafio! Nós sabemos como viver no tempo que nos é dado. A proposta é aproveitá-lo bem, sem desperdiçar qualquer oportunidade para fazer o melhor de nós mesmos para edificar um mundo diferente, modelado pela esperança, e não pelas amarras do passado do pecado e da maldade. O Evangelho é nossa regra de vida, a ser descoberta cotidianamente, sem desperdiçar os encontros com as pessoas e os acontecimentos, todos prenhes de graças oferecidas por Deus.
Neste novo tempo, a Igreja põe em nossos lábios e nossos corações a oração: “Ó Deus todo-poderoso, concedei a vossos fiéis o ardente desejo de possuir o reino celeste, para que, acorrendo com as nossas boas obras ao encontro de Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos. Amém!” 

 Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará

sábado, 28 de novembro de 2015

Ecumenismo e diálogo inter-religioso: uma urgência na África

Vão adiante na África, infelizmente, experiências de tipo fundamentalista que tornam difícil qualquer tipo de cooperação. Ainda estão abertas as feridas dos ataques no Westgate Mall, na Universidade de Garissa e em Mandera, que o pontífice recordou em seu discurso aos representantes das outras religiões em Nairóbi. Ao escolher a nunciatura apostólica como o local do evento ecumênico e inter-religioso, o papa Francisco deu à sua viagem apostólica um significado simbólico muito forte para a cultura africana.

Quando você quer estabelecer um vínculo de amizade sincera e familiaridade com a outra parte, você o convida à sua casa. A missão diplomática da Santa Sé na capital do Quênia é para os quenianos como "a casa do papa" em seu país. O observador e comentarista Ryszard Kapuscinski observou que o africano crê na existência de três mundos diferentes, mas ligados entre si: a realidade visível e tangível, os antepassados ​​mortos e o mundo espiritual. À cabeça desses três mundos está o Ser Supremo.

Sobre o mistério de Deus, cada comunidade tem sua própria cultura, sistema de crenças e costumes e sua própria linguagem e tabus, formando um emaranhado incrivelmente complicado. Os grandes antropólogos nunca falaram de "religião africana" em geral. A essência da África reside na sua variedade ilimitada. Essa variedade, no entanto, tem um denominador comum na forte religiosidade, em contraste com o Ocidente laico.

E é através das religiões que o papa espera estimular o diálogo, a reconciliação, a justiça e a paz na África. A Igreja católica na África é encorajada a continuar construindo pontes de amizade e, através de um ecumenismo espiritual orante e do discernimento da vontade de Deus, envolver-se no "ministério da reconciliação" (2 Cor 5,18) que nos foi confiado por Cristo.

Esta é a base do compromisso ecumênico de que o bispo de Roma é o intérprete e promotor. "Não podemos lutar pela reconciliação, pela justiça e pela paz na África sozinhos como Igreja", disse dom John Onaiyekan, arcebispo de Abuja, Nigéria, no segundo Sínodo da África.

O cardeal nigeriano considerava especialmente o islã se expandindo por todo o continente negro, assim como o catolicismo, em detrimento das religiões tradicionais africanas. Um dos pontos controversos do diálogo é o da solicitação de "reciprocidade" do mundo islâmico, não apenas em liberdade de culto, mas também ao compartilhar a fé, propondo-a em vez de impô-la.

Nos países de maioria muçulmana, existe a discriminação também nos direitos civis. Longe de confirmar a "morte de Deus", o recente surto do fundamentalismo religioso mostra a vitalidade do fenômeno da fé. A paz na África e nas outras partes do mundo é muito condicionada pelas relações entre as religiões.

Promover o valor do diálogo, portanto, é necessário para que os crentes trabalhem juntos em associações dedicadas à paz e à justiça, com espírito de confiança mútua, de apoio, educando as famílias nos valores da escuta paciente e do respeito recíproco. O diálogo com as outras religiões, especialmente o islã e as religiões tradicionais africanas, faz parte integrante da pregação do Evangelho e da atividade pastoral da Igreja em nome da reconciliação e da paz.

Padre Afonso Maria de Bruno

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Papa aos religiosos do Nairobi: “Não caiam no ‘mercado’ da tibieza. Deus vomita”

Chorar, rezar, servir os demais (e não servir-se deles), e nunca, jamais, esquecer Cristo crucificado, porque um sacerdote, um consagrado, um religioso ou uma religiosa que faz isso quer dizer que caiu em um “pecado muito feio”, a tibieza. Um pecado que faz Deus “vomitar”. Improvisando, principalmente em espanhol, mas oscilando entre o inglês e o italiano, Francisco é paterno mas incisivo com o clero de Nairobi que encontrou nesta tarde no St Mary School, instituto fundado pelos Padres Spiritati que contém no seu interior a igreja de Santo Austin.
Na quadra de esporte, o Papa abraça todos os presentes, depois escuta dois testemunhos: o do Pe. Felix J. Phiri Mafr, presidente da Religious Superior Conference of Kenya (RSCK) e da irmã Michael Marie Rottinghaus, presidente da Association of Sisterhoods of Kenya (AOSK), que falam sobre o seu compromisso para “promover incansavelmente a dignidade da pessoa humana independentemente da sua origem étnica e religiosa”, e também pelo cuidado da casa comum.
Um compromisso, na verdade, um serviço, pelo qual o Papa expressou profunda gratidão. "Gostaria de dizer-lhes tantas coisas para cada um de vocês”, acrescenta, “mas tenho medo de falar em inglês e gostaria de falar na minha língua”. Em espanhol, Bergoglio, aborda, portanto, um primeiro e fundamental ponto: a vocação. “O Senhor escolheu a todos nós. Começou a sua obra no dia em que nos olhou depois do batismo, depois e além, e disse ‘venha comigo’. E lá nos nos colocamos em fila e começamos o caminho. Mas foi ele que começou o caminho conosco”.
Isso nunca deve ser esquecido: "No seguimento de Jesus Cristo, no sacerdócio ou na vida consagrada, entra-se pela porta e a porta é Cristo. É ele que começa, que faz o trabalho”. Porém, destaca o Papa, “existem alguns que querem entrar pela janela. Isso não está bem. E alguém tem algum companheiro ou companheira que quer entrar pela janela, abracem-no e digam-lhe que é melhor que saia e que siga a Deus em outro lugar, porque nunca fará uma obra que Jesus enviou”.
É necessário, de fato, a "consciência de ser pessoas escolhidas”. E também, caso haja alguns que “não sabem porque Deus lhes chama, mas sentem que Deus lhes chama, tranquilos! Deus fará com que vocês entendam porque lhes chamou”. É necessário estar atentos àqueles que querem seguir o Senhor por algum interesse. Um pouco como a mãe de Tiago e João que, recorda o Pontífice, pergunta: “Senhor, gostaria de lhe pedir: quando divida a torta pode dar o maior pedaço para os meus filhos? Que um esteja na tua direita e outro na tua esquerda”.
É "a tentação de seguir a Jesus por ambição - observa o Papa - a ambição do dinheiro, a ambição do poder". O fato é que "no seguimento de Jesus, não há lugar para riquezas ou para ser uma pessoa importante no mundo”. Na verdade, “Devemos seguir a Jesus até o último passo da sua vida terrena, a cruz, depois Ele se preocupa de ressucitar-nos, mas até aquele ponto devemos chegar”. Francisco destaca, portanto, um dos seus light motif: “A Igreja não é uma empresa, nem uma ONG, a Igreja é um mistério: o mistério do olhar de Jesus sobre cada um que Ele diz ‘Vem’. Portanto, isso é claro: que aqueles que Jesus chama devem entrar pela porta e não pela janela. Depois, é necessário seguir o caminho de Jesus”.
Além disso, quando Cristo nos escolhe não “nos canoniza”, “continuamos a ser os mesmos pecadores” de sempre. “Se há aqui alguém, algum sacerdote ou religioso que não se sente pecador levante a mão. Todos somos pecadores, eu em primeiro lugar e depois vocês. Mas, o que nos leva adiante é a ternura e o amor de Jesus”, afirma o Santo Padre. A este respeito, submeteu todos os presentes a um teste: “Vocês se lembram do Evangelho do apóstolo Tiago chorando? Não! E quando chorou o apóstolo João? Não! E quanto chorou algum dos outros apóstolos? Não! O Evangelho só fala de um que chorou, aquele que se deu conta de que era pecador. Era tão pecador que tinha traído o Senhor e quando se deu conta disso chorou. Depois Jesus o fez Papa. Quem compreende Jesus? É um mistério!”
Tudo para dizer que os consagrados não devem jamais “deixar de chorar”, porque “quando um sacerdote, um religioso ou uma religiosa secam as lágrimas há algo errado”. É necessário chorar, reitera o Papa, “chorar pelas próprias infidelidades, pela dor do mundo, pelas pessoas descartadas, pelos anciãos abandonados, pelas crianças assassinadas, pelas coisas que não compreendemos”. Chorar “quando nos perguntam por quê?”. “Nenhum de nós tem todas as respostas aos porquês”, admite Francisco, “cada vez que cumprimento uma criança que tem câncer ou uma doença rara me pergunto porque aquela criança sofre e eu não tenho a resposta para isso, só olho para Jesus na cruz. Existem situações na vida que nos levam a chorar olhando para Jesus na cruz e esta é a única resposta a certas dores, a certas situações da vida”.
"Lembrem-se de Cristo crucificado", exortava, de fato, São Paulo. No sentido de que “quando um consagrado, um sacerdote, um religioso se esquece de Cristo crucificado – pobrezinho! – quer dizer que caiu em um pecado muito feio. Um pecado que dá horror a Deus, um pecado que faz Deus vomitar”. O pecado, ou seja, da “mediucridade”. “Irmãos, irmãs, cuidado para não cair no mercado da mediucridade”, adverte o Papa.
E do fundo do seu coração, ele pede aos religiosos de Nairobi para nunca deixarem de, além de chorar, de rezar. “’Mas, padre, às vezes é tão chato rezar, cansa, dá sono’. ‘Ok, durmam diante do Senhor. Este é um modo de rezar. Mas permaneçam ali diante Dele’”. Se abandorem a oração, de fato, “a alma seca, endurece, como aqueles ramos secos”. E a alma de um religioso que não reza “é uma alma feia”. Cada um, portanto, se pergunte em toda consciência: “Eu tiro tempo do sono? Quanto tempo tiro do rádio, da tv, das revistas, para rezar ou prefiro estas coisas?”
Então, chorar e rezar. Sempre. Mas também servir. Esta é a última recomendação do Papa: "Todos aqueles que se deixaram escolher por Jesus estão ali para servir o povo de Deus – recorda - , para servir os mais pobres, os mais descartados, os mais distantes da sociedade, as crianças e os anciãos, para servir também as pessoas que não têm consciência da soberba e do pecado que eles próprios vivem, para servir a Jesus”.
"Deixar-se escolher por Jesus significa deixar-se escolher para servir não para ser servido”, diz o Santo Padre, contando uma anedota de um ano atrás, quando, durante os exercícios espirituais, a cada dia havia um turno de sacerdotes que deviam servir a mesa. “Alguns deles se lamentavam: ‘Nós devemos ser servidos. Nós pagamos para ser servidos’. Por favor, nunca mais isso na Igreja!”.
Depois uma outra nota pessoal: “Me falava um cardeal ancião – de fato, é um ano mais velho do que eu – que quando ele vai ao cemitério onde estão os missionários, missionárias, religiosos que deram as suas vidas, se pergunta: ‘Por que esta pessoa não é canonizada amanhã? Dado que passaram as suas vidas servindo”. “Eu – admite Bergoglio – fico emocionado quando cumprimento depois de uma Missa um sacerdote, uma religiosa que há 30-40 anos estão naquele hospital, de missão naquele lugar ou em outro. Isso me toca a alma. Porque eles compreenderam que servir a jesus é servir os outros e não servir-se dos outros”.
Eles merecem um profundo "obrigado". Mas um obrigado também a todos os presentes: “Obrigado por terem a coragem de seguir a Jesus – conclui o Papa -. Obrigado por todas as vezes que se sentiram pecadores, por toda carícia de ternura que vocês dão nos necessitados, por todas as vezes que ajudastes alguém a morrer em paz. Obrigado por dar esperança na vida, e obrigado porque vocês se deixaram ajudar, corrigir e perdoar a cada dia”.

