sexta-feira, 31 de julho de 2015

Ucrânia: assassinados dois religiosos ortodoxos

Continuam os homicídios contra religiosos na Ucrânia. Neste 29 de julho, segundo a União das Confraternidades Ortodoxas dos Cristãos da Ucrânia, foi encontrada assassinada no convento de Florovsky, em Kiev, a irmã Alevtina.
Um porta-voz comenta: "Sabemos que, faltando água quente no convento, a freira tinha ido a um apartamento de familiares na cidade para tomar banho e se preparar para uma cirurgia. Mais tarde, um sobrinho encontrou o corpo com as mãos amarradas e indícios de tortura". A freira tinha 62 anos.
La Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscou registra assim a segunda morte no mesmo dia: de manhã, um sacerdote de 40 anos da Igreja de Santa Tatiana, em Kiev, o padre Roman Nikolayev, morreu em decorrência do atentado a tiros que tinha sofrido na semana precedente.

Fonte: Zenit.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Nossa Senhora Aparecida. Quem é?

Santa Maria, a mãe de Jesus, é muito conhecida no Brasil sob o título de “Nossa Senhora Aparecida”. Vamos entender esta designação mariana. “Nossa Senhora”, porque a virgem Maria é piedosamente aclamada de correndentora, ao lado do redentor, Jesus Cristo, “nosso Senhor”. A palavra “Aparecida” não é nome próprio; trata-se do particípio passado do verbo “aparecer”, uma vez que no longínquo ano de 1717, durante uma famosa pesca no Rio Paraíba, “apareceu” na rede uma estatueta de Maria santíssima.
Nossa Senhora Aparecida, ou simplesmente Maria é uma leiga; nasceu há uns 2 mil anos. Ela é a única pessoa, salvo Jesus, que não foi atingida pelo pecado original (dogma da imaculada conceição). Por conseguinte, é possível que nossa Senhora Aparecida jamais tenha passado pela morte (dormição de Maria).
A padroeira do Brasil, nossa Senhora Aparecida, se encontra no paraíso, com certeza de corpo e alma (dogma da assunção), donde medeia todas as graças. Abaixo de Deus (Santíssima Trindade) e acima das criaturas inteligentes (seres humanos e anjos), contemplamos essa mulher maravilhosa. Com efeito, o papa Francisco, discorrendo sobre as funções na Igreja, afirmou que “uma mulher, Maria, é mais importante do que os bispos”(“Evangelii Gaudium”, 104).
A leiga nossa Senhora Aparecida, genitora do Filho de Deus, venerada como “mãe puríssima” e “mãe castíssima”, em algumas prováveis aparições (não se cuida de domgma de fé) , sobretudo em Lourdes e em Fátima, comunica só a doutrina do evangelho. 
Que nossa Senhora Aparecida, a mãe de Deus, rogue por nós!

Fonte: Zenit.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Nossa Senhora Aparecida no samba?

Segundo a imprensa noticiou recentemente, certa escola de samba da cidade de São Paulo manifestou o interesse de “homenagear” nossa Senhora Aparecida no carnaval de 2017, quando serão comemorados os 300 anos da invenção (descoberta) de uma imagem de Maria santíssima no Rio Paraíba.
Por mais bem-intencionados que estejam os carnavalescos, o carnaval, festa pagã por excelência, não se compagina com a pureza de santa Maria. Como conciliar a sensualidade inerente ao carnaval com a castidade da mãe de Jesus, virgem antes, durante e depois de parir o salvador do mundo?
Nossa Senhora Aparecida não é simplesmente “patrimônio” da cultura popular; ela é um ser humano, que vive no céu com os bem-aventurados, donde medeia todas as graças. A devoção à padroeira do Brasil pertence, isto sim, à religiosidade popular.
Há alguns anos, sua eminência, dom Eugênio Salles, de saudosa memória, proibiu que uma escola de samba do Rio de Janeiro levasse à avenida uma imagem do Cristo Redentor, porque não se pode misturar o sagrado com o profano, principalmente no carnaval, notoriamente conhecido pela lascívia e pelos excessos de variegado jaez.
Se se permitir o descalabro dessa “homenagem”, provavelmente veremos no sambódromo paulistano bandeirolas e estatuetas da virgem Maria, rodeadas pela nudez e seminudez próprias desses desfiles. Um absurdo completo! Além de o carnaval lembrar a luxúria, contemporaneamente, ele está atrelado também ao luxo, à suntuosidade, circunstâncias que não têm nada a ver com a pobreza de uma manjedoura, onde santa Maria deitou o Deus recém-nado.
O local idôneo para homenagearmos a mãe de Deus, principalmente na efeméride dos 300 anos do achado da estatueta, é no claustro do templo, lugar santo e casto. Igualmente no nosso coração, devemos render graças a Deus por nos ter concedido uma mãe tão doce, tão humilde e portentosa intercessora.
Deixemos o carnaval para os foliões e roguemos a nossa Senhora Aparecida que intervenha a favor deles diante de Jesus, a fim de que não haja nenhuns males nos próximos carnavais, mas apenas saudáveis divertimentos.

Fonte: Zenit.

terça-feira, 28 de julho de 2015

EUA: 3,3 milhões de dólares para as igrejas latino-americanas

A Igreja dos EUA tende uma mão para aqueles latino-americanos. Graças a um orçamento de 3,3 milhões de dólares, a Conferência Episcopal dos EUA vai financiar 228 projetos aprovados pela Subcomissão para a Igreja na América Latina e no Caribe e destinados a promover a evangelização, a comunicação, a formação de catequistas e leigos as atividades nos oratórios.
As obras abrangerão um pouco 'todos os países da América Latina, com foco na Colômbia, Peru, Haiti, México e Equador.
Haiti receberá 346 mil dólares para 32 projetos pastorais, além de outros 580 mil dólares para a reconstrução das infra-estruturas ligadas à Igreja do Haiti, após o terremoto de 2010.
Outros projetos, como o da Arquidiocese de Cali, Colômbia, pretendem promover a identidade cultural dos mestiços e dos afro-descendentes, enquanto a diocese de Manágua, Nicarágua, vai continuar a receber fundos para consolidar o seu programa de formação em pastoral na linguagem dos sinais, para atender os fiéis com deficiências auditivas.

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Quem de nós não tem seus "cinco pães e dois peixes"?

Queridos irmãos e irmãs, bom dia.
O Evangelho deste domingo (João 6,1-15) apresenta o grande sinal da multiplicação dos pães, na narrativa do evangelista João. Jesus está na margem do lago da Galileia, circundado por "uma multidão", atraída pelos "sinais que Ele realizava em benefício dos enfermos" (v. 2). Nele age o poder misericordioso de Deus, que cura de todos os males do corpo e do espírito. Mas Jesus não é apenas quem cura, ele também é mestre: ele sobe a montanha e senta-se, na atitude típica do professor quando ensina:  na "cátedra" natural criada por seu Pai Celestial. Neste momento, Jesus, que sabe bem o que deve fazer, testa seus discípulos. O que fazer para alimentar todas estas pessoas? Filipe, um dos Doze, faz um cálculo rápido: organizando uma coleta, se poderá obter no máximo de duzentos denários para comprar pão, que, todavia, não seriam suficientes para alimentar cinco mil pessoas.
Os discípulos raciocinam em termos de "mercado", mas Jesus substitui a lógica do comprar por aquela do dar. Em seguida, André, outro dos Apóstolos, irmão de Simão Pedro, apresenta um menino que coloca à disposição tudo o que tem: cinco pães e dois peixes; mas - diz André - não são nada para aquela multidão (cf. v. 9). Jesus esperava justamente isso: Ordena aos discípulos que acomodem as pessoas, depois toma aqueles pães e aqueles peixes, dá graças ao Pai e os distribuiu (cf. 11 v.). Esses gestos antecipam os da Última Ceia, que dão ao pão de Jesus o seu significado verdadeiro. O pão de Deus é o próprio Jesus. Fazendo a comunhão com Ele, recebemos a sua vida em nós e nos tornamos filhos do Pai Celeste e irmãos entre nós. Fazendo a comunhão nos encontramos com Jesus realmente vivo e ressuscitado! Participar da Eucaristia significa entrar na lógica de Jesus, a lógica da gratuidade, da partilha. E por mais que sejamos pobres, todos nós podemos dar algo. "Fazer Comunhão" significa também obter de Cristo a graça que nos torna capaz de partilhar com os outros o que somos e o que temos.
A multidão fica impressionada com o milagre da multiplicação dos pães; mas o dom que Jesus oferece é a plenitude de vida para o homem faminto. Jesus não satisfaz apenas a fome material, mas aquela mais profunda, a fome do sentido de vida, a fome de Deus. Diante do sofrimento, da solidão, da pobreza e das dificuldades de tantas pessoas, o que podemos fazer? Lamentar-se não resolve nada, mas podemos oferecer o pouco que temos, como o menino no Evangelho. Nós certamente temos algumas horas de tempo, algum talento, alguma competência... Quem de nós não tem seus "cinco pães e dois peixes"? Todos nós temos! Se estamos dispostos a coloca-los nas mãos do Senhor, bastará para que no mundo haja um pouco mais amor, de paz, de justiça e, sobretudo, de alegria. Como é necessária alegria no mundo! Deus é capaz de multiplicar os nossos pequenos gestos de solidariedade e tornar-nos partícipes do seu dom.
Que a nossa oração sustente o empenho comum para que nunca falte a ninguém o Pão do céu que doa a vida eterna e o necessário para uma vida digna, e se afirme a lógica da partilha e do amor. A Virgem Maria nos acompanhe com a sua materna intercessão.


(Depois do Angelus)

Queridos irmãos e irmãs,
Hoje, abrimos as inscrições para a Trigésima Primeira Jornada Mundial da Juventude, que será realizada no próximo ano na Polônia. Eu mesmo quis abrir as inscrições e por isso eu trouxe um menino e uma menina, para estarem comigo no momento de abrir as inscrições, aqui na frente de vocês. E acabo de me inscrever na Jornada como um peregrino mediante um dispositivo eletrônico. Celebrada durante o Ano da Misericórdia, esta Jornada será, em certo sentido, o jubileu da juventude, chamada a refletir sobre o tema "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (Mt 5,7). Convido os jovens de todo o mundo a viver esta peregrinação seja indo a Cracóvia, seja participando deste momento de graça nas próprias comunidades.
Daqui a alguns dias, se recordará o segundo aniversário desde que, na Síria, padre Paolo Dall’Oglio foi sequestrado. Dirijo um aflito e forte apelo pela libertação deste estimado religioso. Não posso esquecer também dos Bispos Ortodoxos sequestrados na Síria e todas as outras pessoas que, nas regiões de conflito, foram sequestradas. Faço votos por um renovado compromisso das autoridades locais e internacionais competentes, para que a esses nossos irmãos seja em breve restituída a liberdade. Com afeto e participação a seus sofrimentos, queiramos recordá-los na oração e rezamos todos juntos a Nossa Senhora: Ave Maria...
Saúdo todos, peregrinos da Itália e de outros países. Saúdo a peregrinação internacional das Irmãs de São Félix, os fiéis de Salamanca, os jovens de Brescia que estão fazendo um serviço na cozinha da Caritas de Roma, e os jovens de Ponte San Giovanni (Perugia).
Hoje 26 de julho, a Igreja recorda o Santos Joaquim e Ana, os pais da Bem-Aventurada Virgem Maria, e avós de Jesus. Nesta ocasião, gostaria de saudar todas as avós e avôs, agradecendo-lhes por sua preciosa presença nas famílias e para as novas gerações. A todos os avós vivos, e também aqueles que nos olham do céu, saudamos com um grande aplauso
Desejo a todos um bom domingo. E por favor não se esqueçam de rezar por mim. Bom almoço e até breve!

