Vimos anteriormente que “imagem” é uma noção mais perfeita do que a de “semelhança”(Cfr aqui e aqui) . A primeira se refere a qualquer qualidade presente em dois seres; a segunda se refere a uma semelhança derivante da imitação do primeiro ser. A imagem de um espelho procede de quem foi refletido nele, enquanto uma estátua pode ser semelhante a outra sem ser imagem daquela.
A afirmação de que o homem (e também os anjos) foi criado “à imagem” de Deus se refere à sua natureza intelectual. Porém, se é assim, o pecado destrói a “imagem” ou a “semelhança” do homem com Deus? Parece que a imagem não pode ser destruída pelo pecado, visto que ela se refere à natureza intelectual do homem, o qual permanece inteligente mesmo se viver no pecado; a semelhança, porém, está sempre inserida na noção de imagem e não pode ser manchada sem afetar também à imagem.
A pergunta dá a ocasião de penetrar ainda mais na compreensão da noção de “imagem”. Em primeiro lugar, certamente o homem foi feito à imagem de Deus, significando a sua natureza intelectual, a qual não se perde com o pecado. O pecado original causou uma ferida na inteligência humana, de modo que agora o conhecimento humano é difícil, e não está isento da possibilidade do erro. Porém, a natureza intelectual humana não está corrompida, e pode conhecer com dificuldades e fadigas.
Num segundo sentido, porém, a inteligência do homem pode imitar a Deus, sendo sua imagem de modo mais perfeito. Isso ocorre quando o homem conhece e ama a Deus, o qual sempre conhece e ama a si mesmo. Conhecendo e amando a Deus, o homem chega ao máximo da sua perfeição e ao máximo da semelhança com Ele.
De modo que a imagem de Deus no homem pode ser considerada segundo três aspectos:
a) Segundo a aptidão natural humana para conhecer e amar a Deus. Isso é comum a todos os homens e consiste na mesma natureza da sua mente; e essa não pode ser destruída pelo pecado;
b) Enquanto o homem conhece e ama a Deus de modo habitual (ou seja, constantemente) ou atual (em determinados atos), mas não ainda perfeito. Isso representa a “imagem” do homem e Deus devida à conformidade com a graça divina, a qual só ocorre na vida presente e pode ser perdida;
c) A imagem de Deus no homem pode ser considerada ainda enquanto ele conhece e ama a Deus de modo atual e perfeito. Essa é a semelhança da glória, ou seja, da vida eterna com Deus que jamais ser destruída.
Sendo assim, existem três formas de se compreender a “imagem” do homem em Deus: segundo a obra da criação, segundo a recriação e segundo a semelhança na glória. A primeira se dá em todos os homens, a segunda se dá nos justos na vida presente e a terceira se dá nos bem-aventurados na glória.
O pecado, portanto, destrói no homem a “imagem” de Deus entendida como justiça na vida presente. Essa é a vida de amor por Deus, que está presente de modo habitual no homem que vive em graça. A graça concede ao homem a virtude teologal da caridade. O pecado destrói essa “imagem” do homem: a vida de caridade na vida presente. Não destrói, porém, sua natureza intelectual, nem pode destruir o amor do homem bem-aventurado, ou seja, daquele que vive com Deus nos Céus.
Fonte: Zenit.
Nenhum comentário:
Postar um comentário