segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Riacho que não seca

“Riacho que não seca” é poesia inspiradora do profeta Amós - presente no capítulo cinco de sua profecia - lema da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic).  O profeta refere-se ao desejo de ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca. Direito e justiça, um binômio para alicerçar as mudanças que precisam ser realizadas nas dinâmicas da cultura brasileira. A partir da Campanha da Fraternidade 2016, todos que assumem o compromisso de testemunhar a fé em Jesus Cristo, em diferentes denominações religiosas, são convocados a contribuir para transformar a realidade. O foco está na exigência de novas posturas diante da natureza, nesse horizonte interpelador de olhar o mundo como “casa comum”. Nesse sentido, cada pessoa é convocada a refletir sobre a distribuição dos bens materiais, que deve ocorrer de forma mais justa.  É preciso encontrar caminhos para que os bens sejam utilizados na edificação de uma sociedade com mais igualdade, exatamente na contramão de apropriações que alimentam a ganância de muitos.

O progresso econômico que não produz igualdade é insustentável, alimento de injustiças. Gera prejuízos como a corrupção e o aumento da violência. É dinâmica que ameaça a todos, mesmo os que se refugiam em verdadeiras fortalezas, com sofisticados esquemas de segurança, e acreditam estar protegidos. Imprescindível é buscar garantir a efetivação de direitos fundamentais à vida humana e cuidar bem do planeta. Isso é parte fundamental da justiça, que precisa ser como “um riacho que não seca”. Sem ela, não há como combater a corrupção e a violência que estão destruindo a ordem e a harmonia da criação de Deus. A falta do sentido de justiça alimenta o caos social e empurra inexoravelmente o planeta rumo ao colapso ambiental.

A justiça não pode ser apenas mecanismo para mensurar a própria honestidade. Ela requer o compromisso de todos os cidadãos, que devem intervir mais decisivamente em processos de transformação  social, buscando acabar com sofrimentos que pesam sobre os ombros dos mais pobres, principalmente. Em uma lista de urgências, ao se considerar o cuidado com a “casa comum” como responsabilidade de todos, a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 busca a união de esforços para assegurar que sejam ampliados os serviços de saneamento básico, o que é indispensável para efetivar o adequado cuidado com o meio ambiente e com as pessoas.  Esse é um tema relevante no contexto brasileiro, que precisa qualificar e ampliar a oferta de inúmeros serviços relacionados ao abastecimento de água, ao adequado manejo dos esgotos sanitários, águas pluviais e resíduos sólidos, ao controle de reservatórios e dos agentes transmissores de doenças.  Esses serviços refletem diretamente na saúde das pessoas e, consequentemente, nas condições de vida das comunidades.

As questões ligadas ao saneamento básico abrangem, assim, justiça social e cuidado ambiental.  Por isso, têm que ser prioridade. Estudos a partir de números e estatísticas devem mostrar a real situação de municípios, bairros e comunidades.  Sem os investimentos adequados, a sociedade continuará a sofrer com defasagens nos serviços de saneamento básico, um peso injusto, sobretudo sobre os ombros dos mais pobres. O ponto de partida da discussão é efetivamente reconhecer o saneamento básico como essencial; direito do cidadão e dever do Estado. Nesse sentido, governar bem, de modo adequado e justo, é investir na universalização desse serviço. No Brasil, mesmo considerando avanços nesse campo, permanece ainda um enorme desafio a ser vencido.

Quando se considera estatísticas sobre o saneamento básico, constata-se que há, ainda, carência de investimentos. Sem robustos programas nessa área fica comprometida a saúde. Sabe-se que, a cada dois minutos e meio, no planeta, uma criança morre por não ter acesso à água potável e por falta de condições básicas de higiene. Assim, neste ano eleitoral, será importante avaliar, dentre outros aspectos, se os candidatos contemplam em suas propostas as ações concretas relacionadas ao saneamento básico. O ponto de partida será sempre, no coração e no entendimento de cada cidadão, o desejo de querer “ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual um riacho que não seca” (Am 5,24).

Dom Walmor Oliveira de AzevedoO arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas.  Fonte: Domtotal.com.br

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Quaresma da Misericórdia

Misericórdia é uma palavra que tem de ser resgatada do mau uso. Comumente as pessoas compreendem misericórdia como um sentimento de piedade, jogado como esmola para quem não tem mais outro remédio na vida. Compreendida assim, ninguém quer ser o coitadinho que precisa da compaixão alheia para viver. No entanto, nas antigas tradições espirituais e na compreensão bíblica, misericórdia é mais do que um sentimento. No século IV, Santo Agostinho explicava que o termo latino “misericordia” vem de “miser cor dare” que significa “dar o coração a quem precisa”. Isso significa empenhar-se em cuidar do outro como compromisso afetivo e princípio de vida. Portanto, é uma atitude permanente e que estrutura o modo de ser e de viver da pessoa. Implica a solidariedade, mas esta vivida e praticada com o coração. Na cultura bíblica, dizer que uma coisa é feita com coração não significa apenas “com sentimento” ou “com afeição”, mas principalmente com o que hoje se chama de “inteligência espiritual”, isso é, com totalidade ou inteireza do ser.

Infelizmente na nossa sociedade atual, desde crianças somos formados para ser individualistas e indiferentes ao sofrimento do outro. Mesmo entre povos, culturalmente abertos ao acolhimento do outro, espalha-se uma cultura de violência que parece contaminar toda a vida pessoal e coletiva. Vivemos em uma sociedade carente de valores que a mobilizem positivamente e de um projeto de vida pelo qual valha a pena lutar e viver. Isso torna o nosso mundo doente.

Nos tempos antigos do povo da Bíblia, a Misericórdia era uma divindade feminina, concebida como um útero de mãe. Deus era visto como Mãe sempre grávida de um universo novo. Como em hebraico, o termo útero é rehém, a deusa se chamava: Rahamin, a divindade do amor materno. Com o decorrer do tempo, o povo de Israel compreendeu que não se tratava de uma divindade à parte, mas de uma forma como Deus se manifesta. E A Misericórdia tornou-se um nome divino. No meio de uma cultura antiga, na qual a dignidade da mulher estava em gerar e ser mãe, a misericórdia divina se manifestava em tornar fecundas as mulheres estéreis. E várias das matriarcas da Bíblia, como Sara, Rebeca, Ana e outras eram estéreis. Deus as tornou capazes de ser mães para ser felizes e protagonistas de uma nova história. Era um modo de afirmar algo que até hoje é para nós importante: Deus abre o útero de nossas esterilidades e faz com que tudo aquilo que em nossas vidas parece fechado se torne fecundo e dê início a uma vida nova. A misericórdia divina desmente os prognósticos pessimistas do mundo e leva as pessoas que se sentem impotentes e incapazes a serem portadoras de uma vida nova.

Paulo escreveu que a misericórdia divina se manifestou na pessoa de Jesus. Pela doação de sua vida, o Cristo ressuscitado reconciliou povos inimigos e abriu as promessas divinas feitas a Israel para todas as nações, raças e culturas do mundo. Portanto, a misericórdia não é apenas um sentimento pessoal e sim um projeto social e político de mundo reconciliado e em caminho.

 Nos evangelhos, Jesus manifesta essa misericórdia divina ao curar doentes e testemunhar aos oprimidos que o reinado divino se manifesta nesse mundo. Traz a todos justiça e libertação. Também nos evangelhos, misericórdia é um projeto de vida nova que brota da secura, onde parece que nada mais brotará. Na época de Natal, inspiradas em um texto do profeta Isaías, as comunidades eclesiais cantam: “Da cepa (o ramo seco) brotou a rama, da rama brotou a flor, da flor nasceu Maria e de Maria, o salvador”. Em cada Quaresma, os cristãos celebram a renovação da misericórdia divina em uma nova Páscoa.