Fonte: Zenit.

domingo, 26 de julho de 2015

Uma carta do Inferno

Se o grande autor cristão C. S. Lewis estivesse vivo hoje, talvez pudesse acrescentar ao seu belo livro “Cartas de um Diabo a seu Aprendiz” uma carta mais ou menos assim:

Meu caro diabinho aprendiz,
A banalidade do mal é um aspecto da nossa realidade que os seres humanos contemplam pouco, mas que nos é extremamente útil. Precisamos explorá-lo cada vez mais.
De fato, se fizéssemos uma leitura com olhos demoníacos do capítulo 3 do Livro do Gênesis, o célebre trecho da tentação de Adão e Eva pela serpente, nosso mestre diabólico maior, no Paraíso, surpreenderíamo-nos com a banalidade do gesto ali descrito: um animalzinho falante oferece uma fruta apetitosa ao casal, e o casal come. Descobrem que estão nus, vestem-se com folhas de figueira e escondem-se, envergonhados com a própria nudez, ao ouvirem os passos de Deus que se aproximava. E isto é tudo: um animalzinho, uma pequena mordida numa fruta apetitosa. E eis o mal instalado no mundo, eis o fim do paraíso, eis a humanidade inteira irremediavelmente comprometida (pelo menos até a redenção em Cristo) pela ferida hereditária do pecado original. Veja como a banalidade do mal é eficiente! E como, diante dela, a reação de Deus parece desproporcional e arrogante!
Como seria fácil até para um humano bem treinado em técnicas jurídicas de tribunal, se devidamente inspirado por um de nós, distorcer a reação aparentemente desproporcional de Deus à banalidade do gesto dos primeiros humanos, de modo a fazer com que pareça desproporcional e autoritária: por que excluir todo o gênero humano do Paraíso por causa de uma mordidinha numa fruta? Uma fruta que, diga-se de passagem, foi criada pelo próprio Deus, e por ele feita apetitosa aos olhos de sua criatura. Não é difícil a um argumentador treinado em retórica jurídica transformar Deus no grande culpado pelo que ocorreu nessa passagem bíblica; as criaturas, Adão e Eva, sem esquecer a serpente, não pediram para ser criadas. Não escolheram morar num paraíso em que uma das frutas lhe era proibida. Além disso, Deus não se comporta como um burguês egoísta, um capitalista possessivo, ao negar ao primeiro casal justo o fruto da árvore que “está no meio do jardim”? E o princípio da proporcionalidade, não estaria desatendido quando, por causa de uma frutinha, Deus condena a serpente a “caminhar sobre seu ventre e comer poeira todos os dias”, sem possibilidade de livramento condicional? Não seria machista, ao condenar somente Eva às dores do parto e a ser dominada pelo marido? Não seria explorador do proletariado ao condenar Adão a extrair seu sustento “com o suor do rosto”, expulsá-lo do Paraíso e retirar dele o acesso à Árvore da Vida, condenando-o, ademais, à crudelíssima “pena de morte”, que nossas sociedades já não admitem no atual estágio de civilização? Ademais, com um gesto militarista, põe à entrada do Paraíso seus “policiais militares”, os querubins com suas espadas em chamas fulgurantes.
Restar-nos-ia apenas convencer à humanidade contemporânea que a única postura adequada das criaturas hoje seria, então, a justa revolta contra um Deus arbitrário, arrogante, machista, patrimonialista e cruel, desproporcionado em sua reação e autoritário em seu agir. E assim, o nosso argumento infernal poderia prosseguir: incentivarmos o ser humano a progredir no sentido da sua própria “libertação” frente a um Deus assim: desconstruir a fé! Incentivemos as pessoas a repetir, todos os dias, os gestos mais banais para demonstrar sua independência, sua autonomia frente a Deus e à religião, para expulsar da sua vida, num gesto humano de resposta à altura, esse mesmo Deus que um dia os expulsou do Paraíso.
E com base nesse mesmo raciocínio, vamos conclamar todos os diabos a propor, hoje, como solução para todas as misérias humanas, a progressiva liberação das drogas, o aborto primeiro como exceção, depois como regra, a eutanásia, o divórcio, a pornografia, a promiscuidade, o sexo casual e o descompromisso afetivo, o consumismo desenfreado e a ostentação, a mutilação vaidosa do próprio corpo, a acumulação de riquezas e poder, tudo com a marca da banalidade que é muito própria do mal. Assim, digamos aos humanos: que mal há num divórcio, se as pessoas estão apenas buscando a própria felicidade ao romper uma família que já não lhes era mais agradável? E a miséria social se abate muito mais duramente contra uma família empobrecida, sem emprego, sem pai ou sem mãe, numa economia atravessada pela ambição desmedida! Quando Já não houver quem derrame lágrimas quando as famílias se desfazem assim, diremos a eles, estaremos numa sociedade evoluída, livre de Deus e seus dogmas insuportáveis. Que mal há, digamos a eles, quando alguém mata no útero um pequeno bebê de semanas? Tudo em nome da “libertação da mulher”! Quando já não houver lágrimas por ele, visto como um “pequeno amontoado de células” que parasita o corpo da mulher, que deve ser eliminado como um manifesto de liberdade feminina contra o velho castigo do Paraíso, seremos vitoriosos. Ah, quão doce para nós é ver um bebê arrancado de sua mãe verdadeira e biológica, sob os aplausos da grande imprensa mundial, em favor de quem “alugou seu útero”, aproveitando-se da sua mais absoluta miséria: incapaz de ter um filho como fruto de amor, natural ou adotado, alguém decidiu tê-lo como fruto de dinheiro. Arrancar filhos dos braços das mães em lugares paupérrimos para entregá-los a endinheirados de países prósperos já foi considerado pela maior parte da humanidade como um gesto abominável de escravização. Hoje, graças ao nosso trabalho, é vanguarda comportamental. Seu filho traz na mochila um pouco de droga, e você está escandalizado? Tolo moralista. Digamos a eles: os governos malvados e opressores usam a questão da droga para fazer a polícia reprimir os pequenos prazeres juvenis! Não são tantos grandes artistas, muitas vezes inspirados por nós abertamente, os grandes ícones da rebeldia drogada? Seu filho é um inconformista, um vanguardista. Por outro lado, se ele está viciado, diremos que já não tem jeito, abandone-o e pronto! Despreze o seu filho que cai, despreze seu familiar que cai, destrua seu lar e vá em busca de seu próprio prazer!
Eduquemos, com as nossas hordes infernais, as próximas gerações, para que todos os prazeres sejam permitidos, e as velhas repressões e preconceitos dos tolos crentes sejam superados. Usaremos os avanços que Deus (nosso adversário) permite e inspira nas ciências médicas e químicas para convencer aos humanos que os limites humanos serão curados pelas ciências, e que reconstruir a Árvore da Vida que o velho Deus guardou no seu Paraíso, sem precisar do próprio Deus, é só uma questão de tempo. Vamos convencer que é necessário dar acesso pleno aos recursos políticos, econômicos e sociais aos de nossos partidos, para que possamos construir a justiça na terra com meios estritamente humanos (se trabalharmos bem os políticos, isso parecerá possível a eles), pela rejeição de qualquer menção a Deus nos espaços públicos. E quem dentre os humanos levantar dúvidas contra o nosso plano, que será proposto como um plano “libertador” em favor de todos os humanos, será tachado de retrógrado, supersticioso, egoísta, antidemocrático e obscurantista.
Para que tudo isto? Ora, quando eles renunciarem a Deus completamente, já não haverá quem os proteja de nós. Serão nossos escravos eternos. Ora, meu pequeno aprendiz diabólico, será que você não leu a Bíblia? Não conhece a Tradição da Igreja? Não viu que aquele gesto de expulsão do Paraíso foi só o início de uma história de salvação absolutamente eficaz contra nós? Sim, vou te lembrar, apesar do asco que esta história causa em nós, demônios: a partir daquela queda, Deus enviou seu próprio Filho para que nós já não pudéssemos fazer de novo com os seres humanos o que um dia fizemos com Adão e Eva: prometer-lhes o que jamais poderíamos dar, em troca da renúncia ao amor de Deus. Prometemos o poder e a eternidade, mas o que temos para dar? Só escravidão e morte...
Quem nunca testemunhou essa banalidade do mal em suas próprias vidas? Não falo aqui daqueles, tantos de nós, que, muitas vezes movidos por escolhas desacertadas, praticaram estas coisas e merecem todo nosso apoio e compaixão para superá-las. Falo, isto sim, daqueles que estão lutando para transformar tantos males, estes e outros, em políticas públicas, com o argumento de que na verdade são apenas pequenos males que, se praticados, gerarão enormes bens. A maior força destes consiste em nos fazer pensar que a nossa luta pelo bem é apenas uma resposta desproporcional e injusta aos pequenos males que eles querem nos impor em troca do grande “bem” que as suas políticas estragadas prometem falsamente em nome de um suposto futuro melhor. Esta foi a estratégia da serpente no Paraíso. Esta ainda é o comentário que frequentemente escutamos quando nos opomos publicamente a alguma dessas políticas que São João Paulo II um dia chamou de “cultura da morte”.

Fonte: Zenit.

sábado, 25 de julho de 2015

Para o Papa, "o futuro da Igreja está na Ásia"

O cardeal Luis Antonio Tagle, arcebispo de Manila, falou sobre uma conserva que teve com o Papa Francisco, o qual teria afirmado: “O futuro da Igreja está na Ásia”.
De acordo com o que informa Asia News, o prelado filipino revelou as palavras do Papa durante uma coletiva de imprensa organizada pelo Pontifício Ateneu de Filosofia, Teologia e Direito Canônico de Bangalore, na Índia.
Em seu discurso, o Cardeal Tagle declarou ter se encontrado recentemente com o Santo Padre para discutir a sua nomeação como chefe da Caritas Internationalis e da Federação Bíblica Católica. Tagle pediu para ser retirado do seu cargo, mas o Pontífice recusou dizendo que o quer um asiático, porque “o futuro da Igreja está na Ásia”.
"Não é uma questão de honra. É um desafio, uma profecia ou um grande chamado? Não sabemos. Mas é certamente uma questão de grande responsabilidade, uma grande missão", disse o cardeal.
A Igreja na Ásia, acrescentou, "leva a sério a nossa missão e está à procura de métodos que nos permitam dar uma contribuição à Igreja mundial, em termos de reflexão, pesquisa e prática".
O cardeal Tagle disse que a Igreja está se concentrando em continentes como a África, Ásia e Oceania, em "locais de grande sofrimento e dor, que se tornaram o centro de gravidade da vida e da reflexão da Igreja”.


Fonte: Zenit.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Boko Haram perpetra novos ataques

Os territórios de Camarões e da Nigéria voltam a ficar tingidos de sangue. Nesta quarta-feira, dois ataques reivindicados pelo grupo terrorista Boko Haram mataram mais de 50 pessoas. O primeiro ataque foi registrado em Moroua, norte de Camarões, e o outro em Gombe, nordeste da Nigéria. Os ataques parecem ser a resposta do Boko Haram à nova e vasta operação militar lançada contra o bando pelos exércitos de Nigéria, Níger, Chade, Camarões e Benin.

Duas meninas menores de 15 anos foram as autoras do primeiro ataque. Elas se explodiram no mercado central de Maroua, Camarões, cidade a 100 quilômetros da fronteira com a Nigéria. Fala-se de 11 mortos e 32 feridos. Em 12 de julho, na cidade de Fotokol, também nos Camarões, duas mulheres totalmente cobertas por véu tinham se explodido, matando 11 pessoas. A partir de então, as autoridades da Região Extremo Norte do país proibiram as mulheres de usarem véu sobre o rosto inteiro.

Já na Nigéria, duas bombas foram explodidas em Gombe. A falta de energia elétrica na área tornou até agora impossível determinar se foi um ataque suicida ou não. Houve pelo menos 30 vítimas, que se somam aos 49 mortos pelo ataque do Boko Haram contra o mercado da mesma cidade em 16 de julho.

Até agora, a organização terrorista causou pelo menos 15.000 mortes por ataques e atentados suicidas, que, começados na Nigéria, estão acontecendo cada vez mais também em Camarões, Chade e Níger. A guerra entre o exército nigeriano e o Boko Haram chegou a uma fase muito intensa. O presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, ordenou ao general Tukur Buratai a missão de derrotar as milícias islâmicas responsáveis por tantas atrocidades.

