"No Paquistão, as mulheres aprendem desde cedo que os homens têm o direito de bater nelas e de maltratá-las. E se consideram como objetos. Se o marido lhes dá de beber, bebem. Caso contrário, morrem de sede". Irmã Nazreen Daniels trabalha em um centro da diocese de Faisalabad - apoiado em parte pela Ajuda à Igreja que Sofre - que auxilia jovens, mulheres e até meninas que são vítimas de violência.
A freira, membro do Instituto da Beata Virgem Maria, diz à Fundação Pontifícia, alguns testemunhos marcantes de jovens que foram abusadas. Como Kiden de treze anos que ficou grávida após ser estuprada várias vezes por um dos filhos da família onde trabalhou como empregada doméstica - "O trabalho infantil é outro mal que enfrentamos". Ou uma menina de oito anos, também ela estuprada, que a religiosa começou a tomar conta dela há pouco tempo. "A estrada delas foi interrompida antes de começar - afirma - Aqui não há futuro para uma menina que foi estuprada. Ninguém vai querê-la". Numa sociedade fortemente islamizada como aquela do Paquistão é de fato inconcebível que uma mulher não chegue ilibada ao matrimônio.
"Em muitas ocasiões- diz irmã Nazreen – ainda expõem o lençol depois da primeira noite de núpcias. E sem a prova da virgindade a menina é rejeitada pelo marido e devolvida para a família. "
Para as vítimas de violência no Paquistão não há justiça. São necessárias muitas testemunhas oculares para denunciar um estupro: um pedido obviamente impossível de satisfazer. E muitas vezes os agressores forçam as mulheres ao silêncio usando da lei antiblasfêmia. A regra introduzida em 1986, prevê prisão perpétua para quem profana o Alcorão e a pena de morte para aqueles que insultam Maomé. E a acusação de insultar o Profeta - que, ao contrário do estupro não requer muitas provas - é uma razão válida para manter o silêncio.
"Aconteça o que acontecer - continua a religiosa - a culpa é das mulheres. Sou culpada de ter sofrido violência e culpada do fracasso do próprio casamento". Se um casal não tem filhos o homem está autorizado a se casar pela segunda vez e a sua primeira esposa "é tratada como uma escrava, às vezes até forçada a dormir no celeiro com o gado". Há também muitos casos de matratos, homicídios e mutilações por motivo de honra: a muitas jovens foi cortado o nariz ou queimado o rosto com ácido porque se recusaram a se casar.
"E a violência doméstica não é a exceção, é a regra." Irmã Nazreen explica que as mulheres paquistanesas já se resignaram às humilhações e abusos e aceitaram plenamente o status inferior. "Às vezes eu pergunta às meninas o que elas estão pensando e elas me dizem: "Irmã, nós não pensamos".
A islamização crescente da sociedade paquistanesa também ajudou a derrubar as poucas conquistas conseguidas até agora. A educação feminina, disse à ACN o Bispo de Faisalabad Joseph Coutts, "para os extremistas é um espinho no pé”. E é por isso que eles destruíram uma dúzia de institutos femininos no Noroeste do país".
A Igreja Católica defende vigorosamente a dignidade das mulheres no Paquistão, através das escolas, as aulas de costura e ajuda concreta às vítimas de estupro. "Mas acima de tudo - diz Irmã Nazreen – procuramos espalhar a consciência de que somos todos seres criados por Deus, com direitos iguais."
A freira relata por fim como é perigoso andar pelas ruas, "alguns centímetros de pele são considerados um convite ao estupro". As paquistanesas nunca se movem sozinhas e se cobrem o máximo possível. Em algumas áreas, até as religiosas são obrigadas a esconder seu rosto atrás de um véu para não atrair muito a atenção. Por isso, Ajuda à Igreja que Sofre fornece muitos carros para as religiosas que trabalham no Paquistão: para evitar que elas sejam forçadas a caminhar ou usar transporte público, correndo o risco de serem molestadas, estupradas ou raptadas.
Fonte: Zenit.
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