Na América Latina dos anos 80, o padre Jon Sobrino, um dos grandes teólogos latino-americanos, escreveu um livro no qual propõe a misericórdia não mais como atitude apenas ocasional. “O Princípio Misericórdia” é toda a vida organizada a partir do critério da solidariedade, vivida com delicadeza. Diversos estudiosos pensam que o remédio mais eficaz para nossa sociedade doente é o carinho humano manifestado nas relações. Deus quer que sejamos misericordiosos com os outros, mesmo que eles não sejam justos nem bonzinhos. Afinal, Deus nos trata com misericórdia e pede que o sigamos nesse caminho. Jesus disse: “Quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9, 9).

Marcelo BarrosMarcelo Barros é monge beneditino e teólogo especializado em Bíblia. Atualmente, é coordenador latino-americano da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT). Assessora as comunidades eclesiais de base e movimentos sociais como o Movimento de Trabalhadores sem Terra (MST). Tem 45 livros publicados dos quais está no prelo: "O Evangelho e a Instituição", Ed. Paulus, 2014. Colabora com várias revistas teológicas do Brasil, como REB, Diálogo, Convergência e outras. Colabora com revistas internacionais de teologia, como Concilium e Voices e com revistas italianas como En diálogo e Missione Oggi. Escreve mensalmente para um jornal de Madrid (Alandar) e semanalmente para jornais brasileiros (O Popular de Goiânia e Jornal do Commercio de Recife, além de um jornal de Caracas (Correo del Orinoco) e de San Juan de Puerto Rico (Claridad). 
Fonte: Domtotal.com.br

sábado, 27 de fevereiro de 2016

O patriarca da Igreja Ortodoxa da Etiópia está em Roma para encontrar o papa

Sua Santidade Abuna Matias I, patriarca da Igreja ortodoxa Tewahedo da Etiópia, chegou hoje a Roma para encontrar o papa Francisco. A audiência será nesta segunda-feira, 29 de fevereiro, último dia da viagem do patriarca, que se reunirá também com o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e visitará o túmulo do Apóstolo Pedro. No domingo, 28 de fevereiro, ele celebrará a divina liturgia com a comunidade etíope em Roma, na capela do Colégio Urbano.
Abuna Matias foi eleito patriarca da Igreja ortodoxa Tewahedo da Etiópia em 28 de fevereiro de 2013. De acordo com uma antiga tradição, recordada em nota pelo dicastério para a unidade cristã, o primeiro grande evangelizador dos etíopes foi São Frumêncio, cidadão romano de Tiro que havia naufragado na costa africana do Mar Vermelho. Frumêncio foi ordenado bispo por Santo Atanásio e depois voltou à Etiópia para promover a evangelização do país.
A Igreja ortodoxa etíope pertence à “família” de “Igrejas ortodoxas orientais”. Única em seu gênero, esta Igreja tem mantido várias práticas judaicas, como a circuncisão, o respeito das regras alimentares e a observância do shabbat do sábado e do domingo. A liturgia etíope tem origem alexandrina (copta) e é influenciada pela tradição siríaca. A liturgia continuou a ser celebrada na antiga língua ge’ez até muito recentemente.
Hoje, uma tradução da liturgia em amárico moderno é cada vez mais utilizada nas paróquias. Continua havendo uma forte tradição monástica. A Igreja conta com 35 milhões de fiéis, existindo também uma grande comunidade em Roma.
Quanto às relações com a Igreja católica, diz a nota, elas são cordiais e estão se intensificando. O patriarca anterior, Abuna Paulos, visitou o papa João Paulo II em 1993 e o papa Bento XVI em 2009. No início de outubro do mesmo 2009, a convite do Santo Padre, Abuna Paulos falou na II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, abordando a situação do continente africano e os desafios que os povos africanos enfrentam.
Como membro da “família” das Igrejas ortodoxas orientais, a Igreja ortodoxa etíope Tewahedo participa oficialmente da Comissão Mista Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja católica e as Igrejas ortodoxas orientais. Em janeiro de 2012, o encontro da Comissão foi sediado em Addis Abeba por Sua Santidade Abuna Paulos I, que veio a falecer em 16 de agosto daquele mesmo ano.
Fonte: Zenit.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Novo apelo de Kirill: “Que os católicos e os ortodoxos lutem juntos contra a perseguição aos cristãos”

Depois do abraço histórico de 12 de fevereiro entre o papa Francisco e o patriarca de Moscou, Kirill voltou com determinação ao tema da perseguição contra os cristãos, já amplamente presente na Declaração Conjunta assinada com o pontífice.
Após a passagem por Cuba, o líder ortodoxo continuou sua viagem pela América Latina indo ao Paraguai, Chile e Brasil. E foi no Rio de Janeiro, aos pés do Cristo Redentor, que Kirill lançou um novo apelo à colaboração entre católicos e ortodoxos para enfrentar os grandes desafios do século XXI, em particular a perseguição contra os cristãos em muitas áreas do planeta.
Segundo L’Osservatore Romano, o patriarca apelou a todas as pessoas de boa vontade para porem fim o mais rapidamente possível aos conflitos que, em muitas regiões, colocam em risco a própria sobrevivência das comunidades cristãs. “Ortodoxos e católicos podem enfrentar juntos esse desafio”, disse ele. “Claro que ainda temos diferenças de doutrina, mas podemos lutar juntos para acabar com a perseguição aos cristãos”.
“Precisamos manter intacto o nosso senso moral, porque só a lei moral que nos foi dada por Deus pode ser a base da nossa união em nome de um futuro melhor para o nosso povo e para toda a espécie humana”, complementou o primaz ortodoxo.
O site do patriarcado de Moscou informa que Kirill passou por Brasília para uma cerimônia na igreja ortodoxa dedicada à Mãe de Deus Odigitria. Nessa ocasião, ele fez mais um chamado ao constantemente espírito de conversão.
“O caminho para o Senhor é sempre difícil. O Senhor nos advertiu dizendo que o caminho que conduz a Ele é estreito. A maioria das pessoas, as pessoas de hoje, quer seguir a estrada mais larga, consumir mais e ter mais diversão. Mas tudo isso tem pouco a ver com a felicidade humana. O Senhor nos convida a trilhar o caminho estreito. É difícil, mas é um caminho de graça e de luz. E a pessoa é feliz neste caminho”.
Fonte: Zenit.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

CNBB anuncia Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação

O 5º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação (Pascom) será organizado do 14 a 17 de julho, no Centro de Eventos Padre Vítor Coelho de Almeida, em Aparecida (SP), informa o site oficial da CNBB. São convidados bispos, sacerdotes, leigos e membros da Pastoral Litúrgica das dioceses, paróquias e comunidades. Os interessados devem fazer inscrição até 31 de maio pelo hotsite: encontronacionalpascom.cnbb.org.br
Com o tema “Comunicação e Liturgia”, o evento tem como objetivo aprofundar a compreensão e o serviço da comunicação no campo da Liturgia da Igreja. Durante o encontro, estão previstas quatro conferências e seis seminários temáticos, com presença de estudiosos e especialistas da Comunicação e Liturgia. Haverá, ainda, noite cultural, no sábado, 16 de julho, com workshop “Mão na massa na comunicação católica!”.
De acordo com bispo auxiliar de Aparecida (SP) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Darci Nicioli, o Encontro é um espaço formativo e de evangelização.
“É a Pastoral da Comunicação que se reúne na casa da Mãe Aparecida. Neste ano vamos tratar do tema Comunicação e Liturgia, pois é uma necessidade. Aquilo que cremos é o que nós rezamos. É muito importante que os nossos agentes da Pascom recebam capacitação para atuar nas bases, sendo esta a proposta principal do nosso encontro”, explica do bispo.
Entre os palestrantes está o bispo de Paranaguá (PR) e membro da Comissão para a Liturgia da CNBB, dom Edmar Peron, que possui mestrado em Teologia Dogmática e Liturgia, e o artista plástico, Claudio Pastro, com longa carreira dedicada a trabalhos de arte sacra.
Saiba mais
Com a proposta de dinamizar a preparação do encontro, a Comissão Nacional lançou o hotsite do evento. Na página, é possível acessar a programação completa, além de sugestões para hospedagem. Os internautas têm também a oportunidade de conhecer os conferencistas internacionais e nacionais que estarão no evento. O hotsite apresenta um layout moderno e com fácil navegação pelos conteúdos e galerias.
De acordo com o assessor nacional da Comissão para a Comunicação da CNBB, padre Rafael Vieira, a expectativa é receber mais de 800 participantes de diversas regiões do país. Além disse, o sacerdote ressalta que o Encontro Nacional busca articular e animar a Pastoral da Comunicação na Igreja. “Acreditamos que o encontro será rico de conteúdo e um bonito espaço de comunhão entre os animadores da comunicação e da liturgia na Igreja do Brasil”, pontua padre Rafael.