Fonte: Zenit.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Quênia: "A visita do Santo Padre vai deixar um grande impacto e marcará um novo começo"

Com a chegada do Papa Francisco no Quênia, mons Anthony Muheria, bispo de uma diocese localizada a 180 quilômetros de Nairobi, explica quais são as expectativas da sociedade e da Igreja do Quênia perante esta primeira viagem do Pontífice à África. Mons. Muheria diagnostica a pobreza, a corrupção e o tribalismo como os principais problemas que o Santo Padre vai encontrar, e garante que a sua presença será um impulso para a juventude, para a luta contra o radicalismo e a consciência ecológica perante a exploração dos recurso naturais. O bispo de Kitui sente-se herdeiro dos missionários, e explica que a Igreja do Quênia é jovem e vibrante. O papa Francisco viaja também viaja para Uganda e República Centro-Africana, e conhecerá em primeira mão os territórios de missão. A seguir, publicamos a entrevista divulgada pelas Pontifícias Obras Missionárias (POM) em espanhol.
                                                                                                                     ***
No princípio ninguém sabia com certeza, mas o Quênia, por fim, foi incluído no programa. Por quê o Quênia?

- Mons. Anthony Muheria: O Papa vem para o Quênia, em resposta a um convite dos bispos católicos do Quênia em sua última visita ad limina. O Quênia passou por momentos difíceis durante os últimos quatro anos: a violência pós-eleitoral em 2008, vários atentados terroristas, e outros males sociais. O Papa quer vir para incentivar os quenianos a serem ousados na profissão da fé, e no desejo de buscar uma convivência mais harmoniosa.

Qual o ambiente que o Papa vai encontrar? Como é a sociedade do Quênia? Qual a presença da Igreja?

- Mons. Anthony Muheria: O Papa se encontrará com uma Igreja muito vibrante, com mais de 34% da população católica, de um total de 45 milhões de habitantes. Uma Igreja jovem na fé e também jovem nas expressões de fé. Graças a Deus fomos abençoados com muitas vocações sacerdotais e religiosas. A Igreja está profundamente envolvida no setor sanitário, e se encarrega de quase o 35% dos estabelecimentos sanitários do país. De todas as escolas, mais de 40% estão sob o cuidado e o patrocínio da Igreja Católica.
Infelizmente, ainda há graves problemas sociais na sociedade queniana. Além do grande fosso entre ricos e pobres, temos mais de 20% da população que vive em extrema pobreza. A realidade das favelas nas grandes cidades, onde grandes populações vivem em condições sub-humanas, é uma realidade vergonhosa. O Papa Francisco visitará uma destas favelas.
A fibra moral da sociedade tem sido severamente desgastada nos últimos anos por causa da corrupção e do tribalismo. Estas são as circunstâncias que o Papa encontrará quando chegar. Esperemos que as suas palavras desencadeiem uma mudança na transformação desta cultura negativa.

Quais são as expectativas que a sociedade queniana tem dessa viagem do Papa Francisco? Como a viagem foi preparada? Que iniciativas estão sendo realizadas? Que tipo de assistência é esperada?

- Mons. Anthony Muheria: Esperamos que o papa Francisco restaure a nossa esperança e volte a acender o nosso desejo de testemunhar mais a nossa fé. A sua mensagem forte de integração e de misericórdia é muito oportuna para que possamos enfrentar as profundas realidades que afetam a nossa sociedade queniana.
Esperamos que o Papa tenha uma forte mensagem para a juventude. Acreditamos que isso terá um impacto sobre o futuro do país, uma vez que são eles que podem quebrar o ciclo vicioso do vício. Esperamos, também, que os líderes, especialmente os líderes políticos, aprendam com o exemplo do Santo Padre sobre humildade e simplicidade na liderança.
Dado que a África tem sido muito explorada em seus recursos, saudamos também a sua mensagem para tornar-nos guardiões da criação e do meio ambiente, promovendo mais uma maior responsabilidade e respeito pela natureza e destacando o legado da criação dado por Deus no mundo.
O Papa terá um evento principal na celebração da missa no recinto da Universidade de Nairobi, onde esperamos mais de 500.000 pessoas. Terá um encontro com uns 40 líderes religiosos de várias religiões, incluindo judeus, muçulmanos, protestantes e outras religiões tradicionais, antes da missa. Também se reunirá com o clero e os religiosos e terá um tempo de oração com eles. No último dia vai visitar uma favela e terminar com um momento clímax onde se reunirá com mais de 150.000 jovens de todo o país.

Como diz, o Papa tem planejado eventos inter-religiosos nesta viagem histórica. Qual é a relação da Igreja Católica no Quênia com outras religiões, especialmente com o Islã? Você acha que o diálogo pode ajudar a conter o radicalismo religioso?

- Mons. Anthony Muheria: O mal do radicalismo é um tema que esperamos que a visita do Papa nos proporcione uma plataforma para enfrenta-lo mais exaustivamente. Por um lado, é necessário abordar o problema econômico do desemprego e a facilidade para ser atraídos pelo dinheiro fácil e, por outro, a firmeza na sua fé para que não sejam facilmente manipulados para o mal. Continuamos fazendo esforços para fomentar o diálogos com os muçulmanos em nosso país.

Há grande preocupação com a segurança do Papa nesta viagem. O que está sendo feito? É necessário registrar-se para participar dos eventos?

- Mons. Anthony Muheria:  Trabalhamos estreitamente com o governo para garantir a segurança do Santo Padre e de todas as pessoas que assistam os eventos. Somos prudentes, mas também cuidadosos.
Houve um processo para garantir a segurança daqueles que estejam na área do altar. Adotamos um sistema de entrada com cartões, mas qualquer cristão que deseje participar pode conseguir um cartão na sua paróquia. Incentivamos todos aqueles que gostariam de participar.

Na carta dos bispos do dia 6 de novembro, depois da Assembleia geral em Nairobi, os bispos indicam que esta viagem pode ser um bom momento para refletir sobre as relações entre o Estado e a Igreja no Quênia. Qual é a relação atual? Qual é a contribuição que a Igreja dá para o Estado?

- Mons. Anthony Muheria: A relação entre a Igreja e o Estado é boa hoje. De fato, a visita foi preparado por uma equipe combinada entre governo e a Igreja Católica. No entanto, pode-se melhorar em certas áreas de colaboração e no maior espaço dado ao papel das Igrejas na educaão e na saúde.

Vocês vivem em um território de missão. Você mesmo é uma vocação Africana, que testemunha as raízes da fé. Qual o débito da Igreja do Quênia aos missionários? Qual é o grau de implantação da Igreja? Quais são as suas características específicas? Recebem ajudas das Pontifícias Obras Missionárias?

- Mons. Anthony Muheria: Sempre reconhecemos os muitos sacrifícios dos missionários que vieram para evangelizar-nos. Foram realmente heróis na fé e extremamente generosos. Muitos morreram de doenças e outros perderam as suas vidas para que a fé pudesse criar raízes. Isso tem sido especificamente testemunhado de uma forma especial com a recente beatificação de uma irmão consolata, Beata Stafani Irene, em agosto de 2015.
Fomos beneficiários das ajudas das Pontifícias Obras Missionárias, e muitas vezes da Espanha. Estamos profundamente gratos, pois isso está nos ajudando a crescer rapidamente fé, especialmente na construção de igrejas e de instituições religiosas.
Nós estamos comprovando que a Igreja coloca mais e mais responsabilidade no clero local, atualmente mais do 95% dos que trabalham na diocese. Também vemos o apoio financeiro com a contribuição dos cristãos de mais de 350.000 euros por ano para apoiar o trabalho de evangelização.

Você participará de algum ato? Qual?

- Mons. Anthony Muheria: Tenho a intenção de participar da Missa, do encontro com o clero e do encontro com a juventude... Estou especialmente emocionado com o encontro com os jovens.
Acho que a visita do Santo Padre vai deixar um grande impacto no nosso país e marcará um novo começo. Não só porque trará vários dons, como mensageiro de Deus, mas também como forte testemunho cristão da sua vida e seu estilo. Karibu Fransisko Baba.

Fonte: Zenit.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Três países africanos, uma urgência comum: a paz

Quênia, Uganda e na República Centro-Africana, os três destinos da primeira viagem apostólica do papa Francisco à África, apresentam realidades muito complexas e problemáticas em nível político, social e religioso.
Desde a independência, o Quênia é governado por um sistema parlamentar que sofre o flagelo da corrupção, provocando fortes desigualdades sociais que crescem em vez de diminuir.
Os católicos, embora sejam 8 milhões num total de mais de 44 milhões de quenianos, desempenham papel ativo na vida do país em termos acadêmicos, mediante a formação humana da geração mais jovem, em termos de meios de comunicação, para dar voz aos marginalizados, e principalmente, com o anúncio missionário e o testemunho do Evangelho.
O país sofre com a tentativa de desestabilizar a vida política nacional com a presença de formações jihadistas como o movimento islâmico al-Shabaab, autor de vários ataques sangrentos no Quênia. O último foi o de abril passado, em Garissa, que matou 150 pessoas, quase todas estudantes cristãos.
Além de lutar contra a desigualdade social e convidar toda a sociedade civil a promover o bem comum, o país precisa da convivência pacífica entre os diferentes credos para criar um clima de paz, cooperação e desenvolvimento em todos os setores da sociedade.
Uganda tem a distinção de contar com 85% de cristãos na população. O país foi visitado em 1969 pelo beato Paulo VI, que convidou os católicos locais a se tornarem protagonistas da evangelização do seu país e a espalharem a cultura cristã na vida social.
A terra de Uganda foi fecundada pelo sangue de 22 mártires, funcionários do rei Baganda, que, depois de se converterem ao catolicismo, foram mortos por causa da sua fé cristã sob o reinado de Mwanga II, entre 15 de novembro de 1885 e 27 de janeiro de 1887.
A presença de diversos grupos étnicos no país - cada um defendendo os próprios interesses - tem contribuído para a gestão do poder pelas elites, excluindo grande parte da sociedade civil. O país tem a urgência de incluir socialmente todos os seus grupos étnicos, para promover a difusão dos direitos humanos e civis.
A República Centro-Africana está sofrendo há vários anos uma sangrenta guerra civil. A centelha do conflito foi a deposição do presidente François Bozizé, em 2012, pela coalizão Seleka. Mesmo após a dissolução desta formação rebelde, em 2013, a guerra civil continuou no país por causa da entrada de células jihadistas subversivas, compostas por mercenários chadianos e sudaneses que se opuseram aos grupos leais ao ex-presidente Bozizé.
Muitos meios de comunicação têm atribuído motivos religiosos ao conflito, mas a guerra foi movida por razões econômicas. A República Centro-Africana tem no subsolo enormes reservas de petróleo, diamantes, ouro, ferro e urânio.
A urgência para este país é o fim imediato dos conflitos e a urgência de estabelecer a paz para construir uma sociedade justa e equitativa, mediante uma etapa de reconciliação e de perdão, a exemplo de outras realidades afetadas pelo flagelo da guerra civil.
Outro imperativo urgente para este país é lançar um apelo à comunidade internacional, que deve contribuir para restaurar a paz e a justiça restituindo os direitos fundamentais dos excluídos da sociedade.

