A aparição da Virgem de Guadalupe - a primeira na América Latina - representou uma "dramática gestação" que, de certa forma, recorda o Apocalipse: "um grande sinal apareceu no céu, uma mulher vestida do sol, a lua debaixo dos seus pés"(Ap 12,1).
Nesta referência bíblica, o Papa Francisco centrou sua homilia da Missa que, como tradição há alguns anos, é celebrada na Basílica de São Pedro todo 12 de dezembro, festa da Virgem de Guadalupe, padroeira das Américas.
A celebração foi acompanhada pelo canto da Missa Criola do compositor argentino Ariel Ramirez, dirigido por seu filho, Facundo Ramírez.
A imagem de Maria impressa na tilma do índio San Juan Diego, além de seguir fielmente as Escrituras, “assumiu para si a simbologia cultural e religiosa dos indígenas, anuncia e doa seu Filho aos novos povos da sofrida mestiçagem", explicou Papa.
"Muitos pularam de alegria e esperança diante de sua visita e diante do dom de seu Filho e que a mais perfeita discípula do Senhor se tornou a grande missionária que levou o Evangelho à nossa América" (Aparecida, 269), continuou o Santo Padre.
O Filho de Maria, Imaculada grávida - acrescentou – se revela desde as origens da história dos novos povos como o “verdadeiro Deus, graças ao qual se vive", boa nova da dignidade filial de todos os seus habitantes. Ninguém mais é servo, mas todos filhos do mesmo Pai e irmãos entre nós".
Depois de "visitar" os povos do novo mundo, a Santa Mãe de Deus "quis permanecer com eles", deixando "impressa misteriosamente sua imagem sagrada no manto de seu mensageiro para que recordássemos sempre, tornando-se assim símbolo da aliança de Maria com estes povos, a quem se confere alma e ternura".
Nas Américas, a fé cristã cresce em particular graças à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria que se tornou "o mais rico tesouro da alma dos povos americanos, cuja pérola preciosa é Jesus Cristo."
O resultado é, portanto, "um patrimônio que se transmite e se manifesta até hoje no batismo de multidão de pessoas na fé, na esperança e na caridade de muitos, na preciosidade da devoção popular e também no ethos dos povos, visível na consciência da dignidade da pessoa humana, na paixão pela justiça, na solidariedade com os mais pobres e sofredores, na esperança, por vezes contra toda a esperança".
Por esta razão, ainda hoje, continuamos a louvar a Deus pelas “maravilhas que realizou na vida dos povos latino-americanos". Por sua intercessão, Maria "reconhece o estilo e modo de agir de seu Filho na história da salvação."
Superando "juízos mundanos, destruindo ídolos do poder, da riqueza, do sucesso a todo custo, denunciando a autossuficiência, a soberba e os messianismos secularizados que afastam de Deus, o cântico mariano confessa que Deus se compraz em subverter as ideologias e as hierarquias mundanas", disse o pontífice.
Como nos lembra o Magnificat, Maria "enaltece os humildes, auxilia os pobres e os pequenos, sacia com bens, bênçãos e esperanças os que confiam em sua misericórdia de geração em geração, enquanto abate os ricos, os poderosos e os dominadores de seus tronos".
É o Magnificat que "nos introduz nas Bem-aventuranças, síntese primordial da mensagem do Evangelho". À sua luz "nos sentimos impelidos a pedir que o futuro da América Latina seja forjado pelos pobres e por aqueles que sofrem, pelos humildes, por aqueles que têm fome e sede de Justiça, pelos piedosos, pelos puros de coração, por aqueles que trabalham pela paz, pelos perseguidos por causa do nome de Cristo".
A exortação feita pelo Papa Francisco é motivada pelo fato de que a América Latina é o "continente da esperança", para o qual "esperam-se novos modelos de desenvolvimento que conjuguem tradição cristã e progresso civil, justiça e igualdade com a reconciliação, desenvolvimento científico e tecnologia com sabedoria humana. Sofrimento fecundo com alegria esperançosa".
É possível ter essa esperança "com grandes doses de verdade e de amor, fundamentos de toda realidade, motores revolucionários de uma autêntica vida nova", disse o Papa, pouco antes de invocar a intercessão da Virgem de Guadalupe, "para que continue a acompanhar, ajudar e proteger os nossos povos".
Fonte: Zenit.
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