[Com informações CNBB]

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

III Domingo da quaresma

Ciclo C
Textos: Ex 3, 1-8a.13-15; 1 Co 10, 1-6.10-12: Lc 13, 1-9
Ideia principal: A figueira da nossa vida está dando frutos de penitência e conversão?
Síntese da mensagem: Continuamos no ano da Misericórdia. Sem dúvida alguma que todos os males que sofremos a nível pessoal, familiar, social, eclesial, mundial… devem-se aos nossos pecados. Não é que Deus está nos castigando. Mas os nossos pecados não ficam impunes. Pagamos as consequências dos nossos extravios. Por isso, urge dar frutos de conversão. Somente se nos arrependermos, obteremos a misericórdia de Deus (Evangelho) e Ele nos encherá de frutos de santidade. Quaresma é o tempo da experiência da misericórdia e da libertação de Deus (1 leitura). Quem crer que está firme, que tome cuidado para não cair (2 leitura).
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, Cristo nesta Quaresma, e durante toda a nossa vida, chama-nos àconversão e a dar frutos de conversão. Só desse jeito chegaremos preparados para a Páscoa. Somos figueiras que Ela plantou no jardim do mundo. Deus nos dotou com a capacidade de fazer o bem, de cultivar a justiça e de manter umas relações sãs com os demais e com Deus mesmo. Mas como dono e Senhor dessas figueiras que somos nós, pode exigir de nós e pedir contas. A conversão leva consigo a renúncia ao pecado e ao estado de vida incompatível com o ensinamento de Cristo, e a volta sincera a Deus. Não bastaria o nosso simples propósito de mudar de vida, se não existir dor pelas faltas cometidas. A conversão não é só fazer penitência, no sentido de realizar umas obras de jejum e de esmola. A palavra grega para penitência é “metánoia”, que significa mudança de mentalidade. O que Deus nos pede nesta Quaresma é uma mudança num nível bastante mais profundo do que no nível das meras obras externas. Uma conversão, se for autêntica, “faz dano”, porque significa meter o “dedo na chaga” e corrigir as raízes dos nossos males. Se tiver que “operar”, temos que estar dispostos a pegar o bisturi e cortar o que for necessário, e não nos conformar com a aplicação de um pomada suave que não chega às raízes do nosso mal. E o que temos que cortar sem contemplações são as causas dos nossos pecados que ofendem a Deus e os nossos irmãos.
Em segundo lugar, Cristo espera frutos concretos de conversão da nossa figueira (evangelho). Paulo na segunda leitura aos cristãos de Corinto jogou na cara deles que alguns dos israelitas que fizeram o caminho com Moisés pelo deserto não agradaram a Deus, nem foram fiéis à Aliança, deixando-se levar pelas tentações dos povos vizinhos. Procuraram outros deuses permissivos. Por isso não entraram na terra prometida. Para Paulo isso deveria servir para nós de escarmento. Não basta com pertencer ao povo de Deus, ou com dizer umas orações ou levar umas medalhas ou ir de peregrinação a um Santuário. Algo tem que mudar na nossa vida para que a nossa figueira pessoal dê os frutos que Deus espera. Temos que ser sinceros e entrar na nossa horta interior e matar todo bicho ou praga que estiver destruindo a nossa figueira: egoísmo, indiferenças, protestas, rebeldias interiores, maltrato ao próximo, infidelidade matrimonial ou sacerdotal, mentiras e trapaças. Se tiver que fumigar com adubo eficaz a horta, o que estamos esperando? Se tiver que regar com a oração, por que vamos dando mais tempo ao assunto? Se tiver que podar, peguemos as tesouras e cortemos sem contemplações. A paciência de Deus pode ter um limite: “corte essa figueira”.       
Finalmente, quantos séculos faz que Deus vem pedindo frutos! Pensemos naquela Europa cristã[1], que recebeu a primeira semente da fé por boca dos mesmos apóstolos, regada com o sangue de inumeráveis mártires, protegida pelos santos pastores, civilizada pela multidão de monges, enriquecida com toda classe de dons. Beneficiária, ela também, de um amor de grande predileção da parte do Senhor. E o que encontra esse Dono? Alguns frutos bons, bendito seja Deus! Mas quanto fruto mau: ateísmo, agnosticismo, indiferentismo, relativismo, descenso da fé e fechamento de igrejas e mosteiros, avanço de outras religiões fanáticas e blasfemas, como disse o Papa Francisco, que em nome de Deus perpetram atentados desumanos. Onde estão as virtudes cristãs que fizeram possível a edificação das magnificas catedrais, a criação das escolas e das universidades, a construção de uma sociedade que tinha por lei o Evangelho, os tesouros da arte, as obras mestras da literatura cristã, o governo de príncipes santos: São Fernando III de Castilla, Santa Margarita da Escócia, São Vladimiro de Kiev, São Luís IX da França, Santa Matilde de Ringelheim, e tantos outros? Oremos pelos cristãos fiéis que na velha Europa, mãe da nossa cultura e da nossa fé, continuam combatendo o bom combate, e peçamos com eles ao dono do campo que conceda àquela bendita terra “um ano mais”, e a graça de que os seus corações se abram à penitência que dá frutos de vida eterna.
Para refletir: Nosso Senhor Jesus Cristo é um Rei misericordioso que perdoará a quem confessar humildemente os seus pecados; não perdoará a quem se recusar a abandonar-se nas suas mãos bondosas. Abramos as nossas almas ao presente da sua misericórdia! Só assim poderemos dar frutos de conversão, de santidade e de vida eterna. Olhemos o nosso coração, quais frutos estamos dando a nível pessoal, a nível familiar, a nível laboral, a nível paroquial?
Para rezar: Senhor e Deus nosso, tende paciência de mim, pois quero dar fruto abundante para maior glória vossa. Não me maldigais, como maldissestes aquela figueira na que só encontrastes folhas (cf. Mt 21,19). Não quero que me tireis o vosso Reino, para entregá-lo a um povo que produza frutos que esperais (cf. Mt 21,43). Que seja consciente, Senhor, que o vosso Pai Deus será glorificado quando eu der muito fruto e mostre assim que sou o vosso discípulo (cf. Jo 15,8).
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
[1] Ideia pega do padre Alfredo Saénz no seu livro “Palabra y vida”, Gladius 1994.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Síria: 43 cristãos assírios reféns do Estado Islâmico são libertados

Foram finalmente libertados todos os 230 cristãos assírios sequestrado há um ano, no norte da Síria, pelo Estado Islâmico. Os jihadistas libertaram os últimos 43 reféns que mantinham, segundo fontes da Igreja assíria: em particular, a Organização de Auxílio à Igreja Assíria do Oriente, que afirma: “Não resta mais nenhum refém e nós expressamos os nossos agradecimentos sem reservas a todos os nossos apoiadores, institucionais ou individuais, que ficaram ao lado dos assírios nestes difíceis 12 meses”.
Os 230 cristãos, incluindo muitas crianças e mulheres, foram capturados por milicianos em 23 de fevereiro de 2015, durante uma ofensiva no Vale do Khabur, na província síria de Hassake. Três reféns foram mortos em outubro passado pelos fanáticos, que espalharam imagens das execuções na internet para reiterar as suas enormes demandas de dinheiro a título de resgate.
Fontes locais disseram que, para a libertação dos prisioneiros, tinha sido pedido inicialmente o valor de 23 milhões de dólares, ou seja, 100 mil por refém. O resgate foi depois “reduzido” para 12 a 14 milhões de dólares. Ainda não está claro se o valor realmente foi pago e quanto dinheiro foi de fato entregue ao Estado Islâmico.
Enquanto isso, os militantes continuam a semear a morte e a destruição pelo país. O balanço provisório de vítimas dos ataques de ontem em Damasco e Homs, reivindicados pelo EI, é de 180 mortos e 200 feridos. Os dados fazer ressurgir a preocupação com a capacidade operacional dos milicianos na Síria, depois dos relatos de que o seu avanço tinha sido contido pelos ataques russos.
Fonte: Zenit.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Escutar somente a Jesus

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lucas 9, 28-36.