Fonte: Zenit.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Francisco aos educadores católicos: “A verdadeira escola deve ensinar conceitos, hábitos e valores”

O papa Francisco recebeu no último sábado (21/11) os mais de sete mil participantes do Congresso Mundial “Educar Hoje e Amanhã – uma paixão que se renova”, promovido pela Congregação para a Educação Católica.
Respondendo de forma improvisada a algumas perguntas, o Santo Padre sublinhou que os professores estão entre os trabalhadores mais mal remunerados, mas desempenham um papel extraordinário na promoção da humanidade. O pontífice alertou também para os riscos de uma educação seletiva, que distancia os ricos dos pobres, e convidou os presentes a apostarem numa educação inclusiva.
“Não se pode falar de educação católica sem falar de humanidade, porque, precisamente, a identidade católica é Deus que se fez homem. Educar cristãmente não é só fazer uma catequese. Isto é uma parte. Não é só fazer proselitismo. Não façam nunca proselitismo nas escolas! Nunca! A educação cristã é levar para frente os jovens, as crianças, nos valores humanos, em toda a realidade, e uma dessas realidades é o transcendente”.
Hoje, prosseguiu Francisco, existe uma tendência ao “neopositivismo, ou seja, a educar nas coisas imanentes, no valor das coisas imanentes, e isto acontece nos países de tradição cristã e também nos países de outras tradições. Falta a transcendência”.
Para o Santo Padre, “a maior crise da educação, para que seja cristã, é este fechamento ao transcendente. Estamos fechados à transcendência. [Temos que] preparar os corações para que o Senhor se manifeste, mas em sua totalidade, ou seja, na totalidade da humanidade, que também tem esta dimensão da transcendência; educar humanamente, mas com horizontes abertos”, enfatizou.
“A educação se tornou seletiva e elitista demais”, parecendo que só algumas pessoas de certo nível econômico têm direito a ela, observou Francisco. “É uma realidade que nos leva a uma seleção humana, que, em vez de unir os povos, os separa e distancia os ricos dos pobres, distancia esta cultura daquela. E isto também ocorre nas pequenas coisas: foi rompido o pacto educativo entre a família e a escola! Temos que voltar a começar”.
Entre “os trabalhadores mais mal remunerados estão os educadores, e isto significa simplesmente que o Estado não tem interesse. Se tivesse, as coisas não estariam assim”, continuou o papa. “Este é o nosso trabalho: buscar novos caminhos. Hoje precisamos de uma educação de emergência, precisamos arriscar com a educação informal, porque a educação formal se empobreceu devido à herança do positivismo. Só concebe um tecnicismo intelectualista e a linguagem da cabeça. Temos que romper este esquema”.
A verdadeira escola, explicou Francisco, “deve ensinar conceitos, hábitos e valores. Quando uma escola não consegue fazer isto, ela é seletiva e exclusiva, para poucos”.
O Santo Padre reiterou que o primeiro desafio é deixar os “lugares onde há muitos educadores” e ir “para as periferias”, porque é lá que os jovens têm “a experiência da sobrevivência”, têm a “humanidade ferida”; é a partir destas feridas que deve começar o trabalho do educador. “Não se trata de ir lá para fazer caridade, para ensinar a ler, para dar comida. Não. Tudo isso é necessário, mas é temporal. É o primeiro passo. O problema, e esse é o desafio que eu encorajo vocês a aceitar, é ir até lá para fazê-los crescer em humanidade, em inteligência, em valores, em hábitos, para que eles possam seguir em frente e levar aos outros experiências que eles não conhecem”.
Por fim, o pontífice apontou que “o maior fracasso que um educador pode ter é educar ‘dentro dos muros’. Educar no interior dos muros de uma cultura seletiva, de uma cultura da segurança, de um setor social acomodado e do qual não pode mais sair”.
O Congresso “Educar Hoje e Amanhã – uma paixão que se renova” aconteceu na localidade de Castel Gandolfo, nos arredores de Roma. Durante três dias, educadores de diferentes partes do mundo refletiram à luz de dois documentos conciliares: a declaração Gravissimum educationis e a constituição apostólica Ex corde Ecclesiae. Ambos os textos orientam na busca de soluções para a problemática educativa e reforçam o compromisso da Igreja neste âmbito.

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Papa no Angelus: "A força de Reino de Cristo é o amor"

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Neste último domingo do ano litúrgico, celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Rei do Universo. O Evangelho de hoje nos faz contemplar Jesus quando se apresenta a Pilatos como rei de um reino que "não é deste mundo" (Jo 18:36). Isto não significa que Cristo é rei de outro mundo, mas que é rei de outra maneira. É uma contraposição entre duas lógicas. A lógica mundana apoiada na ambição e na competição, combate com as armas do medo, da chantagem e da manipulação das consciências. A lógica do Evangelho, a de Jesus, ao invés, expressa na humildade e na gratuidade, afirma-se silenciosamente, mas eficazmente com a força da verdade. Os reinos deste mundo, por vezes, são erguidos sobre a prepotência, a rivalidade, a opressão; o reino de Cristo é um "reino de justiça, de amor e de paz" (Prefácio).

Quando Jesus se revelou como rei? Na Cruz! Quem olha para a cruz de Cristo não pode deixar de ver a surpreendente gratuidade do amor. Alguém pode dizer: “Mas, padre, isto foi uma falência”! Mas é justamente na falência do pecado – o pecado é uma falência – na falência das ambições humanas, que está o triunfo da Cruz, ali está a gratuidade do amor. Na falência da Cruz se vê o amor, este amor que é gratuito, que Jesus nos dá. Falar de potência e de força para o cristão, significa fazer referência ao poder da Cruz e à força do amor de Jesus: um amor que permanece firme e íntegro, mesmo diante da recusa, que surge como o cumprimento de uma vida gasta na oferta total de si em favor da humanidade. No Calvário, os circunstantes e os líderes ridicularizam Jesus pregado na cruz e lançam o desafio: "Salva-te a ti mesmo, e desce da cruz" (Mc 15,30). Mas paradoxalmente a verdade de Jesus é aquela que em tom de zombaria seus adversários lançam sobre Ele: "não pode salvar-se a si mesmo!" (v 31). Se Jesus tivesse descido da cruz, teria cedido à tentação do príncipe deste mundo, ao invés, Ele não salva a si mesmo justamente para poder salvar os outros, porque deu a sua vida por nós, por cada um de nós. Dizer: “Jesus deu a vida pelo mundo” é verdadeiro, mas é mais belo dizer: “Jesus deu a sua vida por mim”. E hoje aqui na praça, cada um de nós diga em seu coração: “ Deu a vida por mim”, para salvar cada um de nós dos nossos pecados.

Quem entendeu isto? Entendeu bem um dos dois malfeitores que foram crucificados com Ele, conhecido como o "bom ladrão", que suplica: "Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino" (Lc 23,42). Ele era um malfeitor, era um corrupto que foi condenado à morte por causa da brutalidade que cometeu na vida. Mas ele viu na atitude de Jesus, na humildade de Jesus o amor. Esta é a força do reino de Cristo: o amor. A força de Reino de Cristo é o amor, por isso, a realeza de Jesus não nos oprime, mas nos liberta das nossas fraquezas e misérias, encorajando-nos a seguir os caminhos do bem, da reconciliação e do perdão. Olhemos para a cruz de Jesus, olhemos para a cruz do bom ladrão e digamos todos juntos aquilo que disse o bom ladrão: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino”. Pedir a Jesus, quando nos encontramos frágeis, pecadores, derrotados, para nos guardar e dizer: “O Senhor está ai. Não se esqueça de mim”.

Diante de tantas dilacerações no mundo e das demasiadas feridas na carne dos homens, peçamos a Nossa Senhora que nos ampare no nosso esforço para imitar Jesus, nosso rei, tornando presente o seu reino com gestos de ternura, de compreensão e de misericórdia.

Queridos irmãos e irmãs,

Ontem, em Barcelona, ​​foram proclamados beatos Federico de Berga e vinte e cinco companheiros mártires, mortos na Espanha durante a feroz perseguição contra a Igreja no século passado. Trata-se de sacerdotes, jovens professos à espera da ordenação e irmãos leigos pertencentes à Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Confiemos à intercessão deles os nossos irmãos e irmãs que, infelizmente, ainda hoje em várias partes do mundo são perseguidos por causa da fé em Cristo.
Saúdo todos os peregrinos que vieram da Itália e de diferentes países: famílias, grupos paroquiais. Saúdo em particular os do México, Austrália e Paderborn (Alemanha). Saúdo os fiéis de Avola, Mestre, Foggia, Pozzallo, Campagne e Val di Non, Trentino; bem como os grupos musicais  - que eu ouvi! - que celebram Santa Cecília, padroeira da música. Depois do Angelus – toquem para nós, porque vocês tocam bem!

Quarta-feira que vem, inicio a viagem à África, visitando Quênia, Uganda e a República Centro-Africana. Peço a todos vocês que rezem por esta viagem, para que seja para todos esses queridos irmãos, e também para mim, um sinal de proximidade e de amor. Peçamos juntos a Nossa Snehora que abençoe essas terras queridas, para que haja paz e prosperidade.

Ave-Maria...

Desejo a todos um bom domingo. Por favor, não se esqueçam de rezar por mim. Bom almoço e até breve!

Fonte: Zenit.

domingo, 22 de novembro de 2015

Papa: "Cuidado com os sacerdotes rígidos (mordem!) e na admissão nos seminários”. E aos bispos: “Presentes na diocese, ou então, renunciem!”

Flores, frutos, fungos e folhas secas. Depois: sacerdotes rígidos que "mordem"; seminaristas quase sádicos, porque, no fundo, “doentes mentais”; mães que dão “palmadas espirituais” e bispos que só viajam e se preocupam pouco dos problemas na diocese e que, talvez, fariam melhor em “se demitirem”. Essas são as imagens e as metáforas que pontilham o "compêndio" sobre a formação e o ministério dos sacerdotes que Francisco desenhou hoje durante a sua longa audiência aos participantes do Congresso na Pontifícia Universidade Urbaniana, promovido pela Congregação para o Clero por ocasião do 50º aniversário dos Decretos Conciliares Optatam totius e Presbyterorum ordinis. Dois decretos que – diz o papa – são “uma semente” lançada pelo Concílio “no campo da vida da Igreja” e que durante estas cinco décadas “cresceram, se tornaram uma planta vigorosa, embora com algumas folhas secas, mas, especialmente com muitas flores e frutos que adornam a Igreja de hoje”. Juntos, esses dois são “duas metades de uma realidade única: a formação dos sacerdotes, que dividimos em inicial e permanente, mas que constitui por si só uma única experiência de discipulado”.

