Ciclo C
Textos: Ecle 1,2; 2, 21-23; Col 3, 1-5.9-11; Lc 12, 13-21
Ideia principal: “Guardai-vos de toda cobiça”. Diante dos bens materiais, nem desprezo, nem apego, mas o “tanto quanto” de santo Inácio de Loiola.
Síntese da mensagem: “A avareza rompe o saco”. Esta frase proverbial parte da imagem de um ladrão que ia pondo num saco quanto roubava e quando, para que coubesse mais, apertou o que tinha dentro do saco, rompeu-se. A cobiça rompe o saco é uma forma mais antiga do que a avareza rompe o saco, como mostra a sua presença em obras como La Lozana Andaluza 252, El Guzmán de Alfarache, essa novela picaresca de Mateo Alemán, El Quijote I 20, II 13 y 26. Uma forma sinônima aparece no El Criticón de Baltasar Gracián:por não perder um bocado, perdem-se centos. O coração do cobiçoso não repousa nem sequer de noite (Evangelho). Busquemos as coisas do alto (2 leitura), poia as daqui debaixo não saciam e são perecedouras (1 leitura).
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, diante dos bens materiais não cabe o desprezo. Jesus não está nos convidando a desprezar os bens da terra (evangelho). São bons e lícitos, e se conseguidos honestamente nos ajudam a levar uma vida digna e sem apuros, em ordem a ter uma casa confortável e um trabalho remunerado, alimentar e sustentar a família, oferecer uma boa educação aos filhos e ajudar os necessitados. A riqueza em si não é boa nem má: o que pode ser mau é o uso que fazemos dela e a atitude interior diante dela. Se Jesus chamou tonto ou insensato o rico do evangelho, não é porque fosse rico, ou porque tivesse trabalhado pelo seu bem-estar e o da sua família, mas porque tinha programado a sua vida prescindindo de Deus e esquecendo também a ajuda aos outros. A cobiça leva os homens a expressar um profundo amor pelas posses, o que os constitui em idólatras.
Em segundo lugar, diante dos bens materiais seria muito mal para nós nos apegar ou idolatrá-los. Basta abrir a Sagrada Escritura: Judas foi cobiçoso e entregou o seu Mestre; Davi cobiçou Betsabè e cometeu assassinato; Jacó cobiçou os direitos do seu irmão e o incitou a desprezá-los; os filhos de Jacó cobiçaram o amor do pai e por inveja quiseram matar o seu irmão José; Ananias e Safira mentiram e morreram. A cobiça é um pecado tão antigo como sutil. No mundo em que vivemos, materialista por excelência, não é nada esquisito que nos vejamos tentados pela cobiça. A Palavra de Deus nos fala da origem da cobiça, dos seus efeitos e de como enfrentá-la. Este refrão que ligado à fabula de Esopo que fala do cachorro e o reflexo no rio. Um cachorro que ia com um pedaço de carne no seu focinho e ao passar por uma ponte viu a sua imagem refletida na água… pensou que era outro cachorro que tinha um pedaço maior e quis tomar dele… O resultado: ficou sem nada. Qohelet (1 leitura) nos convida a relativizar os diversos afãs que costumamos ter com o seu tom pessimista: “vaidade, tudo é vaidade”, que também podemos traduzir assim:“vazio, tudo é vazio”. A riqueza não nos dá tudo na vida, nem é o principal: a morte relativiza tudo. É sábio reconhecer os limites do que é humano e ver as coisas no justo valor que têm, transitório e relativo. Tanta preocupação e tanta angustia, inclusive do trabalho, não pode nos levar a nada sólido. A nossa vida é como a erva que esta fresca de manhã e de tarde já está seca (Salmo). Jesus no evangelho nos convida ao desapego do dinheiro porque não é um valor absoluto nem humanamente nem cristãmente. Por cima do dinheiro está a amizade, a vida de família, a cultura, a arte, a comunicação interpessoal, o são disfrute da vida, a ajuda solidaria para com os outros. Tem que ter tempo para sorrir, jogar, “perder tempo” com os familiares e amigos.
Finalmente, diante dos bens materiais a dica de santo Inácio de Loiola: “tanto quanto”. A regra do “tanto quanto” é importante para todos os mortais. Não se trata de uma doutrina filosófica, nem de um planejamento econômico, nem de um projeto político, mas poderia servir para tudo. O grande santo Inácio de Loiola, nos seus Exercícios Espirituais, apresenta isto com as seguintes palavras: “O homem é criado para louvar, fazer reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isto, salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem e para ajudá-lo na prossecução do fim para o qual foi criado. De onde se segue, que o homem tanto há de usar delas, quanto o ajudem para o seu fim, e tanto deve privar-se delas, quanto o impeçam para isto. Com isto é preciso fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas, em tudo que é concedido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não está proibido; de tal forma, que não queiramos, da nossa parte mais saúde do que doença, riqueza do que pobreza, honra do que desonra, vida longa que curta, e, por conseguinte no resto; somente desejando e elegendo o que mais nos conduz para o fim que somos criados” (Exercícios, n° 23). Esta regra, de alguma forma é usada por todas as pessoas, mas não no sentido no que exige Santo Inácio, porque todos buscam as criaturas, tanto quanto possam enriquecer, deleitar, distrair, divertir. É uma ótica totalmente diversa, já que a maioria emprega a filosofia do tanto quanto, só em conquistas terrenas, humanas, materiais, esquecendo de aplicar esta fórmula nas nossas relações com Deus, no negócio mais importante: a salvação da alma. Só quanto temos Cristo como Senhor das nossas vidas, podemos estar seguros de que morreremos mais e mais ao pecado e viveremos mais e mais para Ele, interessando-nos pela salvação da alma.
Para refletir: Onde coloco a minha felicidade: nas coisas materiais e perecedouras ou nas coisas eternas e incorruptíveis? Poderia afirmar de verdade que uso e desejo tudo é de proveito para a minha salvação eterna? Peco de cobiça, aceitando subornos, aproveitando-me do débil para o meu benefício, defendendo o injusto, ardendo de inveja, vivendo sempre descontente com o que tenho?
Para rezar: Deus Todo-poderoso que impulsionastes santo Antônio Abade a abandonar as coisas deste mundo para seguir em pobreza e solidão o Evangelho do vosso Filho, pedimos-vos que, a exemplo dele saibamos nos desprender interiormente e exteriormente de tudo o que nos impede de vos amar e de vos servir com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças. Por Jesus Cristo, vosso Filho, nosso Senhor. Amém.
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
Fonte: Zenit.
Nenhum comentário:
Postar um comentário