A cena é considerada tradicionalmente como "a transfiguração de Jesus". Não é possível reconstruir com certeza a experiência que deu origem a este surpreendente relato, apenas sabemos que os evangelistas lhe dão uma grande importância, pois, segundo o seu relato, é uma experiência que deixa entrever algo da verdadeira identidade de Jesus.
Num primeiro momento, o relato destaca a transformação do Seu rosto e, apesar de estar conversando com Ele, Moisés e Elias, talvez como representantes da lei e dos profetas respectivamente, apenas o rosto de Jesus permanece transfigurado e resplandecente no centro da cena.
Ao que parece, os discípulos não captam o conteúdo profundo do que estão a viver, pois Pedro diz a Jesus: "Mestre, que bom que se está aqui. Faremos três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias". Coloca Jesus no mesmo plano e ao mesmo nível que os dois grandes personagens bíblicos. Para cada um, sua tenda. Jesus não ocupa, todavia, um lugar central e absoluto nos seus corações.
A voz de Deus vai corrigi-los, revelando a verdadeira identidade de Jesus: "Este é o Meu Filho, o escolhido", o que tem o rosto transfigurado. Não tem de ser confundido com os de Moisés ou Elias, que estão apagados. "Escutai-o". A ninguém mais. A Sua Palavra é a única decisiva. As outras apenas nos levam até Ele.
É urgente recuperar na Igreja atual a importância decisiva que teve nos seus começos a experiência de escutar no seio das comunidades cristãs o relato de Jesus recolhido nos evangelhos. Estes quatro escritos constituem para os cristãos uma obra única que não devemos equiparar ao resto dos livros bíblicos.
Há algo que só neles podemos encontrar: o impacto causado por Jesus nos primeiros que se sentiram atraídos por Ele e o seguiram. Os evangelhos não são livros didáticos que expõem doutrina acadêmica sobre Jesus. Tampouco biografias escritas para informar com detalhe sobre Sua trajetória histórica. São "relatos de conversão" que convidam à mudança, a seguir Jesus e a identificar-se com o Seu projeto.
Por isso pedem para ser escutados numa atitude de conversão. E nessa atitude têm de ser lidos, pregados, meditados e guardados no coração de cada crente e de cada comunidade. Uma comunidade cristã que sabe escutar cada domingo o relato evangélico de Jesus numa atitude de conversão, começa a transformar-se. Não há na Igreja um potencial mais vigoroso de renovação que o que se encerra nesses quatro pequenos livros.
Instituto Humanitas Unisinos

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Itália: novo recorde negativo de nascimentos

O inverno demográfico na Itália está cada vez mais frio. Em 2015, os nascimentos foram 488 mil (8 por mil habitantes), uma queda de 15 mil em comparação com 2014. É o novo recorde negativo desde a unificação da Itália, há mais de cem anos. O recorde anterior era justamente o de 2014, com 503 mil nascimentos.
Os novos indicadores demográficos italianos mostram também que o número de falecidos no país durante o ano passado foram 653 mil: aumento de 54 mil (ou 9,1%) na comparação com 2014. Mais um recorde: foi a mais alta taxa de mortalidade na Itália desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
A população italiana, portanto, continua a encolher. Em 1º de janeiro de 2016, a população residente no país era de 60 milhões e 656 mil pessoas. No entanto, aumenta o número de estrangeiros, que, superando hoje os 5 milhões, constituem 8,3% da população total.
Em 2015, além disso, cerca de 100 mil italianos deixaram o país, fazendo cair ainda mais a população de cidadania italiana dentro da Itália.
Fonte: Zenit.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Cardeal Hummes: “Gestos e palavras fundamentais do papa aos nativos” no México

Entre os muitos dons da visita apostólica do papa Francisco ao México há uma renovada atenção da Igreja à comunidade indígena. Uma dimensão que vai bem além das fronteiras mexicanas, como explicou aos microfones da Rádio Vaticano o cardeal brasileiro Cláudio Hummes, amigo de longa data do papa Francisco.
“Eu gostaria de enfatizar fortemente que isso é muito importante para todos aqueles que trabalham com as comunidades indígenas no mundo, aqui na América Latina. Também para nós, brasileiros, especialmente para todos aqueles que estão na Amazônia, na Pan-Amazônia”, disse o cardeal. “Aqui na Amazônia nós procuramos novas maneiras de promover a presença da Igreja e de construir uma Igreja que seja verdadeiramente inculturada nas regiões em que os nossos povos indígenas estão presentes. Eu acho que o papa, em Chiapas, disse coisas muito importantes a este respeito”.
Para Hummes, foram fundamentais também os gestos do Santo Padre, “as suas atitudes para com os indígenas” e “o acolhimento que ele recebeu dos indígenas, entre os quais ele encontrou muitos indígenas que são diáconos permanentes casados, que são sacerdotes, e uma pastoral indígena dos bispos e da diocese que vem sendo levada em frente já faz tempo”.
“Este esforço para construir uma Igreja que ali seja realmente uma Igreja indígena. E isto significaria uma Igreja verdadeiramente inculturada na história, no modo de vida, no momento presente desses indígenas, com os seus desafios, as suas aspirações, o seu sofrimento, as suas carências. Uma Igreja que seja verdadeiramente indígena neste sentido, que tenha, portanto, um clero indígena e que permita que os próprios indígenas digam: ‘Nós somos a Igreja indígena de Jesus Cristo’. Uma Igreja que seja verdadeiramente Igreja de Jesus Cristo, nascida, é óbvio, de Roma, com esta possibilidade, que é sempre um grande desafio no mundo todo, ou seja, a de ser uma Igreja verdadeiramente inculturada entre aquelas pessoas”.
O cardeal observou o quanto foi interessante, “como gesto e como sinal”, também o fato de o papa autorizar a liturgia em uma das principais línguas indígenas. “Isto, para nós, aqui no Brasil, que trabalhamos principalmente na Amazônia, é uma luz e uma indicação forte”, ressalta. “Eu sei que o papa acompanha muito o nosso trabalho, o trabalho dos nossos bispos entre os indígenas. Ele também já nos disse que a Igreja na Amazônia deverá ter um rosto amazônico: um rosto amazônico, com um clero nativo. Em Chiapas, isto ficou muito claro e nos dá muita esperança”.
Fonte: Zenit.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Alerta do papa: “Quem explora os trabalhadores terá que prestar contas a Deus”