Os padres são homens, não formados em laboratório

"O caminho de santidade de um padre começa no seminário!”, destaca Bergoglio, identificando três fases tópicas: "tomados dentre os homens", "constituídos em favor dos homens", presentes “no meio dos outros homens”. “Tomados dentre os homens” no sentido de que “o sacerdote é um homem que nasce em um certo contexto humano; ali aprende os primeiros valores, absorve a espiritualidade do povo, se acostuma às relações”. "Até mesmo os sacerdotes têm uma história". Não são “fungos” que “surgem de repente na Catedral no dia da sua ordenação”, diz Francisco. É importante, por isso, que os formadores e os próprios sacerdotes tenham em conta tal história pessoal ao longo do caminho de formação. “Não se pode ser sacerdote acreditando que se formou em um laboratório”, acrescenta de improviso, “não, começa na família com a tradição da fé e todas as experiências da família”. É necessário, portanto, que toda a formação “seja personalizada, porque é a pessoa concreta que é chamada ao discipulado e ao sacerdócio”.

Família primeiro centro vocacional. "Não se esqueçam mães e avós"

Acima de tudo, devemos lembrar o fundamental “centro de pastoral vocacional” que é a família: “igreja doméstica e primeiro e fundamental lugar de formação humana”, onde pode germinar “o desejo de uma vida concebida como caminho vocacional”. “Não se esqueçam das vossas mães e das vossas avós”, exorta Francisco. Depois, elenca os outros contextos comunitários: “escola, paróquia, associações, grupos de amigos”, onde – diz – “aprendemos a estar em relação com pessoas concretas, nos fazemos modelar da relação com eles, e nos tornamos o que somos também graças a eles".
"Um bom sacerdote", portanto, "é antes de tudo um homem com a sua própria humanidade, que conhece a sua própria história, com as suas riquezas e as suas feridas, e que aprendeu a fazer as pazes com ela, alcançando a serenidade de fundo, própria de um discípulo do Senhor”, destaca Francisco. Por isso, “a formação humana” é necessária para os sacerdotes, “para que aprendam a não serem dominados pelos seus limites, mas, sim, a construir sobre os seus talentos”.

"Sacerdotes neuróticos? Não pode... Que passem por um médico para tomar remédio”

Além do mais um padre em paz consigo mesmo e com a sua história “saberá difundir serenidade ao seu redor, também nos momentos difíceis, transmitindo a beleza da relação com o Senhor”. Não é normal, de fato, “que um sacerdote seja triste muitas vezes, nervoso ou duro de caráter”, observa o Papa Francisco: “Não está bem e não faz bem, nem ao sacerdote, nem ao seu povo. Mas se você tem uma doença e é neurótico, vá a um médico! A um médico clínico que te dará um comprimido que te fará bem. Também dois! Mas, por favor, que os fieis não falem das neuroses dos padres. E não batam nos fieis”.
Os sacerdotes são, de fato, "apóstolos da alegria" e com a sua atitude podem “favorecer ou obstruir o encontro entre o Evangelho e as pessoas”. “A nossa humanidade é o vaso de barro’ onde guardamos o tesouro de Deus”; é necessário, por isso, cuidar “para transmitir bem o seu precioso conteúdo”. Nunca um sacerdote deve “perder a capacidade de alegria. Se a perde existe algo errado”, recomenda o Santo Padre.
E admite que "honestamente" tem medo dos rígidos: “é melhor ficar longe dos sacerdotes rígidos, eles mordem”, diz com ironia. “Lembro-me daquilo que disse Santo Ambrósio no século IV; onde há a misericórdia está o espírito do Senhor. Onde há a rigidez, estão só os seus ministros. E o ministro sem o Senhor se torna rígido. E isso é um perigo para o povo de Deus”.

"Nunca, jamais, perder as próprias raízes!"

Além disso, um padre - comenta Francisco - "não pode perder as suas raízes, é sempre um homem do povo e da cultura que o gerou”. “As nossas raízes nos ajudam a recordar quem somos e de onde Cristo nos chamou. Nós, sacerdotes, não caímos do céu, mas somos chamados por Deus, que nos tira ‘dentre os homens’, para constituir-nos em ‘favor dos homens’”.
A este respeito, o Papa contou uma anedota: "Na Companhia, alguns anos atrás, havia um bom padre, bom, jovem, dois anos de sacerdócio... entrou em crise, falou com o padre espiritual, com os superiores, os médicos: ‘vou embora, não aguento mais’. Eu conhecia a sua mãe, pessoa humilde, não uma dessas ‘mulherzinhas’... e lhe disse: ‘Por que você não vai até a sua mãe e lhe conta tudo?’. E ele foi, passou um dia com a mãe. Voltou assim. A mãe lhe deu dois tapas espirituais, lhe disse 3 ou 4 verdades, colocou-o no seu lugar, e seguiu adiante. Por quê? Porque voltou à raiz”.

"Ore como você aprendeu a rezar quando criança"

Assim, "no seminário - explicou o Papa – você deve fazer a oração mental. Sim, sim, isso deve ser feito, aprender. Mas, antes de tudo, reze como te ensinou a sua mãe, cmo aprende a rezar de criança. Até com as mesmas palavras. Comece a rezar assim, depois avançarás na oração”.

Pastores, e não os funcionários

As raízes, então. "Este é um ponto fundamental da vida e do ministério dos sacerdotes", diz Francisco. O outro é que “se torna sacerdotes para servir os irmãos e as irmãs”. Porque “não somos sacerdotes para nós mesmos e a nossa santificação é intimamente ligada à do nosso povo, a nossa unção à sua unção”. Saber e recordar que somos “constituídos para o povo”, ajuda o sacerdote “a não pensar em si, a ser crível e não autoritário, firme mas não duro, alegre mas não superficial”. Em suma, “pastores, não funcionários”. Muito menos o sacerdote é “um profissional da pastoral ou da evangelização, que chega e faz o que deve – talvez bem, mas como se fosse um trabalho – e depois vai embora viver uma outra vida”. Não, não, “o que nasceu do povo, com o povo deve permanecer”. O sacerdote está sempre “no meio dos outros homens” e “vira-se sacerdote para estar no meio do povo”, reitera Bergoglio.

Bispos compromissados e viajantes: "Se você não está a fim de permanecer na diocese, peça demissão”

Portanto, a "proximidade" é um requisito básico, que também é necessário para os "irmãos bispos". "Quantas vezes - diz o Papa – escutamos queixas dos sacerdotes: 'Mas liguei para o bispo porque eu tenho um problema, a secretária me disse que ele está muito ocupado, que está viajando, que só pode me atender dentro de três meses! Um bispo sempre ocupado, graças a Deus. Mas se você, bispo, recebe o chamado de um padre e não pode encontra-lo porque tem muito trabalho, pelo menos pegue um telefone e ligue para ele. E pergunte ‘mas é urgente, não é urgente?’, de forma que ele sente que você está próximo”.
Infelizmente, porém "há bispos que parecem afastar-se dos sacerdotes", onde "proximidade" também pode ser um telefonema", um simples sinal "de amor paterno, de fraternidade", mais prioridade do que uma conferência em tal cidade” ou uma viagem à América”.  do que a" conferência na cidade "ou" uma viagem na América. "" Mas escute, eh! ", diz Francisco, “o decreto de residência de Trento ainda está vigente e se você acha que não consegue ficar na diocese, peça demissão! E roda o mundo fazendo outro apostolado muito bom... Mas se você é bispo daquela diocese: residência”
O bem que padres e bispos podem fazer "vem principalmente da proximidade deles e de terno amor pelas pessoas”. Porque não são "filantropos ou funcionários", na verdade, mas "pais e irmãos" que devem garantir "entranhas de misericórdia, olhar amoroso". "A paternidade de um sacerdote faz muito bem" no sentido de "fazer experimentar a beleza de uma vida vivida segundo o Evangelho e o amor de Deus que se concretiza através de seus ministros."

"Se não é possível absolver, pelo menos dê uma benção”

Porque "Deus não rejeita nunca”. E aqui uma outra “palmada” do Papa, tudo no improviso: “Penos nos confessionários - diz -, sempre e possível achar caminhos para dar a absolvição. Algumas vezes não é possível absolver. Mas tem padres que dizem: ‘Não, isso não se pode fazer, vá embora!’. Este não é o caminho... Se você não pode dar a absolvição explique: ‘Deus te ama muito. Para chegar a Deus existem muitos caminhos. Eu não posso te dar a absolvição, então, te dou a benção. Volte, volte sempre aqui que eu, cada vez, te darei a benção como sinal de que Deus te ama. E aquele homem, aquela mulher, sairá cheio de alegria porque encontrou o ícone do Pai que não rejeita nunca”.

Um padre não tem "espaços privados"

Francisco, portanto, convidou a um “bom exame de consciência” útil para orientar a própria vida e os próprio ministério a Deus: “Se o Senhor voltasse hoje, onde me encontraria? O meu coração está aonde? No meio das pessoas, orando com e para as pessoas, envolvido com as suas alegrias e sofrimentos, ou, no meio das coisas do mundo, dos trabalhos terrenos, dos meus ‘espaços’ privados?”. Atenção - diz ele - porque "um padre não pode ter um espaço privado ou está com o Senhor. Acho que os sacerdotes que conheci na minha cidade, quando não havia nenhuma secretária telefônica, dormiam com o telefone debaixo da mesa e quando as pessoas ligavam, se levantavam e iam dar a unção. Ninguém morria sem os sacramentos... Nem mesmo no descanso tinham um espaço privado. Isso é ser apostólico”.

"Olhos abertos nas admissões nos seminários. Atrás dos rígidos existem transtornos mentais"

Um último pensamento, antes de concluir, Francisco o faz também improvisando sobre o tema difícil do discernimento vocacional e a admissão ao seminário. Temos que “procurar a saúde daquele jovem”, recomenda, a “saúde espiritual, material, física, psíquica”. Outra anedota: “Uma vez, recém-nomeado mestre de noviços, ano '72, fui levar pela primeira vez à psiquiatra os resultados do teste de personalidade que se fazia como um dos requisitos do discernimento. Ela era uma boa mulher e uma boa cristã, mas em alguns casos era inflexível: “Esse não pode”. “Mas, doutora, é um jovem tão bom!”. “Mas saiba, padre – explicava a psiquiatra ao futuro Papa – existem jovens que sabem inconscientemente que são psicologicamente enfermos e procuram para as suas vidas estruturas fortes para defende-los e assim poderem seguir em frente. E estão bem até o momento em que se sentem bem estáveis, depois, ali começam os problemas...”.
"Você não pensou no porquê existem tantos policiais torturadores?", Perguntava a mulher, “entram jovens, parecem sadios, mas quanto se sentem seguros a doença começa a sair”. Polícia, exército, clero, são, de fato, “as instituições fortes que estes doentes inconscientes procuram”, observa o Papa Francisco, “e depois, muitas doenças que todos nós conhecemos”. “É interessante – acrescenta -: quando um jovem é muito rígido, muito fundamentalista, eu não confio. Detrás daquilo existe algo que ele mesmo não sabe”.

Portanto, uma clara advertência: "Cuidado com as admissões para os seminários, olhos abertos."

