sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Quem não reza vira bicho
“Quem não reza vira bicho”. A frase, cunhada por dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau, retrata o âmago da realidade. Com efeito, se não nos nutrimos quotidianamente na oração, como admoesta o salmista (Salmo 1), nossa alma enlanguesce. A alma débil é porta de entrada de males e perversões.
Conheço certa pessoa que era dada à oração diária. O terço também fazia parte da rotina dela. Além disso, a oração das orações, a missa, jamais era perdida. Essa pessoa participava da missa todo domingo. De repente, por um motivo que desconheço, ela abandonou a oração. Virou um verdadeiro bicho, um monstro; parecia que incorporara outra personalidade. Entregou-se ao sexo sem responsabilidade e este foi o ponto de partida para a perpetração de outras devassidões, até a indiferença completa. Perdi o contato com o indigitado amigo. Rezo por ele toda noite.
Quando falo em oração, é claro que aludo à oração como elevação da mente a Deus (santo Tomás de Aquino). Mas, penso, ainda, na frequência aos sacramentos, sobretudo à eucaristia e à penitência, que são igualmente formas de oração, em sentido amplo. Para o cristão, abandonar a prática da oração é a pior adversidade que pode sobrevir. É a morte. Já Dostoievski, na famosa obra “Irmãos Karamásov”, colocou as seguintes palavras na boca de uma das personagens: “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Deveras, não há barreiras para o egoísmo, para usar as pessoas, porque se deixa de enxergar no próximo a imagem de Jesus Cristo.
Rezar implica sintonia com Deus. Estar com Deus é viver no amor, porque Deus caritas est, Deus é amor, como no-lo afirma são João, corroborado pelo papa Bento XVI. O amante não é egoísta; pelo contrário, preocupa-se com os outros, máxime com os mais pobres. Parar de rezar é penetrar nas vascas do óbito do espírito. E como não subsiste dicotomia entre corpo e alma, quem não reza põe tudo a perder: sua alma, sua estrutura psicossomática.
Peçamos que santa Maria, modelo de oração, nos ajude constantemente. Que ela afaste de nós o perigo de largarmos a oração, pois, vira-se mesmo bicho. Eu diria que não rezar é deixar de ser pessoa humana autêntica. Até mesmo a mente resta turvada, vez que a inteligência só é límpida quando nos abeberamos na suma inteligência: Deus.
Uma das obrigações canônicas do pároco é estimular os fiéis a orarem em família, consoante prescreve o cânon 528, § 2.º.
Nestes dias de tantas surpresas e expectativas, com a renúncia do papa e o início da sé vacante no mês que vem, temos de intensificar nossas orações.
Edson Luiz Sampel é Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano e membro da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp).
Fonte: Zenit.
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