Uma aliança entre empresa e trabalho, alicerçada na Doutrina Social da Igreja, foi proposta pelo papa Francisco a cerca de 3000 empregadores e trabalhadores mexicanos reunidos no pavilhão desportivo de Ciudad Juárez.
Em uma das últimas etapas da sua visita apostólica, o Santo Padre abordou mais um tema que lhe é muito caro, o do trabalho. Em um país onde é grande a hemorragia de emigrantes e muitos são os jovens que enchem as fileiras do crime organizado, o alarme ressoa forte. Como assinalou o pontífice, “um dos maiores flagelos a que estão expostos os seus jovens é a falta de oportunidades de educação, de emprego sustentável e rentável, que lhes permita fazer planos; e isto gera, em muitos casos, situações de pobreza”.
Pobreza, acrescentou, que é “terreno fértil para se cair na espiral do tráfico de drogas e da violência”. O papa reconheceu que “o tempo em que vivemos impôs o paradigma da utilidade econômica como princípio das relações pessoais” e que “a mentalidade dominante defende a maior quantidade possível de lucro, a qualquer custo e de modo imediato”.
Esta atitude, no entanto, “não só provoca a perda da dimensão ética da empresa, mas esquece que o melhor investimento que se pode fazer é o investimento nas pessoas e nas suas famílias”.
Traçando o diagnóstico de uma “mentalidade dominante” que leva em muitos casos “à exploração dos trabalhadores como objetos para ser usados e jogados fora”, o papa recordou que “Deus pedirá contas aos escravistas dos nossos dias, e todos nós devemos fazer todo o possível para que estas situações não mais aconteçam”. O fluxo de capital “não pode determinar o fluxo e a vida das pessoas”.
A alternativa a esta tendência está na Doutrina Social da Igreja, que alguns interpretam mal, como um convite aos empresários para se tornarem benfeitores. Francis recorda que “a única proposta da Doutrina Social da Igreja é a de prestar atenção à integridade das pessoas e das estruturas sociais”. Por isso, “toda vez que, por várias razões, esta integridade é ameaçada ou reduzida a um bem de consumo, a Doutrina Social da Igreja será uma voz profética, que ajudará a todos a não se perderem no mar sedutor da ambição”.
O Magistério da Igreja – explicou o papa – indica as ferramentas para se alcançar a integridade de cada pessoa e, com ela, o “bem de todos”. Portanto, “todos nós temos que lutar para garantir que o trabalho seja uma instância de humanização e de futuro; seja um espaço para se construir a sociedade e a cidadania”.
Esta é a diretriz que o bispo de Roma deixa ao povo do México. E ele a transmite com a pergunta: “O que o México quer deixar para os seus filhos? Quer deixar uma memória de exploração, de salários inadequados, de assédio no trabalho? Ou quer deixar a cultura da memória do trabalho digno, de um teto decente e da terra para trabalhar? Em que cultura queremos ver o nascimento daqueles que vão nos seguir? Que ar eles vão respirar? Um ar contaminado pela corrupção, pela violência, pela insegurança e pela desconfiança, ou, pelo contrário, um ar capaz de gerar alternativas, renovação e mudança?”.
O papa afirma que este projeto de mais equidade é um objetivo difícil de alcançar. Explica que “não é fácil levar todas as partes a uma negociação”, mas que “é pior e mais daninha a falta de negociações e a falta de avaliação”. A este respeito, o papa declarou: “Um dirigente operário já idoso, honesto, que morreu com o que tinha conquistado, que nunca se aproveitou de ninguém, um dia me disse: ‘Toda vez que eu tinha que me sentar à mesa de negociação, eu sabia iria perder alguma coisa para que todos pudessem ganhar’”. Esta filosofia da negociação também é própria do papa, que exclama: “Quando se negocia, sempre se perde alguma coisa, mas todos saem ganhando”.
Além disso, acrescenta, “o ganho e o capital não são bens acima do homem, mas a serviço do bem comum”. E “quando o bem comum é posto a serviço do lucro e o capital é o único ganho possível, isto se chama exclusão, e assim se acaba consolidando a ‘cultura do descarte’”.
O papa volta a evocar o sonho, como tinha feito durante o encontro com os jovens. E cita um deles, que tinha dito: “Este mundo nos tira a capacidade de sonhar”. O pontífice acrescenta: “Quando um menino vê o pai e a mãe somente nos fins de semana, porque eles vão trabalhar quando os filhos ainda estão dormindo e só voltam à noite, isso não é bom, esta é a ‘cultura do descarte’”.
Daí a reflexão de Francisco:
“Eu quero convidar vocês a sonharem com um México onde o pai e a mãe tenham tempo para brincar com seus filhos. E isso vocês podem conseguir com o diálogo, com a negociação, perdendo um pouco para que todos saiam ganhando”.
Ao encerrar, o papa se voltou à Virgem de Guadalupe: “Que a Guadalupana, que se manifestou a Juan Diego e revelou que as suas testemunhas privilegiadas são aqueles aparentemente deixados de lado, ajude vocês, seja qual for a profissão que vocês tenham, neste processo de diálogo, discussão e encontro”.
Fonte: Zenit.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Microcefalia: o novo pretexto para o aborto



