terça-feira, 18 de setembro de 2012
Aprendendo a viver
“Jesus e seus discípulos atravessavam a Galileia, mas ele não queria que ninguém o soubesse. Ele ensinava seus discípulos” (Mc 9,30-31). Jesus foi reconhecido e chamado muitas vezes de Rabi, Mestre. Reuniu em torno de si discípulos que dele aprendiam as lições da vida, aproveitando os encontros e desencontros diários. Uma das mais incômodas de tais lições, e a mais decisiva, foi o anúncio da paixão, repetida pelo menos três vezes. “Mas eles não compreendiam o que lhes dizia e tinham medo de perguntar” (Mc 9,32). Eram como estudantes cujo interesse não tem coragem de ir ao fundo das questões. No final das contas, na hora decisiva, a “turma de alunos” se dispersou. Após a Ressurreição, “Jesus apareceu aos onze discípulos, enquanto estavam comendo. Ele os criticou pela falta de fé e pela dureza de coração, porque não tinham acreditado naqueles que o tinham visto ressuscitado” (Mc 16, 14). Com eles e muitas vezes gazeteiros na Escola do discipulado, aprendamos de novo.
Quando crianças, nossos pais nos ensinaram lições de civilidade. Quantas vezes ouvimos recomendações tão concretas e importantes: não “avançar” na comida, esperar os outros servirem primeiro, dizer “muito obrigado”, pedir a bênção, lavar as mãos, prestar atenção, não dizer palavrões! E se cristãs as nossas famílias, tivemos a alegria de ouvir que o que se faz ao próximo, é ao próprio Jesus que se faz. Quantas e belas lições nos deixaram os gestos de caridade dos que nos precederam no caminho da vida, imprimindo em nossos corações valores que dão um timbre diferente ao que fazemos pela vida afora. Como “é de pequeno que se torce o pepino”, ou aprendemos cedo ou então podemos converter-nos, fazendo-nos crianças depois de grandes!
Os discípulos de Jesus entraram continuamente na escola. Quando disputavam os primeiros lugares ou queriam saber quem era o maior, Jesus convida, numa das lições mais preciosas, a assumirem o último lugar, o espaço do serviço humilde, superando as competições, “criar espaço para o irmão, levando os fardos uns dos outros (Cf. Gl 6,2) e rejeitando as tentações egoístas que sempre nos insidiam e geram competição, arrivismo, suspeitas, ciúmes” (Novo Millenio ineunte 43).
O mundo competitivo em que vivemos convida a uma corrida tantas vezes desenfreada e desrespeitosa à dignidade e aos direitos básicos das pessoas humanas. No vale-tudo cotidiano, percorre-se um roteiro que vai do troco da mercearia às grandes fortunas alcançadas a preço de corrupção, lavagem de dinheiro e outras mazelas hoje postas à vista de todos, inclusive nos julgamentos realizados nas mais altas esferas da magistratura e que podem ser assistidos pelos meios de comunicação. Para passar à frente, conquistar e manter o poder, os limites éticos são ignorados ou desprezados e as cifras, descritas pelo menos em milhões, causam indignação aos que têm um mínimo de consciência da cidadania. Menos mal que alguma luz, esperamos consistente, aparece no fundo do túnel.
A disputa pelo poder legislativo e executivo municipal, corrente nos dias que precedem as eleições, é legítima numa sociedade democrática, mas cabe aos cidadãos o filtro da consciência que lhes possibilite decidir bem, alçando aos cargos em jogo pessoas que sejam dignas, as melhores ou pelo menos as “menos piores”.
Se nos referimos às raízes familiares das pessoas no processo educativo, vale aqui recomendar com simplicidade e clareza a todos que os candidatos aos cargos devem ter uma folha de serviços que possibilite conferir o que fizeram e como fizeram pelo bem da sociedade. É bom saber com que “companhia” andaram ou andam, para recordar os antigos e sábios conselhos dos mais velhos. Quem compartilhou aventuras com as muitas quadrilhas existentes, pode até mudar, mas é bom verificar com calma. Foram ainda os nossos pais que ensinaram o quanto são complicadas as pessoas que contam muitas vantagens. O valentão da esquina, o que pensa ser dono da rua ou do mundo, costuma ter muita coisa a esconder! Espero que sejamos mais sábios, pois as promessas correntes nas campanhas são tantas vezes irreais.
Enfim, há valores para nós cristãos irrenunciáveis: a vida desde a fecundação até seu ocaso natural, o plano de Deus que criou o homem e a mulher, no maravilhoso projeto de realização descrito no livro do Gênesis, a dignidade do matrimônio e da família, a não interferência dos poderes públicos na paternidade e maternidade responsáveis, a liberdade religiosa, ao lado de outros deles decorrentes. Dentro de tal horizonte, restam-nos alguns dias para refletir e decidir conscientemente. O Senhor nos ajude, para que possamos contribuir para uma sociedade mais digna e justa.
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém
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