Fonte: Zenit.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Adiada execução da cristã paquistanesa acusada de blasfêmia

O apelo contra a sentença de Asia Bibi, uma mulher cristã condenada à morte por blasfêmia, foi aceito pelo Supremo Tribunal do Paquistão. A medida foi anunciada por seu advogado.
Quarenta e quatro anos, mãe de cinco filhos, Asia Bibi está no corredor da morte desde 2010 por supostamente insultar o profeta Maomé depois de uma discussão com duas muçulmanas que a acusaram de contaminar a água que bebiam por ser cristã.  A sentença de morte foi confirmada em outubro passado pelo Supremo Tribunal de Lahore, capital da província de Punjab, localidade onde aconteceu o evento. Hoje, três juízes do Supremo Tribunal de Lahore concordaram em considerar o apelo. Enquanto isso, a condenação a pena de morte está suspensa.
Conforme relatado pela agência de notícias Fides, estava presente no tribunal, Joseph Nadeem, chefe da "Renaissance Education Foundation", que trata das despesas legais e ajuda a família da Asia. Ele disse à agência que a audiência teve lugar em uma atmosfera calma e que não havia líderes religiosos islâmicos ou extremistas muçulmanos presentes no tribunal. Nadeem disse: "O que aconteceu hoje é um importante passo adiante. Estamos muito satisfeitos. Agora é a hora de rezar ao Senhor para ‘amolecer’ os corações das pessoas envolvidas no caso, incluindo os juízes, rezar para que a justiça seja feita e Asia seja libertada. Rezemos para que Asia seja cada vez mais fortalecida pela graça do Espírito Santo. E rezemos por sua libertação".

Fonte: Zenit.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

O Papa aos prefeitos do mundo: ‘Criar consciência sobre a ecologia humana'

O Santo Padre Francisco participou nesta terça-feira à tarde do encontro sobre mudança climática e escravidão, no qual dirigiu-se a mais de sessenta prefeitos que vieram de várias partes do mundo. Durante o seu discurso aos participantes, pronunciado em espanhol, analisou as duas emergências tratadas ao longo do dia.
A cultura do cuidado ao meio ambiente não é uma atitude somente “verde”, garantiu o Papa, é “muito mais”. Por isso, esclareceu que cuidar do meio ambiente significa ter uma atitude de ecologia humana. A ecologia “é total, é humana”, disse. Dessa forma, o Santo Padre explicou que na encíclica Laudato Si’ não é possível separar o homem do resto”.
Por outro lado, o Pontífice sublinhou “o efeito de rebote que existe contra o homem quando o ambiente é maltratado”. O Papa, além do mais, garantiu que a sua encíclica não é "verde", mas social, observando que cuidar do meio ambiente é "uma atitude social".
Sobre a reunião que está acontecendo, Francisco indicou que pareceu-lhe uma ideia muito fecunda convidar os prefeitos. Porque, advertiu o Papa, “uma das coisas que mais se nota quando o ambiente não é cuidado, é o crescimento desmedido das cidades. É um fenômeno mundial”. Assim, explicou, que “são como cabeças crescem, mas cada vez com cinturões de pobreza e miséria maiores”.
As pessoas sofrem os efeitos da negligência ambiental, explicou. "E neste sentido está envolvido o fenômeno da migração”, acrescentou. Por que as pessoas vêm para as grandes cidades?, perguntou o Papa. "Porque o mundo rural já não lhes dá oportunidades".
Em seguida, mencionou outro ponto que está na encíclica e que denuncia, com muito respeito, a idolatria da tecnocracia. Algo que "leva a tirar o trabalho, que cria o desemprego", alertou Francisco, denunciando o desemprego juvenil que afeta muitos países europeus.
Qual horizonte, qual futuro é oferecido a estes jovens? Sobre isso, advertiu sobre os riscos que correm de cair nos vícios, no tédio ao não saber o que fazer da sua vida, no suicídio, ou envolver-se em projetos de guerrilhas que oferecem um ideal de vida.
Também denunciou a quantidade de "doenças raras" que surgem por causa do excesso da tecnificação. E alertou sobre a desertificação e desmatamento de algumas áreas do planeta. E todos esses fenômenos desembocam “no trabalho escravo”. O não ganhar o suficiente para poder viver pode provocar atitudes delitivas, sublinhou. A este respeito, voltou a condenar o trabalho escravo e a prostituição como "fonte de trabalho para sobreviver".
Por outro lado, o Papa disse que tem esperança na cúpula de Paris, que será celebrada no final deste ano para que “consiga algum acordo fundamental básico”. As Nações Unidas – insistiu – têm que interessar-se fortemente neste fenômeno.
O Santo Padre apresentou duas formas de incultura. Em primeiro lugar “a incultura que Deus nos deu para transformá-la em cultura” e a segunda é “quando o homem não respeita a relação com a Terra”. Para colocar um exemplo falou da energia atômica, “é boa, pode ajudar”, observou, mas existe a parte negativa desta energia, como "Hiroshima e Nagasaki".
Para concluir seu discurso, o Santo Padre recordou a responsabilidade que os presentes têm para combater o tráfico de pessoas e proteger o meio ambiente. “O trabalho mais sério e profundo se faz da periferia para o centro, explicou. Ou seja, “a partir de vocês para a consciência da humanidade”.

Fonte: Zenit.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Edições CNBB publica o Instrumentum Laboris do Sínodo dos Bispos sobre a Família

O Instrumentum Laboris do Sínodo dos Bispos sobre a Família, a ser realizado em Roma, em outubro próximo, pode ser adquirido em português pelas Edições CNBB com o título “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.
O presente documento de trabalho reporta à Relatio Synodi – texto conclusivo do Sínodo Extraordinário do ano de 2014 – e integra os contributos provenientes das respostas ao questionário que foi proposto às dioceses. O documento está dividido em três partes: a escuta dos desafios sobre a família, o discernimento da vocação familiar e a missão da família hoje.
Coloca em evidência a família como pilar da sociedade, o matrimônio como um sacramento indissolúvel e dedica uma especial atenção para os divorciados recasados, concluindo com uma chamada de atenção para o Jubileu da Misericórdia que terá início no próximo dia 8 de dezembro, à luz do qual se coloca este Sínodo.

Para adiquirir acesse: www.lojacnpf.org.br

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Papa no Angelus: Jesus vê sempre com “os olhos do coração”

Queridos irmãos e irmãs, bom dia! Vocês são corajosos porque com este calor estão aqui na praça, parabéns!

O Evangelho de hoje nos diz que os Apóstolos, depois da experiência de missão, voltaram felizes, mas também cansados. E Jesus, cheio de compreensão, quis dar-lhes um pouco de alívio. Então, leva-os para longe, num lugar isolado para que possam descansar um pouco"(Mc 06:31). "Muitas pessoas os viram partir e perceberam... e foram primeiro que eles" (v. 32). E, neste ponto, o evangelista nos dá uma imagem de Jesus de intensidade singular, "fotografando", por assim dizer, os seus olhos e colhendo os sentimentos de seu coração, e por isso o evangelista diz: "Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela, porque era como ovelhas que não têm pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas"(v. 34).
Retomemos os três verbos deste sugestivo fotograma: ver, ter compaixão, ensinar. Podemos defini-los de verbos do Pastor. Ver, ter compaixão e ensinar. O primeiro e o segundo, ver e ter compaixão, estão sempre associados ao comportamento de Jesus: de fato, o seu olhar não é o olhar de um sociólogo ou um fotojornalista, porque ele sempre olha com "os olhos do coração". Estes dois verbos, ver e ter compaixão, configuram Jesus como o Bom Pastor. Também sua compaixão, não é apenas um sentimento humano, mas é a comoção do Messias em que se fez carne a ternura de Deus. E desta compaixão nasce o desejo de Jesus de nutrir a multidão com o pão da sua Palavra, isto é, de ensinar a Palavra de Deus ao povo. Jesus vê, Jesus tem compaixão, Jesus nos ensina. E isto é belo!
E eu pedi ao Senhor que o Espírito de Jesus, o Bom Pastor, esse Espírito, para me guiar durante a viagem apostólica que fiz nos últimos dias à América Latina e que me permitiu visitar o Equador, a Bolívia e o Paraguai. Agradeço a Deus com todo o meu coração por este dom. Agradeço as pessoas dos três países pela afetuosa e calorosa acolhida e entusiasmo. Renovo a minha gratidão às autoridades desses países pela acolhida e colaboração. Com grande afeto agradeço aos meus irmãos bispos, sacerdotes, pessoas consagradas e todas as pessoas pelo ‘calor’ com que participaram. Com estes irmãos e irmãs eu louvei ao Senhor pelas maravilhas que realizou no Povo de Deus que caminha na terra, pela fé que anima sua vida e sua cultura. E também louvei pela beleza natural com que enriqueceu estes países. O continente latino-americano tem um grande potencial humano e espiritual, guarda os valores cristãos profundamente radicados, mas também enfrenta sérios problemas sociais e econômicos. Para contribuir para a sua solução, a Igreja está empenhada em mobilizar as forças espirituais e morais de suas comunidades, colaborando com todos os componentes da sociedade. Diante dos grandes desafios que o anúncio do Evangelho deve enfrentar, convidei a obter do Cristo Senhor a graça que salva e fortalece o compromisso do testemunho cristão, a desenvolver a difusão da Palavra de Deus, a fim que a forte religiosidade dessas pessoas possa sempre ser um testemunho fiel do Evangelho.
À materna intercessão da Virgem Maria, que toda a América Latina venera como padroeira sob o título de Nossa Senhora de Guadalupe, confio os frutos dessa inesquecível viagem apostólica.

Depois do Ângelus

Queridos irmãos e irmãs,
Saúdo cordialmente a todos, romanos e peregrinos!
Saúdo de modo particular os jovens da Diocese de Pamplona e Tudela, Espanha.
Saúdo as Irmãs da Sagrada Família de Nazaré que se reuniram em Roma para o Capítulo Geral; a Orquestra de Offanengo-Casalbuttano; os Coros de Vigo Cavedine (Trento); os jovens voluntários do Convento de Arco di Trento, os jovens do Meana Sardo e aqueles participam das férias organizado pelo INPS de Pomezia; os jovens da Ação Católica de Mellaredo e Rivale (Padova).
Desejo a todos um bom domingo. Peço-vos, por favor, rezem por mim, não se esqueçam. Bom almoço e até breve!

Fonte: Zenit.

domingo, 19 de julho de 2015

Francisco na América Latina: uma "viagem da alma"

Luis Badilla Morales, diretor do site Il Sismografo, é uma espécie de enciclopédia viva que fala com naturalidade de pontificados, documentos magisteriais, viagens e dinâmicas políticas. Seu portal, criado em 2009 em resposta ao "apelo" de Bento XVI, agrega artigos diários de mais de 7.000 fontes da imprensa digital, oferecendo uma resenha precisa de tudo o que diz respeito ao Vaticano e à Igreja no mundo. Como chileno e observador de assuntos vaticanos, seu testemunho é inestimável para analisar a recente visita de Francisco à América do Sul, mas também os desafios futuros como a viagem a Cuba e aos EUA, o Sínodo, o relacionamento com a mídia e política "geo-eclesial" de Bergoglio.


Resumindo em três palavras a viagem de oito dias de Francisco à América Latina, quais você usaria?

Dignidade, mudança e solidariedade. Ao analisar os textos do Santo Padre, a mensagem que ele deixou para as igrejas locais, em suma, é: "Vocês têm que acompanhar estes povos na mudança, porque está em jogo a dignidade das pessoas. E isto só pode ser feito se houver colaboração e solidariedade entre as partes".

Já foi significativa a escolha de visitar esses três países, que não são centrais na geopolítica mundial. Mais uma vez, a opção pelas periferias...