Fonte: Zenit.

sábado, 21 de novembro de 2015

A Solenidade de Cristo Rei provoca-nos em profundidade

As múltiplas convulsões sociais, a violência e as guerras, atentados, morte implacável de inocentes, todos assuntos que já nos provocaram reflexões e busca de caminhos têm causado grande perplexidade em todo o mundo. Há poucos dias a França foi banhada em sangue, refletindo os subterrâneos de embates ideológicos e religiosos, ao mesmo tempo em que verdadeiras hordas de migrantes, exilados e refugiados encarnam um êxodo inimaginável há pouco tempo. Que soluções podem ser oferecidas? E, mais ainda, qual a resposta a ser oferecida por quem acredita em Jesus Cristo, aquele que veio trazer a paz e é, ele mesmo, a nossa paz? Sabemos que ele não oferece a paz como o mundo a procura e pretende oferecê-la. São tímidas, incertas e frágeis as tratativas diplomáticas possíveis em nosso tempo. As respostas dadas, com mais dureza e violência da parte de quem é reconhecido como autoridade, revelam-se incapazes, justamente porque a força utilizada suscita outras muitas reações, que nós cristãos sabemos serem inspiradas pelo pai da mentira, cujas tentações continuam atraindo grandes e pequenos, ricos e pobres.
O relato da condenação de Jesus, no Evangelho de São João (Cf. Jo 18, 33-37) traz um intrigante diálogo entre Pilatos, o tribuno, e Jesus, preso e amarrado, coroado de espinhos, ensanguentado. O assunto é o reino daquele que foi escorraçado pela plebe, soldados e autoridades. Parece ridículo, mas Jesus Cristo tem a ousadia de dizer-se rei, numa situação trágica, que beirava a morte, que efetivamente veio horas depois. No entanto, é com verdadeira majestade que ele se diz rei! O incômodo ficou por conta da covardia daquele que lavou as mãos, incapaz de defender o que lhe trazia verdadeira crise interior. Há entretanto uma diferença fundamental entre o reino conhecido e participado por Pilatos e aquele que ali se inaugurava, colorido de sangue. O de Jesus não é reino deste mundo. Ele não possui exércitos armados para defender suas fronteiras e propriedades. Todo o Evangelho no-lo mostra apaixonado pelo Reino, explicado de inúmeras formas através de gestos e palavras. O seu Reino é o reino da verdade, da justiça, do amor e da paz.
Um raciocínio bem humano pode levar-nos a comparar os muitos reinos que se edificaram na história, estampados nos poderes hoje existentes, com seus pés de barro (Cf. Dn 2, 31-35) que os fazem ruir mais cedo ou mais tarde, com o Reino de Deus, cujo anseio de repete insistentemente em nossa oração diária do Pai nosso. Quem é mais poderoso? De que vale pedir o Reino de Deus, quando os poderes do mundo é que estão controlando tudo, ainda que nos conduzam a um verdadeiro beco sem saída? Quais são as condições dos donos do poder e do dinheiro para resolverem os impasses do tempo hodierno?
É realista e ao mesmo tempo doloroso constatar que os séculos passados e o tempo recente mostram os resultados do afastamento dos valores do Evangelho. Não se trata de amaldiçoar ninguém, mas parece ressoar em nossos ouvidos a palavra de nossos pais, que recomendavam não brincar com fogo! Brincamos com o fogo do ódio, da violência, da afirmação egoísta dos próprios direitos e espaços, julgamo-nos proprietários da vida, ridicularizamos as verdades sagradas, e o resultado está aí!
Vamos começar de novo? Vamos buscar caminhos diferentes? A Solenidade de Cristo Rei provoca-nos em profundidade. Começar de novo significa ir atrás dos valores esquecidos. Eles podem chamar-se, por exemplo, perdão e reconciliação, exercício da misericórdia. Quando o Papa Francisco se inclina para lavar os pés dos presos, a imagem corre o mundo, deixando boquiabertos muitos marmanjos do poder e do dinheiro! Quando proclama um Ano Santo, Jubileu da Misericórdia, convidando-nos a passar pela porta santa de nossas catedrais e santuários, indicando-nos o roteiro mais simples que possa existir, feito de peregrinação, confissão, comunhão, oração, prática da caridade, nas obras de misericórdia, não inventou nada de novo, além do que está no Evangelho. As soluções podem ser mais fáceis do que pensamos!
Começar de novo significa tomar iniciativas, criatividade, visitar, dialogar antes de estabelecer julgamentos, buscar as razões do outro, permitir que ao meu lado exista gente que pensa diferente, construir pontes de relacionamento. Há impasses internacionais, como os grupos e ideologias pretendentes à hegemonia, cuja condição é a total destruição dos outros, há o poder do dinheiro, com as negociatas secretas em que armas são igualmente vendidas para antagonistas de todas as cores. Mais perto de nós, na propalada crise política e econômica em que nos encontramos, o impasse se agrava e as soluções ficam distantes, justamente porque o reino, que não é o de Deus, está dividido, pelos interesses individuais ou de grupos que sobrepõem ao bem comum. As fatias valem mais do que o próprio bolo! É que as receitas são interesseiras e maldosas. Mesmo que pensem ser ingênua nossa proposta, não há remédio sem passar pela conversão ao Reino... de Deus! É preciso reaprender o Pai nosso e dizer "Venha a nós o vosso Reino!"
Há alguns anos, fui pároco numa cidade em que os dois chefes políticos eram inimigos figadais, ainda que filho e filha, respectivamente, fossem casados. Passadas as eleições, os dois eram amigos, passavam horas jogando cartas e trocando ideias, mas as relações provincianas do ambiente em que viviam "pediam" briga no período eleitoral. Parece brincadeira, mas tais situações se repetem perto de nós. Só que as inimizades se multiplicam, infelizmente, e alcançam dimensões inimagináveis. De roldão, joga-se pelo ralo o bem comum e a dignidade dos mais pobres. E o mundo parece feitos de meninos de rua jogando pedras nos vizinhos. É o reino dos dois lados! Cresce, então, o reino da mentira. Se sabemos que Deus é o Senhor da história, e a vitória final será daquele a quem pertence a honra, o poder e a glória, sabemos também o quanto o tentador age e suscita intrigas em nosso mundo.
É de São João Paulo II uma palavra forte, pronunciada profeticamente no início de seu pontificado: "Não tenhais medo de acolher Cristo e de aceitar o seu poder! Não, não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo! Ao seu poder salvador abri os confins dos Estados, os sistemas econômicos assim como os políticos, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso! Não tenhais medo! Cristo sabe bem 'o que é que está dentro do homem'. Somente Ele o sabe!" E não tenhamos receio de rezar o Pai nosso, para dizer com mais força ainda: "Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu".

 Dom Alberto Taveira Correa, arcebispo metropolitano de Belém do Pará

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O Santo Padre levará à África uma mensagem de paz e reconciliação

O Papa Francisco realizará do 25 ao 30 de novembro a 11ª viagem internacional do seu pontificado. Nessa passará por três países africanos: Quênia, Uganda e República Centro Africana.
Apesar das dúvidas sobre a última etapa da viagem, devido à forte onda de violência recente no país, o padre Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, confirmou que tudo permanece. Assim, explicou que o comandante da Gendarmaria do Vaticano, Domenico Giani, precederá o Santo Padre na viagem para verificar as condições de segurança.
Durante uma coletiva de imprensa esta manhã na sala de imprensa do vaticano, o porta-voz do Vaticano disse aos repórteres que os ataques em Paris na semana passada, não modificaram ou condicionaram o programa da viagem pontifícia ao continente africano.
Também indicou que o Santo Padre “quer levar uma mensagem de paz e reconciliação” a um lugar marcado por muitas “violências”.
A primeira viagem de um Pontífice à África foi em 1969, precisamente Paulo VI a Uganda. O Papa São João Paulo II, durante todo o seu pontificado, visitou 42 países africanos. Por sua parte, Bento XVI visitou Camarões em 2009 e Benin em 2011.

Quénia

Repassando as etapas e os encontros que Francisco terá nesses cinco dias de duração da viagem, recordou que no Quénia, haverá uma visita ao presidente Uhuru Kenyatta e às autoridades e corpo diplomático do país. Além disso, haverá um encontro inter-religioso e ecumênico, uma missa no campus da Universidade de Nairobi, em uma área onde há capacidade para um milhão de pessoas. Também se reunirá com o clero, religiosos e seminaristas. Visitará a sede das Nações Unidas, onde estão duas agêncdias da ONU e lá pronunciará um discurso em espanhol. Finalmente, irá a Kangemi, uma favela em Nairobi. Em seguida, irá para o Estádio Kasarani para se encontrar com os jovens, onde está previsto um testemunho de sobreviventes do massacre no campus da Garissa. O último encontro no Quênia será, em privado, com os bispos da nação.

Uganda

A segunda etapa da turnê Africana é Uganda. Primeiro, ele se reunirá com o presidente Yoweri Museveni, que governa há 30 anos. Sobre a visita a este país, o Pe. Federico Lombardi sublinhou que terá muita importância o tema dos mártires ugandeses. O Santo Padre visitará Munyonyo, onde foram condenados a morte estes mártires católicos e anglicanos. Seguindo com a temática dos mártires, o Papa irá também ao santuário dedicado a eles, depois de celebrar a missa no sábado, 28 de novembro.
Nessa tarde se encontrará com uns 100 mil jovens no Kololo Air Strip Kampala. Neste encontro, observou o Padre Lombardi, serão significativos os testemunhos, entre os quais estará o de um jovem que foi sequestrado por guerrilheiros quando era pequeno e o de uma jovem portadora do vírus HIV. Para finalizar as visitas em Uganda, o Santo Padre irá à Casa de Caridade de Nalukolongo, depois uma reunião privada com os bispos e concluirá com um encontro com sacerdotes, religiosos e seminaristas.

República Centro-Africana

A última etapa da viagem é a República Centro-Africana. Na chegada, Francisco visitará à presidente de transição, Catherine Samba-Panza, e, em seguida, terá um encontro com o corpo diplomático e a classe dirigente, onde pronunciará um discurso em francês, idioma que utilizará pela primeira vez em um ato público desde que é Papa. Em seguida, Francisco visitará um campo de refugiados. Também se reunirá no mesmo dia com os bispos, com as comunidades evangélicas, e celebrará a Missa com os sacerdotes, religiosos, religiosas e seminaristas. Nesse momento, o Santo Padre vai abrir a Porta Santa da Catedral de Bangui, em antecipação do Jubileu da Misericórdia. Para terminar o dia, o Papa Francisco confessará alguns jovens e abrirá uma vigília de oração. Na segunda-feira 30 de novembro, último dia, o Papa se encontrará com a comunidade muçulmana na mesquita central do Koudoukou em Bangui. Para concluir a viagem, vai celebrar a Missa no estádio de esportes Barthélémy Boganda.
Entre a comitiva que acompanha o Santo Padre na viagem, participa o Cardeal Pietro Parolin, secretário de estado, exceto na última etapa, porque ele tem de viajar para Paris para a reunião da COP 21. Também acompanha os cardeais Fernando Filoni, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, e Peter Turkson, presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz. Além disso, como é habitual em viagens papais, participará um trabalhador do vaticano, nesta ocasião se trata de uma mulher, Burkina Faso, que trabalha em uma das lojas do Governatorato.


Fonte: Zenit.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

África Central: o único baluarte contra a loucura da guerra é a Igreja

O Ano Santo da Misericórdia será um jubileu “atípico” por muitas razões. Uma delas é a abertura da Porta Santa não só em Roma, mas em todas as dioceses do mundo, em dias diferentes.

Ainda mais surpreendente, no entanto, foi a decisão do papa Francisco de abrir a primeira Porta Santa em Bangui, no dia 29 de novembro, durante a sua visita pastoral à República Centro-Africana.

