O filósofo italiano Rocco Buttiglione, especialista no pontificado de São João Paulo II, assina hoje um artigo de opinião no Jornal do Vaticano em que manifesta a sua surpresa perante críticas feitas ao Papa Francisco após a exortação ‘A Alegria do Amor’.
“Na ‘Amoris laetitia’ não há qualquer ética das circunstâncias, mas o clássico equilíbrio tomista que distingue o juízo sobre o facto do juízo sobre quem o realiza no qual devem ser avaliadas as circunstâncias atenuantes ou liberatórias”, refere.
O titular da Cátedra ‘João Paulo II’ de filosofia e história das instituições europeias na Universidade Pontifícia Lateranense (Roma) alude, em particular, à parte em que o atual Papa diz que, em certas condições e circunstâncias, “divorciados recasados podem receber a Eucaristia”.
“O Papa não mudou a doutrina da Igreja”, sustenta o autor.
A exortação pós-sinodal ‘Amoris laetitia’ foi publicada após duas assembleias do Sínodo dos Bispos (2014 e 2015) dedicadas às questões da família e do matrimónio.
Rocco Buttiglione recorda a importância de ter em conta o que exortação apostólica “não diz”, bem como o facto de existir uma “variedade de situações e circunstâncias humanas demasiado grandes”.
“[Amoris laetitia] Não diz que os divorciados recasados podem tranquilamente receber a comunhão. O Papa convida os divorciados recasados a iniciar (ou prosseguir) um caminho de conversão”, sublinha o filósofo italiano.
Buttiglione escreve que o caminho que o Papa propõe aos divorciados recasados é “exatamente o mesmo que a Igreja propõe a todos os pecadores” e defende que Francisco em nada “contradiz a grande batalha de João Paulo II contra o subjetivismo na ética”.
“São João Paulo II nunca duvidou de que as circunstâncias influenciassem a avaliação moral de quem realiza uma ação, tornando-o mais ou menos culpado do ato objetivamente mau que cometia. Nenhuma circunstância pode tornar bom um ato intrinsecamente mau mas as circunstâncias podem aumentar ou diminuir a responsabilidade moral de quem o realiza”, precisa.
O autor admite que São João Paulo II e o Papa Francisco não dizem “a mesma coisa” mas entende que “não se contradizem sobre a teologia do matrimónio”.
“Não há dúvida de que o divorciado recasado esteja objetivamente numa condição de pecado grave; o Papa Francisco não o readmite à Comunhão mas, como todos os pecadores, à Confissão. Nela ele contará as eventuais circunstâncias atenuantes e ouvirá se e em quais condições pode receber a absolvição”, explica.
OC
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