Eu chamei esta viagem do papa à América do Sul de "viagem da alma." Uma viagem, e isso é confirmado por fontes próximas dele, que é um projeto antigo, desde a eleição à Cátedra de Pedro, e que está ligada à experiência em Buenos Aires, quando, sendo provincial dos jesuítas, ele estabeleceu muitas relações sociais e humanas com os irmãos desses países, mandava pessoas para estudar no Equador, na Bolívia e no Paraguai, ou levava jesuítas já ordenados para Buenos Aires. O papa também quis identificar as periferias mais frágeis da América Latina, que já em si mesma é uma grande "periferia". E escolheu esse estranho corredor que vai do Pacífico até quase o Atlântico porque acredita que é “a periferia da periferia”: países frágeis, esmagados tanto como povos quanto como igrejas, ao sul pela Argentina e pelo Chile e ao norte pelo Brasil, Venezuela e Colômbia. Ele aplicou o mesmo esquema usado na Europa, onde visitou primeiro a Bósnia e a Albânia, em linha com as suas escolhas geo-eclesiais. Porque o papa tem uma política geo-eclesial: ele usa as viagens, o "magistério itinerante", como parte do magistério pontifício.

Nas três etapas desta viagem, pudemos observar um papa sereno, que tomou “uma lufada de ar fresco” de certos limites “romanos”, trazendo à tona a sua verdadeira alma. Especialmente no Paraguai, sem a sombra de duas presenças fortes como Correa e Morales... O que você acha disso?

É verdade, e há muitas razões. Eu vou mencionar apenas duas. A primeira é que ele se sentiu "em casa", retornando ao seu povo, à sua cultura, à sua história. E isso também foi notável fisicamente: ele não sentiu o cansaço, não descansou na nunciatura, mas continuou encontrando pessoas... A segunda razão foi o fato de poder se expressar na sua própria língua, um aspecto fundamental para se fazer entender bem. Porque a língua não é um conjunto de sons, é uma estrutura de pensamento: quem fala alemão pensa em alemão, quem fala italiano pensa em italiano. Em sua própria língua, Francisco pôde dar o máximo. E nós admiramos um papa que nos explicou infinitamente melhor o que é o seu magistério. Muitas coisas que pareciam um pouco enigmáticas, pouco claras, agora estão todas na mesa.

 Você acredita que o papa vai ter a mesma atitude “confortável” também na viagem de setembro a Cuba e aos EUA?

Certamente, porque a viagem à América do Sul é a primeira parte de um périplo americano. Ainda não podemos decifrar completamente o magistério do papa Francisco até esta “segunda parte” em Cuba, Washington, Nova Iorque e Filadélfia. Só então teremos uma visão geral e integrada de todos os elementos. Na peregrinação pela América Latina, já houve muitas prévias da próxima viagem: estilo, temas, dinâmicas e prioridades. Claro que, sendo situações diferentes, o papa vai se adaptar.

 Então podemos ver uma continuidade entre os pobres do Bañado Norte e as potências das Nações Unidas? O que liga as duas viagens?

O papa sempre disse que "vemos melhor o centro a partir da periferia". Depois de observar o seu olhar a partir da periferia, podemos entender melhor como ele olhará o centro hegemônico dos Estados Unidos. Eu acho que a visita do papa a Cuba e aos Estados Unidos dá fim à Guerra Fria nas Américas, que só vai terminar quando for possível a convivência pacífica. A relação dos Estados Unidos com Cuba poluía o relacionamento com o resto da América Latina. A presença do papa vai selar o "degelo", que põe fim a este conflito que ainda não tinha acabado.

 O papa contribuiu ativamente para esse degelo, embora ele diga que "só rezou"...

Isso faz parte da modéstia dele. O papel do papa neste processo de paz foi confirmado pelos próprios presidentes Obama e Castro. E nós acreditamos.

 Voltando para a América Latina. Foram muitas as palavras fortes pronunciadas pelo papa durante a viagem de oito dias: "colonização ideológica", "sistema dominado pelo dinheiro", "economia que mata". Denúncias já manifestadas em várias ocasiões. Nesses países, quais podem ser as consequências, especialmente do ponto de vista político?

Dos discursos do papa surgem dois elementos claros. Em primeiro lugar, uma grande confiança no papel protagonista dos povos; segundo: certa falta de confiança na política. O Santo Padre deseja que os povos assumam como iniciativa própria o resgate social, especialmente os povos marginalizados, sujeitos à injustiça social. Tudo sempre no horizonte da defesa da sua dignidade, porque, como dizia João Paulo II,"os direitos humanos são os direitos de Deus". No segundo caso, o papa vê que os políticos parecem não notar a grande crise de civilização que caracteriza o presente momento; eles têm uma capacidade de reação superficial e lenta. É por isso que, na viagem, ele falou frequentemente da "urgência da mudança": no sentido de que não basta mudar, tem que mudar rápido. Na Laudato Si’, ele diz que temos de mudar quando é preciso, porque talvez haja uma boa solução no futuro, mas, por enquanto, está tudo despedaçado. Para o papa, é melhor um povo que quer agir. Daí a expressão "fazer bagunça", no sentido de "agitar as águas", não deixá-las apodrecer. E na América Latina, ele acrescentou: "fazer bagunça", mas "de forma organizada", isto é, não pelo prazer de criar o caos, mas agilizar as coisas com ordem para evitar o fracasso total.

 Esta, então, é a "revolução bergogliana"?

Não, a revolução de Bergoglio parte de um ponto exato que é o encontro pessoal com Cristo, porque, encontrando Cristo, você se torna irmão e não pode mais deixar de ajudar o próximo. E a Igreja existe e serve para anunciar esta mensagem. Eu sei que isso incomoda um pouco, porque alguns gostariam de uma Igreja "empoeirada", encerrada no meio dos livros e na sacristia. A revolução de Bergoglio é a de uma "Igreja de saída", que complementa João XXIII quando ele convocou o Vaticano II para abrir as janelas e renovar o ar. Depois de 50 anos, Francisco diz que "isso não é suficiente: ela também tem que abrir as portas e sair". Ele disse inclusive que é "melhor uma Igreja que tropeça do que uma Igreja escondida". Então eu vejo neste papa uma maneira de fechar o círculo. No fim das contas, não é nada de novo, porque é o que o cristianismo sempre pregou – mas que durante muito tempo nós esquecemos.

 Nesses eventuais "tropeços", podemos incluir certas discussões do Sínodo?

Eu acho que uma hermenêutica para o Sínodo são as catequeses das quartas-feiras, sobre a família, que continuarão até outubro. O papa Francisco está antecipando muito da próxima assembleia e fazendo uma releitura do Sínodo passado, com todas aquelas discussões (em grande parte midiáticas). O papa tenta mostrar que a Igreja não tem medo de nenhuma situação, não há nada que seja tabu ou de que ela se sinta distante. Ele gostaria de um Sínodo que não excluísse nenhum tema, que os tratasse com absoluta liberdade, convencido de que a postura pastoral é a misericórdia total e absoluta. Até porque não é bom que a Igreja continue tendo atitudes arcaicas, obsoletas ou inadequadas às necessidades urgentes do momento.

Então é verdade, como disseram alguns críticos em outubro passado, que a Igreja de Francisco baixa o nível de compromisso?

Não. Na verdade, eu acredito que a Igreja de Francisco eleva ao máximo o compromisso, respeitando, naturalmente, a dialética da comunidade eclesial. Porque não há nada em jogo que possa minar a doutrina: a questão é puramente "pastoral". Ou, em linguagem bergogliana, é a "carícia de Cristo" para todos, especialmente para aqueles que sofrem. E você pode sofrer também dentro da Igreja.

 Uma última pergunta, quase uma curiosidade. Você cuida, no Il Sismografo, de uma resenha diária completa das atividades do Santo Padre. Que ressonância teve nos meios de comunicação a viagem à América do Sul? A única notícia não foi só o crucifixo de Evo Morales?

Há uma percepção errada e insuficiente. Podemos dizer o contrário e também documentá-lo, porque monitoramos 7.000 sites, 24 horas por dia. Muito antes da viagem, a imprensa dedicava um espaço enorme à peregrinação do Santo Padre. Em alguns dias, identificamos mais de 16 mil textos em 5 línguas, com média constante de 12 mil. Basta pensar que o New York Times acompanhou a visita papal ao vivo via WhatsApp. Eu acho que, depois dessa etapa na América Latina, os meios de comunicação descobriram um novo Bergoglio, ou pelo menos o estão vendo de forma diferente. Há um salto qualitativo nas relações com a imprensa, especialmente com a mídia laica.

Fonte: Zenit.

sábado, 18 de julho de 2015

Pela primeira vez o jornal comunista de Cuba publica mensagem dos bispos cubanos

A pedido da Conferência dos Bispos Católicos de Cuba, o jornal Granma, órgão oficial do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, publicou uma mensagem dos Bispos cubanos com o título: Mensagem dos Bispos da Igreja Católica em Cuba por ocasião da próxima visita pastoral do Papa Francisco.
A mensagem original foi publicada no site da Conferência dos Bispos Católicos em 29 de junho, festa dos Apóstolos Pedro e Paulo.
Agora, esta mesma mensagem foi publicada na edição impressa do Granma do 17 de julho e também está na íntegra em seu site do mesmo dia.
A mensagem é um convite para realizar atos de misericórdia no trabalho diário, “para visitar os doentes, compartilhar o que temos, perdoar e pedir perdão, consolar o triste, amar mais e melhor aos demais”, como preparação para a visita do Papa que estará em Cuba do 19 ao 22 de setembro com o lema ‘Missionário da Misericórdia’.
O tema para a visita pastoral a Cuba refere-se ao Jubileu Extraordinário da Misericórdia convocado no dia 11 de abril pelo Papa, que começa no dia 8 de setembro de 2015 e vai até novembro 2016 ".
“Tomara que nestes dias e sempre os nossos lares sejam lugares de paz e acolhida para todos aqueles que cheguem procurando misericórdia!”, dizem os bispos na mensagem.
Também, destacam que, como preparação imediata à visita do Papa Francisco, “as primeiras sextas-feiras dos meses de Julho, agosto e setembro, em cada comunidade e em cada coração que queira unir-se conosco, realizem-se gestos de misericórdia com aqueles que precisarem, bem como tempos especiais de oração e jejum”.
Também convidam a programar nas comunidades uma vigília de oração na véspera da chegada do Papa à ilha, na noite da quinta-feira, 17, para a sexta-feira, 18 de Setembro. E propõem que as dioceses, paróquias e comunidades tenham iniciativas próprias a fim de pedir “a ajuda de Deus para que prepare os corações dos cubanos para ouvir e aceitar a mensagem de esperança e compaixão que trará o Papa Francisco".

Fonte: Zenit.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O novo estilo de comunicação do Papa Francisco

O prefeito do novo Dicastério da Cúria Romana, a Secretaria para a Comunicação, Dom Dario Viganò, lembrou em um artigo publicado nesta quarta-feira no jornal L´Osservatore Romano, dois fatos contados pelo Papa Francisco. Um deles foi sobre um policial de 40 anos que queria fazer uma selfie com ele. O outro, um mês antes, em Sarajevo, quando ele disse aos jovens que, quando eu estava em Buenos Aires e queria ver um filme, ele ia para a sala de televisão da Arquidiocese, e via apenas aquele filme porque a televisão o alienava. E concluiu: "É claro que eu sou da idade da pedra, eu sou velho!".
O prefeito lembra que "estamos diante de um Papa que não tem medo de enfatizar a distância da cultura na qual nasceu - a que moldou o chamado pensamento linear feito de argumentos". Mons. Viganò também recordou o Nobel de Literatura, Dario Fo, que disse que a comunicação do Papa Francisco não tem nada a ver com as lógicas pragmáticas com finalidade de seduzir, e menos ainda com as estratégias utilizadas pelos atores.
Então, o que torna tão irresistível o estilo comunicativo de Francisco? Talvez, diz o novo diretor de comunicações do Vaticano, podemos entender isso observando o encontro final do Papa na viagem à América Latina, na Costanera de Assunção, Paraguai, onde aconteceu o encontro com os jovens.
"Mais uma vez, como em outras ocasiões, o Papa fez algumas anotações enquanto os jovens liam seus testemunhos. Em seguida, Francisco se levantou e agradeceu-lhes, como é seu estilo, e iniciou um diálogo de perguntas e repetições, prendendo a atenção da multidão de jovens e deixando de lado o texto preparado".
Antes de concluir, Francisco disse: “Como eu já sabia as perguntas, porque me enviaram antes, tinha escrito um discurso para vocês, para pronunciá-lo. Mas os discursos são chatos, por isso, deixo-o para o Senhor Bispos, encarregado da juventude para que o publique”.
Ou seja, "o concreto em seus discursos, como aos jovens do Paraguai, é parte de seu estilo de comunicação", disse o novo prefeito. Além disso, quando se fala para muitas pessoas, algumas frases ficam perdidas, portanto, "é vantajoso repetir o mesmo conceito até duas ou três vezes”.
Além disso, o modo de falar do Papa Francisco "está iniciando a antiga prática de ‘espalhar a voz’, comunicação que por sua vez tem interlocutores estáveis ​​e identificáveis, dando origem a uma rede fundamentada no sabor de um novo encontro entre a humanidade e o Evangelho".

