Entrevista com Jean-Christophe Normand, animador de retiros
Por Marine Soureau
«Sempre se sente muita angústia diante da idéia de privar-se de comida», constata Jean-Christophe Normand, animador de retiros, nesta entrevista sobre o jejum.
Ele reconhece que nesta prática «encontra-se em jogo uma autêntica conversão espiritual», ainda que «os frutos sejam diferentes segundo as pessoas». «O que está claro é que o jejum oferece respostas».
Jean-Christophe Normand é um leigo, pai de família, consultor em recursos humanos, assistente de direção de empresas, que anima retiros de iniciação ao jejum desde 2007.
Ele retomou o projeto lançado pelo teólogo suíço Harri Wettstein, que apresentava no mosteiro beneditino francês de Pierre-qui-Vire a experiência de um jejum de seis dias, segundo um método adaptado à nossa época. Normand oferece esta experiência também na abadia de São Guénolé de Landévennec, em Bretanha.
Zenit o entrevistou ao começar esta Quaresma na qual Bento XVI propôs redescobrir o valor do jejum, que «pode ajudar-nos a mortificar nosso egoísmo e a abrir o coração ao amor de Deus e do próximo, primeiro e sumo mandamento da nova lei e compêndio de todo o Evangelho.
Benefícios espirituais
Antes de tudo, explica que o jejum é um campo adaptado para permitir uma «autêntica conversão espiritual».
«As pessoas que vão aos nossos retiros, às vezes não crentes, estão em busca. Uma busca que tomará corpo durante a semana e à qual não sempre são capazes de dar um nome. Diante desta proposta da mudança, o jejum oferece recursos para dar este passo.»
«Para ajudá-los, se propõem-se momentos de acompanhamento individual com um monge, ainda que não se impõe nada. As pessoas que vêm têm necessidade de ser guiadas. Durante o retiro, realiza-se um trabalho considerável em cada pessoa e, em geral, têm necessidade de expressar o que sentem.»
«Este retiro oferece também a oportunidade de acompanhar os ofícios litúrgicos dos monges beneditinos e a vida de sua comunidade. Nós lhes propomos procurar viver a liturgia e entrar nela, ver como se desenvolve.»
«No dia em que nos despedimos, fazemos um balanço. Então, as pessoas conseguem colocar um nome ao que vieram buscar. Os frutos dependem de cada pessoa, mas o certo é que o jejum oferece respostas.»
Superar o medo e a privação
No âmbito psicológico, continua dizendo Normand, o jejum permite enfrentar «o medo da privação».
«É muito estimulante dar-se conta de que é possível conseguir. Em último termo, isso dá uma confiança pessoal muito forte: meu corpo tem recursos para viver períodos de escassez!»
Através do jejum, percebemos também as disfunções da nossa alimentação. Há pessoas que fazem excessos: isso permite tomar distância, reencontrar uma forma de higiene de vida, de bem-estar.
Normand reconhece que o jejum não é algo natural, pois «sempre provoca muita angústia a idéia de privar-se de alimentação».
«Ao colocar-nos em uma posição de humildade, renunciamos ao nosso apetite de poder. Vamos compreender o que é realmente necessário em nossas vidas e o que não é. Neste trabalho de introspecção e de distanciamento se compreende o que é excessivo em nossas vidas.»
Dimensão caritativa
Segundo o animador dos retiros, o jejum não é algo egoísta. «Não se jejua para si mesmo – adverte. O jejum nos abre aos demais e à vida de caridade. Por este motivo, propomos sistematicamente, ao final do retiro, que façam uma doação, que apoiem uma obra.»
«Assim, vivemos plenamente os carismas associados à vida de Cristo – conclui. Além da alegria do bem-estar físico, experimentamos a alegria de estar em comunhão com nossos irmãos e irmãs.»
Fonte: Zenit.
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