O Jubileu começará assim numa das "periferias" mais esquecidas da terra: um país onde à miséria omnipresente se juntou a tragédia de uma guerra civil que parece um túnel sem saída, completamente ignorado pela comunidade internacional.

Neste cenário perturbador, o único vislumbre de esperança verdadeira é representado pela Igreja católica e pelos seus corajosos missionários. Um deles é o pe. Aurelio Gazzera, 53 anos, carmelita, italiano.

Na África Central há 24 anos, o pe. Gazzera é atualmente o diretor da Caritas em Bouar.



 Pe. Aurelio, como está a preparação para a visita do papa Francisco?

Pe. Aurelio: A República Centro-Africana recebeu com surpresa e com enorme alegria a notícia da vontade do papa de nos visitar. Somos um país com o dobro do tamanho da Itália, mas com apenas 4 milhões e meio de habitantes. E em guerra há quase três anos. Primeiro, surgiu a Seleka, uma aliança de rebeldes de maioria muçulmana, vindos do norte do país e também do Chade e do Sudão. Depois, surgiu a reação dos antibalaka, e a guerrilha continua até hoje: são cerca de 830 mil refugiados no exterior ou deslocados internamente – um quinto da população!

A preparação ferve na comunidade católica, com várias reuniões e momentos de oração para preparar os cristãos para acolher Pedro e, acima de tudo, para se perguntarem sobre a própria fé e sobre a história do país.

Mesmo os não católicos estão muito felizes com esta visita. Todas as pessoas a acham muito importante e, ao mesmo tempo exigente. De resto... você não vê muitos preparativos, até porque, desde o final de setembro, a situação em Bangui piorou muito.

 A visita do papa corre perigo?

Pe. Aurelio: Com certeza não será um passeio, e eu imagino que muitos estão segurando a respiração... Eu não acho que o papa está particularmente exposto, porque, certamente, haverá um dispositivo de segurança à altura da situação. Estou mais preocupado com as pessoas que virão vê-lo e ouvi-lo. Elas estarão menos protegidas e mais vulneráveis. Infelizmente, vemos há muito tempo uma escalada de violência, ataques, então não se pode descartar nada. Além disso, não há coordenação nem unidade dentro das várias partes em conflito (muçulmanos e não muçulmanos) e isto é mais um problema.

 Qual é o significado da decisão do Santo Padre de abrir a Porta Santa antecipadamente em Bangui?

Pe. Aurelio: É uma notícia excepcional, que o papa já tinha nos antecipado há quase dois meses, sinal de que é uma decisão pessoal. É um sinal belíssimo, que coloca em primeiro plano um país desconhecido, que tem grande necessidade de se deixar converter pela Misericórdia do Pai. Também é um belo sinal de reconhecimento pela Igreja católica, que esteve sempre na vanguarda para acolher a todos, cristãos e muçulmanos, e que, graças à voz de muitos pastores, em primeiro lugar o arcebispo de Bangui, dom Dieudonné Nzapalainga, é praticamente o único baluarte contra a loucura da guerra e da destruição.

 Os muçulmanos são cerca de 15% no país. Que tipo de islã eles seguem?

Pe. Aurelio: Até antes da chegada da Seleka, a convivência era boa. Os muçulmanos dominavam o comércio, os transportes e grande parte das fazendas, e, no geral, as duas comunidades se complementavam muito bem. Mas a chegada da Seleka, com rebeldes que quase só falavam árabe, complicou a situação: alguns muçulmanos se aproveitaram da situação, outros apoiaram abertamente os rebeldes, e, com a eclosão da luta entre a Seleka e os antibalaka, começou uma identificação da Seleka com os muçulmanos.

Nós devemos esquecer que também havia um fundo de medo, causado por fatos históricos (o escravismo por obra de comerciantes muçulmanos, aqui na região, durou até 1930) e pelas tensões recorrentes entre agricultores e pecuaristas (estes últimos são na maioria da etnia Peul, de religião muçulmana).

No contexto dramático da guerra civil, há também fatores religiosos ou é um conflito eminentemente político ou tribal?

Pe. Aurelio: A questão religiosa é muito secundária. Mesmo conhecendo-os há muito tempo, eu nunca ouvi os antibalaka mencionarem o fator religioso nos ataques contra os muçulmanos. Há mais uma sensação de inferioridade, que levou a saques e destruição de casas e bens dos muçulmanos. Além disso, há o fator político, a hegemonia de países como o Chade, o Sudão, os do Golfo Árabe.

Fonte: Zenit.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Pe. Carrón: "Não renunciaremos ao nosso compromisso na política e na sociedade"

Um "novo começo" para a civilização ocidental e cristã após o "colapso das evidências" no tocante à mãe de todas as liberdades: a liberdade religiosa. Este e muitos outros temas são tratados pelo Pe. Julián Carrón, presidente da Fraternidade Comunhão e Libertação, em seu mais recente livro, “A beleza desarmada”. O livro foi apresentado neste mês, no Vaticano, pelo autor e pelo cardeal Jean-Louis Tauran, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, junto com o presidente emérito da Câmara dos Deputados da Itália, Luciano Violante.
ZENIT conversou com Carrón, que fez um balanço dos seus dez anos à frente do movimento e do legado de Luigi Giussani. O sacerdote espanhol de 65 anos afirmou que não há nenhuma "virada religiosa" na Comunhão e Libertação em detrimento do compromisso político e civil. Na verdade, o movimento está passando por um processo de "personalização da fé", para que ela robusteça a imersão do homem na realidade e na novidade que Cristo traz à vida de cada um.

Pe. Carrón, este ensaio pode ser considerado uma espécie de “summa” dos seus dez anos como presidente da Fraternidade da Comunhão e Libertação?

Pe. Carrón: Sim. É uma tentativa de compartilhar a nossa experiência com tantas outras pessoas que estão enfrentando os mesmos desafios. Quem sabe, este caminho que nós percorremos possa ser útil para os outros.

 O que o senhor quer dizer, no primeiro capítulo, ao falar de "novo começo"?

Pe. Carrón: Quero dizer um novo começo diante do colapso de muitas evidências com a crise econômica, a emergência educativa etc. Diante da fadiga reconhecida pelos expoentes da cultura, é possível recomeçar a partir desta situação. Estou convencido de que este novo início é possível, que podemos encontrar o que nos fará recomeçar.

 Uma expressão-chave do livro é justamente "o colapso das evidências"...

Pe. Carrón: É uma expressão que eu tomei de um texto de Bento XVI. O papa emérito lembrava que na época do Iluminismo, depois das guerras de religião, a grande unidade europeia estava despedaçada. Pensava-se que os valores partilhados por todos os europeus, os valores da tradição cristã, poderiam permanecer como fundamento do "novo começo", mas fora dos conflitos religiosos. Acreditava-se que, separando-os dos elementos religiosos, aqueles valores poderiam durar. Depois de alguns séculos, vemos que, como reconheceu o papa Bento XVI, aquela tentativa de conservar para sempre alguns valores compartilhados por todos falhou.

 E o que se entende por "verdade na liberdade"?

Pe. Carrón: É um notável passo em frente na autoconsciência da Igreja. Em seu célebre discurso à Cúria Romana em 2005, Bento XVI enfrentou alguns dos pontos-chave do Concílio Vaticano II, entre eles o da liberdade religiosa. A Igreja tinha se aprofundado na reflexão sobre a relação entre verdade e liberdade. A reivindicação da liberdade é uma questão muito moderna e a Igreja não chegou à liberdade religiosa simplesmente por não ter sido capaz de convencer as pessoas da verdade do cristianismo, mas porque não há nenhuma relação com a verdade se não houver a liberdade religiosa. Este é um aspecto de como nós, cristãos, podemos oferecer a verdade, que é crucial. Por isso, o título do meu livro dá esta sugestão numa época como a nossa. Somente se o homem encontrar a verdade desarmada, sem nenhum outro poder externo que não seja o da própria verdade, somente assim é que a atratividade da verdade vai poder se adequar à sensibilidade moderna e à única autêntica relação com a verdade, que é a liberdade.

 Qual é o seu balanço dos dez anos à frente da Comunhão e Libertação?

Pe. Carrón: Estes dez anos têm sido para mim uma aventura fascinante e uma graça para todos nós, por todos os desafios que enfrentamos, que, no fim, são os desafios de todos. Para nós, foi a oportunidade de ver como é valioso o que recebemos de Dom Giussani para lidar com estas situações; isso nos dá a capacidade de compreender os fenômenos que estamos vivendo, sem sucumbir à confusão, sugerindo-nos como lidar com eles. Nós mesmos ficamos maravilhados.

 A herança de Dom Giussani é “pesada”?

Pe. Carrón: Para mim, Dom Giussani sempre foi um pai, apesar de eu não ter tido uma convivência assídua com ele porque eu vivia na Espanha. Mas os seus escritos foram decisivos para mim, por causa de um modo de estar no real que foi marcado pelo relacionamento com ele e com tudo o que ele propôs, principalmente como forma de conceber o cristianismo, como proposta cristã, como possibilidade de verificação da fé. Aspectos que, num momento como este, são cruciais.

 A mídia falou muitas vezes de uma suposta "virada religiosa" no movimento sob a sua liderança, depois de anos de compromisso político e social. Quanto há de verdadeiro nisso?

Pe. Carrón: Em 7 de março, na audiência com o papa Francisco, nós lhe colocamos esta pergunta. E recebemos uma resposta que está na mesma linha do que sempre tentamos fazer. Pela condição que recebemos, não temos a intenção de renunciar ao nosso compromisso. O cristianismo tem a ver com todos os aspectos da realidade: trabalho, família, cultura, política. Nós temos outra maneira de conceber a fé. Como diz São Paulo, "estejamos acordado ou dormindo, vivemos com Ele" (1 Tessalonicenses 5,10). Deus tem a ver com tudo. Nós não queremos renunciar ao nosso compromisso na sociedade. Mas, para poder cumpri-lo, disse o papa, temos que ter certeza de Cristo, ou, para colocar com as palavras de Dom Giussani, precisamos da "personalização da fé". A CL vai no caminho dessa personalização da fé, que lhe permite estar na realidade com a novidade que Cristo introduz na vida.

 Os desafios da família, em particular, como devem ser vividos pelos cristãos de hoje?

Pe. Carrón: Se a fé é vivida realmente a sério, ela é capaz de atender a todo o desejo de plenitude de uma pessoa quando encontra outra. Se o amor é mais do que um início explosivo e brilhante, então ele pode durar para sempre. Esta é a contribuição que o cristianismo pode dar à família, assim como a tantos aspectos da vida.