Fonte: Zenit.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

"Não tenham medo da juventude e do frescor da Igreja latino-americana"

No vôo de volta da viagem apostólica na América Latina, o Papa Francisco, ao responder nesta segunda-feira às perguntas dos repórteres explicou a mensagem que quis dar à Igreja na América Latina, e sobre o papel que pode desempenhar a Igreja latino-americana, como sinal para o mundo.
''A Igreja da América Latina tem uma grande riqueza, é uma Igreja jovem, com um certo frescor, até mesmo com certa informalidade”, respondeu o Santo Padre. Esclareceu que, além do mais, “conta com uma teologia rica, de pesquisa”.
Assim, Francisco indicou que quis “dar incentivo a esta jovem igreja e acho que esta Igreja pode dar-nos muito”.
E confidenciou aos repórteres que estavam presentes uma coisa que muito lhe impressionou: “Nos três países, ao longo das ruas, tinha pais e mães com crianças. Nunca vi tantos meninos. É um povo e a Igreja é também assim, o que é uma lição para nós, para a Europa, onde a baixa natalidade é preocupante e também as políticas para ajudar as famílias numerosas são poucas”. O Papa acrescentou: “Penso na França que tem uma boa política para ajudar as famílias numerosas e chegou a mais de dois por cento enquanto que outros estão próximo do zero, embora nem todos”.
Considerou também que “a riqueza deste povo e desta Igreja é que trata-se de uma Igreja viva. Acho que temos que aprender deles porque, caso contrário, se não existem crianças...” E reiterou, “me preocupa tanto quando falo de descarte: descarta-se as crianças, descartamos os anciãos, com a falta de trabalho descartam-se os jovens. Por isso, os povos novos, os povos jovens nos dão mais força”.
E para a Igreja da América Latina, que o Papa define como “uma Igreja jovem”, embora reconhece que tem muitos problemas” a mensagem é: “Não precisamos ter medo da juventude e do frescor desta Igreja”. E embora possa ser uma Igreja um pouco ‘indisciplinada’, “com o tempo vai se disciplinar e nos dará muitas coisas boas”.

Fonte: Zenit.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

O pecado destrói a “imagem” ou a “semelhança” com Deus?

Vimos anteriormente que “imagem” é uma noção mais perfeita do que a de “semelhança”(Cfr aqui e aqui) . A primeira se refere a qualquer qualidade presente em dois seres; a segunda se refere a uma semelhança derivante da imitação do primeiro ser. A imagem de um espelho procede de quem foi refletido nele, enquanto uma estátua pode ser semelhante a outra sem ser imagem daquela.
A afirmação de que o homem (e também os anjos) foi criado “à imagem” de Deus se refere à sua natureza intelectual. Porém, se é assim, o pecado destrói a “imagem” ou a “semelhança” do homem com Deus? Parece que a imagem não pode ser destruída pelo pecado, visto que ela se refere à natureza intelectual do homem, o qual permanece inteligente mesmo se viver no pecado; a semelhança, porém, está sempre inserida na noção de imagem e não pode ser manchada sem afetar também à imagem.
A pergunta dá a ocasião de penetrar ainda mais na compreensão da noção de “imagem”. Em primeiro lugar, certamente o homem foi feito à imagem de Deus, significando a sua natureza intelectual, a qual não se perde com o pecado. O pecado original causou uma ferida na inteligência humana, de modo que agora o conhecimento humano é difícil, e não está isento da possibilidade do erro. Porém, a natureza intelectual humana não está corrompida, e pode conhecer com dificuldades e fadigas.
Num segundo sentido, porém, a inteligência do homem pode imitar a Deus, sendo sua imagem de modo mais perfeito. Isso ocorre quando o homem conhece e ama a Deus, o qual sempre conhece e ama a si mesmo. Conhecendo e amando a Deus, o homem chega ao máximo da sua perfeição e ao máximo da semelhança com Ele.
De modo que a imagem de Deus no homem pode ser considerada segundo três aspectos:
a) Segundo a aptidão natural humana para conhecer e amar a Deus. Isso é comum a todos os homens e consiste na mesma natureza da sua mente; e essa não pode ser destruída pelo pecado;
b) Enquanto o homem conhece e ama a Deus de modo habitual (ou seja, constantemente) ou atual (em determinados atos), mas não ainda perfeito. Isso representa a “imagem” do homem e Deus devida à conformidade com a graça divina, a qual só ocorre na vida presente e pode ser perdida;
c) A imagem de Deus no homem pode ser considerada ainda enquanto ele conhece e ama a Deus de modo atual e perfeito. Essa é a semelhança da glória, ou seja, da vida eterna com Deus que jamais ser destruída.
Sendo assim, existem três formas de se compreender a “imagem” do homem em Deus: segundo a obra da criação, segundo a recriação e segundo a semelhança na glória. A primeira se dá em todos os homens, a segunda se dá nos justos na vida presente e a terceira se dá nos bem-aventurados na glória.
O pecado, portanto, destrói no homem a “imagem” de Deus entendida como justiça na vida presente. Essa é a vida de amor por Deus, que está presente de modo habitual no homem que vive em graça. A graça concede ao homem a virtude teologal da caridade. O pecado destrói essa “imagem” do homem: a vida de caridade na vida presente. Não destrói, porém, sua natureza intelectual, nem pode destruir o amor do homem bem-aventurado, ou seja, daquele que vive com Deus nos Céus.

Fonte: Zenit.

terça-feira, 14 de julho de 2015

O papa dos pobres nos países em desenvolvimento

A visita pastoral do papa Francisco ao Equador, à Bolívia e ao Paraguai, marcada por encontros com grandes multidões e por discursos de alto impacto, constitui em si mesma um evento de grande importância, que reforça a mensagem de prioridade que o papa quer dar aos pobres do mundo; em especial aos dos países em desenvolvimento, muitas vezes explorados, nos jogos de poder da "aldeia global", em benefício dos mais ricos e mais fortes.
Esta viagem foi um contraponto natural a outra importante visita que Francisco fará de 19 a 28 setembro: além de Cuba, ele irá aos Estados Unidos, com etapa na própria ONU, para fazer ressoar naqueles ambientes a voz dos países pobres.
Mas que mensagem já foi passada aos países ricos através dos muitos encontros e discursos do papa nesta visita aos três países sul-americanos? Três temas estiveram especialmente presentes e constituem o núcleo da mensagem proposta pelo Santo Padre.

O primeiro tema é a importância da fé. Numa região como a América Latina, onde a relação com o poder econômico e militar dos Estados Unidos pesou tanto nas escolhas revolucionárias de fundo marxista e nos golpes de Estado e nas ditaduras de orientação oposta, Francisco quis esclarecer que a razão do compromisso da Igreja com os pobres está enraizada no amor pelo Filho de Deus feito homem e nos irmãos mais frágeis a quem Ele se solidarizou com a Sua encarnação. Em 8 de julho, na Bolívia, o papa disse: "A fé é uma luz que não ofusca; as ideologias deslumbram; a fé não deslumbra. A fé é uma luz que não cega, mas que ilumina e guia com respeito a consciência e a história de cada pessoa e de cada sociedade humana". Observando o importante papel do cristianismo na formação do povo boliviano, ele afirmou: "A fé não pode ser reduzida ao âmbito puramente subjetivo e não é uma subcultura". Trata-se de um firme “não” às pretensões da ideologia em nome da fé, que ecoa a história sul-americana das últimas décadas e o preço altíssimo das opções ideológicas de esquerda e de direita, que martirizaram comunidades cristãs de todos os países da região. Longe de ser uma fuga, a fé é fonte de compromisso com a justiça e com a solidariedade ao pobre no seu caminho de libertação e de desenvolvimento humano integral.

A forte ênfase na fé levou Francisco a destacar também a força revolucionária da evangelização e da gratuidade que ela suscita. Em 5 de julho, na chegada ao Equador, o papa disse: "Eu venho como testemunha da misericórdia de Deus e da fé em Jesus Cristo. A mesma fé que, durante séculos, moldou a identidade deste povo. Nunca percam a capacidade de dar graças a Deus pelo que Ele fez e faz por vocês; a capacidade de defender o pequeno e o simples, de cuidar das suas crianças e dos mais velhos, que são a memória do seu povo; de confiar nos jovens e de se maravilhar com a nobreza do seu povo e com a beleza singular do seu país". Quem fala assim não tem nenhuma concepção ideológica e alienante da fé, mas, ao contrário, reconhece nela uma força motriz e transformadora, capaz de mudar o destino dos homens. Em 7 de julho, ainda no Equador, o papa disse enfaticamente que a fé "é sempre revolucionária" e que, se a evangelização "pode ​​ser o veículo dos sonhos e até de certas utopias", o grito de liberdade "que irrompeu há duzentos anos" naquelas terras só se concretizou "quando deixou de lado os personalismos, a aspiração a uma única autoridade, a falta de compreensão de outros processos de libertação com características diferentes, mas não por isso antagônicas".
A fé se combina com o respeito pelo outro e se coloca com generosidade a serviço do bem comum. Essa gratuidade é, para Francisco, o estilo com que Deus nos ama e que a fé deve inspirar nos crentes para que a sua ação seja eficaz e possa vencer as injustiças e influenciar nos processos de libertação. No santuário mariano de Nuestra Señora del Quinche, na manhã de 8 de julho, diante de sacerdotes, religiosas e seminaristas, o papa afirmou com grande energia: "Voltem à gratuidade com que Deus escolheu vocês. Vocês não pagaram ingresso para entrar no seminário, para entrar na vida religiosa. Toda a vida de um religioso, de uma religiosa, de um sacerdote e de um seminarista, e dos bispos, tem que trilhar sempre este caminho da gratuidade... Somos objetos da gratuidade de Deus. Se nos esquecermos disso, lentamente nos afastaremos da base". À lógica da exploração, que produziu tanta devastação no ambiente que é casa comum de todos, e especialmente na vida dos pobres, o papa quis opor o princípio da gratuidade como a única força verdadeiramente revolucionária, humanizadora e eficaz.

Finalmente, Francisco insistiu em várias ocasiões na centralidade do “nós” e no valor da família. Diante de um milhão de pessoas em Guayaquil, o papa declarou: "A família é uma escola onde a oração nos lembra que há um ‘nós’, que há um próximo vivendo sob o mesmo teto, compartilhando conosco a vida e as necessidades... A família é o hospital mais próximo: quando alguém está doente, é na família que ele começa a ser tratado. A família é a primeira escola das crianças, é o ponto de referência para os jovens, é o melhor asilo para os idosos. A família é a grande riqueza social, que outras instituições não podem substituir, que deve ser ajudada e fortalecida para nunca perder o sentido dos serviços que a sociedade presta aos seus cidadãos. Estes serviços não são uma forma de esmola, mas uma verdadeira ‘dívida social’ com a instituição familiar, que é a base e que tanto contribui para o bem comum. A família é também uma pequena Igreja, que chamamos de "Igreja doméstica", que, além de dar a vida, transmite a ternura e a misericórdia de Deus".
A boa nova da Igreja se torna concreta quando ela anuncia o valor e a beleza da família, escola de humanidade e de socialidade, de vida eclesial e de fé. Com a aproximação do Sínodo dos Bispos, em outubro, que será dedicado à vocação e missão da família no mundo contemporâneo, a insistência do papa na família se torna um apelo para relançar a centralidade da instituição familiar em vista de uma integração cada vez mais plena de cada um dos seus membros no tecido da comunidade, como uma prioridade de cada discípulo de Cristo e de cada mulher ou homem que quiser servir à causa do bem comum.

