Conforme explicado pelo cardeal Koch, a mesa redonda de ontem foi também um tributo à memória do cardeal jesuíta alemão Augustin Bea (1881-1968), figura de destaque do Concílio Vaticano II, pioneiro do diálogo judaico-cristão e um dos principais arquitetos da declaração Nostra Aetate. O Centro de Estudos Judaicos da Universidade Gregoriana homenageia o nome do cardeal Bea.
O rabino Skorka apresentou o contexto histórico da pluralidade multicultural e religiosa de Buenos Aires, que, desde o século XIX, se tornou destino de vítimas de perseguição política e de minorias étnicas da Europa, dando vida à maior comunidade judaica da América Latina.
O diálogo judaico-católico na Argentina, disse o rabino, vem historicamente de antes do Vaticano II e, de alguma forma, foi precursor das suas ideias a partir do nascimento, em 1956, da primeira fraternidade judaico-cristã do subcontinente latino-americano.
O verdadeiro propósito do diálogo inter-religioso, disse Skorka, “é essencialmente a explicação do porquê da nossa fé, do motivo de sermos judeus em vez de cristãos. É uma prática que não pode ser fim em si mesma e que deve evitar a autocomplacência, fugindo das tentações de proselitismo”.
Só assim poderemos "nos conhecer e amar", disse o rabino, destacando que, em hebraico, os verbos conhecer e amar são sinônimos. "Deus está em cada homem. Por isso, respeitar a Deus significa respeitar quem está perto de mim", declarou.
O diálogo inter-religioso, observou ainda, se divide em três níveis: os dois primeiros são o conhecimento e o amor; depois vem o nível teológico, que, em particular nas relações judaico-cristãs, pode ser bastante frutuoso. "Durante o nosso último encontro, o papa Francisco disse que o próximo passo é justamente o teológico", afirmou o rabino de Buenos Aires.
Recordando o calote argentino de 2001, Skorka comentou que a crise foi uma oportunidade na qual "as instituições religiosas foram chamadas a colaborar umas com as outras de maneira profunda".
Sobre a próxima visita do papa Francisco à Terra Santa, o rabino de Buenos Aires espera que a viagem inspire uma "mensagem de paz", embora o papa "não vá resolver todos os problemas; pelo menos ele vai deixar um sinal".
ZENIT perguntou sobre as armadilhas desta visita pastoral, em particular sobre o risco de uma "banalização" do evento. Skorka respondeu que "há grandes expectativas entre todas as pessoas" devido ao "grande carisma" de Francisco, e que, deste ponto de vista, o desafio para o papa será precisamente demonstrar que uma viagem desse tipo não é uma trivialidade.
ZENIT perguntou também qual é a visão do rabino sobre o diálogo entre cristãos e muçulmanos, revitalizado pelo papa Francisco especialmente depois da mensagem por ocasião do Ramadã. Skorka considera que o diálogo inter-religioso é uma necessidade para todas as religiões e não deve excluir nenhuma fé.
O rabino acrescentou que as relações judaico-cristãs, no entanto, sempre terão uma vantagem em virtude das raízes comuns abraâmicas, “que nos tornam, em certo sentido, parentes”. Além disso, foi no contexto histórico judaico que o cristianismo veio à luz.
É significativo, observa Skorka, que Jesus fosse chamado de rabbi, ou seja, rabino, mestre. Do ponto de vista teológico, "a relação é muito profunda".
Com o islã também há raízes abraâmicas em comum, mas as circunstâncias históricas levaram a uma diversidade maior, que torna o diálogo mais complexo, pelo menos no âmbito teológico. É um caso parecido com o das relações entre as três religiões monoteístas e o budismo, por exemplo.
Em todo caso, reiterou o rabino, o diálogo inter-religioso é sempre necessário pelo menos nos dois primeiros níveis, o do conhecimento e o do amor, e deve ter como pilar essencial "o respeito pela vida" em todas as suas formas.
Fonte: Zenit.
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