Neste setor de abortos há uma corrente forte da qual participam muitos médicos, que acreditam no dogma de Hitler. O aborto deu a algumas pessoas grande poder sobre a vida e sobre a morte. Aguardamos o tempo em que a mãe terá o direito de matar o seu filho até algumas horas depois do parto normal. Quando a criança nasce a mãe deve ter a possibilidade de olhar bem para ela e ver se corresponde à sua expectativa e resolver se ela deve continuar vivendo. Isto é o ideal, o sonho, naturalmente. Mas ainda estamos muito longe do tempo em que a sociedade em seu conjunto aceite uma coisa destas. Temos que ir muito devagar.
Se se dissesse uma coisa destas logo no começo, quando entrou em vigor a Lei do Aborto, teria havido protestos, o público teria ficado horrorizado. Temos que conquistar nosso terreno centímetro por centímetro[1].
As palavras acima foram pronunciadas por um farmacêutico, dono de um consultório de teste de gravidez em Londres. Foram gravadas secretamente pelos jornalistas Michael Litchfield e Susan Kentish, que investigavam o que ocorria nas clínicas de aborto logo após a sua legalização na Inglaterra (o “Abortion Act”, de 1967). Esta foi uma das vezes em que os jornalistas se depararam com uma simpatia entre os praticantes do aborto e as ideias nazifascistas. Digna de nota é a frase: “Temos que conquistar nosso terreno centímetro por centímetro”.
No Brasil está acontecendo algo semelhante. Em abril de 2012, o Supremo Tribunal Federal julgou procedente o pedido da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 54 (ADPF 54), deixando de considerar crime o aborto de crianças anencéfalas. Agora, com o surto do nascimento de crianças com o perímetro cefálico menor que 32 centímetros (microcefalia), fato este supostamente associado ao vírus zika, eis que aparece um grupo desejando pleitear na Suprema Corte o aborto de tais bebês de cabeça pequena[2]. E o advogado que defendeu a ignóbil causa do aborto de anencéfalos é hoje ministro do STF: Luís Roberto Barroso. Pode-se imaginar qual será o voto dele quanto à morte dos portadores de microcefalia…
Uma jornalista portadora de microcefalia
 Não foi à toa que a jornalista Ana Carolina Cáceres, 24 anos, moradora de Campo Grande (MS), portadora de microcefalia, reagiu com indignação à notícia do plano de liberar o aborto de pessoas como ela. Eis o que ela disse em entrevista à BBC Brasil:
Quando li a reportagem sobre a ação que pede a liberação do aborto em caso de microcefalia no Supremo Tribunal Federal (STF), levei para o lado pessoal. Me senti ofendida. Me senti atacada.
No dia em que nasci, o médico falou que eu não teria nenhuma chance de sobreviver. Tenho microcefalia, meu crânio é menor que a média. O doutor falou: ‘ela não vai andar, não vai falar e, com o tempo, entrará em um estado vegetativo até morrer’.
Ele – como muita gente hoje – estava errado.
Meu pai conta que comecei a andar de repente. Com um aninho, vi um cachorro passando e levantei para ir atrás dele. Cresci, fui à escola, me formei e entrei na universidade. Hoje eu sou jornalista e escrevo em um blog.
Escolhi este curso para dar voz a pessoas que, como eu, não se sentem representadas. Queria ser uma porta-voz da microcefalia e, como projeto final de curso, escrevi um livro sobre minha vida e a de outras 5 pessoas com esta síndrome (microcefalia não é doença, tá? É síndrome!).
Com a explosão de casos no Brasil, a necessidade de informação é ainda mais importante e tem muita gente precisando superar preconceitos e se informar mais. O ministro da Saúde, por exemplo. Ele disse que o Brasil terá uma ‘geração de sequelados’ por causa da microcefalia.
Se estivesse na frente dele, eu diria: ‘Meu filho, mais sequelada que a sua frase não dá para ser, não’.
Porque a microcefalia é uma caixinha de surpresas. Pode haver problemas mais sérios, ou não. Acho que quem opta pelo aborto não dá nem chance de a criança vingar e sobreviver, como aconteceu comigo e com tanta gente que trabalha, estuda, faz coisas normais – e tem microcefalia.
As mães dessas pessoas não optaram pelo aborto. É por isso que nós existimos[3].
Uma sobrevivente de um aborto tentado
 Tatiana Alves Baliana, 34 anos, funcionária pública de Uberlândia (MG), sobrevivente de uma tentativa de aborto, dá o seguinte testemunho:
Amados irmãos, peço-lhes um favor:
Deitem em sua cama e aconcheguem em seus cobertores, edredons e lençóis.
Durmam…
De repente, vocês têm a sensação de perder o ar, ficam ofegantes, mas como saber se é sonho ou realidade?
É a realidade e, estão perdendo o ar, não conseguem respirar e, até mesmo desfalecem…
Têm a sensação de estar caindo em um abismo, mas de repente o ar volta!!!
Ai, como é bom ter a sensação de respirar, sentir o ar encher os seus pulmões…
Sensação de vida, né?
Pois bem, lembram-se da falta de ar, da vontade constante de respirar e não poder? De cair em um abismo e não conseguir voltar?
Sim, eu sei bem o que é isto, eu passei por isto…
Passei por isto como uma criança indefesa que não tinha para onde ir ou correr…
Nasci aos 5 meses e meio de gestação em um aborto provocado por sonda, onde esta sensação que vocês tiveram, eu tive, porém com um detalhe: nasci morta.
Para a honra e glória da Santíssima Trindade, da Santíssima Virgem e de meu Santo Anjo da Guarda, eu comecei a me mexer e gritaram: O feto está vivo!
Sim, eu era um feto, para os médicos, enfermeiras e técnicos de enfermagem, eu era apenas um feto lutando pela vida, após inúmeras tentativas de aborto, até a que culminou com o meu nascimento, abandono no hospital e a minha adoção.
Portanto amados, se vocês acham que o aborto é direito da mulher, pois “meu corpo, minhas regras”, pensem no corpo e nas regras da criança que está sendo gestada.
Só Deus sabe a minha missão e o motivo por que consegui sobreviver. Sou uma mulher feliz, pois tenho uma família maravilhosa, à qual só tenho a agradecer.
Mas, eu sei o que sinto todas as vezes que vejo notícias de abortos, ou até fotos de instrumentos usados para este infanticídio. Sinto que sou eu que estou sendo abortada, que o que aconteceu no dia 29/10/1981 está acontecendo novamente, só que desta vez com outros instrumentos, outras formas e outros jeitos.
Eu passei por isto, e não quero que nenhuma criança sofra o que eu sofri. Tente, coloque-se no lugar daquela criança. Tenho certeza que você não ficaria feliz de morrer de formas tão cruéis.
Lembre-se: Deus deu a vida e somente Ele tem o poder para tirá-la.
O primeiro inocente
 Infelizmente, o juiz Jesseir Coelho de Alcântara, célebre em Goiânia por autorizar abortos eugênicos, passou agora a defender publicamente o direito ao aborto de crianças microcéfalas. Eis suas palavras:
Se houver pedido oportuno por alguma gestante no caso de gravidez com microcefalia e zika com comprovação médica de que esse bebê não vai nascer com vida, analogicamente a autorização judicial poderá ser concedida[4].
Acontece que a microcefalia não é nenhuma sentença de morte logo após o parto. Normalmente tais crianças nascem vivas (que o diga Ana Carolina Cáceres), a menos que haja alguém que queira abortá-las.
Embora o juiz Jesseir insista que o aborto deve ser avaliado “caso a caso” e que “é importante não banalizar”, não sei de um único caso em que esse magistrado tenha negado um pedido de aborto de deficientes.
Segundo Ricardo Dip, Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, é conhecido o emblemático episódio — difundido até pela indústria do cinema — em que um oficial nazista, durante os processos do Tribunal de Nuremberg, explicou a um seu colega, médico e militar norte-americano, que as atrocidades do nacional-socialismo germinaram a contar do dia em que se aceitou, sem resistência, matar o primeiro inocente[5].
Conscientemente ou não, o juiz Jesseir, após ter autorizado a morte do primeiro inocente, tem conquistado centímetro por centímetro o terreno rumo ao aborto irrestrito e ao homicídio neonatal. Talvez ele venha a descobrir isso tarde demais…
Anápolis, 15 de fevereiro de 2016.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
[1] LITCHFIELD, Michael; KENTISH, Susan. Bebês para queimar: a indústria do aborto na Inglaterra. 6. ed. São Paulo, Paulinas, 1985, p. 52-54. Título original: Babies for burning: the abortion business in Britain. O “copyright” é de 1974.
[2] Ricardo SENRA. Grupo prepara ação no STF por aborto em casos de microcefalia. BBC Brasil, 26 jan. 2016, in:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160126_zika_stf_pai_rs
[3] Ricardo SENRA. ‘Sou plena, feliz e existo porque minha mãe não optou pelo aborto’, diz jornalista com microcefalia. BBC Brasil, 1 fev. 2016, in: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/02/160201_microcefalia_aborto_pontodevista_ss
[4] Jesseir Coelho de ALCÂNTARA. Aborto em casos de microcefalia. O Popular, 2 fev. 2016, p.7.
[5] Ricardo DIP. Os direitos humanos do neoconstitucionalismo: direito natural da pós-modernidade? Aquinate, n. 17 (2012), p. 14, in: http://www.aquinate.net/revista/edicao_atual/Artigos/17/C.Aq.17.Art.Dip.pp.13-27..pdf