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

“Na oração, cada um de nós quer tornar-se cada vez mais parecido com Jesus”

O Santo Padre concluiu seu segundo dia no Paraguai, sábado, 11 de julho, celebrando as Vésperas na Catedral de Assunção, acompanhado de alguns bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas, seminaristas e movimentos católicos. Ele também recebeu as chaves da cidade, enquanto uma orquestra de harpas paraguaias interpretava canções tradicionais. Francisco ofereceu flores à Nossa Senhora e rezou por alguns instantes.
Apresentamos as palavras do Papa pronunciadas na ocasião:
Como é belo rezarmos as Vésperas todos juntos! Como não sonhar com uma Igreja que espelhe e repita, na vida quotidiana, a harmonia das vozes e do canto! Fazemo-lo nesta catedral que tantas vezes teve de ser começada de novo; esta catedral é sinal da Igreja e de cada um de nós: às vezes, as tempestades de fora e de dentro obrigam-nos a pôr de lado o que se construiu e começar de novo. Sempre, porém, com a esperança em Deus; e, se olharmos para este edifício, sem dúvida Ele não decepcionou os paraguaios. Porque Deus nunca desilude! E por isso O louvamos agradecidos.
A oração litúrgica, com a sua estrutura e ritmo pausado, quer dar voz à Igreja inteira, esposa de Cristo, que procura configurar-se com o seu Senhor. Na oração, cada um de nós quer tornar-se cada vez mais parecido com Jesus.
A oração traz à superfície aquilo que vivemos ou deveríamos viver na existência diária; pelo menos uma oração que não queira ser alienante ou apenas preciosista. A oração dá-nos impulso para pôr em acção ou examinar-nos sobre o que rezamos nos Salmos: nós somos as mãos de «Deus, que levanta o pobre da miséria» e somos quem trabalha para que esterilidade com a sua tristeza se transforme em campo fértil. Cantando que «muito vale aos olhos do Senhor a vida dos seus fiéis», somos os que lutam, pelejam, defendem o valor de toda a vida humana, desde o nascimento até os anos serem muitos e poucas as forças. A oração é reflexo do amor que sentimos por Deus, pelos outros, pelo mundo criado; o mandamento do amor é a melhor configuração do discípulo missionário com Jesus. Estar agarrados a Jesus dá profundidade à vocação cristã, que – interessada no «agir» de Jesus, que engloba muito mais do que as actividades – procura assemelhar-se a Ele em tudo o que realiza. A beleza da comunidade eclesial nasce da adesão de cada um dos seus membros à pessoa de Jesus, formando um «conjunto vocacional» na riqueza da diversidade harmónica.
As antífonas dos Cânticos Evangélicos deste domingo recordam-nos o envio dos Doze por Jesus. É sempre bom crescer nesta consciência de trabalho apostólico em comunhão! É belo ver-vos a colaborar pastoralmente, partindo sempre da natureza e função eclesial de cada uma das vocações e carismas. Quero exortar-vos a todos – sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e seminaristas – a que vos empenheis nesta colaboração eclesial, especialmente a partir dos planos de pastoral das dioceses e da Missão Continental, cooperando com toda a disponibilidade possível para o bem comum. Se a divisão entre nós provoca a esterilidade (cf. Evangelii gaudium, 98-101), não há dúvida que, da comunhão e da harmonia, surge a fecundidade, porque estão em profunda consonância com o Espírito Santo.
Todos temos limitações; ninguém pode reproduzir totalmente Jesus Cristo. E, embora cada vocação se conforme de maneira mais saliente com este ou aquele traço da vida e obra de Jesus, há alguns elementos comuns e indispensáveis a todas. Ainda agora louvámos o Senhor porque «não fez alarde da sua condição divina», sendo isto uma característica de toda a vocação cristã: quem foi chamado por Deus não se pavoneia, nem corre atrás de reconhecimentos ou aplausos efémeros; não sente ter subido de categoria nem trata os outros como se estivesse num degrau superior.
A supremacia de Cristo aparece claramente descrita na liturgia da Carta aos Hebreus; acabámos de ler quase o final dessa carta: Deus «nos faça perfeitos como o grande Pastor das ovelhas», e isto supõe que todo o consagrado esteja configurado com Aquele que, na sua vida terrena, «por entre orações e súplicas, com grande clamor e lágrimas» alcançou a perfeição quando aprendeu, sofrendo, o que significava obedecer. E isto também é parte da nossa vocação.
E agora acabemos de rezar as nossas Vésperas; o campanil desta catedral foi reconstruído várias vezes; o som dos sinos antecede e acompanha vários momentos da nossa oração litúrgica. Sempre que rezamos, somos feitos de novo por Deus, firmes como um campanil, felizes por divulgar as maravilhas de Deus. Partilhemos o Magnificat e deixemos o Senhor fazer, através da nossa vida consagrada, grandes coisas no Paraguai.

(Canção Nova)

domingo, 12 de julho de 2015

É mais revolucionário Cristo ou Karl Marx?

O que está acontecendo durante a visita do papa Francisco à América Latina é revolucionário.

Como é sabido, uma parte do clero e dos católicos latino-americanos tinha radicalizado o seu testemunho cristão opondo-se energicamente às injustiças sociais e econômicas. Além disso, e incluindo entre as causas alguma deformação ideológica, a teologia da libertação tinha sido mal interpretada e, com isso, causado divisões.

Mas os tempos estão maduros para a superação da discórdia em nome de uma nova unidade, que destaca sem equívocos o caráter libertador da mensagem cristã. E é isso o que está acontecendo nos lugares onde o papa Francisco encontra o povo e as autoridades.

Para entender melhor o contexto, Zenit entrevistou Michele Mezza, jornalista, escritor e professor universitário. Em 1998, Michele Mezza criou e realizou o projeto da Rainews24, o primeiro canal de televisão exclusivamente jornalístico da Itália, do qual foi vice-diretor. Atualmente, Mezza é vice-diretor da RAI International.

 O senhor conhece bem o debate sobre a relação entre o cristianismo e a esquerda política na América Latina: como interpretar o crucifixo com a foice e o martelo que Evo Morales deu ao papa?

Na sociedade da comunicação, eu acho que o presidente Morales, com aquele presente hipersimbólico, quis recuperar a imagem do presidente campesino, do líder revolucionário, que o papa Francisco tinha lhe “roubado” candidamente com as suas declarações. Mais uma vez, valeu a regra que o papa Francisco impôs a todos: “eu não vou ficar preso nas paredes da Cúria Romana nem ser esmagado por clichês”. O papa de Roma voltou para a sua América Latina, o “fim do mundo”, para anunciar que muita coisa mudou na Igreja de Cristo e que todos terão que notar isso. O presente simbólico do crucifixo sobre a foice e o martelo nas mãos do papa perde o seu poder de provocação e se torna quase um ato de submissão das teorias revolucionárias mais heréticas diante daquele que está conduzindo a revolução mais profunda, a da palavra.

 Recém-chegado à Bolívia, o papa foi saudado por Evo Morales, que reconheceu a sua liderança na defesa do povo e indicou no papa o papel de libertador em nome de Cristo. O que o senhor acha disto?

Isto confirma o que eu disse antes. É claro que, nos países sul-americanos, falar do deus dinheiro ou dos direitos inalienáveis ​​dos povos significa algo mais explícito e relevante do que em outros lugares. A América do Sul foi a grande incubadora da teologia da libertação, com Helder Câmara e o pe. Romero. Uma teologia que teve momentos de confronto muito áspero com a Cátedra de Pedro. Encontrar-se agora diante de um papa que diz abertamente que é Cristo que interpreta aquelas aspirações de liberdade e emancipação significa sacudir toda tradição. Ninguém poderá agora manter o monopólio de certos valores e ninguém poderá excluí-los da palavra evangélica.

 Durante esta viagem à América Latina, o papa Francisco mencionou várias vezes a sua recente encíclica Laudato Si’...

Justamente na América do Sul, o papa enfatizou essa passagem para dar uma clara base social e um enraizamento local ao seu raciocínio. Podemos dizer que esta encíclica é particularmente "sul-americana". Um documento que fala diretamente a essas populações através de categorias e linguagens – água, comida, dignidade, emancipação – que, nessas terras, valem lágrimas e sangue.

Água, comida, escola e potências tecnológicas. Estes são os novos capítulos de um discurso concreto e espiritual sobre a liberdade contemporânea. Uma liberdade que vê o homem de volta ao centro do cenário natural, tornando-se o motor e não um instrumento das relações sociais, com base em uma autonomia extraordinária de cada indivíduo, mas também, e acima de tudo, em uma relação comunitária inevitável entre todos os indivíduos. A água é o primeiro elemento de uma escada de conceitos dos quais eu espero novas reflexões, que deem espessura e concreção às ambições de liberdade e de igualdade. Retoma-se o longo e resistentíssimo fio condutor da Populorum Progressio e, mais em geral, do Concílio Vaticano II. O papa Francisco, sem qualquer forma de subordinação ou de desorientação, entra no Pátio dos Gentios – para usar as palavras do cardeal Ravasi – e afirma uma liderança moral e material da comunidade eclesial.

 Na sua opinião, quais são as novidades desta encíclica?

Esta encíclica, no momento, é a referência teológica e cultural do debate global. Pensemos nas misérias que estamos vendo na Europa ou nas coisas que estão acontecendo na Ásia e na África. Mas pensemos também no confronto geo-teológico com o radicalismo islâmico. O papa gritou para todos que o desafio de hoje nesta terra é o de como realizar uma vida nova. Aquele documento é um verdadeiro tsunami no cenário mundial. Os pontos e as reflexões são muitos. Mas, se eu tivesse que indicar uma passagem emblemática e cheia de consequências extraordinárias, inclusive no futuro imediato, seria a passagem em que o papa Francisco escreve que a água, como bem comum, é a premissa dos direitos de cidadania e de liberdade. Nesta passagem, a água – e o texto leva a entender isto claramente em seu desenrolar – é o emblema dos bens comuns que hoje devem presidir as novas formas de convivência.

 Muitos têm falado de uma encíclica que está revolucionando o mundo. Quais são, na sua opinião, os pontos cruciais a manter em mente?

Ambiente e relações sociais. Esta ligação é, talvez, o avanço conceitual real que se esperava, depois de décadas de debates inconclusivos sobre os limites do crescimento. O papa diz que precisamos mudar os mecanismos econômicos e sociais, devemos mudá-los radicalmente, a fim de reequilibrar a relação entre os países e nos países. O objetivo é uma harmonia sustentável e compartilhada. Aliás, este seria um bom título para o pensamento do papa: uma harmonia sustentável e compartilhada.

 À luz destes fatos, o senhor acha que o papa é comunista, como alguns jornais têm escrito?

Eu acho isto um verdadeiro absurdo. Até porque, sem que haja um comunismo político no mundo que associe a ideia de libertação do homem à de ateísmo, como aconteceu historicamente no século passado, hoje estaria inteiramente por reconstruir-se a noção de igualdade de justiça. O papa me parece que quer recuperar o que ele considera próprio da Igreja: a primazia de ter trazido à terra, possivelmente como um objetivo concreto, a ideia da igualdade entre todas as pessoas, uma ideia que coincide cada vez mais com a única fórmula possível de sobrevivência do planeta. Muito simploriamente, é como se o papa dissesse: “nós já tínhamos dito isso antes, muito antes”.

 Seguindo o seu raciocínio, qual seria a próxima surpresa?

Eu não quero forçar ou manipular o que está acontecendo, mas espero em breve um novo documento sobre a “água do século XXI”, que é o software, o algoritmo, a redução de toda atividade humana a um “solucionismo” unidirecional. Acredito que o papa esteja pensando muito neste aspecto da inovação, que ele não se cansa de definir como um dom de Deus a ser defendido de toda especulação.