Fonte: Zenit.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Card. Scola sobre Paris: "Não respondamos a este gesto covarde com ódio e vingança"

Cerca de 5 mil estavam presentes ontem na Catedral de Milão, onde o arcebispo de Milão, o cardeal Angelo Scola, celebrou a Missa do primeiro domingo do Advento (segundo o rito Ambrosiano), na qual orou pelas vítimas dos atentados de Paris.
"Queremos ter presente no coração e na mente a tragédia de Paris - disse o cardeal no início da Missa - orando por aqueles que perderam suas vidas e pelos seus familiares - para expressar a nossa proximidade de comunhão com todo o povo francês e com toda a humanidade, porque este crime hediondo vai contra toda a humanidade".
"Também estou grato àqueles que, não crentes, acolheram a nossa chamada à oração comum”, continuou o arcebispo, “estes fenómenos estão tomando um peso e um tamanho que os leva a durar no tempo. Orar nos permite entrar em ação, cada um assumindo a própria responsabilidade familiar, social e eclesial que lhe corresponde”.
Scola, portanto, convidou os fieis de Milão e do mundo a “não responder este covarde e ultrajante ato com o ódio”, nem “com o medo, embora o medo seja compreensível, porque, como cristãos, somos filhos de Alguém que constantemente nos falou para não termos medo”. “Todos – disse – sabemos que se Deus está conosco, - de qualquer forma conseguimos defini-Lo e chama-Lo – quem será contra nós?. Portanto, “não sentimentos de vingança, mas compromisso firme pela verdade dos relacionamentos entre os homens e os povos para a construção de uma paz real dentro da família humana, para a necessária revitalização da Europa, da qual todos nós sentimos a necessidade."
Em sua homilia, o Cardeal, em seguida, perguntou: "Com qual atitude devemos viver o presente que, como diz Santo Agostinho, é o único tempo que realmente nos pertence? Não com a angústia de populações ansiosas, nem o medo pela espera do que deverá acontecer na terra, mas a vigilância, uma atitude dinâmica de espera e de expectativa: levantem seus espíritos e mantenham suas cabeças erguidas. O fim do mundo não será devido a catástrofes apocalípticas, mas ao retorno glorioso de Jesus, Aquele que já está chegando. Com todo o nosso coração fixemos permanentemente o olhar em Jesus Cristo".
"Até mesmo os ataques vis e terríveis em Paris devem ser vividos na fé e na oração”, destacou o prelado. “A oração não é uma fuga da realidade, mas é a intensificação do relacionamento com o Senhor da história. Nos ajuda a entender o que está acontecendo, mesmo estes trágicos acontecimentos, e nos impele a agir para a verdadeira paz. Rezemos pelas vítimas, pelos seus entes queridos, pelo povo francês, por todos os povos do mundo, especialmente aqueles provados pela guerra, pela perseguição, pela fome e a miséria”.
Finalmente, depois da Comunhão - como aconteceu ontem, em todas as missas de todas as 1.107 paróquias da diocese de Milão - O Cardeal Scola convidou mais uma vez a rezar pelos mortos e os feridos de Paris. Depois da leitura de um texto, no qual se recordava que “a maioria das mulheres e homens muçulmanos são pessoas de paz”, todos recitaram a Ave Maria.

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Papa: "É uma blasfêmia usar o nome de Deus para justificar a violência!"

"Tanta barbárie nos deixa chocados e nos faz refletir sobre como possa o coração do homem conceber e realizar eventos tão horríveis, que abalaram não só a França, mas todo o mundo”, assim se expressou o Papa Francisco, no final do Angelus, sobre os ataques terroristas de sexta-feira passada que “sangraram a França”.

O Santo Padre expressou ao Presidente da República Francesa e a todos os cidadãos suas mais sentidas condolências, dizendo que ele estava perto "em particular dos familiares daqueles que perderam a vida e dos feridos”.

Francisco afirma que "perante tais atos intoleráveis, não se pode deixar de condenar a afronta inominável à dignidade da pessoa humana". E então reiterou "com força" que "o caminho da violência e do ódio não resolve os problemas da humanidade e que usar o nome de Deus para justificar este caminho é uma blasfêmia!".

O seu chamado foi, então, a orar para confiar "à misericórdia de Deus as indefesas vítimas desta tragédia." E ainda, antes de pedir alguns segundos de silêncio e de rezar uma Ave Maria com toda a praça, disse: “A Virgem Maria, Mãe de misericórdia, inspire nos corações de todos pensamentos de sabedoria e propósitos de paz. Pedimos-lhe para proteger e vigiar a amada nação francesa, a primeira filha da Igreja, a Europa e todo o mundo”.

O Papa Francisco recordou depois o Pe. Francisco de Paula Victor, padre brasileiro de ascendência Africana, filho de uma escrava, que foi beatificado ontem, em Três Pontas, no Estado de Minas Gerais, no Brasil.

"Pároco generoso e zeloso na catequese e na administração dos sacramentos - disse o Santo Padre - destacou-se, sobretudo, pela sua grande humildade. Que o seu extraordinário testemunho seja modelo para tantos sacerdotes, chamados para serem humildes servos do Povo de Deus”.

Fonte: Zenit.

domingo, 15 de novembro de 2015

No Paquistão as crianças cristãs não podem usar os banheiros dos alunos muçulmanos

Sara Bibi, estudante de um colégio de ensino fundamental em Samundari, nas proximidades de Faisalabad, no Punjab, foi ameaçada, agredida, insultada e trancada no banheiro por três horas por ter usado o toalete utilizado por alunas muçulmanas. O episódio revela a mentalidade discriminatória comum na sociedade paquistanesa.
Os cristãos são considerados “impuros” e portanto, sua presença é “inquietadora”. Neste episódio, a fé religiosa teve seu peso, pois a violência contra a jovem foi cometida por ela ser cristã. Foi a reitora da escola a dispor a punição da menina, que ficou fechada três horas enquanto ela lhe dizia: “Você é cristã, uma infiel, como ousou utilizar o toalete usado pelas meninas muçulmanas?”. Não obstante as súplicas, a jovem foi punida e somente no fim do horário, foi solta.
Os cristãos condenaram firmemente “o comportamento desumano da reitora”. O “Pakistan Christian Congress” disse à Agência Fides que “muitas vezes os cristãos não podem ir a restaurantes, escolas, universidades e escritórios com os muçulmanos, e nem podem beber água da mesma fonte. Esta discriminação é fruto de ódio. A proibição de utilizar banheiros nas escolas é absurda”. As organizações pedem ao governo do Punjab um inquérito detalhado e medidas concretas para promover a tolerância e a harmonia religiosa no Paquistão.

Fonte: Zenit.

sábado, 14 de novembro de 2015

Negro, brasileiro, padre, santo. Pe. Victor será beatificado hoje, sábado

Depois de 110 anos do seu "nascimento para a vida eterna", ocorrido em 1905, mais um "trespontino", Pe. Victor, será beatificado no próximo sábado, hoje, 14 de novembro. O Santo Padre, para tal evento, enviou como representante o Cardeal Angelo Amato, Prefeito da Congregação das Causas dos Santos.
A diocese de Campanha é generosa em santidade. Três são os candidatos aos altares dessa igreja particular: Madre Tereza Margarida do Coração de Maria, popularmente conhecida como “Nossa Mãe”, Beata Francisca Paula de Jesus, “Nhá Chica”, leiga, e o Servo de Deus Francisco de Paula Victor, sacerdote.
Mais uma vez chamamos para uma entrevista o postulador da causa de canonização desses três exemplos de Três Pontas, o italiano Dr. Paolo Vilotta, que segue mais de 25 processos de canonização no Brasil. (Cfr aqui a primeira entrevista em 2012).

Para mais informações: www.padrevictor.com.br

Dos candidatos a santos brasileiros que você acompanha, três são da mesma diocese. Sabe dizer por que? Ou seja, você percebe naquela região muita fé nas pessoas?

Dr. Paolo: Sim, na diocese de Campanha seguimos três Causas, das quais dois beatos e uma serva de Deus cujo processo está na fase romana. A fé tem sempre o primeiro lugar nestas ocasiões e aqui temos um exemplo concreto. Além disso a Igreja e todo o povo demonstrou a exigência de querer trabalhar para que a sua devoção, que pelos dois beatos perdura e aumenta por mais de um século, pudesse ser também reconhecida oficialmente pela Igreja.

 Quanto tempo para o Pe. Victor chegar ao altar? Por que tanto tempo?

Dr. Paolo: Oficialmente o processo começou em 1993, mas foi retomado em 1998 e desse tempo até hoje não podemos absolutamente dizer que passou muito tempo porque em tempos muito curtos foram reconhecidas a heroicidade das virtudes e depois foi reconhecido o milagre. Tanto para o beato Victor quanto para a beata Nha Chica passaram-se muitos anos para se começarem os processos, algo comum em todo o Brasil e se deve à falta de experiência nesse sentido. Mas, apesar disso, como já destaquei, a fama de santidade nunca diminuiu, pelo contrário, sempre aumentou e se difundiu em todo o Brasil e também em outros lugares do mundo.

A Santa Sé aprovou o milagre relativo ao Pe. Victor. Como é que este milagre foi recebido pela Santa Sé?

Dr. Paolo: Terminado o Processo na Fase Diocesana foi entregue todo o material processual à Congregação das Causas dos Santos, que procedeu ao estudo normal, até a promulgação do Decreto sobre o Milagre e, portanto, a sua aprovação.

 Com qual sentimento, também você, postulador da causa, recebe a notícia sobre a beatificação?

Dr. Paolo: Tendo acompanhado todo o processo do milagre não me surpreendi, mas, certamente, tive uma imensa alegria pelo resultado obtido. Já faz tempo que eu conhecia a figura do Beato Victor, conhecia já Três Pontas e a grande fama de santidade que tinha e poder dar essa notícia para a Diocese de Campanha foi uma honra e uma alegria infinita. Há muitos anos que todo o povo trespontano sonhava com este momento.

 E agora, como é procedimento até a canonização? O que falta?

Dr. Paolo: As atuais normas preveem que para a canonização seja necessário provar outro milagre que tenha acontecido depois da beatificação.

Um pouco da história do Pe. Victor, contada pelo Cardeal Dom Raymundo Damasceno e publicado pela Rádio Vaticano

Francisco de Paula Victor nasceu na cidade da Campanha (MG), no dia 12 de abril de 1827, e foi batizado em 20 de abril do mesmo ano pelo padre Antônio Manoel Teixeira. Era filho da escrava Lourença Maria de Jesus. O Santo bispo Dom Antônio Ferreira Viçoso, bispo de Mariana (MG), na época em que o estado de Minas todos era servido pela Igreja Mãe de Mariana, visitou a cidade da Campanha em 1848. Victor, então alfaiate, procurou Dom Viçoso e disse que tinha o desejo de ser padre. Com isso, ele entrou para o seminário de Mariana, onde foi aceito em 05 de junho de 1849.  
Mudou-se para Três Pontas em 14 de junho de 1852, como vigário encomendado e paroquiou na cidade por 53 anos. Era conhecido por sempre visitar doentes, amparar os inválidos e atender a população em suas necessidades. Além disso, fundou a escola "Sagrada Família”.
Victor faleceu no dia 23 de setembro de 1905. A notícia abalou a cidade e toda a região, que já o venerava. Após sua morte, ele ficou insepulto por três dias e o corpo do padre exalava perfume, segundo relatam. Ele foi enterrado na Igreja Matriz de Nossa Senhora D’Ajuda, que também foi construída por Padre Victor. Desde então, muitas pessoas declaram que o religioso intercedeu para que alcançassem seus pedidos e graças.
O memorial do Padre Victor, em Três Pontas, chega a receber até 10 mil visitas durante os dias de novena do religioso, comemorado, anualmente, em 23 de setembro. No local, é possível encontrar vestes litúrgicas usadas pelo padre, objetos de devoção ou utilizados no oficio de sacerdócio pelo religioso, além de uma imagem de Padre Victor.
A Santa Sé Apostólica marcou a data da festa de beatificação de Padre Victor, em Três Pontas (MG). Segundo o nosso amado irmão, o venerável Bispo da diocese da Campanha (MG), Dom Diamantino Prata de Carvalho, OFM, a beatificação acontecerá no dia 14 de novembro, às 16hs, no Campo de Aviação da cidade de Três Pontas.
A Santa Sé Apostólica reconheceu em julho deste ano um milagre atribuído à intercessão do Venerável sacerdote diocesano. O pedido foi feito pela professora Maria Isabel de Figueiredo, que não podia engravidar. Foram dois anos de tratamentos e muitas desilusões, até que ela pediu ajuda a Padre Victor durante uma novena em 2009. Um ano depois, a professora conseguiu engravidar de uma menina, contrariando todas as previsões médicas. Nhá Chica e Padre Victor representam, sem sombra de dúvida, um tributo a todos os afrodescentes que vivendo as dificuldades próprias do tempo da escravidão demostraram com a força invencível da fé que Deus quebra todos os grilhões. Nhá Chica a leiga forte que evangelizou. Padre Victor, o negro sacerdote, que edificou quebrando o preconceito pela sua cor e pela sua condição. Deus destrona os grandes e eleva os humildes. Agora a centenária e amada Diocese da Campanha doa a Igreja no Brasil dois santos que falam a linguagem do povo. Para o clero, Padre Victor, é a luz maravilhosa que nos chama a humildade, ao desprendimento e ao gastar a sua vida por todos os homens e mulheres de boa vontade. Pobre no meio dos pobres sempre em favor das periferias existenciais. Padre Victor fundou escolas, edificou hospitais e santificou pela coerência de vida. Não tinha vergonha de sua cor e edificou porque fez de sua pobreza material a riqueza do seu caráter e da sua santidade. Padre Victor entendeu a mentalidade agrícola e rural de seu tempo. Valorizou os trabalhadores rurais e os proprietários, pregando a harmonia e a justiça social.
Com a celebração, Padre Victor será o segundo beato do Sul de Minas. Em maio de 2013, Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica, foi beatificada em Baependi (MG), onde passou a vida. Que o exemplo de vida destes dois santos campanhenses nos ajudem a viver a santidade!