Fonte: Zenit.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

II domingo da quaresma

Ciclo C
Textos: Gn 15, 5-12. 17-18; Flp 3, 17 4,1: Lc 9, 28b-36
Ideia principal: Subamos a colina do Tabor.
Síntese da mensagem: Depois de ter lido e meditado no domingo passado a luta contra as tentações e o mal, hoje com a passagem da transfiguração temos assegurado que a vida cristã termina com a vitória e a glorificação, se lutarmos com e do lado de Cristo. Reflitamos na colina do Tabor. Sabemos que Ocidente repousa sobre três colinas: a Acrópoles, o Capitólio e o Gólgota. A Acrópoles está em Atenas e Atenas deu ao mundo o homem livre e pensador. O Capitólio está em Roma e Roma nos deu o homem do direito e do império. O Gólgota está em Jerusalém, que deu a síntese dos homens ateniense e romano: o homem livre, não “de” mas “para”, o mandamento, a Igreja ecumênica e os destinos eternos. Portanto, Ocidente descansa, culturalmente, sobre estas colinas: liberdade, direito e religião.
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, tem uma quarta colina, que se levanta do chão apenas uns 588 metros, mas gloriosa pela glória do Filho de Deus que brilho no seu topo, que transtorna o sentido e transfigura a visão de Atenas, de Roma e de Jerusalém. E essa colina é o Tabor. E um dia Jesus deixou no pé da montanha os apóstolos e, com Pedro, João e Tiago, subiu ao seu cume, no momento em que descia uma nuvem branca, redonda e luminosa, que a cobriu. Na nuvem vinha Deus e, com Ele, os homens de grande expoente na história de Israel, Moisés, legislador de Deus e libertador do seu povo Israel. E Elias, vidente de Israel e defensor da religião de Javé. Vinham para celebrar com Jesus, e nunca melhor dito, uma reunião de topo. Nesse topo Jesus autorizou por única vez, e que não serviu de precedente, que a divindade saísse pelos poros do corpo e o convertesse, pela luz da sua glória, em homem de alabastro luminoso na altura da colina e da noite. Falou então o seu Pai e fez a revelação mais transcendental da história: “Este é o meu Filho, o predileto, escutai-o”.
Em segundo lugar, por que não subimos também nós nessa colina do Tabor? Atrevo-me a gritar desde aqui: “Homens e mulheres livres de Jesus Cristo, os que viveis instalados na montanha mágica do bem-estar material, os satisfeitos com a vossa transfiguração econômica, rejeitai, por favor, a saída de tom burguês de São Pedro e hoje comum a tantos: “Que bem se está aqui…!”. Pedro não sabia o que dizia, esse coitado. Olhai para baixo, onde vivem mal os desgraçados do vale e os proletariados da vida- que tanto nos recorda e nos recorda até à saciedade o Papa Francisco-: os que carecem das primárias e urgentes liberdades de um trabalho, um salário, um seguro, uma pensão, um prestígio, um saber, um futuro pessoal e familiar. Estas são as urgências de um filho da liberdade, de um filho de homem, de um filho de Deus. A estes, escutai-os!”.
Finalmente, e continuo gritando desde o cume plano do Tabor, cuja glória muda totalmente a visão do Capitólio de Roma e o sentido do homem do direito imperial:“Homens e mulheres com os direitos humanos de Jesus Cristo, os que viveis instalados na montanha fastuosa do poder (político, religioso, econômico, social, cultural), satisfeitos com a vossa própria transfiguração social, rejeitai, por favor, a ideia classista de São Pedro: “Façamos aqui três chalés residenciais…”. Para quem? E para os outros, que? Pedro não sabia o que dizia. Olhem para baixo, onde pululam como formigueiro os párias das terras. Os explorados pelo ditador político, cultural, sindical, fiscal. Ou pelo negreiro das terras, Fazenda estatal, sindicato político, empresário ou trabalhador. Mais os marginalizados sem título de um prestígio na parede, sem um livro na cabeça nem no coração a esperança de um dia levantar a cabeça. A este, temos que escutar”. E se me permitirem, continuo gritando hoje assim: “Homens e mulheres de Jesus Cristo, os que viveis instalados na montanha mística dessa religiosidade, os satisfeitos da vossa transfiguração espiritual, rejeitai, por favor, o desproposito pietista de São Pedro: “Que bem…! Façamos três chalés residenciais”. A desfrutar da glória, não é mesmo? E dos outros, os que se afastaram de Deus, prescindiram da redenção, os de costas à Igreja, os matrimônios fracassados e em outras uniões, os jovens que não pisam a Igreja… que?”.
Para refletir: Prefiro esse quietismo cômodo e egoísta de São Pedro, quando sei que só 1 de cada 4 ouviu falar de Cristo, e de 10, só 2 se aproximam da Igreja? Sou dos que beijam Deus na Igreja e fora dela o jogam na esquina, ou seja, deixam de lado o homem pobre, necessitado, agnóstico, indiferente ou de outra cultura? Não são estes os filhos prediletos de Deus, a carne de Cristo, como nos diz o Papa Francisco?
Para rezar: Senhor, dai-me forças para subir a colina do Tabor. Dai-me olhos para ver a vossa glória e formosura, e desde ali ver as necessidades dos meus irmãos. Dai-me coração para sentir a vossa beleza e me comover diante do meu irmão pobre, que vos representa. Dai-me ouvidos para escutar a voz do vosso Pai e a voz dos meus irmãos excluídos. Dai-me pés para descer dessa colina rapidamente e ir e buscar esses irmãos e levá-los a essa colina do Tabor para que também eles façam a experiência de Vós e do vosso amor. E transfigurem a sua dor em gozo.
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A batalha contra a doutrina do pecado

Sobre como Adão chegou até nós, as respostas não estariam tão de acordo: por transmissão biológica, por descendência, pela metafísica do ser e da natureza. Até a explícita admissão do Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 404: "a transmissão do pecado original é um mistério que nós não podemos compreender plenamente".

A data exata do seu nascimento é 397 d.C., quando Agostinho de Hipona escreveu um livro intitulado De diversis quaestionibus ad Simplicianum, em que começa a definir aquela que será, nos séculos vindouros, a teoria bem-sucedida do pecado original, que, como se sabe, se entrelaçará profundamente com o pensamento ocidental. Os temas da queda, da culpa, do mal, da salvação e da redenção, da liberdade individual, do mal de viver, todos têm um apoio sobre a serpente, a maçã e, sobretudo, sobre a pérfida Eva, equilibrada pela perfeita Maria, imaculada, ou seja, sem pecado original.

"Teoria da verdadeira civilização. Não está no gás, nem no vapor, nem nas mesas giratórias. Está na diminuição dos vestígios do pecado original", escrevia Charles Baudelaire, um teólogo não de segunda linha. No seu tempo, no entanto, Kant já havia visto as suas óbvias contradições, e Paul Ricoeur, em 1969, em um ensaio que fez história, escreveu: "Jamais se dirá o suficiente quanto mal fez ao cristianismo a interpretação literal – se deveria dizer ´historicista´ – do mito de Adão. Ela o fez cair na profissão de uma história absurda e em especulações pseudorracionais sobre a transmissão biológica de uma culpabilidade quase jurídica pelo erro de um outro homem, expulso para longe na noite dos tempos, não se sabe bem para onde, entre o Pithecanthropus e o homem de Neandertal. Ao mesmo tempo, o tesouro escondido do símbolo adâmico foi desperdiçado".
Pecado original ou bênção original? Essa pergunta é respondida, sem papas na língua, por Matthew Fox, um nome que não deve ser confundido com o intérprete principal da série de televisão de grande sucesso Lost. O nosso Matthew Fox é um ex-dominicano norte-americano, agora episcopaliano, ou melhor, "padre pós-denominações", como ele gosta de se definir, que, em 1983, escreveu um volumoso best-seller de 400 páginas intitulado Bênção Original, agora traduzido para o italiano como In principio era la gioia, em sua terceira edição (introdução de Vito Mancuso, tradução Gianluigi Gugliermetto, Ed. Fazi, 2011, 428 páginas).

O dominicano teve que enfrentar, em 1988, a Congregação para a Doutrina da Fé, presidida pelo prefeito cardeal Joseph Ratzinger, sobretudo pelas atividades e teorias elaboradas pelo Instituto de Espiritualidade da Criação, fundado por Fox. Em 1993, ele foi expulso da ordem.

No livro, Fox inverte o paradigma: "A religião no Ocidente deve abandonar o modelo exclusivista de queda e redenção […], modelo dualista e patriarcal, cuja teologia inicia com o pecado e com o pecado original, e termina normalmente com a redenção […] e não ensina nada sobre a Nova Criação ou sobre a criatividade, sobre a construção da justiça e da transformação social, ou sobre o eros, o prazer e o Deus da alegria. Ela não consegue ensinar o amor pela Terra ou o cuidado pelo Universo, e é assim assustada pela paixão que não consegue ouvir o grito dolorido dos anawim, dos pequenos da história humana".

Esse é, substancialmente, o interessante programa do livro, habilmente sintetizado, além disso, em um apêndice de quatro páginas, em que os dois paradigmas são contrapostos em uma tabela de duas colunas.

