As palavras do Salmo – «Minha carne e meu coração desfalecem; rochedo do meu coração e minha porção é Deus para sempre!» (Sal 73, 26) – fazem-nos a pensar na nossa vida. O Salmista expressa jubilosa confiança em Deus. Todos sabemos que, mesmo se a alegria não se expressa da mesma forma em todos os momentos da vida, especialmente nos momentos de grande dificuldade, «sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de sermos infinitamente amados» (Evangelii gaudium, 6). A firme certeza de ser amados por Deus está no centro da vossa vocação: ser para os outros um sinal tangível da presença do Reino de Deus, uma antecipação das alegrias eternas do céu. Somente se o nosso testemunho for alegre é que poderemos atrair homens e mulheres para Cristo; e esta alegria é um dom que se alimenta de uma vida de oração, da meditação da Palavra de Deus, da celebração dos Sacramentos e da vida comunitária. Quando faltam estas coisas, aparecerão as fraquezas e dificuldades que obscurecem a alegria conhecida tão intimamente no início do nosso caminho.
Para vós, homens e mulheres consagrados a Deus, tal alegria está enraizada no mistério da misericórdia do Pai revelada no sacrifício de Cristo sobre a cruz. Quer o carisma do vosso instituto se oriente mais para contemplação, quer se volte mais para a vida activa, o vosso desafio é tornar-vos «especialistas» na misericórdia divina precisamente através da vida em comunidade. Sei, por experiência, que a vida comunitária nem sempre é fácil, mas é um terreno providencial para a formação do coração. Não é realista esperar que não haja conflitos: surgirão incompreensões e será preciso enfrentá-las. Mas, apesar destas dificuldades, é na vida comunitária que somos chamados a crescer na misericórdia, na paciência e na caridade perfeita.
A experiência da misericórdia de Deus, alimentada pela oração e pela comunidade, deve plasmar tudo o que sois e tudo o que fazeis. A vossa castidade, pobreza e obediência tornar-se-ão um testemunho jubiloso do amor de Deus, na medida em que permanecerdes firmes sobre a rocha da sua misericórdia. Verifica-se isto particularmente no que se refere à obediência religiosa. Uma obediência madura e generosa exige que adirais na oração a Cristo, o qual, assumindo a forma de servo, aprendeu a obediência por meio do sofrimento (cf. Perfectae caritatis, 14). Não há atalhos: Deus quer os nossos corações por inteiro, e isso significa que temos de nos «desapegar» e «sair de nós mesmos» sempre mais.
Uma experiência viva da primorosa misericórdia de Deus sustenta também o desejo de alcançar aquela caridade perfeita que brota da pureza de coração. A castidade exprime a vossa doação exclusiva ao amor de Deus, que é a rocha dos nossos corações. Todos sabemos quanto empenhamento pessoal e exigente isso comporta! As tentações neste campo requerem confiança humilde em Deus, vigilância e perseverança e abertura do coração e ao irmão ou irmã sabia que o Senhor envia em nosso caminho.
Através do conselho evangélico da pobreza, sereis capazes de reconhecer a misericórdia de Deus não apenas como fonte de fortaleza, mas também como um tesouro. Mesmo se estamos cansados, podemos oferecer-Lhe os nossos corações carregados de pecados e fraquezas; nos momentos em que nos sentimos mais fracos, podemos encontrar Cristo, que Se fez pobre para que nos tornássemos ricos (cf. 2 Cor 8, 9). Esta necessidade fundamental que temos de ser perdoados e curados é, em si mesma, uma forma de pobreza que nunca deveríamos esquecer, não obstante todos os progressos feitos para a virtude. Além disso, a pobreza deve encontrar expressão concreta no vosso estilo de vida, tanto pessoal como comunitário; penso de modo particular na necessidade de evitar todas as coisas que vos possam distrair e causar confusão e escândalo nos outros. Na vida consagrada, a pobreza tanto é um «muro» como uma «mãe»: um «muro» porque protege a vida consagrada, e uma «mãe» porque a ajuda a crescer e a conduz pelo justo caminho. A hipocrisia de quantos – homens e mulheres consagrados – professam o voto de pobreza mas vivem como ricos, fere as almas dos fiéis e prejudica a Igreja. Pensai também como é perigosa a tentação de adoptar uma mentalidade puramente funcional e mundana, que induz a colocar a nossa esperança apenas nos recursos humanos e destrói o testemunho de pobreza que Nosso Senhor Jesus Cristo viveu e nos ensinou. Agradeço a este ponto, agradeço ao padre presidente, a irmã presidente dos religiosos, porque eles falaram justamente sobre o perigo que a globalização e o consumismo oferecem à vida de pobreza religiosa. Obrigado.
Queridos irmãos e irmãs, com grande humildade, fazei tudo o que puderdes para demonstrar que a vida consagrada é um dom precioso para a Igreja e para o mundo. Não o guardeis só para vós mesmos; partilhai-o, levando Cristo a todos os cantos deste amado país. Deixai que a vossa alegria continue a encontrar expressão nos vossos esforços por atrair e cultivar vocações, reconhecendo que todos vós colaborais para formar os homens e mulheres consagrados de amanhã. Quer vos dediqueis à vida contemplativa, quer à vida apostólica, sede zelosos no amor pela Igreja na Coreia e no desejo de contribuir, através do vosso carisma específico, para a missão de proclamar o Evangelho e edificar o povo de Deus na unidade, na santidade e no amor.
Confio-vos a todos, especialmente aos membros idosos e enfermos das vossas comunidades, também vos saúdo de maneira especial, aos cuidados amorosos de Maria, Mãe da Igreja, e de coração concedo-vos a minha bênção.
Fonte: Zenit.
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