E espero para outubro uma mostra extraordinária de compartilhamento e de comunidade que o papa dará ao mundo com a sessão ordinária do Sínodo sobre a família. Não serão tanto as soluções que vão impressionar o mundo, mas a forma e o método que serão escolhidos: falar, discutir, compartilhar e decidir todos juntos. Será um espetáculo que vai surpreender até mesmo as pessoas da rede.

Fonte: Zenit.

sábado, 11 de julho de 2015

Francisco despediu-se da Bolívia e foi para o Paraguai

O Papa Francisco despediu-se do povo Boliviano no Aeroporto Internacional de Viru Viru e pegou o avião com destino à Assunção nesta sexta-feira, às 13h30, no avião Alitalia A330. Durante a viagem, vai sobrevoar a sua nação, a Argentina.
O seu último encontro na Bolívia foi com os bispos do país, 37 incluindo os eméritos, na igreja paroquial La Santa Cruz. Depois de cumprimentar o presidente da Conferência Episcopal da Bolívia, mons. Oscar Omar Aparicio Céspedes, arcebispo de Cochabamba, o Papa encontrou-se com eles em particular. De lá, foi direto para o aeroporto para a cerimônia de despedida. Depois de cumprimentar o presidente Evo Morales, tocaram-se os hinos e as delegações se saudaram.
O Santo Padre chegou à Bolívia nesta quarta-feira. Pousou no aeroporto de El Alto e esteve em La Paz por apenas quatro horas. Em seu discurso no aeroporto, Francisco disse que "a Bolívia está dando passos importantes para incluir amplos setores na vida econômica, social e política do País; tem uma Constituição que reconhece os direitos dos indivíduos, das minorias, do meio ambiente e umas instituições sensíveis a essas realidades". E, disse, que "tudo isso requer um espírito de colaboração cidadã, de diálogo e participação dos indivíduos e atores sociais nas questões que interessam a todos”. De lá foi para o Palácio Presidencial para a visita de cortesia ao presidente, e no caminho parou para rezar no lugar onde o pe. Espinal, jesuíta, foi assassinado. “Pregou o evangelho, e este evangelho incomodou, por isso foi eliminado”, disse o Papa. Depois do encontro no Palácio do Governo, onde houve a troca de presentes e Francisco recebeu do presidente Morales a cruz feita sobre um martelo e uma foice que causou polêmicas, o Santo Padre dirigiu-se para a catedral, para o encontro com as autoridades civis.
Neste encontro, o Papa denunciou que "se a política se deixa dominar pela especulação financeira ou a economia rege-se unicamente pelo paradigma tecnocrático e utilitarista da máxima produção, não poderão nem sequer compreender, e menos ainda resolver, os grandes problemas que afetam a humanidade”. Esta mesma tarde o Papa voou para Santa Cruz de la Sierra.
Na quinta-feira, Francisco celebrou a missa da abertura do V Congresso Eucarístico Nacional na praça do Cristo Redentor. Durante a sua homilia, o Santo Padre refletiu sobre a memória dos povos, que passa de geração para geração, uma memória em caminho. E afirmou que Jesus leva “muito a sério a vida dos seus” e que “nunca se ignora a dignidade de ninguém, por mais aparência de não ter nada para contribuir ou compartilhar”.
Também se encontrou, em um alegre encontro, com sacerdotes, religiosos, religiosas e seminaristas, aos quais pediu para não cair na atitude daqueles que fazem ‘zapping’ perante a dor do seu povo e não conseguem envolver-se nas suas vidas. O último encontro da jornada foi um dos mais significativos, no qual pronunciou um discurso “escrito completamente por ele”, como disse o Pe. Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé. No II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, o Pontífice pediu perdão “não só pelas ofensas da própria Igreja, mas pelos crimes contra os povos indígenas durante a chamada conquista da América". Também se queixou de um sistema que já não se sustenta e pediu terra, teto e trabalho para todos os homens.
Finalmente, na manhã desta sexta-feira, dedicou-se aos presos da prisão de Palmasola, onde uma emotiva reunião escutou a voz dos privados da liberdade que clamam o respeito dos seus direitos e Francisco encorajou-os a lutar para seguir em frente, a não ter medo de ajudar-se entre eles e pediu-lhes que não caiam no jogo do demônio.

Fonte: Zenit.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Dona Assunção receberá o Papa em sua casa no Bañado Norte

Dona Assunção será a responsável por receber o Papa Francisco em sua humilde casa no bairro de Bañado Norte na capital paraguaia. Região de pessoas pobres, mas muito sacrificadas e cristãos devotos. Esta senhora foi escolhida por seus vizinhos, ela e sua sobrinha que mora na casa ao lado. O Santo Padre irá compartilhar com elas os pratos típicos do Paraguai, no domingo 12 de julho.
Dona Assunção, como é conhecida, disse em guarani: "Ndaikuai mbaerepa la Papa oguaheta che rogape, tuichaiterei mbae, tuichaiterei ñandejara che rovasa" (não sei por que o Papa me escolheu, é uma grande bênção e algo muito grande). Disse à Carlos Caceres Ferreira, da agência ZENIT, membro da Equipe de Comunicação da visita papal.
Ele informou também que as crianças do Bañado Norte pintaram e decoraram, com material reciclado, as paredes das ruas por onde o Papa Francisco caminhará no domingo, para conhecer a Capela San Juan e estar alguns minutos com os fiéis.
“Esta visita – explica Carlos – não é mera casualidade, uma vez que o Cardeal Claudio Hummes já havia visitado o mesmo lugar em 2013. Acreditamos que seu amigo pessoal sugeriu uma visita a este local. Embora os jesuítas do Paraguai, como todos sabem, trabalhem muito nestes bairros, de modo que poderia ter sido uma sugestão deles”, conclui o jornalista.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Francisco viaja para a Bolívia a fim de abrir a porta ao diálogo e à colaboração com o Estado

O Arcebispo de Cochabamba e presidente da Conferência Episcopal Boliviana (CEB), Dom Oscar Aparicio, afirmou que o Papa Francisco vai visitar a Bolívia nos dias 8, 9 e 10 de Julho, para "ter um bom relacionamento com o Estado, com o Presidente".
"O Papa fez uma escolha muito clara: ter uma boa relação com o Estado, com o Presidente. Não é apenas uma diplomacia entre dois chefes de Estado que se visitam. Há uma intenção muito particular de abrir a porta para o diálogo, da colaboração, do respeito mútuo", disse Mons. Aparicio em uma entrevista concedida a Infodecom.
O presidente da CEB também disse que no passado "quiseram mostrar-nos como a oposição, a Igreja na Bolívia está para colaborar e ajudar, e o sinal do Papa é um sinal muito claro de aproximação".
Por esta razão, ressaltou que "este não pode passar despercebido, mas que é um sinal e um gesto muito óbvio de fazer o que a Igreja sempre fez: colocar-se ao serviço, em predisposição, em diálogo e em uma proximidade colaborativa".
O Santo Padre terá uma primeira reunião com o presidente Evo Morales nesta quarta-feira à tarde no Palácio do Governo. Então, em Santa Cruz, o Papa se reunirá com organizações sociais e também com o clero boliviano, além de realizar uma visita aos presidiários de Palmasola.
Assim, o Arcebispo de Cochabamba, disse que "há sinais de aproximação" com o Governo desde que foi anunciada a visita de Francisco. "Nós estamos falando –reconheceu – de três meses quando houve aproximação e também com as suas dificuldades".
Nesta linha, Mons. Aparicio recordou que "houve um período de vários anos entre 'solavancos e contusões". Mas hoje há mais diálogo, mais proximidade. Esperemos que isso dure".
No que respeita ao processo de aproximação com o Governo, o presidente dos bispos bolivianos explicou que "a proposta é ter uma agenda de temas de tipo social, ou seja, do trabalho que nós, como Igreja, fazemos nos lares, educação, saúde, etc.”. “A intenção é levar adiante esta agenda para atender estes temas. Fizemos progressos e até mesmo nomeamos pessoas que poderiam ser as protagonistas desse diálogo e aproximação”, disse.
Dom Oscar Aparicio concluiu a sua intervenção afirmando que "a Igreja está para ajudar e colaborar porque nós não somos oposição. Tomara que seja um momento histórico”.

Fonte: Zenit.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

A família, a favor ou contra as vocações?

"A família, como Igreja doméstica, é o primeiro lugar onde acontece a transmissão da fé. É lá que muitas vezes se descobre e se desenvolve a vocação ao sacerdócio e à vida consagrada. Ao mesmo tempo, a família pode ser o lugar onde uma vocação nascente pode ser sufocada, se não for devidamente acompanhada e apoiada", assim afirmou Dom Michel Remery, vice-secretário geral da CCEE, na abertura dos trabalhos do Encontro Europeu das Vocações, ontem à tarde.
"Caso se perda de vista a ideia de que a instituição familiar, é essencialmente uma comunidade de fé para o bem-estar do casal e dos seus filhos, isso tem um efeito direto na harmonia natural da vida familiar, e com isso na quantidade e na qualidade das vocações", alertou Remery.
"Quando um jovem ou uma jovem - acrescentou - expressa um desejo crescente de seguir a Cristo de uma forma radical através de um processo de discernimento para o sacerdócio ou à vida consagrada, a família pode se sentir inadequada e só no acompanhamento das perguntas, dúvidas e desafios associados a uma opção de vida tão radical".
Hoje em dia, continuou o padre, "tal escolha é considerada pouco atraente e estranha, de modo que muitas vezes a mesma família cristã põe obstáculos e proibições aos jovens que consideram tal vocação. Claramente, o caminho para a vocação é um caminho pessoal de Deus com a pessoa chamada, e a escolha é só sua. Ao mesmo tempo, como cristãos, não estamos sozinhos, e precisamos da ajuda dos demais”.
Portanto, de acordo com o vice-secretário-geral do CCEE, "é necessário que toda a comunidade cristã, a Igreja, saiba acompanhar e ajudar as famílias a fazer em conjunto um processo de discernimento e de maturidade de uma possível vocação ao sacerdócio ou à vida consagrada".
Para tratar o tema “Como acompanhar os jovens ao sacerdócio e à vida consagrada na família, estão reunidos, hoje, em Praga, 72 participantes, dos quais nove bispos, juntamente com os responsáveis pela pastoral vocacional e os delegados das Conferências Episcopais na Europa e das Congregações religiosas, provenientes de 20 Países europeus e da Comissão para a Vida Consagrada dos EUA.
Os trabalhos, que estão ocorrendo a portas fechadas, concluirão quinta-feira, 9 Julho, com a aprovação de um comunicado final que será oferecido em várias línguas, na manhã de sexta-feira, 10 julho.

Fonte: Zenit.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Uma menina paraguaia pede para o Papa ser seu pai

"Eu gostaria que você fosse o meu pai para sempre, porque o meu pai e minha mãe estão na prisão, te amo...”. Este é o pedido ao Papa Francisco de Kiara, uma menina de 9 anos que mora no Banhado Sul, região situada às margens do rio Paraguai, e que está muito perto do aterro de lixo Cateura de Assunção.
Em uma carta comovente, escrita à mão, a menor reconhece que gostaria de sentir-se amada, ter uma mãe, um pai, um lar. A iniciativa de escrever para o Santo Padre surgiu do coordenador logístico da visita papal no Banhado Norte, Luis Fretes, que teve a ideia de que todas as crianças do Banhado Sul escrevessem as suas próprias cartas, que ele próprio se encarregaria de entregar ao Pontífice, já que Francisco não visitará esta região da ribeira.
No total, 2.300 crianças escreveram as suas cartas, e, entre todas, destacou a de Kiara. “Somente escrevi o que me falava o coração, já que não tenho nem mãe, moro com os meus avós e se chego a ver e falar, com o Papa, pedirei também que tire a minha mãe da prisão”, explicou a menina que está na escola San Blas de Fe e Alegria.
Sua mãe está na prisão há dois anos por causa do microtráfico, assim como seu padrasto, que a criou desde que ela tinha três anos. Do seu pai biológico se sabe pouco, já que emigrou há muito tempo, disse à imprensa local a família da menor.
Centenas de crianças dos Banhados não só moram no meio da miséria e das inundações, mas também são vítimas da venda e consumo de droga, especialmente o crack.
As pessoas moram em barracos de compensado e chapas de zinco, e cada vez que as chuvas torrenciais provocam o transbordamento do rio Paraguai, as ruas de terra tornam-se atoleiros intransitáveis.
O Banhado Norte é uma das áreas de extrema pobreza que o papa visitará durante sua passagem pelo Paraguai. Naquele dia Kiara será apresentada a Francisco acompanhada por seu diretor, Germán Acevedo.
Enquanto isso, Magdalena Ramos espera chamar a atenção do Papa quando visite a pequena capela de paredes nuas no Banhado Norte, para que ajude o seu filho, cujos problemas neurológicos congênitos o colocaram na cama. “Gostaria que o Papa o visse e pedisse uma doação de cadeira de rodas e tratamento médico”, disse a mulher de 51 anos, que está desempregada.