Fox consegue bem, embora de modo rapsódico, destacar a importância que a doutrina do pecado original teve na constituição da consciência ocidental: um ser humano marcado pelo pecado e pela vergonha e, por isso, incapaz de decidir o que é melhor para ele e para os outros, sempre à espera de uma autoridade que lho diga e que pratique o bem em seu lugar e, talvez, contra ele. Uma autoridade sacerdotal ou política, tanto faz.

Mas a estratégia da Fox não é exclusivamente centrada em demonstrar que o conceito de pecado original é um falso saber, como diria Ricoeur, mas é sobretudo voltada a elaborar uma summa de espiritualidade alternativa para a construção de um mundo pacificado, onde o pecado, original ou não, seja apenas um resíduo.

Os caminhos a serem percorridos por Fox são: Via positiva (alegria, hospitalidade cósmica, maravilha), Via negativa (deixar-se levar, silêncio, escuridão), Via criativa (criatividade, Deus como mãe), Via transformadora (justiça, compaixão, interdependência). Cada uma totalmente ilustrada e aprofundada em uma trama de iluminações estrepitosas e de banalidade desarmantes, a ponto de desorientarem assim que nos distanciamos um pouco do tom sempre cativante do texto.

A primeira impressão é que a Fox, apesar de todas as sacrossantas batalhas contra a Igreja faraônica, permaneceu enredado, no entanto, nas suas milenares práticas retóricas. O modo narrativo de In principio era la gioia é muito semelhante à tradicional, e antiquada, apologética católica, que, reunindo e liquefazendo citações da Bíblia, dos Padres da Igreja, dos santos e dos papas, pontificava sobre qualquer assunto.

A forma de fazer com o que leitor salte da citação de um psicanalista a uma do profeta Isaías, de uma feminista dos nossos dias a Francisco de Assis, passando por Gandhi, Pablo Casals e Tomás de Aquino, dá bem uma ideia de bricolagem que subjaz à escrita de Fox e que constitui ao seu código argumentativo.

Para fugir da rígida geometria da teologia "masculina", Fox parece cair um pouco demais na evocação indiferenciada e barroca das belas palavras deste ou daquela, como um pregador qualquer do século XVII. O que reforça essa perplexidade de leitura é o uso desenvolto que Fox faz de duas figuras eminentes da mística e do pensamento ocidental, Hildegard von Bingen e Meister Eckhart. O seu objetivo é mostrar uma outra genealogia de uma renovada espiritualidade contemporânea, revelando um pensamento cristão escondido, muitas vezes censurado, senão até abertamente condenado pelos letais tribunais eclesiásticos.

Na busca de fontes não esgotadas, Fox não é tão sutil. Ele toma dos dois aquilo que lhe serve, destoricizando tanto Hildegard quanto Eckhart. À primeira, ele também dedicou um livro, Illuminations of Hildegard, que diz muito sobre Matthew Fox, mas pouco de Hildegard abadessa de Rupertsberg, escritora, filósofa, naturalista, linguista, curandeira, poeta e compositora.

Ele faz de Eckhart um perfeito distribuidor automático de belas frases e de belos pensamentos, descontextualizado e avulso, seja das influências recebidas – são importantíssimas as islâmicas –, seja dos inquietantes influxos exercidos sobre o pensamento alemão posterior. 

utor: Claudio Canal

Um livro não de uma única cor; exuberante e vigoroso, para ser lido e discutido, não para ser adorado.
(Fonte: Jornal Il Manifesto, 29-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Como evitar a fratura dos casais?

Um dos dramas dos nossos tempos é a grande inimizade que está se desenvolvendo no seio das famílias.
Uma das características antropológicas que nos caracterizam como humanidade e civilização é o amor mútuo de homens e mulheres, realizado em famílias que, através da procriação, dão continuidade, confiança, alegria e esperança para a humanidade.
Quando o relacionamento do casal entra em crise, porém, surgem problemas não só para os indivíduos daquela família, mas para toda a sociedade.
Quando aconteceu a fratura, é difícil curá-la, mas muitos casais conseguem renovar o amor e a estabilidade da família cuidando das feridas desde o início.
É possível intervir com empatia e sensibilidade já nos primeiros sinais de crise.
E é esta a proposta da associação Crescer em Família, um apostolado do movimento Regnum Christi, que, em parceria com o Instituto Superior de Ciências Religiosas do Ateneu Pontifício Regina Apostolorum, organizou o curso de formação “Pastoral das famílias em situação de convivência, separação e divórcio”.
O curso é aberto a leigos, padres, religiosos, seminaristas, catequistas, assistentes sociais, educadores, professores, advogados, consultores, e visa formar agentes qualificados em dioceses, paróquias, escolas e outras agremiações para acompanharem e ajudarem as pessoas no seu crescimento humano e espiritual, especialmente nos casos em que o casamento está em apuros.
Os módulos do curso incluem a comunidade de acolhimento, o matrimônio cristão, o direito canônico, o Magistério da Igreja, a espiritualidade, o direito civil e penal, os aspectos psicológicos, a identidade de pais e filhos, seus sentimentos e como apoiá-los.
As áreas de estudo que vão da teologia à psicologia. No teológico, discute-se o fundamento da doutrina cristã, permitindo que os agentes se aprofundem no ensinamento da Igreja sobre o cuidado pastoral das famílias em situação de convivência, separação e divórcio e sugerindo como transformá-lo em vida.
O objetivo da área espiritual é dar aos agentes o conhecimento teórico e prático para o desenvolvimento de uma espiritualidade específica, com propostas concretas de vida cristã.
A área jurídica visa explicar sinteticamente as normas do direito canônico e do direito civil, proporcionando aos agentes uma visão que lhes permita orientar-se no tocante à situação legal e eclesial.
Na área psicológica e psicopedagógica, o objetivo é explicar os efeitos da separação nos indivíduos, no casal e nos filhos, permitindo aos agentes entender melhor a dinâmica das situações que enfrentam e as possíveis rotas a tomar.
Cada tema terá como referência a ação pastoral e será voltado a ela. A formação completa nas diversas áreas, portanto, tem o objetivo de fornecer as ferramentas necessárias para se entrar em comunhão com as pessoas e oferecer a elas uma ajuda concreta.
As aulas também serão transmitidas remotamente via teleconferência, aos sábados, das 9h30 às 13h do horário de Roma.
O curso começa neste dia 13 de fevereiro e termina em 11 de junho de 2016.
Para mais informações, acesse www.uprait.org.
Fonte: Zenit.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Francisco, o primeiro Papa recebido no Palácio Nacional do México

O Santo Padre Francisco começou neste sábado o primeiro dia da visita apostólica ao México, indo de papamóvel ao Palácio Nacional da capital, para uma cerimônia de boas-vindas e visita de cortesia ao Presidente Enrique Peña Nieto. Francisco foi o primeiro Pontífice a ser recebido lá.
Ao chegar ao país ontem a noite na chegada ao país já tinha cumprimentado o presidente e a sua esposa que o esperavam no aeroporto, onde milhares de pessoas o receberam calorosamente, realizando um espetáculo com coreografias e folclore. Desde aí o Santo Padre foi à Nunciatura, onde descansou.
Este sábado de manhã o Santo Padre, deixou a embaixada da Santa Sé na capital asteca e percorreu uma distância considerável no veículo descoberto pelas avenidas da Cidade do México, onde milhares de pessoas aguardavam a sua passagem acenando com lenços, bandeiras e cartazes, até que chegou ao Palácio Nacional.
Na entrada do mesmo, o Pontífice latino-americano foi recebido pelo presidente e a primeira-dama, que o acompanharam até o Pátio de Honra. Depois dos hinos do México e do Vaticano, houve a apresentação das duas delegações, em uma cerimônia muito formal.
Em seguida o Papa dirigiu-se, com o presidente Peña Nieto ao departamento presidencial para o encontro privado, que termina com a apresentação dos familiares e das delegações. Ao mesmo tempo realizou-se um encontro bilateral entre alguns membros da delegação da Santa Sé com autoridades do Governo.
Fonte: Zenit.