Fonte: Zenit.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Meu corpo, Minhas regras

Recentemente os brasileiros, sobretudo os internautas, tiveram acesso a um vídeo chamado: “Meu corpo, minhas regras”. O vídeo foi criado após uma polêmica envolvendo um filme chamado: “Olmo e a Gaivota”, que é um misto de documentário e ficção, onde se retrata o drama de uma atriz que se prepara para uma peça teatral e descobre que está grávida.
Tal filme, porém, tem passado por uma forte crítica, dentre outros fatores, por fazer uma radical defesa do aborto. Por causa disso, alguns atores, de uma das mais influentes emissoras de TV do Brasil, resolveram fazer um vídeo defendendo a tese de que o “aborto é uma opção da mulher e não um crime”. Tal vídeo, mais do que o próprio filme, gerou uma onda de protestos contra o aborto e os atores envolvidos. Portanto, não desejamos aqui aprofundar as críticas, mas apenas realizar seis afirmações.

1- O vídeo “Meu corpo, minhas regras” é simplório e se limita a repetir argumentos clássicos a favor do aborto, tipo: “o corpo é da mulher e ela tem o direito de abortar”, “só quem é contra o aborto são religiosos”, etc. Isso demonstra que, em tese, os grupos que defendem o aborto estão desatualizados, pois nas últimas décadas houve um grande avanço na ciência médica, na bioética, etc. Avanço que coloca em xeque ou simplesmente desmente todos esses argumentos.
 
2- Se o vídeo for levado a sério, teremos que forçadamente admitir que a gravidez é uma doença e o feto, o bebê no ventre a mãe, é um organismo maligno que precisa ser retirado o mais rápido possível. 

3-  O vídeo é preconceituoso. O motivo disso é que acusa os cristãos de serem os únicos culpados de existirem restrições ao aborto no Brasil. A questão é que todas as grandes tradições religiosas (judeus, islâmicos, etc) são contra o aborto. No entanto, os atores acusam apenas os cristãos.  Existe no vídeo um claro caso de descriminação religiosa, nesse caso discriminação contra os cristãos.

4- O vídeo pode ser enquadrado no que o filósofo Gilles Lipovetsky chama de a “ética indolor dos nossos dias”, onde as pessoas, nesse caso atores famosos e ricos, estão muito preocupadas com árvores, com ovos de tartarugas, com leões em algum lugar remoto da África, mas não se preocupam com a vida humana, não se preocupam com o próximo e com o vizinho. No mundo da antiética indolor, atores e intelectuais famosos e ricos fazem campanhas para salvar, por exemplo, ovos de tartarugas e para proteger leões marinhos, mas não conseguem enxergar e muito menos proteger as multidões escravas das drogas, que vivem nas “cracolândias” da vida, as multidões que vivem nos lixões ou as multidões de inocentes vítimas das clínicas de abortos.

5- Diante do vídeo: “Meu corpo, minhas regras”, é preciso ficar atento e até mesmo ter uma postura investigativa.

 Por que, afinal, atores, com altos salários, gravaram um vídeo agressivo defendendo o aborto? O que existe, afinal, por trás desse vídeo? É preciso ter coragem para desmascarar os interesses políticos, econômicos e ideológicos por trás de um vídeo com esse conteúdo. Esses atores não são pessoas inocentes defendendo a causa da morte. Pelo contrário, é gente bem paga, que sabe o que faz.
6- Por fim, é preciso constatar, com tristeza, que no atual modelo de sociedade o ser humano quase não tem valor. Dentro da antiética indolor, em que vivemos, o ser humano é a última espécie a ser observada, cuidada e protegida. E isso se aplica ao grupo humano mais frágil, ou seja, o bebê no ventre da mãe. A antiética indolor da sociedade atual está pouco se importando com os bebês. O problema é que os seres humanos não nascem das árvores ou de ovos de tartarugas. Os seres humanos nascem fruto da gravidez e da gestação. Bons tempos aqueles em que atores ricos e famosos defendiam a paz mundial ou o desarmamento. Hoje em dia eles defendem a antiética indolor, defendem o aborto e outras coisas da cultura da morte.

Ivanaldo Santos, Filósofo
E-mail: ivanaldosantos@yahoo.ccom.br.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Catequese do Papa sobre a convivência familiar

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje vamos refletir sobre uma qualidade característica da vida familiar que se aprende desde os primeiros anos de vida: o convívio, ou seja, a atitude de partilhar os bens da vida e de ficar feliz de poder fazer isso. Partilhar e saber partilhar é uma virtude preciosa! O seu símbolo, o seu “ícone” é a família reunida em torno da mesa doméstica. A partilha do alimento – e portanto, além disso, também dos afetos, dos relatos, dos acontecimentos… – é uma experiência fundamental. Quando há uma festa, um aniversário, nos reencontramos à mesa. Em algumas culturas é costume fazer isso também por luto, para estar próximo a quem está na dor pela perda de um familiar.

O convívio é um termômetro seguro para mensurar a saúde das relações: se em família há algo que não está bem, ou qualquer ferida escondida, à mesa se entende logo. Uma família que quase nunca come junto, ou em cuja mesa não se fala, mas se olha para a televisão, ou para o smartphone, é uma família “pouco família”. Quando os filhos, sentados à mesa, estão apegadas ao computador, ao telefone e não se escutam entre eles, isso não é família, é um pensionato.

O Cristianismo tem uma vocação especial ao convívio, todos sabem disso. O Senhor Jesus ensinava com prazer à mesa e representava o reino de Deus como um banquete festivo. Jesus também escolheu a mesa para entregar aos seus discípulos o seu testamento espiritual – fez isso na ceia – condensado no gesto memorial do seu Sacrifício: doação do seu Corpo e do Seu Sangue como Alimento e Bebida de salvação, que alimentam o amor verdadeiro e duradouro.

Nesta perspectiva, podemos bem dizer que a família é “de casa” na Missa, justamente porque leva à Eucaristia a própria experiência de convívio e a abre à graça de um convívio universal, do amor de Deus pelo mundo. Participando da Eucaristia, a família é purificada da tentação de se fechar em si mesma, fortificada no amor e na fidelidade e alarga os confins da própria fraternidade segundo o coração de Cristo.

Nesse nosso tempo, marcado por tantos fechamentos e por tantos muros, o convívio, gerado pela família e dilatado pela Eucaristia, se torna uma oportunidade crucial. A Eucaristia e as famílias por ela alimentadas podem vencer os fechamentos e construir pontes de acolhimento e de caridade. Sim, a Eucaristia de uma Igreja de famílias, capaz de restituir à comunidade o fermento ativo do convívio e da hospitalidade recíproca, é uma escola de inclusão humana que não teme confrontos! Não há pequenos, órfãos, frágeis, indefesos, feridos e desiludidos, desesperados e abandonados que o convívio eucarístico das famílias não possa alimentar, restaurar, proteger e hospedar.

A memória das virtudes familiares nos ajuda a entender. Nós mesmos conhecemos quantos milagres podem acontecer quando uma mãe tem olhos e atenção, carinho e cuidado para os filhos dos outros, além de fazer isso para os próprios. Até ontem, bastava uma mãe para todas as crianças do quintal! E ainda: sabemos bem quanta força conquista um povo cujos pais estão prontos para se mover e proteger os filhos de todos, porque consideram os filhos um bem indiviso, que estão felizes e orgulhosos de proteger.

Hoje muitos contextos sociais colocam obstáculos ao convívio familiar. É verdade, hoje não é fácil. Devemos encontrar o modo de recuperá-lo. À mesa se fala, à mesa se escuta. Nada de silêncio, aquele silêncio que não é silêncio dos monges, mas é o silêncio do egoísmo, onde é cada um por si, na televisão ou no computador…e não se fala. Não, nada de silêncio. É preciso recuperar aquele convívio familiar adaptando-o aos tempos. Parece que o convívio se tornou uma coisa que se compra e se vende, mas assim é uma outra coisa. E o alimento não é sempre o símbolo de justa partilha dos bens, capaz de alcançar quem não tem nem pão nem afetos. Nos países ricos somos induzidos a gastar para uma alimentação excessiva e depois o somos de novo para remediar o excesso. E esse “negócio” insensato desvia a nossa atenção da verdadeira fome, do corpo e da alma. Quando não há convívio há egoísmo, cada um pensa em si mesmo. Tanto é que a publicidade reduziu o convívio a uma preferência por lanches rápidos e desejo de docinhos. Enquanto tantos, muitos irmãos e irmãs, permanecem fora da mesa. É um pouco vergonhoso!

Olhemos para o mistério do banquete eucarístico. O Senhor parte o seu Corpo e derrama o seu Sangue por todos. Realmente não há divisão que possa resistir a esse sacrifício de comunhão; somente a atitude de falsidade, de cumplicidade com o mal pode excluir disso. Qualquer outra distância não pode resistir ao poder indefeso deste pão partilhado e desse vinho derramado, Sacramento do único Corpo do Senhor. A aliança viva e vital das famílias cristãs, que precede, apoia e abraça no dinamismo da sua hospitalidade os cansaços e as alegrias cotidianas, coopera com a graça da Eucaristia, que é capaz de criar comunhão sempre nova com a sua força que inclui e que salva.
A família cristã mostrará justamente assim a amplitude do seu verdadeiro horizonte, que é o horizonte da Igreja Mãe de todos os homens, de todos os abandonados e os excluídos, em todos os povos. Rezemos para que esse convívio familiar possa crescer e amadurecer no tempo de graça do próximo Jubileu da Misericórdia.

Tradução Canção Nova Notícias