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Equador: um selo postal para comemorar a visita do Papa Francisco

A imagem do Papa Francisco aparecerá em um selo postal comemorativo por ocasião da sua próxima visita ao Equador. Os selos foram apresentados nesta terça-feira pela Empresa Pública Correios do Equador e a Universidade Católica de Cuenca.
A emissão postal “S.S. Francisco Visita Equador 2015”, que já está em circulação, consta de um selo impresso com tinta especial prateada e uma folha de souvenir impressa em prata, cujo valor facial é de US $ 3 e US $ 5, respectivamente.
"O Equador abre as suas portas para receber o papa Francisco, para compartilhar com os equatorianos uma experiência maravilhosa com o país que ama a vida", disse Ricardo Quiroga, gerente geral dos Correios do Equador, durante a apresentação que revelou que foram impressos 100 mil selos e 10 mil folhas de souvenir que podem ser adquiridas pela cidadania.
Enquanto isso, Adolfo Palomeque, diretor de Cultura e representante da Universidade Católica de Cuenca, disse que o esforço das duas instituições é representado nesta edição postal que viajará pelo mundo.
Finalmente, o subsecretário de Assuntos postais e Registro Civil do Ministério das Telecomunicações e Sociedade da Informação, Adrian Ibarra, fechou o ato de apresentação garantindo que “a chegada do Papa Francisco ao Equador é uma oportunidade para refletir sobre a solidariedade humana, bem como para demonstrar-lhe o amor e a alegria deste povo latino-americano".
O Papa vai pousar no próximo dia 5 de Julho em Quito. Lá começará uma visita pastoral que o levará também a Guayaquil e Quinche. Sua viagem pelo país latino-americano se encerrará no dia 08 de julho, data em que o Santo Padre partirá para a Bolívia e, em seguida, para o Paraguai.

domingo, 5 de julho de 2015

Sacerdote espanhol na Bolívia: ‘Estamos vivendo com entusiasmo a chegada de Francisco'

O sacerdote espanhol Juan Carlos Devesa trabalha na cidade de El Alto, Bolívia, há 18 anos. Nessa região atende uma paróquia de 50 mil habitantes, é diretor espiritual do seminário e acompanha os primeiros anos de ministério dos sacerdotes recém ordenados. Além do mais, através do Projeto Burgosmarka, atende junto com os seus colaboradores umas 200 crianças para prevenir situações de risco. A sua vida está junto do povo boliviano, também neste momento, no qual se preparam para receber o Papa Francisco, que visitará a Bolívia na segunda etapa desta peregrinação que o levará também ao Equador e Paraguai.
Em declarações às Pontifícias Obras Missionárias, o padre Devesa admite que estão “vivendo com entusiasmo a chegada de Francisco”, e explica as muitas iniciativas que estão em andamento para preparar o encontro com o Santo Padre.
"A nível da diocese foram realizados festivais de música para escolher canções que nos acompanhem ao aeroporto enquanto se espera. Também houve uma corrida a pé rumo à nova avenida que tem o nome Papa Francisco”. Todas as paróquias estão preparando a vinda do pontífice, desde as pregações, as catequeses, etc.
Também nesta semana estão "chegando as feiras (mercados ao ar livre) para rezar publicamente e abençoar as pessoas com a atraente água benta". O missionário de Burgos acrescentou que "no sábado haverá duas vigílias de oração: uma em uma praça pública dirigida, principalmente, aos jovens; e outra em uma das capelas com adoração ao Santíssimo”.
Também no Equador e Paraguai houve preparação com vigílias de oração, de acordo com relatos das missionárias Imaculada Gamarra e Irene Alonso. Ambas lamentam perder a visita do Papa, que encontrarão praticamente no aeroporto, pois as duas organizaram faz tempo a sua viagem à Espanha para visitar a família, uma em Logrono e outra em León. Mas, tanto a irmã Imaculada, escolapia, quanto a irmã Irene, missionária escrava do Imaculado Coração de Maria, puderam viver o ambiente de preparação para a chegada de Francisco, tanto no Equador quanto no Paraguai.
Na oração que os católicos do Equador estão rezando para o Pontífice, pedem para “Pais Deus” que “a visita do teu servo, o Papa Francisco, fortalecerá nos nossos corações a alegria de ser cristãos, discípulos missionários do teu Filho Jesus Cristo e filhos da sua Igreja, nossa Mãe”. Enquanto que, milhares de católicos do Paraguai participaram na Vigília de oração que foi realizada no dia 5 de junho no Estadio “Defensores del Chaco”. Depois de entoar o hino nacional do Paraguai, começou uma celebração Eucarística que reforçou o chamado “Coro Papal”, que conta com umas 500 vozes.
América é o continente com a maior presença de missionários espanhóis, quase 70 por cento dos 13 bilhões de hoje. Destes, mil trabalham nos países que o Santo Padre visitará do 5 ao 13 de julho: 487 na Bolívia, 409 no Equador e 189 no Paraguai.

Fonte: Zenit.

sábado, 4 de julho de 2015

Quais são os pontos fortes da viagem do Papa à América Latina?

O Papa Francisco começa neste domingo a sua viagem de uma semana a três países da América Latina. O professor Guzmán Carriqury, secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina esclarece nesta entrevista a ZENIT, os cinco pontos fortes da viagem. Acrescenta que Francisco vai encontrar uma Igreja mais unida e tranquila depois da queda dos muros e das ideologias políticas. E que o documento de Aparecida é convergente na América Latina das mais diversas sensibilidades, junto com o pontificado do Papa Francisco pode inspirar uma grande convergência na comunhão e na unidade dos católicos latino-americanos.

 O que o Papa levará para essa viagem à América Latina e quais os pontos fortes?

- Prof. Carriquiry: Na verdade, trata-se das primeiras visitas pastorais aos países latino-americanos, porque Brasil, na Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em 2013, foi uma visita pastoral e enquanto ele encontrou os bispos brasileiros e foi para Aparecida, a visita pastoral àquele país vai ser outra coisa.
A segunda coisa: é a primeira viagem onde o Papa irá falará ao povo na sua própria língua, em espanhol, e embora tenha saído bem com outros idiomas, isso permitirá a Francisco uma liberdade e expressividade ainda maior.
Em terceiro lugar: o nível de popularidade de afeto, de credibilidade e de esperança que suscita a figura do Papa na América Latina, nos nossos povos e nos Governos é tal que vamos testemunhar impressionante abraço de amor e devoção do Papa com o povo e dos povos com o Papa.
Quarto elemento: o Papa não escolhe os grandes para começar a sua visita pastoral na América Latina, México, Brasil, Argentina, nem mesmo os médios, Chile, Colômbia, Perú, etc., mas aqueles que pessoalmente chamo de ‘periferias emergentes’, porque em uma dinâmica geopolítica são periferias que viveram uma longa tradição de pobreza, desigualdades sociais, de instabilidades políticas.
Periferias sim, mas emergente, porque nos últimos 12 anos, esses países experimentaram um ritmo de crescimento impressionante. Ainda no 2015, em condições desfavoráveis para América Latina, Equador prevê que crescerá um 4% e Bolívia e Paraguai um 5%. Este enorme desenvolvimento econômico tirou estes países da imobilidade e as massas indígena-camponeses destes países, tornando-as participantes da nova cidadania e do processo de desenvolvimento e de modernização. Surgiram novos setores da classe média populares que saíram da pobreza. Estes três países que o Papa vai encontrar, serão muito diferentes dos países que trinta anos atrás encontrou João Paulo II.
Em quinto lugar, o Papa sabe que, desde as periferias, é possível ver melhor o conjunto, a perspectiva da totalidade. Ele começou pelas periferias da Europa: pela Bósnia-Herzegovina e Albânia, e não por Espanha, França ou Alemanha.
Destas periferias emergentes o Papa vai ter muito presente o conjunto da América Latina. E o conjunto da América Latina estará na mente do Papa nesta viagem. Então, um discurso importantíssimo sobre a fraternidade dos povos e nações, da cooperação e a integração, acho que será muito forte por ocasião desta viagem.

Como é a Igreja que o Santo Padre vai encontrar agora?

- Prof. Carriquiry: O Papa vai encontrar igrejas em um estado muito diferente daquele encontrado, há trinta anos, por João Paulo II. Então, eram Igrejas muito tensas, polarizadas, às vezes divididas, onde os debates políticos e ideológicos relacionados com a teologia da libertação estavam na ordem do dia.

 Isto é?

- Prof. Carriquiry: Hoje são Igrejas mais serenas na comunhão, Igrejas que viveram o legado e as orientações da V conferência geral do episcopado em Aparecida, lançadas na missão continental, mas, especialmente interpeladas pelo que o Papa Francisco está comunicando através da Evangelii Gaudium. Ou seja, uma Igreja que olha para o núcleo do evangelho, missionária, de saída, misericordiosa, sem exclusões, cheia de ternura e compaixão, com amor e predileção pelos pobres. Igrejas que se sentem chamadas e conduzidos por este tempo de graças que estamos vivendo, que não se pode desperdiçar. Um tempo favorável para a evangelização. Igrejas chamadas a contribuir para o desenvolvimento desses países, estabelecendo um maior diálogo entre governos e episcopados, favorecendo a liberdade da Igreja para a crítica que merecem certas situações de pobreza e desigualdades. As vezes recaídas autoritárias e situações que mereceriam serem tratadas com outra serenidade e equanimidade.

 Aparecida assume o desafio de combater a pobreza, mas em outra chave, certo?

- Prof. Carriquiry: No documento de Aparecida não se fala da teologia da libertação, mas todas as intuições providenciais riquíssimas da teologia da libertação estão ali presentes. Já incorporadas no magistério da Igreja latino-americana e diria que até mesmo mundial. Outra coisa é que se tornem formas inculturadas de viver a fé, mas já estão integradas.
E depois da queda dos muros e do socialismo real, o que eram as infiltrações ideológicas e políticas caíram por si só. Por isso, Aparecida é um documento convergente na América Latina das mais diversas sensibilidades, de modo que o pontificado do Papa Francisco pode inspirar uma grande convergência na comunhão e na unidade dos católicos latino-americanos.

 O Papa Francisco, na Laudato Si’, fala de proteger a terra e de não adorá-la... Um esclarecimento oportuno nesta viagem

- Prof. Carriquiry: Claro, a Terra é criação de Deus, a Mãe Terra não é uma divindade, como se acreditava nas velhas cosmologias indígenas. A criação de Deus, de alguma forma 'profana a terra', mas ao mesmo tempo a confia à gestão prudente do homem e não ao domínio selvagem. Muitas expressões que se repetem hoje sobre a Pachamamac, e quando começam a aparecer as bruxas e os xamãs geralmente têm pouco a ver com as tradições das religiões indígenas pré-colombianas ou das religiões tradicionais, mas são formas hoje em dia muito artificiais que de alguma forma servem para manifestar esta realidade multicultural e multinacional de alguns países.

Fonte: Zenit.