O reitor da Universidade Católica Argentina (UCA), dom Víctor Fernandez, participou hoje da conferência sobre o sínodo realizada na Sala de Imprensa da Santa Sé. Os temas foram vários e, com base numa anterior explicação de Fernandez sobre a relação entre verdade e liberdade religiosa, expressada pelo Concílio Vaticano II, ZENIT lhe perguntou sobre a relação entre a doutrina e a pastoral da família.
Sobre a liberdade religiosa, dom Fernandez explicou que, “antes do concílio, dizia-se que era necessário defender a verdade” e que, se alguém praticava outra religião e não gostasse do que a Igreja dizia, “era problema dele, porque nós defendíamos a verdade”.
Mas “o concílio, com muita valentia, foi um pouco mais adiante. Ele disse que existe a verdade, mas que é necessário respeitar a liberdade religiosa. Quem segue em sua consciência outra religião tem que fazê-lo porque está convencido disso. E isso, para alguns, era impossível, não podia ser dito nunca. Mas o Concílio Vaticano II encontrou um caminho novo”, disse o reitor.
Na sala sinodal, “um bispo narrou este exemplo para falar de algo que tinha sido perguntado antes: poderia este sínodo, ou o sínodo do ano que vem, achar uma nova síntese para falar das situações particulares, como a dos divorciados que se casaram de novo, ou de outras tantas situações?”.
Diante desta pergunta, o reitor da UCA reiterou que “ninguém quer eliminar a indissolubilidade matrimonial. Isso não é possível. Ninguém quer fragilizar o vínculo. Todos queremos que os esposos sejam fiéis até a morte. Para nós é um ideal belíssimo. E a sociedade precisa muito desta mensagem, porque, sem isso, vamos acabar destruindo a nós mesmos. Isto é muito claro. E digamos que a maior parte dos padres sinodais insiste nisto: não debilitar a força e a beleza desta proposta cristã, que não pode se tornar 'light'”.
Entretanto, mesmo sem fragilizar este ideal, “outros bispos insistem no realismo compreensivo, que deve acompanhar o sofrimento dos outros mesmo que tenhamos de nos ‘sujar’ um pouco, porque o mestre Jesus ficava perto de todos, não se afastava de ninguém”.
“[Há] situações, como a poligamia, que nós não podemos aceitar nunca (...) Mas entendemos as situações particulares, em que um homem se converte e depois tem que optar por só uma das mulheres. E as outras? Têm que ir embora e morrer de fome? Neste ponto também a doutrina é claríssima e não pode mudar nunca, mas há uma situação particular: o que nós temos que fazer? Há um sofrimento, um problema, e é necessário pensar nele”.
Na abertura do sínodo sobre a família, recordou o reitor, “o papa pediu que todos falassem com clareza. Não é necessário esconder nada... Falar com clareza porque, se não, não vamos chegar nunca àquilo que nosso Senhor nos pede. Mas também escutar com muita humildade, porque todos têm algo para nos ensinar”.
Respondendo sobre a sua posição de “amigo pessoal do papa Bergoglio”, dom Fernandez esclareceu: “Dizer que somos ‘amigos’ é meio exagerado. Eu trabalhei com ele em várias ocasiões e nos entendemos muito bem, mas nada mais do que isso. No CELAM, eu fiquei muito admirado com o modo de trabalhar do então cardeal Bergoglio. Ele estava preocupado porque queria um ambiente de muita participação em Aparecida. Muitos diziam que a conferência anterior, em Santo Domingo, já trazia algumas diretrizes de cima e que não se podia falar muito. O que se desejava, naquela ocasião, era uma espécie de renascimento da Igreja na América Latina em sua liberdade de trabalho, de produção, etc. O então cardeal Bergoglio não queria que se partisse de um texto prévio, mas que todos falassem com absoluta liberdade nas comissões. E, pouco a pouco, foi havendo consenso. Os grupos e comissões discutiam com muita liberdade e foram surgindo os textos de cada uma das comissões”.
O arcebispo reconheceu que “houve muito pouco tempo para se fazer o documento de Aparecida, por isso ele é um documento muito heterogêneo. Literariamente, é preciso desculpá-lo em muitos defeitos. Mas a sua grandeza é o fato de que ele é o resultado de um debate real, de discussões reais, que coletaram os consensos conseguidos pouco a pouco”.
“É possível que o papa não esteja pensando muito se este sínodo não vai produzir nada de extraordinário ou algo que todo mundo aplauda, porque ele sempre pensa que o tempo é superior ao espaço. Que as coisas vão se gestando lentamente, que o que interessa é iniciar os processos, mais do que forçar decisões. E esses processos darão os seus frutos no momento adequado”.
Fonte: Zenit.
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